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CHAVES

Olhares sobre o "Reino Maravilhoso"

15
Abr15

Chá de Urze com Flores de Torga - 75


1600-torga

 

Chaves, 3 de Setembro de 1984

 

     AMPULHETA

 

     Que tempo é o teu,

     Que medes

     Com princípio e fim?

     O meu

     Já antes era

     E depois continua…

     Rio Barrento

     De sofrimento,

     Nasce onde desagua.

 

                                 Miguel Torga, in Diário XIV

 

1600-castelo-monf (224)

 

Chaves, 5 de Setembro de 1984

 

Subida esforçada ao castelo de Monforte. De vez em quando é conveniente verificar se os marcos de Portugal estão no sítio.

Miguel Torga, in Diário XIV

 

 

14
Abr15

Cidade de Chaves de um passado recente, mas diferente


1600-anos 80-90 (1)

De vez em quando faço uns pequenos regressos ao passado recente, daquele que tenho em arquivo fotográfico da era da fotografia analógica. Passado recente porque apenas me iniciei em fotografia nos inícios dos anos 80, mas ainda a tempo de fazer alguns registos ainda sem a invasão do betão, nos 20 anos que para mim durou a fotografia analógica.

 

1600-anos 80-90 (2)

Hoje ficam dois desses registos dos anos 80/90, ambos tomados desde o Alto do Calvário, com vistas que hoje já não são possíveis.

13
Abr15

Quem conta um ponto...


avatar-1ponto

 

235- Pérolas e diamantes: Nasrudin e o jerico

 

É cada vez mais inquietante a insatisfação e o desânimo que tomou conta dos portugueses e, particularmente, dos transmontanos. É preocupante a descrença que se instalou na política e nos políticos e a falta de confiança no Estado e nas instituições democráticas. Estas frustrações e deceções levam inevitavelmente à apatia, ao conformismo e à decomposição da própria vida democrática.

 

Daí o desprezo dos portugueses pela mediocridade dos bonifrates do momento, que passam depressa da prudência dos bastidores para as luzes da ribalta.

 

É tempo de conferir de novo à política a sua plena dimensão ética e de enfrentar, sem complacência, todas as mistificações em que os tempos que correm são pródigos.

 

Se não é possível mudar os partidos, mudemos de partido. Apoiar e votar nos mesmos que nos levaram por três vezes à pré-bancarrota é rematada estupidez.

 

Depois dos constantes escândalos públicos que são noticiados todos os dias envolvendo os principais partidos do Bloco Central dos Interesses (PSD, CDS e PS) e escutando as desculpas esfarrapadas dos principais visados onde declaram que são insultos à sua pessoa, é caso para concluir que a verdade no nosso país se tornou um insulto.

 

A vulgaridade da política portuguesa acolhe sem distinção falsidades, mitos, suposições, invenções e lérias. Alguns têm mesmo o atrevimento de apelidar tudo isto de bom senso. E mesmo que assim fosse, convém lembrar, como muito bem o faz Mário de Carvalho, que “o senso comum confirma, não interroga; acata, não discute; conforma-se, não se rebela; repete, não indaga”.

 

Daí a prisão preventiva de José Sócrates, as dívidas de Passos Coelho ao fisco, a incrível história dos submarinos de Paulo Portas, a espantosa licenciatura de Relvas, os aforros inauditos de Cavaco Silva, os mirabolantes robalos de Armando Vara. Lá diz o velho ditado chinês: “Quando a árvore cai, espalham-se os macacos.”

 

Com razão se tratavam os jovens espartanos à fome, avisando-os: “Roubem, mas ai de vós se fordes apanhados.” Eram outros os tempos. A perícia está em infringir a lei sem que o crime seja notado. Seja em cinco euros, cinco mil euros ou em 5 milhões de euros depositados em bancos espanhóis. Ou suíços. Ou luxemburgueses.

 

Então cá pela província, vemos a maioria dos nossos políticos (devidamente assessorados por gente de tal maneira ignara e hilariante, a discorrer sobre os mais diversos assuntos sem a menor reflexão) remeter-nos de imediato para “a personagem do rei Artur de Mark Twain discorrendo sobre a árvore das cebolas” (Mário de Carvalho – Letras sem Tretas).

