Estratos
Música da fome
Quando passo não sinto o cheiro. Encontro-o depois. Quando volto. Quando desço a rua que subi.
Quando lembro. Quando olho para dentro. E de dentro.
A fome tem cheiro. E a dos outros mais.
A vergonha tem cheiro. E a nossa mais.
Fome dos outros tem cheiro mau. Vergonha nossa tem cheiro de morte.
A fome passa por nós e fica neles. A vergonha é contrato ad aeternum de nós connosco.
O cheiro passa por eles e entranha-se em nós. Como música que não vai embora. Com um assalto a Le Clézio, é a música da fome. E da vergonha.
Rita