Estratos
Querido 2014,
Hesito logo no início da missiva. Foste duro. Mas trago em mim estratos teus e por isso te quero. A história de tudo se faz.
Escrevo-te quando ainda te vivo. Podia escrever ao teu vizinho da frente ou esperar que acabasses para mostrar-te ao meu eu futuro. Mas escrevo-te quando ainda te vivo.
Contigo fui lá ao fundo. Senti dores maiores. Senti pés despidos em chão nu. Senti gosto de fracasso. Senti morte perto. Por perto. Bem perto. Senti o desgosto. Conheci o luto. Abracei o perdão.
Quero trazer-te colado a mim. Saber quem sou. Não escrevo ao eu do futuro. Escrevo-te a ti. Quero que saiba que é, por nele haver estrato teu.
Não vou chamar-te de mau. Isso decidirei depois. Cabe-me a mim. É minha tarefa construir com a tua dureza. Contigo quero construir.
Quero olhar as mãos da vida e ver-te calo. Olhar à frente e ver tua colheita. Contigo alimentei fé.
Rita