 

Ainda com a ajuda de Mário de Carvalho, lembro a imagem dos nossos dignos autarcas semelhando um tal pastor de almas americano que um dia proclamou: “Para quê ensinar outras línguas na América se a Jesus bastou o inglês?”

 

Por isso é que o poder procrastina (literalmente “deixa para amanhã”) e a oposição faz o mesmo. O alegado poder cumpre a função de dramatizador e a suposta oposição completa a peça com o papel de desdramatizadora.

 

Por isso é que a mim me saem textos, um pouco à Machado de Assis (por favor perdoem-me a tola imodéstia), com a tinta da galhofa mas com a pena da melancolia.

 

As desculpas esfarrapadas do autarca da minha terra tentando justificar a enorme falta de coragem, para não lhe chamar outra coisa, em autorizar uma auditoria às contas da Câmara que gere, ou a ignomínia que representam os esgotos a céu aberto em Vale de Salgueiro-Outeiro Seco, como se estivéssemos numa vilazeca marroquina, lembra-me uma das imensas histórias de Nasrudin (um filósofo e sábio populista turco, lembrado pelas suas histórias engraçadas e anedotas).

 

Um dia recusou-se a emprestar um burro a um vizinho, com o pretexto de que o tinha cedido a um primo seu. Ainda a desculpa estava a ser dada quando o burro começou a zurrar atrás da porta da corte. O vizinho, como é normal, zangou-se e disse: “Mestiste-me.” Nasrudin replicou: “Estou indignado. Acreditas mais em mim ou no jerico?”

João Madureira

 

PS – Tchékhov dizia que “a arrogância é uma qualidade que fica bem aos perus” (ou talvez aos pavões que são aves de cauda mais vistosa). Por isso, mais uma vez solicitamos ao senhor presidente da CMC e aos seus distintos vereadores, que aprovem uma auditoria independente às contas da nossa autarquia. Quem não deve não teme.

 

PS 2 – Em nome da transparência, já agora senhor presidente, talvez fosse boa ideia aprovar conjuntamente uma auditoria externa às contas da JF de Santa Maria Maior.

 

PS 3 – Era um ato de coragem redentora, o senhor presidente deixar-se de desculpas de mau pagador e pôr fim ao deplorável espetáculo dos esgotos a céu aberto em Vale de Salgueiro – Outeiro Seco.

13
Abr15

De regresso à cidade e à N.Srª das Brotas


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Claro que no regresso à cidade de hoje temos que passar obrigatoriamente pela N.Srª das Brotas. É assim que manda a tradição e eu sou pelas tradições, mesmo que moribundas, eu estou lá.

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No cartaz da festa diz-se em jeito de nota de rodapé: “A Comissão de Festas apela à população flaviense a sua colaboração nesta tradição secular, a fim de dar continuidade aos festejos, sendo esta festa a mais antiga e popular da cidade”, pois!

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Pois é, mas a população flaviense anda alheada das festas. Não quer nada com festas e se quer, não parece. ..por outro lado as tradições fazem-se com a tradição, neste caso a tradição da festa, mas para que a festa aconteça, tem de haver festa e, festa que é festa é para todos, feita com todos.

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Assim sendo, e para bom entendedor meia palavra basta, a festa da N.Srª das Brotas vale o que vale, e, vale a festa que o povo flaviense merece, pois outra não exige e acomoda-se àquela que lhe dão.

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E assim Chaves, à exceção de uma feira que vale por festa, deve ser das poucas, senão a única cidade que não tem uma festa, e já deixo as aldeias e vilas de fora, aquelas que ainda têm gente dentro.

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Deixando os entretantos de lado eu vou lá sempre, nem que seja para fazer uns registos fotográficos que embora se repitam de ano para ano, são sempre diferentes e há sempre um ou outro pormenor que vale o nosso registo e deslocação.

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Pormenores como o de brincar à moda antiga em que na ausência de brinquedos se inventavam brincadeiras. Que gozo deu ver os putos com as mãos na terra a enfarelarem-se todos. Claro que no final as palmadas no rabiosque eram escusadas, mas é o que eu dizia atrás – esta gente não gosta de festas nem gosta que os outros se divirtam, enfim, esta sociedade cada vez está mais triste e distraída com outras coisas.

