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CHAVES

Olhares sobre o "Reino Maravilhoso"

31
Dez07

Adeus 2007!


 

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Eis que chegamos ao fim de mais um ano, é portanto tempo de balanço e, bem gostaria que fosse colorido, mas assim não parece ser, pelo menos todos se queixam, ou quase todos, pois exceptua-se a classe política no poder, que para esses, o balanço de fim de ano é sempre positivo e melhor que os anos anteriores, mesmo que esteja à vista de todos que assim não é. Enfim, políticos, mas só acredita neles quem quer, agora que temos de os levar a sério, lá isso temos, pois eles infelizmente são quem mandam.
 
Mas este blog é sobre a cidade e as suas aldeias e, se alguma coisa por aqui tiver de entrar em balanço, é mesmo a cidade de Chaves, pois é nela que ando a balançar todos os dias. Mas não é fácil fazer balanços na cidade que nos viu nascer e na qual vivemos, precisamente porque a vivemos a sério. São assim intensos os sentimentos sobre a cidade e às vezes até contraditórios, mas o que mais custa é sentir que muitos dos valores desta cidade, ano após ano se vão perdendo e não há valeres que cuidem dela.
Mas também não é de lamentos que quero fazer este blog, ainda para mais quando há quem os devia entender e compreender e não os compreende nem os entende.
 
Assim, em vez de balanços e passados, prefiro o presente e o futuro e uma coisa vos garanto, em 2008 vou continuar a trazer por aqui olhares da cidade de Chaves as suas aldeias, algumas palavras e estórias como sempre o fiz até aqui, ou seja, como posso e sei, e a mais não serei obrigado. Suponho!
 
Um bom 2008 para todos os que visitam este blog, principalmente para os flavienses ausentes e para os quais, seja Chaves como for, é por ela que têm saudades e sentem aquele aperto no coração.
 
Um bom e feliz 2008 para todos!
30
Dez07

Sanfins da Castanheira - Chaves - Portugal


 

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Hoje vamos até Sanfins da Castanheira.
 
Sanfins da Castanheira é sede de freguesia, à qual pertencem as aldeias de Mosteiro, Parada, Polide e Santa Cruz da Castanheira, fica a 24 quilómetros de Chaves e desenvolve-se bem lá no alto da montanha por uma área de 16,3 quilómetros quadrados e faz fronteira com as freguesias de Cimo de Vila da Castanheira, S.Vicente da Raia e os concelhos de Vinhais e Valpaços (Lebução e Bouçoaes).
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Quanto a dados estatísticos do CENSOS 2001, tinha nesta data 308 pessoas de população residente, 129 famílias e 252 habitações. Comparando com os CENSOS de 1981 em que tinha como população residente 824 pessoas, vemos que em apenas 20 anos perdeu quase dois terços da sua população para a cidade, grandes centros e emigração. Isto são dados da freguesia e embora seja válido para todas as suas aldeias, não o é por igual. Por observação, penso que as aldeias que sofreram mais com a desertificação foram Parada e Polide, pois Sanfins e Santa Cruz parece-me não ter perdido tanta população como as duas primeiras.
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Quanto à aldeia de Sanfins propriamente dita tem a característica de “entrar” por Cimo de Vila adentro e o contrário também se aplica, pois para mim que não conheço o limite das duas freguesias e aldeias, nunca sei onde começa uma e acaba a outra. À primeira vista (desinformada) parece tratar-se apenas de uma aldeia.
 
Como o nome indica, Sanfins da Castanheira é terra de castanheiros, mas não tanto como o nome nos possa levar a pensar. Agricultura é a do costume, praticamente de subsistência e pouco mais. Alguma pecuária, muito menos que há uns bons anos atrás. Políticas das quotas do leite (suponho) e, outras políticas agrícolas, têm contribuído para a desertificação destas populações. Tirando-lhes o seu único rendimento (pecuária e agricultura) mais nada lhes resta e,  só a velhice ou muito amor às suas aldeias é que os vai prendendo por lá.
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Todos lamentamos, pois com a desertificação das aldeias, perde-se também muito daquilo que temos de genuíno e muitas tradições ligadas à terra, à religião e às povoações. Coisas simples que fazem a sua identidade e que jamais serão recuperadas.
 
As festas da terra são em Agosto. Não me refiro às festas religiosas, mas à festa da gente e dos seus filhos, pois é em Agosto que todos se vão juntando por lá, principalmente os emigrantes, que em Agosto dão vida às ruas e às casas.
 
Segundo reza a história mais antiga, foi uma das freguesias mais importantes do arciprestado de Monforte. O onomástico Sanfins provém do orago da freguesia que é São Pedro Fins. Em toda a envolvente da freguesia foram encontrados vestígios de povoamento remotos, até da Pré-história. Existem também nesta área sepulturas e sarcófagos da Idade Média.
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Segundo a história mais recente, a freguesia, principalmente Sanfins e Mosteiro, está também ligada à guerrilha antifraquista, pois também era por aqui que os guerrilheiros tinham casas de abrigo, como alias já foi referido nos posts dedicados ao Cambedo.
 
E claro que não podia terminar sem referir a família Pinheiro, na qual tenho amigos de há longa data e foi pela mão deles que já há muito descobri a freguesia na festa de Stª Cruz, com um abraço para o Zequinha, o Arnaldo e, claro, o Presidente da Junta.
Até amanhã de regresso à cidade.
 
 
29
Dez07

Parada - Chaves - portugal


 

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Ainda antes de ir até Parada, fica aqui notícia de última hora, no público on-line.
 
 
 
O ministro da Saúde afirmou hoje que a Comissão de Defesa do Hospital de Chaves tem o direito de interpor uma providência cautelar visando a reabertura do bloco de partos da unidade, mas prometeu reagir se a iniciativa anunciada se concretizar.
 
Para quem quiser ler o resto da notícia, click aqui .
 
E sem qualquer comentário à arrogância do quero, posso e mando dos nossos governantes, vamos então até Parada.
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Ainda há pouco tempo atrás andamos por lá, mais precisamente em 26 de Agosto, (link aqui ), mas como os dias de Inverno são ingratos para a fotografia, lá vou tendo que recorrer àquilo que tenho em arquivo, e também a algumas repetições e cumprir a tal promessa de ir até S.Gonçalo.
 
Na realidade é complicado chegar até S. Gonçalo e recomenda-se mesmo um todo o terreno para chegar lá, ou então a pé, para quem gosta de caminhadas na montanha, que pela certa é uma boa caminhada. Mas vale a pena e o sacrifício da viagem até S.Gonçalo, pois aí sentimo-nos mesmo em Trás-dos-Montes e entalados entre tanta montanha que se perdem no horizonte, com vistas para terras de Valpaços, de Vinhais e até da Galiza. Para quem gosta da natureza é um passeio que se recomenda, pena que um incêndio de há anos atrás tivesse destruído quase toda a floresta.
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Quanto a Parada, fica a 26 quilómetros de Chaves, pertence à freguesia de Sanfins da Castanheira e o acesso é feito a partir do Caminho Municipal 1065, pavimentado e com belas vistas, tão belas como perigosas, pois a sinuosidade do caminho não recomenda distracções, e a propósito da notícia de abertura, é um daqueles locais onde não se recomenda ter um problema de saúde que necessite uma intervenção urgente. Uma boa aldeia para o Sr. Ministro da Saúde visitar e até para … bem, hoje falamos de Parada. Estava eu a falar de acessos, pois a partir de Chaves há que tomar a Nacional 103 em direcção a Bragança e chegados à Bolideira ruma-se em direcção a Dadim, Cimo de Vila da Castanheira, Sanfins, Santa Cruz e depois umas montanhas à frente, é Parada.
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Quanto à população, segundo o posto de correios reproduzido em fotografia, existem pelo menos 29 casas, mas penso que a maioria ou está desabitada ou é de emigrantes, pois a população é reduzida e envelhecida, o costume nas aldeias de montanha.
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E de que vive a aldeia!?, das hortas e das reformas, suponho, pois além de alguns castanheiros, pouco mais vi por lá. Talvez em tempos tivesse sido a floresta, que um incêndio deixou reduzida a cinzas.
 
