Pedra de Toque - A voz
A voz
As palavras e o papel comungam-se a todo o instante.
Mas as palavras são ferramenta da voz que nasce na garganta e os lábios pronunciam.
Alguns conseguem trazê-las do fundo dos sonhos e a voz então tembla, nas cordas da sensibilidade.
Um amigo muito estimado, companheiro de muitos anos, daqueles que sempre se encontram em lugares longínquos, parecendo a todo o momento que foi ontem, um amigo enorme, por doença ou acidente com alguma gravidade, viu-se sofridamente sem voz.
Ele que usufruía da sua, doce e profunda, tantas vezes contundente, voz que emprestava aos poetas quando dizia seus versos.
Foram muitas as jornadas em que, com outros, “cantamos” poemas com paixão contaminante.
Doeu-me demais o sucedido.
Há poucos dias, no entanto, na visita mais recente, ouvi-lhe ainda que ténues, as palavras que tanto gosta de dizer.
Segundo os médicos tudo indica que a recuperação total poderá acontecer em breve.
Para bem dele, para bem dos amigos, para bem dos poetas.
As doenças graves dos meus amigos, continuam a adoecer-me.
Serei assim, até sempre.
António Roque