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Mas isto é para os que não vão lá, pois os que vão ainda são dos purinhos, dos que mal ouvem os primeiros acordes das concertinas se põem logo a dançar ou a apreciar quem dança, que nisto das festas, cada um goza-a com quer.

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Uma visita à capela também é obrigatória, tanto mais que só uma vez por ano é que o forte abre as suas portas para podemos desfrutar deste espaço onde se acolhe um dos auditórios ao ar livre mais interessante, de fazer inveja a qualquer outro, mas, enfim, só existe por existir pois outra função parece não ter. Eu tenho pena, mas a minha pena de nada vale.

 

As imagens são todas do fim da tarde de ontem.

 

12
Abr15

Pecados e picardias


pecados e picardias copy

 

Pecados e picardias

 

Um aroma velado de campanha entra nas narinas do olhar dos menos incautos, ou daqueles que não estão à espera do furo do tráfico de influências para manter os bons empregos…

 

A exaltação da pseudohonestidade vagueia nos sorrisinhos silenciosos dos teóricos da conspiração, quinta coluna dos alicerces da demagogia…Aliás mortinhos que chegue a sua vez,e mais ainda nos assentires dos vícios privados, nos sim mas quando apontadas as pessoas alternativas como lideres que não o e eu hey e eu gritam nos silêncios mais que expressivos dos gritos dos hey não me vês? Estás cego ou quê… E eu , e eu…(eu incluída claro!...Ai não, sou burra se calhar…)

 

Os pasmados vivem na bolha do mandato do “ó Chenhor Doitor” e o paizinho e a mãezinha, e os meninos, acompanhado da vénia de subserviência do tirar do chapéu imaginário que prevê a doação do porco a quem lhes dá uma chouriça…

 

Falam de si próprios nos isto cada vez está pior, só neste país, deus(eu me livre de mim) nos livre

(mais de nós próprios)

 

enquanto a mente vagueia sem vergonha por quem se afigurará a melhor cunha pró meu filho ascender rapidamente na habilitação a 1 º ministro, olhem pelo menos a presidente de qualquer coisa, ou chefe, ou responsável sem responsabilidade claro…

 

Pedem nas expressões não verbais o que hostilizam e renegam nas palavras…

 

Pedem como esmola e encarecidamente os seus direitos indivisíveis a quem lhos sonega numa capa de a vida é assim então porque tem que ser assim, oh……………oooo e tu a dar-lhe…

 

São todos iguais!!!!!

 

Ó és de bom tempo

 

Vejo os dos partidos dos governos a falar mal dos governos e a preparar-se para os deixar lá ou colocá-los lá novamente…

 

Vejo-me a calcular o mal menor.

 

Atavismo…

 

Isabel seixas

12
Abr15

Curalha com o Tâmega à vista


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 O Rio Tâmega atravessa o nosso concelho de Chaves de Norte a Sul e com exceção da cidade onde o casario chega a entrar pelo rio dentro, fazendo este de margem, mais propriamente junto à ponte romana, as aldeias mais próximas da sua margem, por razões óbvias, preferiram ter o rio a uma certa distância, havendo entre as partes como que um acordo de não agressão ou de respeito, se preferirem, onde as aldeias não incomodam o rio e o rio não incomoda as aldeias, isto, claro, quando o rio nas suas fúrias de inverno transborda as margens habituais.

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Exceção para os moinhos ou talvez não, pois também aí as partes (aldeias e rio) chegam a um acordo de colaboração, cedendo o rio a força das suas águas para os vizinhos poderem moer os seus cereais, pelo menos em tempos passados assim era, pois hoje em dia também as moagens se modernizaram, mas felizmente houve aldeias como a de Curalha que manteve os seus moinhos com a dignidade suficiente para podermos ter esse testemunho do passado não muito distante.

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Pois duas das imagens de hoje são precisamente desse testemunho dos moinhos que ainda se conservam em Curalha, quanto à outra imagem, também já começa a ser rara nas nossas aldeias, mas às vezes, com sorte para a fotografia, ainda é possível.

