.
Se pesquisarem no arquivo deste blog verificarão que não é a primeira vez que vamos até à Granjinha, por isso não me vou repetir dizendo de novo aquilo que já disse. Mas posso resumir dizendo que me encantou a primeira vez que lá fui e, que continua a encantar-me sempre que lá vou.
Claro que também sofre do abandono do seu núcleo, do envelhecimento, das inevitáveis e desajustadas intervenções novas (poucas, mas à escala da granjinha) e, do esquecimento a que já estamos habituados por parte das entidades responsáveis. Mas mesmo assim, a Granjinha é um tesouro, que até está referenciado, mas apenas isso.
.
.
De facto o tesouro existe na sua beleza natural e ímpar, na riqueza de vestígios romanos, na riqueza da capela românica mais antiga da região, rica em pormenores e também em esquecimento e desprezo, não por parte da pouca gente local que a estima e conserva como pode, mas por parte das tais entidades responsáveis (sejam elas quem forem e que todos conhecemos) que nem sequer disponibilizam uns míseros euros para restaurar o belíssimo altar abandonado a um canto da capela. Temos pena que estes tesouros (embora referenciados nos livros e pelos historiadores) estejam abandonados à carolice dos filhos da terra e que se descubram por mero acaso, pois não há nada, nem ninguém, que nos leve até à Granjinha, à esquecida Grajinha, à abandonada Granjinha.
.
.
Peço desculpa aos filhos da Granjinha (outro tesouro), por estas palavras. É a eles que dedico este post.
Mas nem há como dar a palavra aos filhos e enteados da Granjinha, para ficarmos com o seu sentir.
.
.
Luís da Granjinha, é um dos seus filhos ausentes que a sente e a chora. Fiquemos então com as suas palavras:
“A MINHA ILHA “
1 de Janeiro de 2000, d. c.
Ontem, ao fechar o ano, apeteceu-me falar da « minha ilha ».
É única.
Ilha é uma porção de terra rodeada de água por todos os lados.
A « minha ilha » é única.
É rodeada de terra por todos os lados.
Assemelha-se ao chapéu de De Gaulle usado por um legionário.
Ligeiramente côncava, estende-se graciosa até ao vale do Tâmega – Veiga de Chaves.
Limita-a a Fonte da Moura, o “ teiro ( outeiro ) Ladrão, o Monte da Forca, a Quinta do Alvarolino, o Matadouro, a Lameira e a quinta de S. Fra(g)ústo, o caminho de Curalha e o “ Alto “ e “ A Lama “.
É um miradouro para terras de Espanha: Verin – Monterrey; para a plenitude da Veiga de Chaves; a sobranceria do Castelo de Monforte; a solenidade da serra da Abrunheira; e a importância estratégica de Outeiro Jusão.
. .
Distraída, complacente, « a minha ilha » deixou que « os moinantes » tomassem conta da “ Vargem “( corruptela de Várzea) e aí fundassem um Bairro que até os caminhos que levavam ao Matadouro comeu.
Recordo as vezes que vi “ o tio Quim “ a correr, de sacho no ar, atrás dos e das moinantes que andavam a roubar os quintais.
Fugiam a sete pés e saltavam como raposas « a sorreira ».
A debruar « a minha ilha », em tom azul escuro, a « estrada de Braga »; em tom anegrado, o rio Tâmega.
E era nesse rincão que proliferavam os coelhos, as lebres e raposas; os pintassilgos, melros e rouxinóis; alvéolas, pintarroxos e tentilhões; narcejas e perdizes; “ bichos-da-unha “, milhares de grilos e saltões ( gafanhotos ); cobras e cobras - licranços e víboras, até!
E Lagartos!!!
Darwin escusava de ter feito uma viagem tão longa aos Galápagos.
Ali, na « minha ilha », também encontraria importantes elementos para a sua teoria e deliciosos alimentos como iguaria - as batatas, as cerejas, os figos, as amoras e as abêboras; fartura de melancias e melões casca – de - carvalho; o pão centeio cozido no forno do pátio ou o folar de crescer água na boca; as sanchas, os tortulhos e os “ níscarros “; as “ febras “ dos castanheiros.
As mulheres da « minha ilha » eram óptimas governantas e excepcionais cozinheiras.
Na « minha ilha » vivia-se com paixão e gosto pela Natureza.
Era um humilde pedacinho do Céu na Terra!
Celtas, Romanos, Suevos, Visigodos e Árabes amaram-na.
E lá deixaram os sinais das saudades com que partiram: as minas de água, os poços dos quintais, as « cegonhas », A CAPELA – e quantos vestígios soterrados!...
. .
