A Missa do 7º Dia (1) - Por Luís Fernandes
Tal como anunciamos, começa hoje em forma de episódios o contar de uma estória que nos leva até aos meados século passado na cidade de Chaves. Uma breve e intensa estória de amor perturbada pela missa de 7º dia. A estória é contada em XI episódios que irão estar aqui nos próximos sábados à noite. Estória já publicada em livro, de autoria de Luís Henrique Fernandes, edição de autor, ao qual agradeço a devida autorização para a publicar aqui na integra.
A foto da capa do livro/ilustração do cabeçalho é de autoria de Dinis Ponteira. As ilustrações utilizadas ao longo da história são de autoria do blog Chaves, com imagens de arquivo do blog Chaves Antiga de Chaves, imagens, mais ou menos da época em que a acção se passa.
Fica hoje o I Capítulo. Espero que gostem.
A Missa do 7º Dia
(I)
Era no tempo em que o amor era mais proibido que consentido.
Ainda havia clãs que concertavam os casamentos dos filhos, ainda estes no berço.
Ele era “rapaz da cidade”, estudado na Escola Comercial e Industrial.
Ela era rapariga bonita, do Bairro da Madalena, com traços daquela beleza transmontana resultante da mistura de Celtas, Romanos, Visigodos e Mouriscos.
Naquele tempo, a cidade era o Largo do Arrabalde e os arrabaldes do Largo. O rio, o Ribelas, as Portas do Anjo e o Monumento eram sinais da diferença entre o urbano e o sub-urbano. Mesmo nos Bairros da cidade usava-se, tal como nas aldeias, o «ir à cidade» - a substituir o «ir à Vila», de antes de 1929.
Um morgado, filho do Morgado de uma das Aldeias da Raia, apaixonou-se pela rapariga, logo na primeira vez que a viu, na Pensão da mãe, na Madalena.
Porém, do lado de lá do rio, nas redondezas do Largo do Arrabalde, morava o príncipe dos sonhos da moçoila.
Ela perdera-se de amores por ele logo na primeira vez que o vira, quando acompanhou a mãe à compras no Mercado Municipal.
Para o morgado foi paixão à primeira vista; para a rapariga foi a primeira paixão à vista.
Se a mãe entrasse na Rua das Longras lá a convencia a subir as escadas para virem para a Rua do Olival.
Se a mãe descia as escadas do Olival e quisesse atalhar pela Rua das Longras convencia-a que tinha visto, de relance, os padrinhos à porta da Pensão Império, lá na Rua do Olival, e queria passar por ali para lhes pedir a bênção.
E os olhares trocados com o seu principezinho, sempre a postos na área do “Mocho”, ateavam as chamas, cada vez mais ardentes, daquele amor fogoso.
Chegaram à fala.
E comprometeram-se.
(II)
O morgado tornara-se assíduo na Pensão da Madalena. A «Florette», que sucedera à «Pachancho», encurtava …
(continua no próximo sábado)