Chá de Urze com Flores de Torga - 19
Outeiro Machado, Chaves, 13 de Setembro de 1979
Ah, olhos que não sabem ler! Alguém deixou ideograficamente escrito neste fragão um recado aos vindoiros. Mas qual, para além da dura certeza de que, na roda dos séculos, a história do homem é, quando muito, uma história de pedras?
Miguel Torga, In Diário XIII
As palavras de torga não precisam de comentários nem de imagens. Elas são sempre certeiras, simples e atuais, mas carregadas de toda a verdade e realidade, mesmo quando esta não se mostra.
Mesmo assim, deixo por aqui algumas imagens para ilustrar as palavras, bem como um testemunho do porque Torga é torga. Quanto aos comentários possíveis, se é que os pode haver, pois deveriam antes ser substituídos por meditação, deixo as próprias palavras de Torga, que desde Trás-os-Montes ao Algarve, espelham sempre o Portugal real, o que chega a doer.
Milreu, Algarve, 3 de Agosto de 1977
São duas desgraças: herdamos pouco e nem esse pouco sabemos honrar. O nosso passado como que se amesquinha na indiferença do presente.
Miguel Torga, in Diário XIII
Gerês, 16 de Junho de 1977
Em vez de me perder, como outrora, pela serra, a encher os olhos da única realidade que hoje vale a pena em Portugal, a paisagem, passo as horas sentado em frente da rádio e da televisão, na ânsia de uma notícia de esperança. Tal é o desespero. Mas vêm palavras. As mais levianas, demagógicas e tolas que se podem ouvir. Os nossos políticos andam ao desafio. Cada qual quer se mais irresponsável do que o parceiro. E consegue sempre.
Miguel Torga, In Diário XIII