Pedra de Toque - Sei de um rio, sei de um rio...
Sei de um rio, sei de um rio…
Cresci nas suas margens.
Nadei nas suas águas remansosas e límpidas.
Joguei futebol nas suas lameiras com amigos que ficaram para sempre.
Até piqueniquei na sombra de árvores frondosas que ladeavam sua corrente.
O rio era ponto de encontro nos dias tórridos que chegavam em férias de Verão.
Naveguei pela primeira vez nos barcos do Redes, nas imediações da velha Ponte Romana, quando a frescura dos fins de tarde aparecia tímida.
A praia dos carecas mas sobretudo a galinheira, eram as grandes piscinas naturais que o velho Tâmega proporcionava à cidade.
As águas que por ali corriam eram limpas e até transparentes.
Perto de um local mais fundo, os amantes dos saltos, tinham o motor e o tronco como trampolins, colocados pelas mãos da natureza e dos homens.
Era um prazer enorme tomar banho na galinheira, sítio que os adultos também frequentavam.
Mais longe, só para quem tinha transporte, o açude ao lado de Vila Verde da Raia, essencialmente aos fins-de-semana, era poiso de muita gente que à sombra de árvores degustavam merendas apetitosas e curtiam as águas do rio.
Tantos anos passados e apesar de “não se parar o progresso”, como diz um colega amigo, o rio, ora conspurcado, não permite as banhocas de antigamente nem saborear os passeios de barco nas águas amenas.
Ah! Até os gostosos peixinhos do rio, tantas vezes vendidos de porta a porta, já foram chão que deu uvas…
O afluente Ribelas está pestilento, mormente em alguns troços da zona nobre do Polis, e o ribeiro de São Lourenço que ladeia o Jardim Público, encontra-se praticamente invisível devido às muitas silvas e arbustos.
Deixo um alerta. Tenham cuidado quando passearem à noite à beira rio, junto da ponte branca. Uma boa parte dos candeeiros estão sem luz o que já originou sustos e pode motivar quedas.
Voltemos ao rio do meu encantamento.
As margens pelo Tâmega beijadas, na zona da galinheira e circundantes, eram em tempos idos convidativas para os amores que despontavam, onde os jovens apaixonados aí tantas vezes descobriam, que a curva mais bela do corpo de uma mulher, como alguém disse, é o seu sorriso.
Sei de um rio, sei de um rio…
António Roque