Quanto ao seu nome, Parada, é um lugar cujo topónimo pode referir-se a um tributo ou um foro, a que se dava o nome de Parada, foro esse que o povo pagava aos senhores da terra, quando nela apareciam e que consistia em certa quantidade de mantimentos ou dinheiro, para mantença ou aposentadoria deles e da comitiva. Era um dos foros pagos entre os séculos XII a XV, pelo que a aldeia terá no mínimo essa antiguidade poderá estar associado a um foro.
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A aldeia apresenta na sua periferia sepulturas cavadas na rocha, situando-se uma delas próxima da capela de Santa Bárbara. Perto encontram se vestígios de uma cultura castreja que aqui construiu as suas estruturas e muralhas de defesa, na margem do rio Mente, afluente do rio Rabaçal.
 
E por hoje é tudo, amanhã cá estarei de novo com mais uma aldeia.
 
Até amanhã.
28
Dez07

O último lamento das Sextas!


 

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Uma vez que este blog retomou a normalidade dos seus dias e hoje é sexta-feira, vamos a mais um dia de lamentos, embora os últimos dias sejam disso mesmo.
 
Pois o primeiro lamento tem que ir precisamente para o facto de, a partir de hoje, com o fecho da maternidade, deixarmos de ter flavienses nascidos em Chaves. Tinha que o lamentar outra vez.
 
O segundo lamento vai para a cidade velha, cada vez mais velha, de velhas casas centenárias a cair, abandonadas, sem gente e sem vida. Metem dó. Enquanto as velhas casas vão ficando assim moribundas e morrendo sem qualquer dignidade, a cidade nova vai crescendo, como sempre, atabalhoadamente, sem planeamento, ou melhor, dentro do planeamento possível resultante de falta de planeamento no passado, porque hoje, qualquer planeamento que se faça, já é tardio e só remedeia e mal.
 
Claro que qualquer flaviense que vá ao miradouro de S.Lourenço e deite um olhar sobre a cidade e a nossa veiga, fica encantado com a vista e até suspira fundo. Afinal somos flavienses e gostamos do nosso cantinho. Chama-se a isso ser flaviense ou bairrista, ter amor pela nossa terra, estar apaixonado por ela. Mas se olharmos para a cidade com um olhar frio e crítico, despido de politiquices, de amores e paixões, o que se vê lá do alto são amontoados de betão, atabalhoados até, muitos mamarrachos e uma veiga com algum verde e muito sarapintado de branco, que está quase ou completamente destruída, como veiga agrícola, claro.
 
Pela nova cidade já vamos tarde para se poder fazer alguma coisa de jeito, mas pelo Centro Histórico ainda há muita coisa que se pode fazer, mas tem de ser com a vontade de todos, flavienses, políticos, entidades responsáveis, imprensa, associações da cidade, comerciantes. Quanto à forma, toda a gente sabe quem terá de dar o primeiro passo, e alguma coisa até se tem feito, sobretudo que passam por medidas proibitivas, que, diga-se a verdade, já vimos que não dão resultado, e depois a Lei, de tão complexa que é, arranja sempre uma forma de se impor ou então (des)impor e malabaristas não faltam para a contornar. Mas continuo a dizer que a culpa principal recai sobre nós flavienses em geral, ao aceitarmos e nos conformarmos com a cidade que temos, nos roubam ou nos dão.
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E para não ser tudo lamentos, fica uma boa nova. Começaram as obras, integradas no POLIS, da nova ponte pedonal que irá ligar as duas margens do Tâmega. A ponte é ousada, interessante e moderna, o autor é flaviense. Com certeza que vai ser uma ponte que vai dar nas vistas e que concordando ou não com ela, com a sua oportunidade na construção, a sua utilidade, e o dinheirinho que vai custar,  vamos gostar de a atravessar. Claro que vamos e eu até vou aproveitar para tirar mais umas fotos à ponte rainha de todas as pontes, a nossa Top Model, que seria bom que ganhasse também o estatuto de pedonal, nem que seja e só pelo respeito aos seus 2000 anos e já agora, convém também não esquecer o arranjo da margem esquerda onde a nova ponte vai “desaguar”, senão corremos o risco da nova ponte só servir para ir às couves do Caneiro, o que já não é mau, pois as couves são boas.  
 
E para terminar, fica só o anúncio, que por motivos vários, entre os quais uma pequena reformulação do blog para o ano 2008, as sextas-feiras deixarão de ser de lamentos e passarão a ser de fórum, que à semelhança das terças-feiras em que temos por aqui um olhar diferente do meu sobre a cidade, também as sextas terão uma opinião diferente ou até poderá ser igual, mas que não será de minha autoria. Será mais uma oportunidade para discutir a cidade e as nossas aldeias. Mas atenção que ainda só estou em fase de projecto, por isso não é garantido que na próxima sexta já seja assim.
 
E só falta localizar as fotos de hoje, que são da Madalena, Chaves, Portugal.
27
Dez07

Chaves - Alerta Amarelo - Continuação...


 

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Ainda ontem deixava aqui um post “azedo” por causa do frio e dos custos da nossa interioridade, bem como pelo convite constante à partida para os grandes centros e para o litoral. Pois o azedume continua e hoje não é por causa do frio, mas por causa das notícias que ontem vieram a lume na imprensa nacional e das políticas penalizantes de Lisboa para com o nosso interior e a nossa região.
 
Fiquem com a notícia publicada no « Público – On Line» de ontem.
 
 
Bloco de partos de Chaves encerra à meia-noite de quinta-feira
 
26.12.2007 - 18h13 Lusa
 
O bloco de partos do Hospital de Chaves encerra à meia-noite de quinta-feira, disse hoje fonte da Administração Regional de Saúde (ARS) do Norte. A partir desta data o Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Douro conta apenas com um bloco de partos, instalado no Hospital de Vila Real.

No mesmo dia encerram também os Serviços de Atendimento Permanente (SAP) - no período nocturno entre as 00h00 e as 08h00 - nos centros de saúde de Alijó, Murça e Vila Pouca de Aguiar, e o serviço de urgência do Hospital D. Luíz I, no Peso da Régua.

Com o encerramento do bloco de partos de Chaves, o Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Douro, que agrega os hospitais de Vila Real, Peso da Régua, Chaves e Lamego, passa a dispor de um único bloco de partos, no Hospital de Vila Real.

