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Hoje fazemos mais uma passagem pelas nossas aldeias da raia, no presente caso vamos até Lamadarcos, antiga aldeia promíscua traçada a meio pela linha de fronteira entre Portugal e a Galiza, pelo menos até 1864 assim foi, ou seja a data em que no tratado de Lisboa se fixaram as fronteiras entre Portugal e Espanha, data a partir da qual Lamadarcos passou na totalidade para Portugal, conjuntamente com o Cambedo e Soutelinho da Raia, em troca das aldeias do Couto Misto que passaram para e Espanha.
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Lamadarcos tem na sua história esta promiscuidade de dividir a aldeia de um mesmo povo entre duas nacionalidades, mas todas as aldeias da raia têm na sua história esta proximidade com os povos vizinhos do outro lado da fronteira, não só a proximidade física mas também a proximidade de relações (de todos os géneros) entre as aldeias de ambos os lados da raia, como se esta (a raia) nunca tivesse existido, ou que apenas existia quando as autoridades estivessem por perto, e mesmo assim, só e quase quando se transportava contrabando, Mas isto, claro, apenas se aplicava aos povos residentes nessas aldeias, que no geral eram conhecidos pelas autoridades.
Até à abolição das fronteiras na Europa, esta proximidade da raia foi de extrema importância na vida e economia destas aldeias, pois direta ou indiretamente o contrabando e outras atividades clandestinas como a passagem de “peles”[i] fazia parte do dia-a-dia destas aldeias. Claro que onde havia contrabandistas também havia Guarda-Fiscal e a maioria das aldeias da raia tinham postos da GF que no mínimo tinham sempre meia dúzia de guardas, que residiam nessas aldeias com as suas famílias, contribuindo também eles para a vida e economia da aldeia.
Aldeias da raia mas também aldeias do interior e da montanha e daí também elas afetadas pelas maleitas do despovoamento e do envelhecimento das suas populações, mas que nestes casos de aldeias da raia, abolição das fronteiras foi um duro golpe que contribuiu em muito para o agravamento dessa maleita do despovoamento, principalmente nas aldeias mais isoladas e mais distantes da cidade, que não é o caso da nossa aldeia convidada de hoje – Lamadarcos.
Mas tudo isto é história que se repete em todas as aldeias da raia, mas todas elas têm também as suas singularidades e pormenores que as distinguem das outras aldeias. Lamadarcos, graças ao seu passado, tem algumas dessas singularidades, uma delas, nas suas duas igrejas que herdou do tempo da sua promiscuidade, ou seja a igreja portuguesa e a espanhola, que ainda hoje é conhecida por este nome.
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Mas também o seu casario, os campos agrícolas e caminhos envolventes da aldeia lhe dão um toque diferente ao das outras aldeias. A poente da Cota de Mairos, abrigada por esta, a aldeia desenvolve-se junto a campos planos e férteis o que dá sempre um toque saudável e de verdura à aldeia.
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Pois hoje ficam mais algumas imagens que escaparam às anteriores seleções e seleções, pois também na fotografia, algumas ganham mais interesse com o passar dos anos, tal como o vinho do Porto. Isto para vos dizer também que todas as imagens de hoje são de arquivo e já passaram por elas pelo menos cinco anitos.
[i] Nome dado à passagem clandestina de pessoas para a emigração, que conheceu os seus dias áureos nos finais dos anos 50 e durante todos os anos 60 do século passado.