Discursos Sobre a Cidade - Por Francisco Chaves de Melo
O Preço da Independência.
“Alguém não te convidou para um banquete? Compreende-se: foste tu quem não deu a quem te convidou o preço justo pelo convite. Terias sido convidado se fosses liberal em cumprimentos, em louvores, em palavras de felicitação - e se, também da tua parte, delicadeza e cortesia não escasseassem. Se vantagem há para ti, tens de retribuir o convite com o pagamento da tua maneira de ser gentil. Mas se tens intenção de nada pagar e receber, então não passas de um sôfrego - e de um tolo.
Nada tens que possa substituir o banquete? Tens: contente ficaste por não ter elogiado quem tu não desejavas - e exposto não ficaste às insolências de quem controlava as entradas para o banquete.”
Epicteto, in 'Manual
Serve a propósito de na última cerimónia pública em Chaves, porque o protocolo municipal deixou de fora, e ao alto, os membros da Assembleia Municipal eleitos. Tanto mais incómoda foi a indelicadeza, quanto os discursos foram longos. É claro que tinham que ser longos, face ao relevo da homenagem a prestar.
Já os eleitos das freguesias, muito sobe a asa do atual presidente, alguns até correligionários de última hora foram, como deve ser, reverenciados com o relevo que lhes é devido.
Não digo que tudo isto não passa de preocupações provincianas, de terras pequenas, atávicas, de munícipes que ao invés de alimentarem rasgos de lucidez e de grandeza e crescimento, se sacrificam a considerações relativas a saber quem deve estar sentado ou de pé. De quem está sentado na primeira fila ou ao pé de quem, ou ainda se ficou nas orlas.
É claro que a pequenez dos poderes da nossa província, na falta de conteúdo, de fecundas ideias para a resolução dos graves problemas que afetam o concelho, nos quer distrair com parvoeiras e festas sobre glórias ou grandezas passada, como quem quer viver de heranças ou do rendimento deixados pelos pais já ausentes.
É assim esta gestão, os principais desideratos são as termas romanas, orgulho de residentes que já morreram há séculos, também a fundação Nadir Afonso que, a materializar-se, apenas acontece após a morte do pintor, ou a grandeza antiga de um Marechal, o último de Portugal, nascido na nossa terra.
Esta presidência municipal quer viver do passado, dum passado que não é o seu. Não é por acaso, pois, o futuro, fruto da despesa inútil e irresponsável dos mandatos exercidos nos últimos 12 anos, está comprometido.
Devem milhões!
Digo, devemos milhões, e agora vamos pagá-los, nem que seja com sacrifício do nosso pecúlio, da nossa esperança!
É por tudo isto que fico satisfeito por não ter elogiado quem não desejava. Por não me ter exposto às insolências de quem controlava as entradas para o banquete.
Agora querem que atribua honras a quem mal honrou o concelho!
Francisco Chaves de Melo