As previsões para 2008 apontam para cerca de 2000 nascimentos em Vila Real. De acordo com dados, disponibilizados pelo Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Douro, a maternidade de Vila Real encerra este ano com um registo de 1760 partos.

Em Chaves nasceram este ano 390 crianças, 60 por cento das quais através de cesariana, um número considerado como "inadmissível" pelo ministro da Saúde, Correia de Campos, no decorrer de uma visita na semana passada àquela unidade hospitalar.

O encerramento do bloco de partos ocorre depois de estarem garantidas as condições de acessibilidades e de serviços pré-hospitalares prometidos, nomeadamente a conclusão da A24, entre Vila Real e Chaves, e a colocação de uma ambulância SIV, em Montalegre e de uma ambulância de suporte básico de vida, em Chaves. Entre Fevereiro e Março será também instalado um helicóptero em Macedo de Cavaleiros.

O presidente da Câmara de Chaves, o social-democrata João Baptista, já se manifestou totalmente contra o encerramento do bloco de partos pois considera que a "qualidade dos serviços tem intrínseca em si a proximidade".

Os SAP que vão encerrar são os únicos do distrito que até agora ainda funcionavam 24 horas por dia.

Cerca de 200 habitantes de Alijó saíram à rua no domingo, em protesto contra o encerramento nocturno do SAP, alertando ainda para a inexistência de uma ambulância do INEM no concelho e para a distância a percorrer até ao hospital mais próximo - 47 quilómetros até Vila Real.

O presidente da Câmara de Alijó, o socialista Artur Cascarejo, defendeu a "criação de uma urgência básica no concelho". De acordo com o autarca, também em Montalegre vai ser criada uma urgência básica e as justificações são, na sua opinião, as mesmas, ou seja, a distância ao hospital mais próximo.

O autarca sublinhou ainda que, com o encerramento de todas aquelas estruturas, o hospital de Vila Real poderá mesmo "entupir".

O responsável adiantou que a autarquia estudará parcerias "público-privadas", tendo em vista a criação de uma unidade hospitalar de qualidade no concelho, à semelhança dos hospitais privados que estão a ser construídos em Mirandela e Vila Real.

Também o presidente da Câmara de Vila Pouca de Aguiar (PSD), Domingos Dias, considerou "lamentável que por razões economicistas não se ouça a população" daquela região transmontana.

O autarca considera que o Ministério da Saúde, numa "atitude de prepotência", não apresentou qualquer medida compensatória dos serviços que agora esvazia", admitindo ainda que, a médio prazo, o SAP poderá encerrar mais cedo, às 22h00.

Uma urgência básica era também a reivindicação do município do Peso da Régua, que não foi atendida pelo Ministério da Saúde.

Em contrapartida ao encerramento da urgência, o ministério vai criar o sistema de consulta aberta no hospital de D. Luíz e implementar consultas de especialidade.

Também em funcionamento, desde 1 de Dezembro, está a ambulância SIV no Peso da Régua.

No entanto, o presidente da autarquia local, Nuno Gonçalves, considerou hoje que o encerramento da urgência "é uma decisão irresponsável e irreflectida que vai prejudicar os utentes" daquele hospital. O autarca defende que o sistema a implementar "não vai funcionar" porque, na sua opinião, vai "sobrecarregar os médicos do centro de saúde" da Régua.

Correia de Campos já considerou que o serviço de urgência da Régua "não é de qualidade", sustentando que os cuidados de saúde são efectuados por uma empresa que não está relacionada com o hospital e que custa 500 mil euros por mês.
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Claro que a notícia já nem surpreende e até já tinha sido anunciada, mas as razões de proximidade com Vila Real que nos trouxe a A24, não são tão reais nem válidas assim, principalmente de Inverno quando a A24 fecha com a neve ou embora aberta, é um autêntico ringue de patinagem sobre gelo, como foi o caso da noite passada, ou seja, em dias de neve ou gelo, que nenhuma mulher se lembre de parir, senão o mais provável é que a filha venha a chamar-se “Maria das Neves” ou no caso de ser rapaz, sai-lhe um “João Neves” por exemplo, pois de Vila Pouca não passa.
 
E assim vão indo por aqui as nossas vidas e não tarda nada a saúde (pública) fica centralizada em Lisboa e Porto e o resto do país aberto aos privados e, com as reduções sucessivas nas comparticipações, não tarda nada e estamos por nossa conta.
Estamos chegados às políticas da geração rasca em que as pessoas não importam, mas sim os números…
 
E só mais um lamento, este sentimental, com o encerramento da maternidade perde-se também o orgulho de se nascer flaviense e daqui a umas dezenas de anos deixamos de ter quem diga: - Eu nasci em Chaves! . Mas claro que isto não vai acontecer, pois não tarda nada e temos por aí uma maternidade privada.
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Foto de arquivo da manif de Fev.07 contra o fecho das Urgências
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Viva Lisboa! Viva Portugal!
 
Até amanhã, em Chaves, já sem maternidade.
26
Dez07

Chaves em Alerta Amarelo


 

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Então vamos lá dar uma voltinha pelo nosso Centro Histórico, pela nossa cidade antiga, antiga e velha. É uma triste realidade ver a cidade com o seu interessante casario centenário e cheio de pormenores a ficar assim abandonado, envelhecido e em ruínas, ou quase. As razões, são mais que conhecidas, mas todos ficam serenamente a vê-la cair, aos poucos. Claro que há algumas excepções.
 
Mas hoje nem é por aí que quero ir, pois com a “historia” do Cambedo deixei de trazer aqui o frio dos últimos dias e semanas, tanto que até o nosso Rio Tâmega gelou, pelo menos durante os dias 18,19 e 20 de Dezembro. Dias em que o termómetro timidamente subiu um ou dois graus acima do zero durante duas ou três horas por dia e, à noite andou sempre nos negativos, bem negativos, entre os 0ºC e os -12ºC.
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Curiosamente nestes mesmos dias a Protecção Civil pôs em alerta amarelo três distritos do país, porque segundo eles iam atingir temperaturas mínimas próximas dos 0ºC, como foi em Lisboa e se não me engano Braga e outro distrito do litoral. Engraçado que aqui pela terrinha, quase todo o mês de Dezembro tivemos noites com temperaturas bem negativas e nunca ninguém levantou alerta nenhum. Dizem os de lá de baixo que nós já estamos habituados. Pois estamos, infelizmente estamos habituados a estes maus tratos ambientais e climáticos e a outros maus tratos e raramente protestamos. Estamos habituados e prontos! Só que eu (por mim falo) já estou farto de estar habituado, e se não fosse por razões várias, já tinha agarrado na trouxa e na família e zarpado para o litoral, onde o medo de uns míseros 0ºC dão direito a alerta amarelo da protecção civil e outras regalias.
 
Quando o dinheiro e as perspectivas de futuro para nós, mas principalmente para os nossos filhos começam a faltar, estas historietas e outras da capital revoltam.
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Em Chaves (que se poderá generalizar a quase todo Trás-os-Montes) é quase impossível viver de Inverno sem aquecimento. Por aqui todos sabemos que o combustível com que aquecemos as nossas casas,  na última meia dúzia de anos, quase quintuplicou e embora os governos baralhem os números e nos finais de anos nos mostrem sempre números simpáticos e de crescimento, todos nós sabemos também que temos, ano-após-ano, perdido poder de compra, ou seja, vão-se juntandos os inúteis ao desagradável.
 
