Intermitências
Céu
Quanto mais mundo conhece, mais perdido se sente. Viveu numa cidade de cada continente. Compreendeu as subtilezas das diferenças culturais. Adaptou o seu soriso - e estômago - a todos os ambientes. É insaciável, desde os 18 anos, que salta de cidade em cultura, de paladares em climas. Vem pintando a sua vida com todas as cores que cabem na sua imaginação, e quanto mais mundo conhece, mais perdido se sente.
Houve um tempo em a gente quis liberdade de escolha, e lutou por ela. E o mundo avançou, e o mundo mudou, e agora o mundo é imenso e o mundo tudo quer e tudo pode. Tem todas as escolhas e os destinos na sua mão. Basta querer.
Fotografia de Sandra Pereira - Monasterio de Montserrat, Catalunha, Espanha, Julho 2014
Ele nasceu nesse mundo. Quis conhecê-lo e experimentá-lo todo para saber onde era o céu. Antes, todos sabiam onde estava o céu, bastava erguer os olhos e via-se Deus, de qualquer lugar do mundo, mesmo do mais isolado, mesmo do mais esquecido, mesmo do mais pobre. Depois, veio o tempo em que a gente escolheu, e ganhou também liberdade para duvidar, e ele, quis confimar com os seus próprios sentidos onde estava o céu. E então partiu.
Procurou o céu em cima, procurou-o em baixo, a norte e a sul, à direita e à esquerda, procurou-o também no centro. Aos poucos, o mundo foi cabendo todo nele e é agora parte dele. E quanto mais o conhece, mais perdido se sente. Não encontra o céu. A cada escolha, apercebe-se que afinal o céu deve estar noutro lado...
... e quando às vezes regressa ao antes, às raízes, aos que nunca saíram do lugar e sempre souberam que o céu era a casa de Deus, encontra compreensão. "Pelo menos", encolhem os ombros os que escolhem amar este e o outro mundo, "o céu está no meio do peito de um Homem de fé".
Sandra Pereira