O Homem Sem Memória - 190
O Homem Sem Memória
Texto de João Madureira
Blog terçOLHO
Ficção
190 - O José mal adormecia começava a ver desfilar, no meio de nuvens, uma turba de gente encabeçada por um grupo de jovens de calções e bandeiras. Uns cantavam o “Hino da Mocidade Portuguesa” e outros entoavam a “Internacional”. Na cabeça do José tudo se confundia. O canto que aprendeu a entoar enquanto criança e o cântico comunista que aprendeu a berrar no tempo da sua jovem militância comunista.
Tudo relembrado em eco. O povo… ovo… ovo… lá vai cantando… ando… ando… e rindo… indo… indo (Shane! Shane!) levado pela ideia que já consome… ome… ome… (Shane? Shane?) a chama que a soterra… erra… erra… e se nada somos… omos… omos… neste mundo sejamos tudo… udo… udo… levados pela voz… oz… oz… (feiticeiro, onde estás tu?) do som tremendo das tubas… ubas… ubas da costa bruta… uta… uta… (Shane! Shane!) que nos cortam a mal… al… al… (feiticeiro de OZ? Shane?) pelo fundo e pelos senhores… ores… ores… (Aniki Bobó… Shane… Feiticeiro…) e pelos produtores e pelos patrões… ões… ões… cabrões… (Shane, somewhere over the rainbow… feiticeiro…) para não termos protestos para sair ir… ir… e vir… e tornar a ir… (Shane, ajuda-me, ajuda-nos…) deste antro estreito façamos nós por nossas mãos que o sonho é lindo indo… indo… e lá vamos torres erguendo rasgões e clareiras abrindo na alva luz… uz… uz… (Shane, ajuda-nos, ajuda-me) imortal da internacional todo o suor da corja… orja… orja… (Feiticeiro… somewhere over the rainbow… Oz… AnikiBobó… Aniki Bebé… Shane…) rica que recolhe o povo e luta afinal pela paz entre nós que somos irmãos… aõs… aõs… trabalhadores… dores… dores (Shane…) que somos a mocidade que passa e o tronco em flor… or… or… que estende os ramos… amos… amos… (Feiticeiro? OZ…) e lá vamos levados levados sim… im… im… portanto que cessem os ventos… entos… entos… da insânia pois já nada esperamos de nenhuns… (Shane? Shane…) Shaaaaaaane… Shaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaane… Shaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaane… Eu não quero ser um rei nem capitão nem soldado… Shane… não quero mandar em nada… Shane… eu não quero ser mandado… Shane… Shane… quero um cavalo de pau feito da mesma madeira da minha pistola… Shane… não te vás embora… Shane… o tronco da flor… Shane… o sonho lindo… as nossas mãos… os direitos… os sujeitos… Shane… o povo só quer o que é seu… Shane… o povo só quer o que é seu… Shane… e eu apenas quero um cavalo de pau… eu não quero ser ladrão… Shane… eu não quero ser polícia… Shane… eu só quero um cavalo de pau… Shane… somewhere over the rainbow… Shane… over the rainbow… Shane… over the… Shane…
191 – “Por favor, mãe… Não, não, não me ...
(continua)