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CHAVES

Olhares sobre o "Reino Maravilhoso"

30
Jul14

Chá de Urze com Flores de Torga - 46


 

Lisboa, 8 de Março de 1970

 

Bem fujo, mas de vez em quando não tenho remédio senão vir aqui pagar uma décima qualquer, como o meu pai se via obrigado a ir fazer a Sabrosa. A vantagem do Velho é que chegava, subia as escadas da repartição, abria os cordões à bolsa, chamava mentalmente larápios aos do governo, e regressava a casa aliviado. E eu, embora noutro plano faça mais ou menos o mesmo, meto-me no comboio humilhado civicamente. O rosto português desfigura-se quando reflecte no tejo, se não é do convés de um navio a sair barra fora. Perde a terrosa mas honrada expressão natural a que o condena a pesada cruz geográfica – e começo a acreditar que também a biológica –, e adquire a desonrada de quem encorpora mimeticamente os gestos alheios. É um espectáculo confrangedor ver cair à primeira raspadela o verniz europeu que cobre o rosto destes governantes, destes literatos, destes cientistas, destes amanuenses, destes cidadãos do Chiado ou de Alfama. A meus olhos, pelo menos, que nunca o testemunho sem constrangimento. Não me conformo que haja na pátria duas singularidades: a autêntica do homem lusitano, e a postiça do homem alfacinha.

 

Miguel Torga, in Diário XI

 

 

29
Jul14

Intermitências


 

Ela disse que sim

 

Ela disse que sim. Antes disso, tentou inspirar a luz. E emocionou-se.

 

Ela disse que sim. Antes disso, começou a ver cada coisa de sua vez, e a estar em cada momento em um só lugar. Inspirou a luz. E emocionou-se.

 

 Punta de la Mora, Costa Dorada, Espanha, Julho 2014. Fotografia de Sandra Pereira.

Ela disse que sim. Às emoções. Renunciou viver escrava das sensações. Saiu das sombras do mundo de hoje que teimam em rodeá-la e seguir para toda a parte. Inspirou a luz. E emocionou-o.

 

Ela disse que sim. Acrescentou-lhe sentido ao sentir. Emocionou-o. E ele amou.

 

Sandra Pereira

 

 

28
Jul14

Quem conta um ponto...


 

200 - Pérolas e diamantes: inversões

 

Vai bom o tempo para banqueiros e para cães de fila.

 

Não sei por que carga de água me lembrei de Yeats, mas as suas palavras soaram-me estranhas: “É a instrução no sobrenatural que nos salva das más companhias.”

 

Assim fosse e muito boa alma não tinha penado o caminho da desilusão.

 

Acreditei em tempos que Portugal era uma boa metáfora. Mas, sei-o agora, as metáforas também cansam.

 

O homem é o único animal que conta histórias, a única criatura que conta histórias a si própria para tentar compreender que espécie de animal é.

 

Foi também Yeats que escreveu: O intelecto do homem é forçado a escolher / A perfeição da vida ou do trabalho.

 

Porque a vida perfeita não existe para pessoas como eu, apenas me restou, e resta, virar-me para o trabalho.

 

Por causa das coisas, e para lembrar aos videirinhos da política local, evoco o artigo 19 da Declaração Universal dos Direitos do Homem: “Todo o individuo tem direito à liberdade de opinião e de expressão, o que implica o direito de não ser inquietado pelas suas opiniões e de procurar receber e difundir, sem consideração de fronteiras, informações e ideais por qualquer meio de expressão.”

 

John Kennedy disse o mesmo em apenas quatro palavras: “A liberdade é indivisível.”

 

Há muita gente por aí que pensa que por pintar as asas de preto passa de repente a ser melro. Mas não, apenas fazem lembrar aquela gaivota que aparecia na televisão, durante a Guerra do Golfo, que, besuntada de petróleo, perdeu a capacidade de voar.

 

Boa gente cedeu ao medo, apelidando-o de respeito. Mas não é. É mesmo medo. O respeito é outra coisa bem mais nobre e simples.

 

Eu, por causa das coisas, inspiro-me em Edmund Burke: “Quem luta contra nós fortalece os nossos nervos e aguça as nossas capacidades. O nosso antagonista é quem mais nos ajuda.”

 

Ou seja, apenas os fracos e os autoritários viram as costas aos adversários e chamam-lhes nomes e, por vezes, pretendem fazer-lhes mal.

 

No mundo da política, muitos fazem que argumentam com base nos princípios. Mas à porta fechada, nas salas onde se tomam verdadeiramente as decisões, os princípios caem logo à primeira contrariedade.

 

José Saramago disse: “Dentro de nós há uma coisa que não tem nome; essa coisa somos nós.”

 

Salman Rushdie escreveu que “o espírito criativo é frequentemente tratado como inimigo pelos poderosos ou pelos mesquinhos potentados que não gostam do nosso poder de construir imagens do mundo que são contrárias, ou põem em causa, os seus mais simples e menos confessos pontos de vista.”

