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CHAVES

Olhares sobre o "Reino Maravilhoso"

10
Out07

Chaves e o Progresso!


 

.

Chaves, 6 de Setembro de 1981
 
Uma tarde de Outono como só aqui. Renques de cedros recortados no horizonte lívido, o verde carregado dos amieiros a dar profundidade às águas represadas do rio, uma temperatura branda, de banho-maria. Sonâmbula na encosta, a cidade, com a sua profusão de antenas suspensas no céu vazio, parece em comunicação telepática com a realidade. Pena que o poeta, no acto de consciencializar o sortilégio, se dissocie dele e possa apenas, distante, testemunhá-lo assim.
 
Miguel Torga, In Diário XIII
 
Palavras sentidas de quem sabia viver a cidade, mas à distância, claro!. Também eu às vezes a sinto assim, e não com a pena do poeta, mas com a alegria da distância, mesmo que vivendo dentro dela, pois chegado aos pormenores, os mesmos que alguns encantam, outros há que desencantam.
 
Chegou finalmente o Outono. As manhãs estão frescas e o nevoeiro matinal cobre a cidade, como que com um manto intimo e pardo onde só as silhuetas do recortar mais profundo da cidade sobressaem e é aí que os pormenores me invadem de desencanto e mostalgia, também parda e onde a beleza da silhueta se torna feia.
 
Em nome do “progresso” tem-se sacrificado a cidade, histórica e milenar, aquela que bem poderia ser com justiça património da humanidade, pois património não lhe falta, falta-lhe é a humanidade de tratar e cuidar dele, mas não, aqui não se trata de nada ou aliás, trata-se sempre tudo de maneira provinciana em que se despreza tudo que tem de bom e valioso em nome do progresso em querermos ser como os outros, os mesmos que gostariam de ser como nós.
 
Chaves sempre viveu o complexo da cidade pequena de província transmontana. Temos de tudo para ser grandes, uma grandeza de fazer inveja até, mas trocamo-la por miúdos e olhamos para o umbigo e somos pobres (em todo o sentido da palavra) e provincianos e sobretudo lamentamo-nos e atribuímos sempre as culpas aos outros, quando a grande culpa é nossa e vive com a nossa conformação de deixar para os outros, até o nosso sentir a cidade.
 
Claro que a culpa de tudo isto é do progresso, da ilusão do progresso e da televisão, pelo menos nos telhados do nosso centro histórico a televisão domina, tal como domina nos lares, e depois, claro, deixamos de ter tempo para debater a cidade e deixamo-la entregue aos melros dos mamarrachos ou aos índios do concreto (o termo brasileiro é bem mais concreto que o nosso).
 
Há dias assim, será pelo nevoeiro!?
 
Amanhã cá estarei de novo em Chaves, na cidade que de tanto se amar, às vezes magoa!      

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