Na grande maioria das nossas aldeias a gente jovem já há muito tempo que partiu para as cidades ou para o estrangeiro, por aqui pela cidade ainda nos vamos aguentando, mas com as facilidades que o litoral e os grandes centros oferecem, pelo menos em clima, meios de transporte, universidades, cultura e hospitais, entre outros, não admira nada que a seguir às aldeias, sejam os das vilas e pequenas cidades de província a ficarem sem gente jovem e desertas. É que ter a qualidade de vida que dizem que temos, custa caro, e depois não tarda nada e temos a ASAE à porta da corte do reco, na horta, ou atrás dos pastores e depois lá se vão os presuntos, as chouriças, as alheiras, as couves, as batatas, os cabritos e os cordeiros, para não falar do vinho da pipa que é pisado com os pés, um nojo pela certa para gentes da capital.
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Mas como estamos habituados, vamos aguentando e depois como estamos em época de festas e Natal, vamos esquecendo estes pormenores por mais um tempo e se hoje estou assim, um pouco “azedo”, não foi porque me fizeram mal as rabanadas, o bacalhau o polvo ou o tinto, que esses caíram no estômago como ouro em azul, o meu problema é que tenho o depósito de gasóleo de aquecimento vazio e o Inverno ainda mal começou.
 
Até amanhã, em Chaves, e desculpem qualquer coisinha.
24
Dez07

Largos das Freiras, Chaves, Portugal


 

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Acabada que está a “grande reportagem” sobre o Cambedo, é tempo de voltar à cidade e, confesso, que já estava com saudades.
 
Mas hoje vamos entrar devagarinho, pois é dia de consoada e da família, do bacalhau e do polvo, dos presentes dos putos e graúdos, por isso termino com a brevidade possível, com uma imagem de Natal e com os votos de um feliz Natal para todos.
 
Feliz Natal e boa consoada!
23
Dez07

Cambedo - Dia 12 - A imprensa da época.


 

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E para terminar, vamos fazer uma abordagem pelo que foi dito oficialmente e na imprensa escrita da época sobre os acontecimentos do Cambedo, após os mesmos, claro.
 
Lembre-se que estávamos em 1946 em que a censura estava sempre presente em qualquer escrito mas sobretudo realce-se a imagem feita e oferecida a todos dos guerrilheiros antifranquistas, que em Portugal de então, nunca foram considerados como tal, mas sempre como bandoleiros, bandidos e atracadores, entre outros.
 
O que rezaram os relatórios oficiais e imprensa
 
Já sabemos que em 1946 estávamos em pleno regime Salazarista. Sem querer aprofundar aquilo que foi dito pelos relatórios oficiais da PIDE e outros tais das forças intervenientes no ataque ao Cambedo, em que se relatou o politicamente correcto para o regime, além, (claro) da marcação de pontos e promoção pessoal dos relatores. Em todos eles foi ignorado, como convinha, a existência da povoação inocente do Cambedo e o seu povo também inocente, incluindo crianças, que foram obrigadas a viver debaixo do fogo cruzado das armas durante dois dias (uma delas ferida com um tiro). Dos fracos e inocentes não reza a história, e se rezou, não foi para inocentar, mas antes para culpabilizar, prender e torturar mais de um terço da sua população.
 
Da actuação dos funcionários do regime intervenientes na batalha do Cambedo (GF, GNR, PSP e Exército), não se esperava outra coisa. Cumpriram a sua missão, ou seja, cumpriram ordens pois a tal foram obrigados e, em questões políticas, eram mantidos na ignorância como convinha. Já o mesmo não se poderá dizer das chefias destas forças e da PIDE, que esses sabiam perfeitamente que os tais atracadores eram guerrilheiros anti-franquistas.
 
E a imprensa da época, que já então fazia a opinião pública, como tratou os acontecimentos!?
 
A imagem de guerrilheiro antifranquista (alguns ex-militares do exército republicano e outros tantos, simples fugidos ou refugiados que acabaram por aderir à guerrilha, constituíam a guerrilha antifranquista que ainda tinha esperança em retomar o poder legítimo e republicano saído das urnas e deposto pela força das armas franquistas), como ia dizendo, essa imagem de guerrilheiro nunca passou pela imprensa portuguesa e, além de crimes que lhe imputaram e que nunca cometeram, bem como outras tantas mentiras inventadas a seu respeito para denegrir a sua imagem, em toda a imprensa foram tratados como puros “bandos de malfeitores”, “quadrilha”, “criminosos” e “Bandoleiros” como os apelidou por exemplo o «Diário do Minho», ou “bandoleiros espanhóis” como sempre os tratou o «Jornal de Notícias», ou ainda “bando de civis armados”, “malfeitores de uma quadrilha” ou “meliantes” como foram tratados pelo « O Comércio do Porto», ou ainda por “criminosos” e “bando armado” como foram tratados pelo «O Primeiro de Janeiro».
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Por sua vez no jornal de maior circulação em Portugal, «O Século», de dia 22 a 27 de Dezembro de 1946, dedicou aos acontecimentos sempre notícias de 1ª Página, letras gordas, e se a 22 de Dezembro o título era: « Dois dias lutaram encarniçadamente forças da GNR e do Exército contra o famoso grupo de bandoleiros que actuava em Trás-os-Montes e acabou por se render – o chefe do bando foi abatido». A 23 de Dezembro, também com notícia de 1ª página e continuação/desenvolvimento em pagina interior, o título passou a: «OS BANDIDOS capturados depois de luta feroz travada em Cambedo seguiram para o porto». No rol da notícia estava incluído quase um terço da população do Cambedo, que de “bandidos”, apenas estava o guerrilheiro Demétrio. Mas continua, ao terceiro dia (dia 24 de Dezembro), novamente notícia de 1ª página com o título«Um dos bandoleiros da quadrilha de Cambedo esteve ontem naquela aldeia e parece que ainda há outros bandidos em liberdade» na continuação da página interior começa com o título «A quadrilha de Cambedo». Ao quarto dia, dia 25 de Dezembro, apenas uma pequena notícia, confusa e irreal, pois fala-se num novo bando, o Bando do Barroso, do qual dois elementos teriam sido presos no dia anterior, no Cambedo. Finalmente no dia 27 de Dezembro, também notícia de 1ª página: « CRE-SE QUE O CHEFE dos bandidos de Cambedo não foi preso e receia-se que volte a organizar o seu bando».
 
Mas bem pior que os títulos de primeira página, era o que se vertia nas linhas do artigo.
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O primeiro começa assim«Chaves, 21 – Há tempo que se vinha registando-se longa série de crimes de morte e assaltos à mão armada, praticados por um perigoso grupo de bandoleiros, nas regiões de Montalegre e Chaves, em Trás-os-Montes e na província de Verin, em Espanha. Temidos por toda a gente os bandidos não hesitavam em abater quem quer que se opusesse aos seus desígnios.(…)»
 
É sabido, que à excepção do caso do Pinto de Negrões ( que logo reconheceram como erro crasso) os guerrilheiros apenas actuavam em Espanha, servindo-se das aldeias da raia portuguesa apenas como refúgio.
 