 

Charlie Chaplin bem nos avisou: A vida vista de perto é uma tragédia, mas vista de longe é uma comédia.

 

Tanto na autarquia como no país, os ilusionistas do costume, dizem-nos que a realidade pode esperar para o dia seguinte. Eu não sei é se isso ainda é possível.

 

João Madureira

 

 

28
Jul14

De Regresso à Cidade com o Tâmega eutrofizado


 

De regresso à cidade, ao calor que por cá é estupidamente quente (ontem ultrapassou os 40ºC) e a um rio verde, cujo esverdear se faz notar todos os anos em dias muito quentes, pois com o aquecimento das águas dá-se um fenómeno que dá pelo nome de eutrofização, isto é, uma Carência Bioquímica de Oxigénio (CBO), ou seja,  é a quantidade de oxigénio necessária aos decompositores aeróbios para decompor os materiais orgânicos presentes num certo volume de água. É um indicador da quantidade de matéria orgânica biodegradável presente na água, uma vez que, quanto maior a concentração de matéria orgânica de uma água, maior será a quantidade de oxigénio utilizada pelos decompositores. Poderemos dizer que é um fenómeno natural, e na realidade é-o, mas este acontece graças a intervenção humana, pois só a partir da construção das represas do Tabolado e do Agapito, para termos um espelho de água, é que este fenómeno começou a acontecer. É, é o custo do espelho de água, ou água verde eutrofizada ou então apenas um rego de água a passar por baixo de um arco da ponte, pois  a natureza não gosta de ser contrariada e responde com as armas que tem. Quanto a riscos para a saúde pública, penso que,  desde que não se beba aquela água ou se vá a banhos nela não nos deve fazer muito mal, só a cor deverá fazer alguma impressão, já os peixinhos, as lontras e outros habitantes do Tâmega não devem achar muita graça ao fenómeno, mas como isto são áreas que eu não domino, fico-me pela imagem (de ontem, domingo) e pelo acontecimento.

27
Jul14

As nossas aldeias com imagens de Casas Novas


 Hotel Rural de Casas Novas

Há três ou quatro dias atrás num post sobre o Barroso eu dizia: “Às vezes vai-se tão longe, horas, dias a percorrer estradas para ver paraísos e paisagens nunca vistas quando as temos aqui tão perto, a minutos, uma hora que seja de viagem, esquecidas…” Nesse dia dei um exemplo do Barroso de Montalegre, mas poderia ter sido de terras de Vila Pouca, de Ribeira de Pena, de Valpaços, de Vinhais, de Boticas (também Barroso), de Chaves e, porque não, de terras de toda a raia galega que confronta connosco (concelhos de Montalegre, Chaves e Vinhais. Junto todos estes concelhos vizinhos de Chaves porque na realidade Chaves, geograficamente falando, é o centro de toda esta região que tem mais ou menos características comuns.

 

 Solar ou "Casa dos Vilhenas" - Casas Novas

Todas estas terras fazem parte do “Reino Maravilhoso” que Torga descrevia, mas eu acrescentaria que estas terras são um outro reino maravilhoso dentro do “Reino Maravilhoso” de Torga, mas em conjunto, pois só assim conseguirão ser esse reino e não é só pelas paisagens e pelo casario, mas por todo o património histórico, arqueológico, gastronómico e sobretudo por todo o património que tem a ver com a nossa gente, o património social cheio de tradições, saberes ligados à terra, sabores de uma gastronomia única (muito e bom), à vida comunitária, à religião. Temos todos os ingredientes para sermos esse reino maravilhoso dentro do outro reino maravilhoso que o é todo o Trás-os-Montes e Alto Douro, e o que se tem feito por ele? – Nada, ou pior que isso, tem-se desprezado estando mesmo em vias de extinção, pois esse reino maravilhoso de que eu vos falo não existe nas cidades nem nas sedes de concelho, mas nas aldeias com a sua gente lá dentro, pois as aldeias sem gente são como um teatro e o seu palco sem atores. Não basta existir um palco e uma casa de teatro para que o teatro aconteça, são necessários os atores. Com o reino maravilhoso das nossas aldeias acontece a mesma coisa, sem o seu povo não há aldeias, porque as aldeias são mesmo as pessoas, a sua tradição, o seu folclore, as suas crenças. As casas, apenas servem para abrigar esta grande família – ora é aí que está o reino maravilhoso e é por isso (já o disse há dias) que não interessa ao poder (político e económico, ou melhor, ao económico e aos seus lacaios) e é por isso que os do poder lhes viram as costas, e é por isso que as nossas aldeias estão em vias de extinção se, nada se fizer por elas, mas o mais engraçado é que as aldeias e todo o interior poderiam muito bem ser a solução (ou pelo menos contribuir para ela) de toda esta crise económica e financeira atual.

