Pedra de Toque - Eduardo Guerra Carneiro
EDUARDO GUERRA CARNEIRO
Mais precisamente Eduardo Augusto Guerra Carneiro
Nasceu em Chaves a 4 de Outubro de 1942. Era mais velho do que eu cerca de três meses.
Cruzamo-nos na meninice e na adolescência, brincamos e calcorreamos as ruas e vielas da velha Chaves,
Que nunca deixou de visitar, mesmo quando passou a viver em Vila Real, na companhia dos seus pais, distintos professores, onde também estudou.
No já longínquo ano de 1959, matriculei-me no Liceu Camilo Castelo Branco, na capital do distrito, para cursar a alínea de Direito do então 6º ano.
Aí reencontrei o Eduardo e com ele convivi diariamente durante dois anos.
Com outros bons amigos, lembro o António Barreto, hoje conhecido sociólogo, o seu irmão Nuno Barreto, o Manuel Areias e outros, e formamos um grupo, uma jovem tertúlia onde discutíamos literatura, líamos poesia, colaborávamos em revistas, conspirávamos contra a ditadura.
O Eduardo frequentou a Faculdade de Letras do Porto e depois saltou para Lisboa, vivendo sempre ligado ao jornalismo, colaborando em vários jornais e algumas revistas.
Granjeou pela qualidade dos seus escritos prestígio no mundo da imprensa escrita.
Encontrávamo-nos com frequência nas férias, porque descíamos até Chaves e aqui conversávamos imenso, divertíamo-nos e discutíamos sempre com o supremo objectivo de melhorar o mundo.
Mas o Eduardo, sempre lúcido, sempre fraterno, era um poeta notável.
Assisti em 1961 ao nascimento do seu primeiro livro de poemas, O PERFIL DA ESTATUA, que ajudei a paginar.
Ainda hoje me lembro do primeiro poema sobre “Carla princesa negra que cantava em voz doce e negra”.
Li depois, O Corpo Terra, Algumas Palavras, Dama de Copas, Contra a corrente e outros, alguns destes que o Eduardo me ofereceu.
Neles o Eduardo demonstrou ser poeta de grande sensibilidade, construindo nesses seus livros, muitos poemas lindíssimos que nos legou.
Também li algumas crónicas vertidas nos dois exemplares “O Revolver do Reporter” e “Outras fitas”, dois livros interessantíssimos e claramente reveladores da sua qualidade jornalística sobretudo na vertente da reportagem.
Quando nos encontrávamos, selávamos sempre o encontro com abraço amigo e com umas imperiais que bebíamos felizes no primeiro botequim da esquina.
A última vez que estive com ele foi no verão de 2003, na esplanada do Quarto Escuro em Chaves.
Conversamos e quando um outro amigo, também presente, referiu que eu estava a ter algum sucesso, mormente financeiro e profissional, ele logo atalhou, com um sorriso amigo, dizendo que bem sabia que eu nunca deixaria de ter o coração do mesmo lado, porque me conhecia muito bem.
O Eduardo era um amigo do peito, um irmão.
Quando soube do seu desaparecimento a 4 de Janeiro de 2004, emocionei-me com a tristeza que me abateu e não consegui parar algumas lágrimas que me invadiram os olhos.
António Roque