Ainda a respeito do deturpar da realidade, como mero exemplo, é sabido pelos relatórios da PIDE e das forças intervenientes, que tinham ordens para não deixar sair a população de suas casas nem da aldeia. A notícia no “O Século” diz assim: « Assim que começou a luta. Os sitiantes viam a sua acção prejudicada pelo facto de os criminosos não permitirem que os habitantes saíssem da aldeia, retendo-os a seu lado. Sabia-se que o bando era constituído por cerca de vinte homens (…)»
 
Só em valentia, talvez, os três guerrilheiros refugiados no Cambedo valessem por vinte homens. A mesma (valentia) que era atribuída pelo articulista às forças sitiantes «(…)Os soldados da GNR e do Exército, que se portaram com excepcional valentia (…)»
 
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Posso nada perceber de valentias, mas percebo um pouco de matemática. Então vejamos: mais de mil militares da GNR, Guarda-fiscal, PSP, PIDE, Exército (com morteiros) e Guarda Civil (Espanhola) contra 3 guerrilheiros. O resultado, foram dois dias de combate, três casas destruídas pelos morteiros e alguns incêndios. De parte dos sitiantes houve dois mortos e vários feridos, de parte dos guerrilheiros, um morto, um suicídio e um preso, ficaram sem munições. Que cada um tire daqui as conclusões e valentias que quiser.
 
Mas não termina aqui e, a notícia continua: « (…) também foram presos, por fazerem parte do bando ou por encobrirem, dezassete homens e quatro mulheres – a amante, a mãe e duas irmãs do Juan Salgado Rivera (…)» - aqui a única verdade é a de que foram realmente presos os dezassete homens (até mais) e as 4 mulheres, mas todos eles eram gente do Cambedo e não faziam parte do tal  “bando”, nem sequer eram familiares de Juan, como afirma a notícia.
 
Sobre o Juan, que até ser “fuxido” e ingressar na gerrilha antifranquista, sempre tinha sido contrabandista, agricultor e tocador de cornetim “O Século” na edição de 23 de Dezembro promove-o a Alcaide (equivalente ao nosso Presidente de Câmara): «(…) O Rivera foi alcaide de Léon, Espanha, quando da guerra civil, e tinha no seu activo mais de duzentos assassinos, dirigindo um bando comunista (…)» por sua vez, Manuela Garcia, na mesma edição de “ O Século” é apelidada de “espia do bando”. Mais à frente, a respeito das forças militares sitiantes diz o seguinte: «(…) Segundo afirmou o sr. Capitão Medeiros, um dos organizadores do ataque a Cambedo, nenhum dos habitantes da localidade ficou ferido, tão bem planeada foi a operação levada a cabo (…)» - Já Silvina Feijó, felizmente ainda viva, não diz o mesmo, aliás ainda tem a cicatriz e sofre das mazelas do tiro que então levou numa das pernas quando tinha apenas 12 anos de idade, para não falar das três casas que foram destruídas com os morteiros, dos palheiros incendiados. Mas a melhor de todas (na mesma edição) é quando afirma: «(…) entre outras proezas de vulto, os bandoleiros haviam planeado um assalto à cidade de chaves.(…)». Já sabemos que os três, ou melhor, dois guerrilheiros (pois o Juan foi morto nas primeiras horas), resistiram ao cerco de mais de mil militares durante dois dias e, só se renderam quando ficaram sem munições,  agora esta de (os três) planearem um ataque à cidade de Chaves, éra mesmo uma proeza de vulto.
 
No dia seguinte, “O Século” continua com a novela e chega a afirmar: «(…) Soubemos que o companheiro do Juan Salgado Rivera que tentara a fuga com aquele e que consegui escapar à perseguição das autoridades, esteve ontem em Cambedo, tranquilamente(…)» Sim, sim! Além de o Juan ter fugido sozinho, pois nunca se confirmou a presença de um quarto guerrilheiro no Cambedo e o presumível quarto guerrilheiro tratava-se do filho de Engrácia Gonçalves, que também foi preso, e que apenas saiu à rua quando o Juan iniciou a fuga a partir de sua casa, onde tinha pernoitado. Mas ainda há mais «(…) parece averiguado que os mais temíveis bandidos eram o Juan Salgado Rivera, que morreu durante a luta, e o Demétrio Garcia Prieto, que está preso. Qual quer deles era pessoa que não vacilava em abater fosse quem fosse, para levar a cabo os seus desígnios.(…)» Quanto ao jornal «O Século», ficamos por aqui, embora a novela ainda tivesse continuação no dia 27 de Dezembro.
 
E os jornais locais o que disseram!?
 
Um deles, o ERA NOVA, mais próximo do regime Salazarista o tal cujo director era o Luís Borges Júnior,  não sabemos, pois após buscas do mesmo na Biblioteca Municipal de Chaves, não conseguimos encontrar um único exemplar desse ano, ou desses anos. Quanto ao «Comércio de Chaves», que fazia questão de na primeira página, no cabeçalho, meter a nota : Visado pela Comissão de Censura, reproduzimos na integra a noticia, também de 1ª página, com o pouco ou quase nade que disse sobre o assunto:
 
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Em nenhuma das notícias a que tive acesso, os guerrilheiros do “Cambedo” foram tratados como tal. Faço minhas as palavras de Paula Godinho ao respeito, na Revista História, nº27 de Dez, 1996: «…Esta passagem pela forma como a imprensa relatou os acontecimentos no Cambedo, se não pode deixar de nos lembrar a apertada malha da censura, não deixa todavia de nos interrogar sobre a carga que o regime pretendeu retirar aos acontecimentos. (…)» quando «(…) é indubitável o alinhamento político dos elementos deste grupo, herdeiro do exército republicano (…)».
 
 
Outra coisa não se poderia esperar do que diria a imprensa da época.
 
Mas mesmo após o 25 de Abril e alguma luz feita sobre o assunto, ainda há escrita da imprensa, que hoje até se diz livre e informada, que às vezes gosta de lançar confusão sobre o assunto. José Amorim num editorial que denominou "A guerrilha da fome", interpreta os factos ocorridos em Cambedo de uma forma que merece ser destacada,
 
"O que dizem os factos é que a Espanha estivera em guerra civil de que Portugal, graças a Deus, se viu livre, por mérito de um governante que se chamou Salazar (...) Como consequência dessa guerra surgiram os homens armados que para sobreviverem não olhava a meios. Recorde-se o assalto à camioneta de passageiros Braga - Chaves e a morte de soldados da GNR abatidos na sua missão (...)Os Transmontanos esperam um relato isento desse episódio bélico que pôs em alvoroço as gentes da nossa região"
(Amorim, 1987).
 
Daqui se poderão tirar algumas conclusões e compreender o porque de as gentes do Cambedo abordam sempre o assunto com desconfiança e medo.
 
«A verdade verdadeira nunca foi contada sobre o Cambedo» foi-me dito por um dos filhos do Cambedo e que desde o inicio deste trabalho me tem de certa forma perturbado. Um facto é que há uma vontade expressa por parte de toda a gente que tem alguns conhecimentos sobre os acontecimentos em não falar sobre o assunto. Quer-se um assunto esquecido, tanto que até parece haver interesses nesse esquecimento.
 
