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Lá vou cumprindo a promessa de trazer aqui todas as aldeias do concelho. Por opção, as mais próximas da cidade foram ficando para o final desta longa caminhada pelas quase 150 aldeias do nosso concelho. Ainda faltam meia-dúzia, mas hão-de passar por aqui.
Em algumas aldeias que ainda faltam, além da opção da proximidade as deixar para o final, faltou também alguma oportunidade de inspiração, pois se aldeias há que chegados lá cada esquina ou pormenor inspiram, ou melhor, pedem uma foto, outras há em que entro e saio da aldeia sem um despertar para um click. Quando assim acontece, nem há mesmo como deixar passar uma temporada e esperar que num regresso essa inspiração surja.
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Na insistência lá vão aparecendo os motivos e, se não aparecerem, sem os inventar lá se vão inventando.
Esta é uma das características das aldeias de proximidade da cidade, ou seja, como são menos dadas ao despovoamento, os seus habitantes ao longo dos anos foram construindo novas casas na periferia da antiga aldeia e, no seu núcleo, foram alterando e reconstruindo o casario existente sem haver muita ou nenhuma preocupação em preservar a traça daquilo que dava e fazia a tipicidade das aldeias transmontanas, onde o granito, algum ferro e a madeira, eram reis e senhores.
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A modernidade também tem as suas maleitas, mas bem pior que a modernidade são as doenças a ela associada, como a ausência de políticas e planos de preservação daquilo que é o nosso património histórico, cultural e tradicional, mas sobretudo o desinteresse dos políticos em criar planos de salvaguarda e valorização do património. Quando falo em políticos, refiro-me aos mesmos de sempre, os de Lisboa e os das casas do poder concelhio. Deixo de fora as juntas de freguesia, que embora também tenha a sua quota-parte de culpa (e também haja excepções), vão sendo as únicas que vão fazendo o que podem pelas populações das aldeias e das montanhas, mas apenas e mesmo naquilo que podem, ou seja, no que é básico, como a água, o saneamento, o arranjo das ruas e dos cemitérios e, mesmo assim, só a custo de muita pedinchice, quase humilhante.
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Com a desculpa da modernidade e a pressão dos lobbies (que ninguém diz haver ou conhecer, que não têm rosto, mas que existem) bem visíveis, caminhou-se para um centralismo atabalhoado da modernidade do imediato, do “facilitismo”, sem planeamentos e sem preocupações com o futuro… o resultado está à vista e sem direito a retorno.
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Também os PDM’s se necessários, entraram tardiamente em acção e no que respeita ao mundo rural há um notório desconhecimento do viver e das realidades das nossas aldeias, permissivo em demasia no que toca a preservação e proibitivo demais no que toca a abertura para uma modernidade, sim, mas sustentada que permitisse contrariar o despovoamento. É que também os PDM’s são feitos à mesa em confortáveis gabinetes que vão andando ao som das músicas que os políticos compõem e orquestram. Também, os PDM’s são um pecado quando para as cidades não se aplicam com as inventadas medidas de excepção, com planos de pormenor que se vão ajeitando conforme as conveniências ou com planos de urbanização que, por dar jeito, nunca entram em vigor.
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Em suma, vamos vivendo numa democracia que até decide no momento de ir às urnas, mas que a partir de aí, entre em regime de anarquia de lobbies e lobisomens do plim e do “concr€to”, onde todos se estão a borrifar para as aldeias, porque estas, não fazem, nem nunca fizeram parte dos seus futuros e planos, que até existem, mas são pessoais. Curioso é que a maior parte desta gente foi parida nestas aldeias…
Tudo isto a respeito de Vila Nova de Veiga que já está longe de ser uma das aldeias típicas transmontanas, mas antes, é uma aldeia de proximidade da cidade que funciona mais como um dormitório dela, onde a construção e as novas construções floresceram também um pouco ao ritmo, moda e imagem da cidade, onde ao longo da estrada, como aldeia de estrada que sempre foi, nasceram alguns serviços, oficinas, indústrias, aterros, restaurantes, etc, e, diga-se, pessoalmente nada tenho contra o aparecimento destas actividades, antes pelo contrário, mas, e dado que esta aldeia é já um prenúncio de entrada na cidade de Chaves, o planeamento e arranjo das áreas envolventes e confrontantes com a Estrada Nacional, deveriam ter um tratamento mais cuidado, pois não basta destinar espaços a actividades…
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A aldeia em si, também cresceu de uma forma diferente daquilo que é habitual no crescimento das aldeias. Nasceram novos bairros isolados, onde as construções nasceram primeiro que as infra-estruturas, ou seja, foram “urbanizados” caminhos rurais com todos os “pecados” daí resultantes onde as soluções de infra-estruturação à posteriori, são apenas para remedeio e sempre insuficientes.
Quanto ao núcleo da aldeia, embora menos notório, também está descaracterizada com a introdução de construções novas e muitas recuperações com acrescentos e novos materiais que em nada dignificam a tipicidade e as características das aldeias trasmontanas. Claro que há algumas excepções, mas poderia haver muitas mais, se tivesse havido um trabalho sério de sensibilização, informação e ajuda, mesmo que esta ajuda apenas fosse técnica e também um PDM rigoroso em relação a núcleos, mas cooperante.
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Assim, na minha modesta opinião, Vila Nova de Veiga, como o próprio topónimo também pode indicar ou coincidir, trata-se mesmo de uma “vila” nova da veiga de Chaves, onde mais que uma aldeia, hoje em dia, é um bairro da cidade de Chaves.
Não quero com isto ferir os sentimentos dos naturais e resistentes da aldeia, que, a existir o espírito colectivo de aldeia, é bom que se mantenha, mas é uma realidade que pessoalmente constato, quando se, no passado tivesse havido algum cuidado colectivo, hoje a aldeia poderia ser bem mais interessante, com o seu núcleo preservado e bem definido e a aldeia nova ou nova aldeia, com novos bairros devidamente planeados e infra-estruturados e até com uma zona industrial e de serviços atractiva aos olhos de quem a visse, mas isso, claro, deveria ter sido planeado e pensado há dezenas de anos atrás e por quem devia, que pela certa, não eram (apenas) responsabilidades dos habitantes de Vila Nova de Veiga.
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Tenho consciência que muitas vezes as realidades não são simpáticas, mas a culpa não é minha, pois eu apenas observo e registo. Para “mentira” já me basta ter de seleccionar e afinar o olhar para em imagem contradizer tudo aquilo que disse.
Até breve, pois este post por problemas alheios à minha vontade, só agora foi possível.
O próximo, dentro de poucas horas estará aí.