 

 

11
Abr15

Eventos no mundo rural flaviense - Calvão e Vilarelho da Raia


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 Calvão - Vistas desde a Srª da Aparecida

 

E como hoje é sábado vamos, como acontece todos os fins de semana, até ao nosso mundo rural, até às nossas aldeias e vilas, até Chaves concelho, com olhares além da cidade. Mas a partir de hoje vamos tentar, também, trazer aqui aquilo que acontece para além da cidade, os seus eventos, as suas festas, as suas tradições e tudo que tenha interesse comunitário quer a nível social, recreativo, cultural ou desportivo. É mais uma missão para este blog que terá de contar com a colaboração de todos que se interessam pelas suas aldeias, os seus lugares e a sua vida, quer a nível individual através dos residentes e naturais, mas também contando com a colaboração das Juntas de Freguesia e Associações locais que estejam interessadas em colaborar e divulgar os eventos que se propõem levar a efeito. Será mais uma forma de divulgação desses eventos mas também uma forma de levar o nosso mundo rural e a sua vida até aos seus filhos ausentes que passam por aqui para matar saudades.

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  Vilarelho da Raia - Pormenor de uma rua

 

Vamos iniciar hoje com dois eventos que acontecerão este fim-de-semana. Ainda a título experimental, pois de futuro contamos trazer aqui a notícia com alguma antecedência.

 

Da nossa parte, para além das notícias dos eventos, tentaremos deixar aqui algumas imagens dos locais onde esses eventos vão acontecer e/ou, se possível, imagens de arquivo das edições anteriores desses mesmos eventos.

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  Calvão - Vistas geral

 

Hoje temos então para iniciar esta rubrica dois eventos, ambos a acontecer amanhã, dia 12, um em Vilarelho da Raia e outro em Calvão, ou a partir de aí.

 

vilarelho-1.JPG

 

Vilarelho da Raia – 12 de abril

Feira Anual no Centro Social e Cultural de Vilarelho da Raia


Programa:


10 horas - abertura da Feira
- Caminhada à Barragem Rego do Milho; Museu Etnográfico


15 horas - Atuação dos Grupos:
- Cantares de Vilarelho da Raia
- Cantares de Ventuzelos
- Gaiteiros da Galiza


20 horas - encerramento da Feira

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Vilarelho da Raia - Pormenor de uma rua

 Para que for a Vilarelho da Raia não deixe de dar uma volta pelas ruas da aldeia, pois se for como eu apreciador da arquitetura rural e dos conjuntos de casario, Vilarelho pode surpreender.

 

calvao-12-abril.jpg

 

 

Sobre esta caminhada a única informação que temos é mesmo só a que consta no cartaz, mas pelo que conheço das paisagens e lugares das redondezas de Calvão, pela certa que será interessante para quem gosta de caminhar.

 

E por hoje é tudo com esta amostra daquilo que poderá vir a ser alargado com os eventos do mundo rural flaviense.

10
Abr15

Discursos Sobre a Cidade, por José Caslos Barros


JCB

 

 

Sete Parágrafos sobre a Paisagem

 

José Carlos Barros

 

  1. Os que estão em cima olham tão de alto que deixam de ver

 

Nasci em Boticas e Boticas é uma vila rodeada de aldeias por todos os lados. Nasci, portanto, no mundo das Aldeias.

 

Mas, rodeado de aldeias por todos os lados, nasci na vila. E para os meninos da vila, no meu tempo, "ser das aldeias" era uma expressão que se usava de modo depreciativo a remeter para gente atrasada, ignorante, parola. Nós olhávamos de cima os das aldeias como os de Chaves nos olhavam a nós ainda mais de cima e os de Lisboa tão alto a todos que, não se distinguindo já entre aldeias e vilas, cidadezinhas e capitais de distrito, metiam tudo no mesmo saco e, afagando o umbigo, resumiam: "o resto é paisagem".

 

  1. O que não se move é como se não existisse

 

Isto da paisagem (ou da Paisagem, conforme os casos) quase sempre coloca problemas de definição. Há quem ache que a paisagem é o panorama que se vê de um alto olhando um vale ou o retrato que se tira de uma baixa olhando o cimo de um monte. Não falando já de quem, posicionando-se no Terreiro do Paço -- no Terreiro do Paço de facto ou no Terreiro do Paço metafórico (em ambos os casos orientando o país no seu todo com os resultados excelentes que sabemos e nos vai sendo dado assistir) --, acha que "o resto é paisagem". Quer dizer: a inutilidade, a excrescência, o que sobra, o que não interessa.