Os factos históricos da época revelam bem quem eram os espanhóis do Cambedo. Da minha parte não tenho qualquer dúvida que eram “fuxidos” e guerrilheiros que lutavam por uma Espanha livre e democrática, a mesma que tinha saído das urnas e que a direita e mais tarde Franco nunca aceitaram. Esta realidade sempre foi escondida e deturpada aos olhos do povo português, um povo que na época também estava a pagar os males de duas guerras que não eram suas. Reduzir os guerrilheiros que lutavam por Espanha contra Franco a bandidos e atracadores era a maneira mais fácil de retirar toda a carga política sobre a questão além de vir a justificar acontecimentos como os que ocorreram no Cambedo. A mesma carga política já não é retirada sobre o povo do Cambedo e sobre os envolvidos, principalmente por parte da PIDE quando as gentes do Cambedo passam a ser tratados comos os “vermelhos do Cambedo” e todos os seus passos a ser seguidos.
 
E a amnésia, com a mesma raiz semântica que amnistia, faz equivaler o esquecimento ao perdão (Aguilar, 1996:47). O sublinhado é meu.
 
É verdade e, eu sou testemunha disso. As gentes do Cambedo preferem a amnésia e o silêncio a estarem nas bocas do mundo, principalmente quando os acontecimentos do Cambedo foram e às vezes, ainda são, intencionalmente distorcidos, mal interpretados e servem de pretexto para exorbitar velhas memórias, que essas sim, mereciam ser esquecidas, ou melhor, ignoradas.
 
E termino por aqui aquela que foi a “grande reportagem” deste blog, em homenagem e dedicada ao povo do Cambedo e, termino como os amigos galegos o homenagearam:
 
« EM LEMBRANÇA DO VOSSO SOFRIMENTO»
 
A partir de amanhã o blog voltará à normalidade do costume. Contudo fica em aberto um novo blog que dá pelo nome de “Cambedo Maquis”, onde continuarei a registar o evoluir das descobertas e da escrita sobre o Cambedo e os Guerrilheiros Antifranquistas da raia portuguesa. Um blog aberto à participação de todos quantos nele queiram participar e colaborar.
 
E para terminar esta aventura sobre o Cambedo só resta mesmo agradecer a todos quantos de uma ou outra forma, directa ou indirectamente colaboraram e tornaram possível este “trabalho” sobre a tentativa de contribuir para a despenalização e as verdades do povo do Cambedo, dos guerrilheiros antifranquistas que abrigaram e da vergonhosa batalha de 20 e 21 de Dezembro de 1946.
 
Os meus agradecimentos por ordem alfabética para:
 
Almor Lopes Doutel
António Augusto Joel
Arlindo Espírito Santo
Artur Queirós (bibliografia)
Bento da Cruz (bibliografia)
Carlos Lopes
Carlos Silva
Florinda Pinheiro
Irmã Maria do Carmo
João Madureira
José Fernandes Alves (bibliografia)
José Garcia Salgado
Paula Godinho (bibliografia)
Paulo Alexandre Lopes
Presidente da Junta de freguesia de Sanfins da Castanheira
Risco da Vinha (bibliografia)
Sebastião Salgado
Silvina Feijó
 
Até amanhã, de regresso à normalidade deste blog e à cidade de Chaves.
 
22
Dez07

Cambedo - Dia 11 - Sequelas e Mazelas


SEQUELAS E MAZELAS DEIXADAS AO POVO DO CAMBEDO
 
Claro que a partir de dia 21 de Dezembro de 1946 o Cambedo não poderia continuar igual. Um campo de batalha deixa sempre as sua mazelas e no Cambedo deixou-as, quer fisicamente com a destruição de algumas casas e bens, que ainda hoje estão em ruínas, quer nas pessoas, principalmente nestas, deixou nelas depositadas mazelas, muita injustiça e até perseguição continuada ao longo dos anos.
 
 
No rescaldo do dia 20 e 21 da Batalha do Cambedo, foram presos mais de sessenta pessoas, sendo 63 indiciados no processo da PIDE nº 917/46, segundo a PIDE, por cumplicidade com o bando de malfeitores, por acolhe-los em suas residências e, ainda acusados de apoio à rebelião armada. Destes sessenta e tal, mais de trinta, nos primeiros dias e meses foram postos em liberdade condicional ou definitiva e os restantes julgados no Tribunal Militar Territorial do Porto durante o mês de Dezembro de 1947. O julgamento contou com quatro audiências e a sentença foi lida no dia 12 de Dezembro de 1947.
 
Não bastou o terror lançado sobre o Cambedo durante os dias 20 e 21 de Dezembro de 1946, como ainda muita da sua gente foi presa e torturada pela PIDE. Mesmo que grande parte tivesse vindo a ser posta em liberdade, passaram pela humilhação das prisões, como de criminosos se tratasse.
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Se para o Demétrio era fácil adivinhar-se uma pesada condenação, não só pelas acusações de pertencer a um bando de malfeitores, mas também pela resistência às autoridades e a morte de dois Guardas Republicanos, adivinhava-se também condenação para aqueles que lhes deram abrigo.
 
Se houve condenações que justas ou injustas eram esperadas, já o mesmo não se poderá dizer do caso de Silvino Espírito Santo, de 51 anos, 2º cabo da Guarda-Fiscal reformado, natural de Pitões e residente no Cambedo em frente à casa onde estava abrigado Demétrio e Garcia. Talvez o únicos “crimes” de Silvino E.Santo fosse estar casado com Clementina Fernandes que era  prima do Mestre - Manuel Bárcia, ou Ser Guarda Fiscal Reformado, ou ser vizinho do Mestre, ou então conhecer o Juan e o Demétrio de há longos anos, como aliás toda a população do Cambedo conhecia. À sua prisão e posteriores acontecimentos não é estranha a mão do Capitão Luís Borges, o tal que foi presidente da Câmara, administrador do concelho de Chaves, inspector delegado da Polícia Internacional (PIDE), instrutor da Legião Portuguesa e director do tal jornal Era Nova.
 
A respeito dos Guardas fiscais envolvidos no processo, Paula Godinho refere na Revista História:
 
“Vários aldeões são acusados de acolherem o «bando de malfeitores», ou de com eles serem coniventes. Entre estes, salientam-se os agentes da Guarda Fiscal, integrando quatro deles este processo. A lógica subjacente à sua actuação , que respondeu às obrigações inerentes a alianças dentro da comunidade e com povoações dos arredores, conduzia-os a uma cumplicidade passiva, por não denunciarem a presença de refugiados. Teria de ser punida exemplarmente. Assim é com elementos do posto de Cambedo da Raia, como Silvino Espírito Santo, cabo da Guarda Fiscal nascido em Outubro de 1892, na povoação raiana barrosã de Pitões das Júnias, onde se familiarizara desde cedo com a convivência dos povos de um e outro lado da linha de demarcação. Partira para Lisboa depois da morte precoce do pai, alistara-se na GF, e como elemento desta força fora colocado em Cambedo da Raia, onde casou. Seria talvez o único habitante da aldeia a ler «O Primeiro de Janeiro» e também a «Gazeta do Sul», que assinava. Tornou-se alvo do despeito do capitão Luís Borges, principalmente pela indiferença adoptada relativamente à circulação de guerrilheiros galegos. Preso quando já se reformara como 2º Cabo, «por suspeita de fazer parte de uma associação de malfeitores» (tal como a restante gente do Cambedo presa), ficaria detido por 11 meses. Foi despromovido no Tribunal Militar e após 36 anos de serviço sem falhas de comportamento foi-lhe suspensa a pensão. Aquando da sua detenção, foi acompanhado pela esposa, Clementina Tiago, pela irmã desta, Albertina Tiago, pelo cunhado Júlio Lopes (também da Guarda Fiscal) e pelo filho mais velho, Domingos Espírito Santo, que se encontrava na tropa, e esteve um ano sem julgamento em presídio militar.”
 