Os homens da « minha ilha » caminhavam com o orgulho dos Celtas, cultivavam com a paciência dos Árabes, falavam com a sonoridade dos Romanos, e contemplavam as estrelas com a elevação espiritual dos Gregos.
« A minha ilha » seduzia, cativava quem a visitava ou só ouvia falar dela.
Os despeitados - quão ignorantes, então! - chamavam-lhe « A ILHA DOS LAGARTOS »
Mas « a minha ilha » chama-se Granjinha !
Nas suas “ armas “ e sua “ bandeira “ vou chamar-lhe GRANJINHA - A ilha da Saudade!!!
Luís da Granginha
.
.
.
.
.
Mas quando se fala na Granjinha e na freguesia, temos obrigatoriamente de falar também no J. Pereira (ou Zé da Arminda como carinhosamente é conhecido na freguesia), também ausente, mas que leva diariamente as terras, as gentes e as estórias da freguesia aos quatro cantos do mundo com o seu blogue
valdanta .
Também ao J.Pereira pedi umas palavras para ilustrar este post:
“A Granjinha é um lugar da freguesia de Valdanta todo impregnado de História, desprezado e esquecido por toda a gente, menos pelos heróis que vão resistindo e lhe vão dando alguma vida. Sobreviventes de um abandono e desleixo por este pedacinho de céu. Implantada estrategicamente virada a Nascente – Sul, entre montes que descem em presépio para o Tâmega está rodeada de férteis terrenos agrícolas que, por mor do dinheiro estão a ser transformados em bens imobiliário.
.
.
Por ali passei muitos dias da minha infância e juventude guardando gado, ora armando aos pássaros, ora tocando flauta, espantando-os, sentado na escada da casa da quinta dos Taroucos, propriedade dos meus antepassados. Bebia água da “Pipa”, comia amoras de uma amoreira que ainda existe no quintal do sr. António Guarda e guardava as batatas do abuso dos rebusqueiros.
Hoje a Granjinha é uma terra deserta com meia dúzia de moradores, mas de tão rica História que não resisto a apresentar um pequeno texto de Manuela Martins que em tempos encontrei na Wikipédia quando procurava algum assunto sobre este paraíso perdido.
.
.
“O sítio da Granjinha situa-se numa sequência de relevos que descem para o Tâmega, a SO de Chaves, na margem direita do rio, inserindo-se já na chamada Veiga de Chaves.
Situa-se no eixo viário da estrada romana Bracara Augusta (Braga) e Acquae Flaviae (Chaves), numa zona de alta potencialidade agrícola. No perímetro desta pequena aldeia foram encontrados, em diversas ocasiões, numerosos vestígios arqueológicos, bases e fustes de coluna, bocados de mosaico, inscrições, peças de bronze, uma estátua de mármore e cerâmica, achados que apontavam para a existência de uma vila romana neste local. Em 1986, quando se realizaram obras de restauro na capela, classificada como MONUMENTO NACIONAL, descobriu-se mais uma ara romana, a servir de antiga mesa do altar. Na mesma altura foram realizadas escavações na loja de uma casa anexa à capela que permitiram pôr a descoberto alguns muros de excelente aparelho romano. Em finais de 1986 e inícios de 1987 foram realizadas novas escavações no interior da capela, prévias aos trabalhos de restauro da mesma, dirigidas por Francisco Sande Lemos. Estas escavações permitiram constatar que o sítio teria conhecido uma ocupação da Idade do Ferro anterior à instalação da vila romana, da qual foi identificado um pavimento de opus signinum. Verificou-se, também, que o local conheceu uma ocupação entre a Alta e a Baixa Idade Média, testemunhada por cerâmicas e sepulturas, estas últimas, do período tardo-medievo. Trata-se, por conseguinte, de um sítio com uma interessante sequência de ocupação entre a Idade do Ferro e a actualidade Entre os vários achados arqueológicos do sítio destacam-se as três aras votivas; uma dedicada às Ninfas, outra aos Lares Tarmucenbeacis Graveis (Encarnação 1975, 217-218) e a descoberta, em 1986, dedicada aos deuses tutelares de Acquae Flaviae por M. Ulpius Vaturninus (Encarnação 1990, pp. 454-455)”.
.
.
Para os resistentes o meu apreço e a minha admiração e respeito por respeitarem e amarem tanto este espaço digno de ser amado.
J. Pereira
E fica por aqui a passagem alargada deste blog pela Ganjinha. Claro que muito ficou por dizer e quanto a imagem, também muita coisa ficou por mostrar, mas mais oportunidades haverá, pois a Granjinha continua a encantar.
Restam as despedidas. Até ao próximo Sábado, amigos da Ganjinha e até amanhã, amigos deste blog, noutra aldeia de Chaves.