Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

CHAVES

Olhares sobre o "Reino Maravilhoso"

06
Mai11

Discursos Sobre a Cidade - Por António Tâmara Júnior


 

 

 

COINCIDÊNCIAS

 

 

Conheci a cidade de Genève na década de 90.


Naquela altura vivia debaixo de uma tensão emocional intensa.


O convite de um amigo para lá passar uns dias tornou-se providencial – oportuno, terapêutico.


Genève, para mim, foi amor à primeira vista.


Aquele lago – o Léman – fez parte, enquadrou-se, na perfeição, no contexto da minha cura, como apelo à calma e tranquilidade, de que tanto necessitava.

 

 


 

A par do Jura e o Salève, as suas montanhas maternais, protectoras.


Quase vinte anos depois, voltei a Genève.


A visitar amigos e familiares. E descansar das peripécias de um país que uma comunicação social frenética, diria mesmo, histérica, não pára de nos desassossegar, transformando-nos em crianças assustadas.


Genève, a cidade suíça francófona por excelência que, nesta quadra pascal, tinha à minha frente, apresentou-se como se fosse um amigo, dos verdadeiros, que largámos há muitos anos mas que, na hora do reencontro, é como nos tivéssemos deixado na véspera.


No seu regaço passei uns dias tranquilos, reconfortantes, na companhia de familiares e de um grande amigo, que me recebeu, como há anos atrás, junto às margens do lago, pelas bandas de Versoix.


Revisitámos lugares, recordámos peripécias das nossas vidas, falando de uma outra cidade – e das suas gentes – que há muitos anos adoptámos como a nossa cidade.


E constatando o mesmo fascínio que Genève exerce sobre nós.

 

 


 

Cheguei a Chaves vai um par de dias.


E com a sensação que, desde a minha partida até à minha chegada, tudo tinha parado no tempo. Como o tempo das inúmeras telenovelas que passam nos canais da nossa televisão – deixam de se ver vários episódios e basta apenas escassos minutos para entender todo o enredo não visto. Ou seja, pouco ou nada de novo, efectivamente, se passou. Continua tudo na mesma.


Recebi hoje um e-mail do meu amigo genebrino, em viagem de trabalho por terras do Brasil.


Em anexo vinha um texto de Jaques Amaury, sociólogo e filosofo francês, professor na Universidade de Estrasburgo, que publicou recentemente um estudo sobre A crise Portuguesa, que não resisto aqui de o transcrever:


Portugal atravessa um dos momentos mais difíceis da sua história que terá que resolver com urgência, sob o perigo de deflagrar crescentes tensões e consequentes convulsões sociais.


Importa em primeiro lugar averiguar as causas. Devem – se sobretudo à má aplicação dos dinheiros emprestados pela CE para o esforço de adesão e adaptação às exigências da união.


Foi o país onde mais a CE investiu “per capita” e o que menos proveito retirou. Não se actualizou, não melhorou as classes laborais, regrediu na qualidade da educação, vendeu ou privatizou a esmo actividades primordiais e património que poderiam hoje ser um sustentáculo.


Os dinheiros foram encaminhados para auto estradas, estádios de futebol, constituição de centenas de instituições publico - privadas, fundações e institutos, de duvidosa utilidade, auxílios financeiros a empresas que os reverteram em seu exclusivo benefício, pagamento a agricultores para deixarem os campos e aos pescadores para venderem as embarcações, apoios estrategicamente endereçados a elementos ou a próximos deles, nos principais partidos, elevados vencimentos nas classes superiores da administração publica, o tácito desinteresse da Justiça, frente à corrupção galopante e um desinteresse quase total das Finanças no que respeita à cobrança na riqueza, na Banca, na especulação, nos grandes negócios, desenvolvendo, em contrário, uma atenção especialmente persecutória junto dos pequenos comerciantes e população mais pobre.


A política lusa é um campo escorregadio onde os mais hábeis e corajosos penetram, já que os partidos cada vez mais desacreditados, funcionam essencialmente como agências de emprego que admitem os mais corruptos e incapazes, permitindo que com as alterações governativas permaneçam, transformando – se num enorme peso bruto e parasitário. Assim, a monstruosa Função Publica, ao lado da classe dos professores, assessoradas por sindicatos aguerridos, de umas Forças Armadas dispendiosas e caducas, tornaram – se não uma solução, mas um factor de peso nos problemas do país.


