Factor Humano, por Miguel Cunha (Pité)
A última oportunidade
Chaves é lugar de sabores fortes e variados, cidade e concelho com História e suas heranças, com algum destaque na região de Trás-os-Montes.
Digo algum, pois julgo haver ainda a necessidade de um maior trabalho e dedicação no cuidado do património flaviense, para que Chaves consiga alcançar o merecido destaque na região onde se implanta.
Muito se aclama a qualidade dos atributos flavienses, nos mais diversos campos: gastronomia, paisagens naturais, produtos da agricultura e da pecuária, História, tradição popular.
No entanto, fica a sensação de que essas evocações pouco se traduzem em acções concretas: o potencial do concelho é reconhecido, mas pouco aproveitado. Estamos a pagar caro, por exemplo em emigração e em baixa de natalidade, a incapacidade prévia de estruturar o nosso desenvolvimento sustentável.
Sendo a agricultura e a pecuária as actividades por excelência do concelho e da região, lamenta-se não haver a certificação de produtos como a couve ou a batata, o presunto e outros derivados do porco. Temos, sim, o “incentivo” da circulação alargada de produtos de inferior qualidade, promovidos pelas normas da União Europeia e que ao longo destes anos tanto contribuíram para o abandono e a ruína dos nossos campos.
Não constam, por exemplo, registos do saber fazer enchidos e fumeiro, que são uma importante fatia da tradição das nossas gentes.
Um dos únicos passos cumpridos, ainda que tardiamente, foi o de conseguir a certificação dos pastéis de Chaves como produto genuíno.
Temos, e ainda bem, um conjunto de poderosas armas ,que podem reverter esta situação: temos a qualidade dos produtos, temos recursos naturais, temos pessoas cheias de histórias e saberes, para contar, transmitir e registar.
Temos mão-de-obra local, cada vez mais qualificada, que está disposta a intervir e a operar no sentido de, numa possível cooperação com a indústria e o turismo, com a cooperação com outros concelhos da região, explorar todas as articulações entre os atributos de que dispomos.
Essa exploração poderia passar pelo incentivo à produção agrícola e pecuária local; pela recolha de costumes gastronómicos e registos etnográficos; pela cuidada elaboração de rotas turísticas e passeios pedestres; pela divulgação das práticas de caça e de pesca em rio, e respectivas aplicações gastronómicas associadas aos seus produtos – perdiz, lebre, javali, truta, achigan; pela simples observação da natureza.
É necessário unir esforços e pensar num conjunto de medidas que possam promover o consumo e o usufruto dos recursos endógenos, não só pela população local, como especialmente por aqueles que nos visitam, gerando riqueza e apostando no turismo sustentável.
Para além disso, seria bom lembramo-nos de que muitos dos nossos emigrantes poderiam organizar-se como rede de promoção e distribuição dos nossos produtos. Bom para todos!
Estão aí os quadros comunitários de apoio, que certamente nos serão muito úteis para impulsionar este estímulo, principalmente tendo em conta as verbas previstas, investimentos na área do turismo.
Assim, poderemos dar o salto das palavras para os actos. Sabe sempre bem colher os frutos, Chaves merece-o e necessita-o!
Manuel Cunha (Pité)