Estratos
Com azeite e pão se constrói mundo
Enquanto encaro a folha em branco vejo um mundo cheio de nadas. A certeza, sempre tola, de nele poder caber tudo não me chega. O ladrão, vestido de incerteza, rouba-a.
Um mundo cheio de nadas traz-me pão molhado no azeite, alcaparras com cebola, rojões - já frios e inesperados - numa mesa de madeira e um banco corrido.
E aquele cibo de pão molhado no azeite traz ao mundo tudo. Os dias em que roubei a massa do pão ainda crua. As bolas que chegavam com os avós ao domingo. O escano da Tia Maria e a chaminé coberta de miniaturas da lareira que aqueceu nove filhos. As sopas de bacalhau e os potes ao lume. Mais o Natal na cozinha velha, o preferido.
Azeite. Pão. E assim se reconstrói o mundo.
O pão acaba. Resta azeite. Atravesso a rua. Busco pão para ganhar mundo.
Rita