Pedra de Toque - O sono, a música, o amigo...
O SONO, A MÚSICA, O AMIGO …
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Acreditem que não é tarefa fácil escrever com sono.
Enquanto os olhos se me piscam e a boca se me abre, uma girândola de ideias e imagens, passam em filme na minha cabeça.
E param nas palavras simples cheiinhas de saudade e emoção que ouvi ao artista José Firmino Morais Soares, um amigo do peito, já há uns tempos, na escola secundária Dr. Júlio Martins.
Relembro-o no repouso do sofá, ao calor da braseira, e ouço nos meus tímpanos o virtuosismo dos acordes que tirava do seu velho piano e a harmonia dos coros que com mestria regia.
As suas mãos ágeis percorrendo os teclados, o movimento do seu corpo, o ritmo que impunha às suas sobrancelhas e à sua face, tudo era arte, no José Firmino músico.
Mas ele não é só o artista da minha terra a cujo talento, perseverança e sensibilidade sempre me rendi com urna admiração muito grande.
Nesta película que corre por cima dos meus olhos que se teimam a fechar, ele é uma personagem importante neste cenário querido e fabuloso, que foi a nossa cidade linda.
Com a sua boquilha, o seu bom humor, a sua calvice, o seu dom natural de fazer amigos, passeou comigo e com tantos outros pelos recantos mais escondidos da cidade, pelas margens mais antigas e românticas do Tâmega, tantas vezes ao som das melodias e das palavras dos poetas que as nossas gargantas soltavam.
Connosco acorreu ao silvo das sirenes ao encontro dos incêndios, chocando-se com a tragédia, emocionando-se com o fantasmagórico espectáculo das chamas.
Mas a grande paixão do Zé - para além da música, claro, que o percorrerá até ao fim distante - eram as estórias da cidade, das suas figuras típicas, as anedotas da vida, que tantas gargalhadas sentidas nos proporcionavam até à lágrima feliz.
José Firmino é um grande amigo, um músico culto e exímio, um homem de Chaves que a cidade homenageou pelo seu prestígio, pelo seu valimento e mérito já vertidos num curriculum invejável e sobretudo pelo grande amor, mais estável que qualquer outro, à cidade que o viu nascer.
Esta noite acabei por adormecer, inevitavelmente, com um sorriso na face e andorinhas na alma…
E tive um sono repousante.
António Roque