 

 Vista desde o interior do Hotel Rural de Casas Novas

Embora nesta história haja alguns culpados, principalmente os de Lisboa, os piores de todos, são mesmo os nossos culpados ou seja: - os nossos autarcas (ficam de parte a maioria dos Presidentes da Junta, ou será pedintes da junta?). Pois os nossos autarcas, à escala local, vão funcionando por imitação e obediência  aos de Lisboa e, se para estes últimos Portugal é Lisboa e o resto é paisagem, para os locais (do poder) o seu concelho é a sua cidadezinha ou vileca e o resto também é paisagem, pois nada, absolutamente nada têm feito para garantir um futuro sustentado (palavra que eles gostam tanto) das aldeias. E dirão eles – “ah não! A gente tem investido muito dinheiro nas aldeias”, e sou testemunha de que é verdade, primeiro foi em abastecimento de água, saneamento, estradas e até em escolas. Investimentos que chegaram tarde demais pois quando as obras destes investimentos terminaram já as aldeias não tinham gente para deles poderem tirar algum rendimento, a única coisa que aproveitaram à séria, foram mesmo as estradas para saírem das aldeias. Ultimamente os investimentos que são transversais a todas as aldeias/freguesias são a construção de casas mortuárias, alargamento de cemitérios e lares de terceira idade. Eu repito e sublinho: construção de casas mortuárias, alargamento de cemitérios e lares de terceira idade – Será preciso dizer mais alguma coisa? – Pois talvez só dizer que no próximo ano letivo está previsto encerrar as últimas escolas rurais que resistiram à última leva.

 

 

Casario rural tradicional de uma das ruas de Casas Novas

 

Mas, felizmente, ainda vai havendo alguns, poucos mas alguns bons exemplos daquilo que se pode fazer com e nas nossas aldeias. Projetos de pessoas que acreditaram e que em todos, repito em todos contam com as comunidades locais, as pessoas das aldeias como parte integrante desses projetos, mas não vou gastar mais palavras no assunto, pois basta visitarem os sítios na NET através dos links que a seguir vos deixo para ficarem a saber de que projetos se trata.

 

http://www.aldeiasportugal.pt/

 

http://www.aldeiasdeportugal.pt/PT/

 

http://aldeiasdoxisto.pt/

 

http://casasbrancas.pt/content/view/33/47/lang,pt/

 

Quanto às imagens de hoje são de Casas Novas, uma aldeia que tem de tudo para ser uma aldeia de sucesso e, até a nível de privados se tem feito alguma coisa por isso, mesmo contra todas as burocracias e toda a legislação que em Portugal apenas se atende pelo lado da proibição e não do consentimento. Está-nos no sangue, principalmente no sangue dos legisladores, por isso, ser também um dos traços da cultura portuguesa, mas não só. Ao respeito (burocracia) deixo um vídeo youtube. Está falado em castelhano e legendado em inglês, mas mesmo que não domine nenhuma destas línguas, entende-se bem. PARA OUVIR, POR FAVOR DESLIGUE O RÁDIO NA BARRA LATERAL DIREITA, conforme indica a figura seguinte:

Resto de um bom domingo!
27
Jul14

Pecados e picardias


 

Pecados e picardias

 

Sombras   pesam nas memórias,

ajustes de contas de passados presentes,

divagam   brumas  esfumadas nas histórias,

disfarces  de iguais fingem ser diferentes…

 

sombras pesam nas memórias

muralhas  acusam poderes dominantes

são os velhos  conselhos novas moratórias

novos castelos  acoitam indigentes

 

sombras pesam nas memórias

esperas cansadas de terra prometida

Esvaem-se em cinzas quaisquer oratórias

mentiras de morte epitáfios de vida

 

sombras pesam nas memórias

vamos pelos muros hirtos de amargura

jardins públicos  canteiros  de escórias

jazem pelos becos triste dependura

 

sombras pesam nas memórias

desenterram-se guerras  sepulta-se a paz

reféns dos monstros escondidos em glórias

sujamos o ego  com desculpa audaz

 

sombras pesam nas memórias

tropeçam no sono  acordam insónias…

 

Isabel Seixas

 

 

26
Jul14

Pedra de Toque - Menina Palestina


 

 

MENINA PALESTINA

 

Caíram bombas

Em hospitais de Gaza.

 

Plantas e sorrisos secaram

Porque a vida em Gaza

Virou fumo e destruição.

 

Território sofrido

Invadido por homens

Com armas letais

Que semeiam horror

E centenas de mortos.

 

Aterrado,

Vi nos braços de um pai

Agonizando, despedaçada, uma jovem menina.

 

O silêncio do mundo,

Arrepia e indigna,

Enquanto a morte apodrece

Em terras da Palestina!!!

 

António Roque

 

Fotografia de Mahmud Hans/AFP

 

 

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