Só da família de Silvino Espírito Santo foram 5 pessoas presas. Sem dúvida alguma que foi uma das famílias mais injustiçadas no caso do Cambedo da Raia, prendendo os seus e deixando Silvino Espírito Santo, mulher e 5 filhos sem a pensão de reforma que se adivinha, era o sustento da casa.
 
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Vejamos quem foram alguns desses detidos e quais as penas que apanharam:
 
1 – Demétrio, condenado a 28 anos de degredo (já atrás no capítulo a ele dedicado deixei um pouco da sua vida);
 
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2 – Os espanhóis componentes do bando e julgados à revelia, 4 anos de degredo;
 
3 - Silvino João Domingues, 4 anos de degredo;
 
4 – José Pereira, 2 anos e meio de degredo;
 
5 – Manuela Garcia Álvares, irmã de Demétrio e mulher do Manuel Bárcia, natural de Chãs, Verin, mas a residir no Cambedo desde que se casara. Absolvida. Saliente-se que os que foram absolvidos já tinham passado pelo menos 13 meses na prisão.
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6 – José do Nascimento Barroso, 20 anos, solteiro, filho da viúva Engrácia. 2 anos de degredo, substituídos por 18 meses de prisão correccional;
 
7 – Guilherme Pereira, 2 anos de degredo, substituídos por 18 meses de prisão correccional;
 
8 – António Lavouras, 2 anos de degredo, substituídos por 18 meses de prisão correccional. Esta família, que não era do Cambedo, mas sim de Mosteiró de Cima (Valpaços) e residente em Nantes, também viu os seus todos presos, como a mulher, Saudade Lavouras e a filha, além de alguns vizinhos.
 
9 – Engrácia Gonçalves, 2 anos de degredo, substituídos por 18 meses de prisão correccional;
 
10 – Isilda dos Anjos, 2 anos de degredo, substituídos por 18 meses de prisão correccional;
 
11 – Adelaide Teixeira, 2 anos de degredo, substituídos por 18 meses de prisão correccional;
 
 
12 – Assunção Ribeiro Carvalhal, 31 anos, Natural de Chãs, Verin, casado no Cambedo, absolvido;
 
13 – Albertina Tiago, 46 anos, solteira, natural e residente no Cambedo, absolvida;
 
14 – Escolástica Fernandes, de 55 anos, solteira, do Cambedo, absolvida;
 
15 – Adolfo Gonçalves, 45 anos, casado, do Cambedo, absolvido;
 
16 – Silvino Espírito Santo, 51 anos, 2º cabo da Guarda-Fiscal, natural de Pitões e residente no Cambedo, já foi atrás referido que além da prisão preventiva, foi despromovido e retiraram-lhe a pensão de reforma.
 
17 – João Manuel Afonso Pereira, 31 anos, Guarda-Fiscal, oriundo de Vilar de Veiga e casado em Soutelinho embora residente no Cambedo onde prestava serviço, embora absolvido no Tribunal Militar do Porto. Foi condenado a 40 dias de prisão pelo Comando da Guarda Fiscal e transferido de posto.
 
18 – Primitivo Garcia Justo, cinquenta e nove anos, casado, lavrador, natural e residente em Chãs, pai de Demétrio. Embora haja documentação que afirma que teria acompanhado o seu filho Demétrio ao longo de alguns anos de prisão, não consegui apurar qual foi a sua condenação.
 
19 – Celsa Garcia Alvarez, 18 anos, solteira, irmã de Manuela e cunhada do Mestre (Barcea). Irmã de Demétrio. Absolvida
 
20 – Casimiro Gonçalves, filho de Engrácia, 16 anos, solteiro. Absolvido;
 
21 – Manuel Bárcia, o Mestre, 34 anos, natural e residente no Cambedo (casa que abrigava Demétrio e Garcia na noite dos acontecimentos). Esteve mais de três anos e na cadeia. Condenado a 2 anos de degredo, substituídos por 18 meses de prisão correccional;
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22 – Joaquim Gomes, também conhecido por Ginja, Joaquim da Serra e Russo, 46 anos, taberneiro, residente no lugar do Funda da Serra em Sanjurge. Absolvido, mas também esteve preso durante mais de um ano a aguardar julgamento. Não foi provado qualquer envolvimento com os guerrilheiros, apenas que serviu por duas vezes um grupo de guerrilheiros a pedido de Manuel Bárcia (seu conhecido), os quais pagaram as refeições e nunca mais os viu.
 
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23 – Maria Alice Pires, 47 anos, mulher de Manuel Valença, do Cambedo. Acusada de ter escondido uma pistola do José Barroso.
 
24 – Joaquim Amaro, 32 anos, Vilarinho das Paranheiras. Acusado de esconder Bárcia.
 
25 – Aurora Barros, de 60 anos, de Nantes. Presa por, na madrugada do dia 20 de Dezembro, ter avisado o casal Lavouras da presença da Guarda-Republicana.
 
26 – Alda Gonçalves Lavouras, filha de António Lavouras e Saudade Lavouras, solteira de dezanove anos. Embora absolvidas, a mãe passou 13 meses na cadeia e a filha perto de 3 meses.
 
27 – Foram ainda absolvidos, depois de 13 meses de cadeia na PIDE do Porto : Celestino Miranda; João Exposto; Saudade Lavouras; David dos Santos Pires; Adelino José; João do Nascimento; José Rente; Vitorino António de Oliveira, o Nacho; Salvador dos Anjos, José Augusto Gonçalves; Armindo Augusto, Florinda Barbosa Pinheiro
 
 
28 – Os espanhóis Eládio Peres Prada, António Perez e Primo Perez Colmero, que acidentalmente estavam no Cambedo com mais dois primos menores de doze anos, Manuel Pardo Perez e Irene Perez Salgado e que naquele dia tinham vindo de compras a Portugal. Que embora detidos com os restantes e conduzidos para o Porto, foram soltos no dia seguinte e conduzidos à fronteira como simples indocumentados. O mesmo aconteceu com os portugueses José dos Santos Lobo, Joaquim Teixeira, Ventura Ferreira Moutinho, Agostinho Gonçalves, António dos Santos Chaves, João SecundinoPires, José Vieira e Boaventura Gonçalves que a PIDE propõe que sejam postos em liberdade em virtude da sua detenção ser apenas uma medida preventiva.
 
29 – Há ainda a considerar o caso do Guarda-Fiscal Octávio Augusto, a prestar serviço no posto do Cambedo na altura dos acontecimento e que após os mesmos foi transferido para o Geres onde se viria a suicidar. Octávio Augusto estava casado com Adelaide, irmã do já mencionado Mestre (Bárcia).
 