Não existe partido de centro já que as diferenças são apenas de retórica, entre o PS (Partido Socialista)  que está no Governo e o PSD (Partido Social Democrata),  de direita, agora mais conservador ainda, com a inclusão de um novo líder, que tem um suporte estratégico no  PR e no tecido empresarial abastado. Mais à direita, o CDS (Partido Popular), com uma actividade assinalável, mas com telhados de vidro e linguagem publica, diametralmente oposta ao que os seus princípios recomendam e praticarão na primeira oportunidade. À esquerda, o BE (Bloco de Esquerda), com tantos adeptos como o anterior, mas igualmente com uma linguagem difícil de se encaixar nas recomendações ao Governo, que manifesta um horror atávico à esquerda, tal como a população em geral, laboriosamente formatada para o mesmo receio. Mais à esquerda, o PC (Partido comunista) vilipendiado pela comunicação social, que o coloca sempre como um perigo latente e uma extensão inspirada na União Soviética, oportunamente extinta, e portanto longe das realidades actuais.  


Assim, não se encontrando forças capazes de alterar o status, parece que a democracia pré – fabricada não encontra novos instrumentos.


Contudo, na génese deste beco sem aparente saída, está a impreparação, ou melhor, a ignorância de uma população deixada ao abandono, nesse fulcral e determinante aspecto. Mal preparada nos bancos das escolas, no secundário e nas faculdades, não tem capacidade de decisão, a não ser a que lhe é oferecida pelos órgãos de Comunicação. Ora e aqui está o grande problema deste pequeno país; as TVs as Rádios e os Jornais, são na sua totalidade, pertença de privados ligados à alta finança, à industria e comercio, à banca e com infiltrações accionistas de vários países.


Ora, é bem de ver que com este caldo, não se pode cozinhar uma alimentação saudável, mas apenas os pratos que o “chefe” recomenda. Daí a estagnação que tem sido cómoda para a crescente distância entre ricos e pobres.


A RTP, a estação que agora engloba a Rádio e Tv oficiais, está dominada por elementos dos dois partidos principais, com notório assento dos sociais democratas, especialistas em silenciar posições esclarecedoras e calar quem lenta o mínimo problema ou dúvida. A selecção dos gestores, dos directores e dos principais jornalistas é feita exclusivamente por via partidária. Os jovens jornalistas, são condicionados pelos problemas já descritos e ainda pelos contratos a prazo determinantes para o posto de trabalho enquanto, o afastamento dos jornalistas seniores, a quem é mais difícil formatar o processo a pôr em prática, está a chegar ao fim. A deserção destes, foi notória.


Não há um único meio ao alcance das pessoas mais esclarecidas e por isso, “non gratas” pelo establishment, onde possam dar luz a novas ideias e à realidade do seu país, envolto no conveniente manto diáfano que apenas deixa ver os vendedores de ideias já feitas e as cenas recomendáveis para a manutenção da sensação de liberdade e da prática da apregoada democracia.


Só uma comunicação não vendida e alienante, pode ajudar a população, a fugir da banca, o cancro endémico de que padece, a exigir uma justiça mais célere e justa, umas finanças atentas e cumpridoras, enfim, a ganhar consciência e lucidez sobre os seus desígnios”.


Coincidência no diagnóstico, dizia eu em voz alta, lembrando-me da conversa que, no Jardim Perl du Lac e no Pâquis, mantivemos, a propósito da situação que se vivia em Portugal.


Por trás de mim, Tio Nona replicava – “Et voilá!”

António Tâmara Júnior

 

 

 

 

Sobre mim

foto do autor

320-meokanal 895607.jpg

Pesquisar

Sigam-me

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

 

 

19-anos(34848)-1600

Links

As minhas páginas e blogs

  •  
  • FOTOGRAFIA

  •  
  • Flavienses Ilustres

  •  
  • Animação Sociocultural

  •  
  • Cidade de Chaves

  •  
  • De interesse

  •  
  • GALEGOS

  •  
  • Imprensa

  •  
  • Aldeias de Barroso

  •  
  • Páginas e Blogs

    A

    B

    C

    D

    E

    F

    G

    H

    I

    J

    L

    M

    N

    O

    P

    Q

    R

    S

    T

    U

    V

    X

    Z

    capa-livro-p-blog blog-logo

    Comentários recentes

    • FJR

      Esta foto maravilhosa é uma lição de história. Par...

    • Ana Afonso

      Obrigado por este trabalho que fez da minha aldeia...

    • FJR

      Rua Verde a rua da familia Xanato!!!!

    • Anónimo

      Obrigado pela gentileza. Forte abraço.João Madurei...

    • Cid Simões

      Boa crónica.

    FB