Outros Olhares - Furadouro
Furadouro
Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]
Furadouro
GAITA-DE-FOLES COM OLHOS E BOLSA ROTA…
Um dia o Prica foi à feira da Venda Nova. Andava ele a ver o toural do gado, esbarra com o Lobete da Coimbró e o Raposo do Salto a marralharem o preço duma vaca.
Chamam-no para fechar o negócio.
Ora o Prica ficou, por assim dizer, entre o diabo e a mãe. O Lobete era primo; o Raposo, vizinho de porta.
Pergunta o Raposo, que, no caso, era quem vendia:
- Ó Prica, diz lá: a vaca é boa ou não é?
- É boa é! – responde o Prica em voz alta. E depois, cosendo-se com o primo em surdina: - Mas abortou há quinze dias…
Mas o Lobete ouvia mal…
- Que dizes?
- Que a vaca é boa! – Repete o Prica, arredondando a voz. E, entre dentes: - Mas abortou há quinze dias…
- O quê? – Volta o Lobete, pondo a mão em concha atrás da orelha.
- Que a vaca é boa! – Grita o Prica. E, voltando costas: - Vai-ta-foder…
Mas meia hora depois, o Raposo estava direito com ele.
- Vamos beber um copo.
- Obrigado, mas por agora não me apetece – responde o Prica, ainda com a má consciência de ter enfiado o barrete ao primo.
- Não me faças uma desfeita dessas! – Insiste o Raposo. – Com um sol destes, quem não há-de ter sede? Cá por mim, estou com um secão que nem me tenho nas pernas. Vamos ali ao Machado, que tem lá um verdinho detrás da orelha.
Realmente estava calor e o Prica sentia a garganta seca.
Aceitou o convite.
Estavam eles no balcão, aparece o Lobete. Atrás do Lobete, vieram outros. Agora pago eu, depois pagas tu, pelo varrer da feira o Prica estava com uma zurca de todo o tamanho. Comprou um quarteirão de sardinhas para levar à patroa, meteu-as entre a camisa e a coirata e juntou-se aos vizinhos que regressavam a casa. Lá veio vindo, monte arriba, de canto em esquina. À entrada do povo, apeteceu-lhe mijar. Desabotoou a carcela, puxou da cabeça duma sardinha para fora e pôs-se a mijar pelas pernas abaixo.
Sentido o mijo nas coxas, começou a gritar:
- Ó rapazes? Quereis lá ver que se me rompeu a veia da urina? Ai a minha desgraça…
E, olhando para a sardinha na mão direita, à luz do luar, benzeu-se com a esquerda:
- Tó, diabo! Há sessenta anos que te tenho, e só agora reparo que tens olhos…
Bento da Cruz, In Histórias da Vermelhinha
77 seguidores
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.
Assisti a construção das aldeias de Criande e Alde...
Ola bom dia gostaria de saber a morada e o contato...
Com um Abraço votos de Santa Páscoa.Amiel Bragança
Que bom sabermos particularidades da vida de um gr...
Obrigado pelo comentário. Em relação ao Chaves Ant...