 
Quanto à origem das pessoas detidas após o cerco do Cambedo temos por ordem decrescente:
 
- Cambedo – 18 pessoas
- Concelho de Vinhais – 12 pessoas
- Cimo de Vila da Castanheira – 7 pessoas
- Torre de Ervededo – 6 pessoas
- Concelho de Montalegre – 6 pessoas
- Nantes – 3 pessoas
- Concelho de Boticas – 2 pessoas
- Concelho de Valpaços – 2 pessoas
- Vilarelho – 1 pessoa
- Vilela Seca – 1 pessoa
- Vila Meã – 1 pessoa
- Couto de Ervededo – 1 pessoa
- Bustelo – 1 pessoa
- Chaves – 1 pessoa
- Famalicão – 1 pessoa
- Maia – 1 pessoa
 
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Claro que a maioria desta gente, mesmo que não condenada em tribunal, passou pelo menos 1 ano na cadeia a aguardar julgamento e sabe-se lá o que mais não teria passado, conhecida que era a hospitalidade da PIDE que liderou todo este processo.
 
Em conversa com Florinda Pinheiro (a Espanhola ou Galega como é conhecida) que abrigou guerrilheiros em sua casa em Mosteiro da Castanheira, perguntava-lhe há dias se, enquanto esteve presa no Porto (13 meses) alguma vez foi torturada ou mal tratada e, a resposta foi clara: “- A mi, nom, mas ós do Cambedo e Demétrio, sí. Essos sofreram muito, coitadinhos!». Para Florinda Pinheiro, o só ter estado presa durante 13 meses, não foi ser maltratada. Claro que a privação da liberdade já em si é ser maltratada, mas é desculpada por Florinda Pinheiro, pois poderia ter sido bem pior, e hoje, já pouco recorda dos acontecimentos, mas recorda constantemente que esteve 13 meses presa na PIDE do Porto e os maus tratos às gentes do Cambedo e tem saudades de uma amiga que fez na prisão e à qual nunca mais viu, a Saudade Lavouras e das quais deixo aqui uma foto actual de ambas, e já que não se encontram fisicamente, deixo-as aqui juntas em imagem.
 
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Mas, também concordo, que a cadeia até talvez tivesse sido o menos, o pior penso mesmo que foi após todos os acontecimentos, a cadeia e o julgamento. Pior foram as marcas que todos os acontecimentos do Cambedo deixaram a todos os que tiveram de passar pela PIDE e pelas prisões. Marcas e feridas que ficam para sempre e que nem o tempo, muito tempo, ajudam a esquecer e que as gentes do Cambedo preferem remeter para o silêncio ao avivar de velhas feridas por sarar, porque sabem que a verdade, a verdadeira, nunca foi nem será contada e que ainda há hoje quem a deturpe. Verdades que passam pelo castigo de um povo inocente e pela certa, por algum colaboracionismo com sabor a traição (de que eles nunca falam) e estórias que nunca serão reveladas nem convém revelar, mas antes ficar no silêncio das famílias para morrerem com o passar dos anos, pelo menos enquanto ainda houver sobreviventes aos acontecimentos do Cambedo, porque depois, já não haverá ninguém para o contar.
 
Bento da Cruz “lamentava-se” no seu livro, pelo recebimento que teve em Nantes em 2001 quando foi visitar Saudade Lavouras. Diz ele que Saudade Lavouras o recebeu com uma lucidez de espírito e memória de fazer inveja mas, que quando lhe pediu para falar dos espanhóis lhe respondeu: «não me lembro, nem quero saber».
 
Paula Godinho, por sua vez, no seu trabalho sobre o Cambedo, publicado em Dezembro de 1996 no livro «O Cambedo da Raia – 1946» Afirma e transcreve num capítulo que intitula “Memórias, silêncios, amnésias” o sentimento das gentes que passaram pelos acontecimentos do Cambedo, e que acho importante deixar aqui:
 
Memórias, silêncios e amnésias
 
Num retomo a Cambedo da Raia, Vilarelho e Rabal, no Verão de 2001, surpreendi um discurso defensivo por parte de antigos entrevistados. As aldeias haviam mudado, o envelhecimento era maior, menos jovens aí permaneciam. Desde 1996 havia surgido um novo elemento de perturbação na relação da aldeia com o passado. Por quotização pública, um grupo de intelectuais de Ourense erigira uma placa em Cambedo da Raia "Ao pobo do Cambedo, en memoria do voso sofrimento, 23.12.1946-23.13.1996".
Além dos textos que publicara, e daqueles em que vários jornalistas e escritores haviam abordado os acontecimentos de 1946, um realizador português fizera aí um filme, um documentarista galego - também, a televisão galega viera filmar e entrevistar. Numa série sobre o século XX em Portugal a televisão estatal portuguesa dera igualmente relevo aos bombardeamentos e à repressão de 1946.
 
Atendendo ao material que acumulara e nomeadamente aquele que denota o relevo que a polícia política portuguesa deu aos factos, o retrato do grupo em análise inseria-o numa luta política. A estranheza detectada vinha de que os antigos entrevistados pareciam intimidados. Muitos já haviam morrido, uma senhora estava senil no lar de
Vilarelho, em conversas grupais, alguns dos entrevistados enunciavam um discurso em que esperavam não o meu aval - numa retroacção do discurso erudito - mas o meu apoio:
 
Continuando com Paula Godinho, há um relato que lhe foi feito, que para mim resume o “ser do guerrilheiro” nas nossas terras da raia:
 
"Eles eram tão maus como dizem por aí, e tão desordeiros, e tão atracadores, que estavam numa caseta que é minha, e eu tinha 18 anos, era nova, e hoje não, mas na altura diziam que eu que era bonita. Eu ia para lá trabalhar, ia para o gado, íamos regar, e eles vinham por donde a mim. Nunca me deram uma palavra que me ofendessem. Nunca me fizeram mal nenhum. Porque é que hei-de falar mal deles? Eles eram filhos de pessoas como nós, eram filhos de gente que eu conhecia, como é que eles me haviam de fazer mal? Não podiam.(...) Se eles fossem marotos, eu andava ali sozinha, em Calmar, que é um lugar, se fosse agora, com essa mocidade que por ai há, o que não me fariam? E eles nunca me ofenderam. Nunca na vida, nunca! O que eles me diziam às vezes era «Tu vens para cá amanhã? Trazes-nos tabaco?». E eu levava-lhes, e pagavam-me.(...) "O Juan, por exemplo, o Juan, nós íamos de noite e às vezes apareciam-me lá na Carrasca, quando se vai para o Morico, lá na fronteira, e dizíamos assim. «Vamos às batatas, ou vamos...» Íamos á nossa vida, e ele acompanhava-nos, chegávamos lá às Casas dos Montes, e, ficava fora do povo, ali, que ele era de lá. Eu não tenho a mínima queixa para o Juan. Conhecia-lhe a mãe, conhecia-lhe o pai, conhecia-lhe o irmão, ainda agora estive lá com a Lucinda. Não são boas pessoas? O que é que tinha a Ramona, que era irmã dele, que é que tinha? Eles foram aquela coisa." (Gloria Valença, Cambedo, 2001 ).
 
E estamos quase chegados ao fim dos acontecimentos de 1946 e condenações de 1947, curiosamente ambos em Dezembro e pouco tempo antes do Natal.
 
Amanhã, o último dia dedicado ao Cambedo passará por aqui o que foi dito em alguma imprensa da época.
 
Até amanhã!.

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