Pecados e Picardias
A Taverna
Entrou o viúvo … alegre
Sortudo… a mulher morta
Todos dizem nele mal empregue
Já tinha outra a rondar a porta
-Um copo do da casa…sem baptismo
Sorriu da sua graça sem encontrar coro
Passou a mão pelo cabelo, bebeu um golo
É boa a pinga, sussurra com o seu narcisismo
Olha-se novamente sentindo-se bem
Bebe outro golo estalando a língua satisfeito
Observou o servente parecendo-lhe contrafeito
Viu o doutor cabisbaixo deu-lhe um olhar de desdém
Pensou na sua vida… ia de vento em popa
Na nova mulher, fogosa, talvez por ser nova
Dava-lhe uma energia fazia-o até reviver
Tinha de deixar passar um tempo… a ver
A mulher coitada, já nem as coisas de casa fazia
Doente, há tempos que nem com ele dormia
Deus às vezes escreve certo por linhas tortas
Agora estava só, sem estar, e com as reformas…
O pior era os dois filhos …queriam parte da herança
Achavam que ela era oportunista… não a conheciam
Se vissem como ela o tratava …o que ela lhe chamava
O carinho, os nomes, os sorrisos, não não entendiam
Mas ele tinha que pensar agora em continuar
Não ia deixar que lhe tirassem a alegria de viver
Custava-lhe aborrecer-se e os filhos deixar
Mas se fosse preciso… tinha de os fazer compreender
Voltou à janota, linda rechonchuda, como qualquer um gosta
Com gargalhadas, aquece-lhe os dias mal lhe entra na porta
Sente-lhe a vida a transbordar …não precisa de outra riqueza
Do que a que tem para dar… a boa disposição é a sua beleza
Mas ele tinha uma carta na manga explicar aos filhos
O quanto é difícil para os homens viverem sozinhos
Um homem precisa de uma mulher que tome conta dele
Que lhe faça as coisas de casa e que de noite o aconchegue
Bem tinha de ir … um copito de aperitivo para o almoço
Pagou já se sentia mais composto, não podia beber mais
Ia almoçar a casa do filho já levava um bom reforço
Esperava que a conversa não o obrigasse a tomar sais
Isabel Seixas