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Autoretrato
Um minuto passa. Ela pensa. Outro minuto passa. Ela pensa outra vez.
Outro minuto. Ela quer tirar esta obsessão do pensamento. Mais um minuto. Não lhe sai da cabeça.
Ela volta a desmontar o puzzle. E volta a juntar as peças. Não. Definitivamente, não entende.
Ainda nem passaram 10 minutos. Ela é o seu próprio quebra-cabeças. Na verdade, desespera a cada minuto que passa. A análise a todo o comportamento humano continua. E ela nunca gostou de jogar Tetris, e ela nunca resolveu um cubo de Rubik, mas quer chegar a todas as conclusões e verdades. Sobretudo a verdades.
Imagem de uma exposição colectiva, Museu Joan Miró, Barcelona, Maio 2014.
fotografia de Sandra Pereira
Passa mais um minuto. E esta obsessão não lhe sai do pensamento. Desespera com uma espera que lhe parece interminável. Talvez a culpa disto seja dela. Por fazer gratuitamente um striptease emocional perante qualquer pessoa que se interesse pelo seu ser. Por dar tanto de si mesma, até esgotar-se e esgotar tudo.
Quer saber o que há de obsessivo nela. E pensa que esta sociedade, ilusionista da perfeição, a criou, e que ela assumiu como próprias muitas das suas características, defeitos e pressões sociais.
Passa outro minuto. Quer livrar-se do que há de obsessivo nela. E volta a desmontar o puzzle. E volta a juntar as peças. Não. Definitivamente, não entende.
Sandra Pereira