 

Ora, em todas estas acepções -- o panorama ou o cenário, a excrescência --, à paisagem está subjacente o conceito de coisa estática: a paisagem como coisa afastada das pessoas que se movem e a transformam, ou são transformadas por ela.

 

Este entendimento é uma chatice porque dá razão à asserção do Paço. Ou seja: só o Paço interessa porque (a ser assim) o resto -- que é a paisagem -- não bole nem um cibo. E, não bulindo, é, de facto, uma inutilidade e uma excrescência.

 

  1. O que vem de mais longe

 

"É verdade que uma paisagem [escrevi eu certa vez num outro lugar] é quase sempre o resultado do que fizemos dela: do modo como desviámos ou represámos águas, arroteámos florestas, cortámos pedra e erguemos paredes. Mas é a força dos lugares

 

(mesmo depois do primeiro olhar de um homem sobre as encostas e os vales, mesmo depois da primeira mão modeladora, mesmo quando do que eram ficou um irreconhecível retrato)

 

o que prevalece e se impõe sobre a obstinação e a vontade, o esforço e a audácia de procurar afeiçoar a um corpo o que vem de mais longe que a mão e a ideia de construir uma casa e um terraço virado aos dias de Verão. Deus, provavelmente, é a resposta (uma resposta) a esse incontornável poder dos lugares sobre os homens."

 

A Paisagem, pois, não é senão o resultado dessa relação entre as condições prévias determinadas pelo território e a acção transformadora do Homem. Ainda que o Homem -- a crer no texto acima -- mande menos do que o Lugar...

 

  1. Os livros deviam ser oferecidos nas ruas

 

Eu era muito novo quando o meu pai comprou em Boticas, na Fotografia Ricardo, o primeiro livro de António Lourenço Fontes. Não havia em Boticas, nesse tempo, nenhuma livraria, nenhuma papelaria, nenhum quiosque onde se vendesse um livro. Pois este lá estava na casa dos retratos, encostado à porta, na rua, exactamente ao lado de onde agora é o Arsénio, num escaparate com uma portinhola em vidro fechada por um aluquete, com a capa a amarelar de o sol lhe bater uma boa parte do dia. E esse livro, para mim, foi uma revelação, porque explicava que havia uma relação forte entre o Homem e o Lugar, e que essa relação -- de que em última análise resulta uma Cultura e uma Paisagem -- era dinâmica. Bulia.

 

O resto, afinal, não era necessariamente nem uma inutilidade nem uma excrescência -- ainda que fosse paisagem...

 

  1. Às vezes já somos as coisas que ainda não sabemos

 

O livro do António Lourenço Fontes tinha um canastro na capa e os canastros em utilização eram coisa de gente atrasada, ignorante, parola. Fui-o folheando a baralhar-me: o livro valorizava o que, moços da vila, depreciávamos; falava das crenças, da religiosidade popular, das tradições, dos trabalhos agrícolas -- e eu, de súbito, a render-me à descoberta de uma gramática que era a base de compreensão de um mundo fascinante, culto, mágico, ligado à terra e ao céu, à raiz e à nuvem, a gente de rosto altivo, a um universo, enfim, de que me sentia afastado e a que simultaneamente, contraditoriamente, desejava pertencer -- ou como se, num certo sentido, já pertencesse.

 

  1. Conhecer e mudar

 

Alexandre Cancela d' Abreu definiu o Ordenamento do Território (coisa actualmente de doutores e engenheiros) como "o processo que, no passado, envolvia um complexo somatório de acções em toda uma comunidade culta -- no sentido de desenvolvimento dos conhecimentos e das capacidades intelectuais para intervir no meio que a rodeia e de que faz parte -- profundamente enraizada no seu território".

 

Essa comunidade culta, "profundamente enraizada no seu território", é a gente das Aldeias. Gente que construía Paisagens com o cuidado de quem sabia que o Homem, apesar de tudo, manda sempre menos do que o Lugar.

 

  1. A morte das Aldeias

 

"O grande problema do País é a morte das Aldeias" -- disse, aqui há uns tempos, o Professor Gonçalo Ribeiro Telles.

 

O problema é que há pouca gente para dar por isso.

 

 

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