Pedra de Toque - Dr. Júlio Augusto Morais Montalvão Machado
DR. JÚLIO AUGUSTO MORAIS MONTALVÃO MACHADO
Já muito se escreveu, nos últimos dias sobre este cidadão notável, cujo decesso na passada semana nos provocou tristeza profunda.
Aqui não vos vou falar sobre os dados biográficos do Dr. Júlio Montalvão, difusamente mencionados nos meios de comunicação, nem no seu vasto e brilhante currículo por demais conhecido na nossa cidade, na nossa província, no nosso país.
Hoje quero sublinhar a sua estatura humana e cívica de homem de esmerada educação, exemplar marido, pai e avô extremoso, um bom amigo com quem aprendi a amar a liberdade, a defender a tolerância e a firmeza no combate de ideias.
Foi ele que nos fins dos anos sessenta, num jantar de amigos, na já desaparecida Estalagem Santiago, me entusiasmou para, em nome dos jovens, expressar a indignação pelo estado das coisas na época.
Da Esq. para a Dir. - António Roque, Figueiredo Fernandes, Júlio M.Machado, x , Fillol Guimarães, no I Congresso do Partido Socialista (1975)
Estive com ele em Lisboa no 1º Congresso do PS, em liberdade (1975), na companhia dos saudosos drs. Figueiredo Fernandes e Fillol Guimarães, integrando a representação da secção do partido na nossa cidade.
Logo aí constatei o enorme prestígio que gozava entre os seus camaradas.
Nos Santos daquele ano, em pleno Arrabalde, recebemos o Dr. Mário Soares num grandioso comício, bem vivo na memória dos muitos que o presenciaram, onde fui brindado com a possibilidade de intervir.
Lembrava com o Dr. Júlio muitas vezes esse acto político e já o fiz em diversas ocasiões com o nosso ex-presidente da República.
Acompanhei relativamente de perto, até ao presente o seu percurso politica. E desejo realçar a sua postura vertical e sempre coerente.
Coerência tão rara nos tempos que vivemos, onde as pessoas cada vez mais vão mudando camaleónicamente ao sabor dos ventos do poder.
António Roque, Fernando Rua Alves e Júlio Montalvão Machado
O Júlio, nas vitórias e nas derrotas, esteve em todos os momentos firme, digno, no seu lugar de sempre.
O modo como exerceu medicina durante a sua vida, com grande generosidade e altruísmo, motivaram lágrimas que vi em olhos de gente pobre e simples que o acompanharam até à última morada.
Fazia-o com o sorriso, a simpatia e a simplicidade tão vincadas na sua personalidade.
Por fim, o destaque pela sua paixão por Chaves, pelos seus monumentos, pelas suas gentes que ele exaltava com entusiasmo, conversador apaixonado.
A sua obra literária, com especial enfoque na história da República e da nossa cidade, foi sempre fruto de muito trabalho, de cuidada investigação, com constantes consultas nos alfarrabistas e nas bibliotecas, onde com rigor procurava as fontes do passado.
António Roque e Júlio Montalvão Machado
No pós 25 de Abril alguns (pouquíssimos) medíocres procuraram beliscá-lo, mas ele, com elevação, saiu incólume de algumas infâmias que falsamente lhe atribuíram.
Esses indignos continuam para aí esquecidos, ignorados.
O Dr. Júlio, entretanto, prosseguiu o seu caminho, caminhando pela vida sempre inspirado na ética republicana, com sua digna postura de homem de excepção, de intelectual lúcido e brilhante, de homem probo, de HOMEM BOM.
António Roque e Júlio Montalvão Machado numa tomada de posse na Assembleia Municipal de Chaves
Sei, bom amigo, que repousas em paz.
Semeaste o bem na vida, quem teria coragem de perturbar o teu eterno descanso?...
Como já escrevi, quando alguém querido parte deixa sempre saudade, mas tu, caríssimo amigo e camarada, deixaste-me uma saudade enorme…
P.S: O Dr. Júlio Montalvão Machado figura de proa, consensual e marcante da nossa terra, merece que o seu nome seja atribuído a um espaço público na sua amada cidade de Chaves, como homenagem perpétua e justíssima dos seus conterrâneos.
Aqui deixo o repto que espero e desejo mereça total adesão dos flavienses, de todas as entidades públicas e privadas, mormente da Associação AMO CHAVES e da página CIDADE CHAVES, de tanto sucesso e profusamente visitada no Facebook.
António Roque.