Quem conta um ponto...
247 - Pérolas e diamantes: o ex-PM, o PM e o putativo PM
É necessário deixar claro que as pessoas que falam de uma era de limites estão, no fundo, a falar das suas próprias limitações e não as da nossa terra ou do país.
O povo português possui, como diria Gabriel García Márquez, a escrupulosa serenidade da pessoa acostumada à pobreza.
José Sócrates, ainda parafraseando GGM, ficou com o seu corpo rígido e seco, adquirindo um olhar que raras vezes corresponde à situação, como o olhar dos surdos.
Já António Costa fabricou para si, ou fabricaram-lhe, a imagem de um personagem do conto “Neste povoado não há ladrões” de García Márquez, que quer fazer passar a ilusória imagem de suave eficácia das pessoas acostumadas à realidade.
Passos Coelho, visto sob a perspetiva do escritor colombiano, aparece sempre nas cimeiras europeias barbeado com aquela expressão de decorosa simplicidade com que os pobres chegam a casa dos ricos.
Para o primeiro-ministro todas as principais decisões do seu Governo se relacionam com privatizações, ou concessões, onde o que manda é única e exclusivamente o dinheiro. Por detrás deste processo ninguém vislumbra nenhuma visão estratégica a não ser a da tão propalada superioridade da gestão privada sobre a gestão pública. O governo PSD/CDS responde à economia com a política e responde à política com a economia. A isto se reduz a sua ideologia.
António Costa, com as eleições legislativas aí à porta, decidiu, ou alguém por ele, rodear-se de um pequeno grupo que se vai autoconvencendo de uma esperança de vitória eleitoral, repetindo uma cartilha, que já vem do tempo do seu antecessor, assente num insonso calão económico e recheada de uma dezena de promessas que os portugueses não conseguem levar a sério, mesmo que queiram, porque são vagas e hipotéticas.
O PS volta de novo com a tão propalada reforma do Estado. António Costa assenta a sua estratégia em três pontos: a modernização administrativa, o desenvolvimento e ordenamento regional e o mar.
Conhecendo-os como os conhecemos, estamos convencidos que a tal reforma vai assentar na criação de três novos ministérios. Ou seja, vai aumentar o funcionalismo e paralisar o Estado, tendo em vista empregar os “camaradas” que estão sentados nas cadeiras do partido à espera da sua vez para ocuparem os cadeirões do poder.
O curioso é que estas “ideias” nem são novas e muito menos originais. A da reforma administrativa já vem do tempo de Sá Carneiro e a do ministério do Mar pertence a Cavaco Silva.
A isto se “resume” a modernidade do PS: criar burocracias para alimentar a sua tribo de burocratas, sem brilho nem responsabilidade.
Como se isso fosse pouco, o PS resolveu transformar o seu herói José Sócrates, preso preventivamente por suspeitas de fraude fiscal, branqueamento de capitais e corrupção, em preso político.
Para tal, o ex-primeiro-ministro diz só aceitar a sua libertação de forma incondicional, para dessa forma ser levado aos ombros e aclamado pelo povo, talvez para voltar rapidamente ao poder, já que António Costa dele se afasta a cada dia que passa e a cada sondagem realizada.
Os advogados de José Sócrates tudo fazem para que o seu cliente seja considerado um preso especial. Estão no seu direito e para isso são pagos.
O que ninguém percebe é a razão pela qual as pessoas ligadas ao PS se recusam a discutir, a perceber e a explicar, o esquema engenhoso que o senhor engendrou para conseguir as grandes somas de dinheiro que lhe permitiram viver principescamente antes de ser preso. E, já agora, a razão pela qual José Sócrates se servia do dinheiro da conta do seu amigo Carlos Santos como se fosse seu.
A sua prisão serviu para nos apercebermos de que é um megalómano obstinado.
E a quem pensa que é apenas um preso político convém lembrar que esse tipo de pessoas primaram sempre por manter uma vida austera adequada à causa que decidiram defender pondo em risco a sua própria liberdade.
Com o engenheiro Sócrates aconteceu precisamente o contrário: viveu faustosamente com o dinheiro que não era seu.
João Madureira
PS – Água mole em pedra dura…. Na Assembleia Municipal realizada no passado dia 24 de junho de 2015, o senhor presidente da CMC, António Cabeleira, afirmou que “se durante o ano de 2015 não for feita a inspeção que está prevista pela Inspeção Geral de Finanças, no final do ano comprometemo-nos a realizar a mencionada auditoria.” Para que conste, aqui fica o registo público do compromisso e as nossas felicitações.