Quem conta um ponto...
205 - Pérolas e diamantes: da necessidade de ter ilusões
Passamos por um momento de rutura. É necessário meditarmos.
Os políticos pequenos têm duas características identitárias: possuem um grande talento para a demagogia e um outro, exíguo, para a causa pública, a verdade e o compromisso.
Eu sempre apreciei os homens de palavra, não os de muitas palavras.
Está claro que muito do que aprendemos, e aquilo que somos, advém do nosso modo de nos misturarmos com os grupos de proximidade. Também eu passei por isso. Todos passámos.
No entanto, tenho de admitir – por muito que isso me doa, e doa também a gente que me foi próxima –, que nunca me senti completamente integrado em nada.
Aprendi que os grupos demasiado identitários, e fundamentalistas, são constituídos por gente perigosa. E digo isso por um facto fundamental: é sempre mau acreditar cegamente numa ideia, principalmente quando se possui apenas uma.
O escritor chileno, Carlos Cerda, escreveu que sempre vivemos abaixo das nossas ilusões. Por isso as temos, para vivermos por cima do que seríamos sem elas.
Antigamente iludiam-nos com as ideias. Hoje iludem-nos com a economia. Daí o sermos vítimas de uma lógica inquisitorial e, como defende Gustavo Cardoso, no seu livro O Poder de Mudar, ainda vítimas de uma legitimação das elites.
O argumento principal do livro é que apesar da crise financeira nos ter apanhado recentemente, antes de ela existir já tínhamos passado por uma crise política.
Essa crise surgiu com o facto de os portugueses terem perdido a confiança no sistema e também com a incapacidade dos protagonistas políticos de correrem o risco de mudar e sobreviver.
Podíamos pensar que a solução poderia (poderá?) estar nos partidos que se afirmam ser contra o sistema. Mas também eles revelam elementos de conservadorismo.
Por exemplo, tanto o PCP como o BE, ou os seus derivados, temem fazer alguma coisa de concreto, pois sabem que essa é a forma de se exporem e de perderem aquilo que possuem.
Por isso se limitam aos protestos, sabendo que, por experiência própria, a gritaria das margens do sistema político irá, mais cedo ou mais tarde, desaguar no centro do próprio sistema.
A isto nos levou esta praxe política que se transformou numa espécie de mera gestão de ciclos eleitorais.
A ação política é hoje vista como a mera gestão de uma pastelaria de bairro.
Necessitamos, urgentemente, de pessoas que se dediquem à política por intuição, que a desenvolvam com inteligência e que a comuniquem pela crença.
Necessitamos de acreditar na energia fulgurante da verdade.
João Madureira
PS – Diz o filósofo que não há pior surdo do que aquele que não quer ouvir. Mas nós ainda acreditamos que o político sério e honrado tudo faz para que as contas públicas sejam transparentes.
Por isso mesmo renovamos o apelo ao senhor presidente António Cabeleira, e aos seus distintos vereadores, João Neves incluído por inteiro, para que aprovem uma auditoria externa às contas da autarquia.
É que o buraco da dívida camarária é de tal dimensão que tememos que nos arraste a todos para dentro dele e nos devore.
Além disso quem não deve não teme e à mulher de César… o senhor presidente sabe, com toda a certeza, o resto do refrão.
Assim o saiba rematar, não apenas com as palavras, mas, sobretudo, com a ação.