Estratos
O lugar da neve
É dia de semana e há neve logo ali, atrás da janela.
Ou nevava todos os dias ou só ao fim-de-semana. Para o bem de todos.
Ir para a escola em dia de neve é pecado. Os senhores que usam rectângulos dela ao pescoço não sabem. Mas é.
(Deus escreve direito por linhas tortas.)
Segundo lugar a contar do quadro, do lado esquerdo. De costas voltadas para o sol. Para a chuva. Para o gelo. Para o granizo. Para a neve também.
Ao fundo, à direita, a porta pintada de escuro, entre o castanho do chão e a côr do vinho. E o pai. De barba ainda preta e um cobertor de caramelos e lã que, desconfio, já não aperta.
Está a rir. Não houve viagens para o céu, na família. Mudo de professora por um dia. A Paula vai ensinar-me a construir bonecos de neve. Gosto dela.
Mesmo agora, quase vinte anos passados, gosto dela, dos filhos que não lhe conheço e da mãe, senhora de olhos bonitos.
Janeiro conta sete dias, estou em Chaves. Não encontro o lugar. Apenas o sítio.
Janeiro conta sete dias, estou em Chaves. E o lugar? Sei o apenas aqui, nos estratos. E é pouco. Tão pouco.
Rita