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CHAVES

Olhares sobre o "Reino Maravilhoso"

30
Set15

Chá de Urze com Flores de Torga - 98


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Chaves, 19 de Setembro de 1970

 

Convidado por um colega, lá fomos há pouco os dois a uma aldeia sertaneja acudir a uma parturiente que ficou a meio caminho do acto procriador. Estendida no catre, com a placenta retida no útero e a ponta do cordão umbilical a cair-lhe da vagina, era para toda a povoação a imagem da impotência humana diante do destino. Fez-se-lhe a dequitadura, e o sol da confiança voltou a brilhar nos olhos desiludidos da comunidade. E mais uma vez senti a alegria de ser médico. Graças à «rainha das ciências», não só pude compreender e aceitar durante a vida a minha condição de filho da natureza, ver-me integrado nas suas leis e alicerçar nelas todos os meus valores, como ainda ter o orgulho legítimo de lhe corrigir ou completar de vez em quando as obras.

Miguel Torga, In Diário XI

 

 

Curral de Vacas, Chaves, 24 de Setembro de 1970

 

Hoje vim apenas ver o palco. Qualquer dia virei assistir à representação do Auto da Paixão e Morte de Nosso Senhor Jesus Cristo. Nestas quelhas esburacadas e cobertas de bosta, ladeadas de postigos por onde espreita a solidão humana sem fartura, sem higiene, sem instrução e sem esperança, sim, é que um Zé qualquer pode carregar dignamente uma cruz divina.

Miguel Torga, In Diário XI

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Verin, 23 de Setembro de 1971

 

Almoço no Parador, com o castelo de Monterrey nos olhos e Portugal no pensamento. A abstração da pátria, possível a um português em qualquer país, é-lhe quase impossível neste. A nossa personalidade individual e colectiva foi modelada de tal maneira de encontro ao perigo raiano, que o simples nome Espanha desencadeia uma girândola de reflexos em cada um de nós. Não +e ódio, como às vezes se julga. É, simplesmente, pânico. Medo terrífico de perder a independência, que sabemos negada no subconsciente dos vizinhos. Homens livres sem contestação em todas as terras do mundo, mesmo que nelas sejamos miseráveis ganhões, aqui, até sentados à mesa dum restaurante nos sentimos súbditos potenciais. E, desde os habitantes às obras de arte, só conseguimos ver em cada grandeza pessoal ou monumental instrumentos virtuais de domínio.

Miguel Torga, in Diário XI

 

 

29
Set15

Crónicas estrambólicas - Latinos pisces


estrambolicas

 

Latinos pisces

 

Há uns dias, em férias e longe de Chaves, fui a um Ecomarché comprar peixe. Reparei que as tabuletas que identificam os peixes com os nomes e os preços tinham também os nomes científicos dos peixes, em latim, a indicar as espécies. Não percebi qual a utilidade do latim, imagino que seja para evitar confusões entre potas e polvos (para além de haver mais de 10 tipos diferentes de potas e haver mais polvos do que o Octupus vulgaris...) ou entre palocos e bacalhaus (há vários bacalhaus para além do nosso do Atlântico, o Gadus morhua), não sei. Achei piada quando percebi que as rigorosas definições científicas são uma merda para certos efeitos, como a culinária. No início pensei que poderia ser algum empregado a meter água ao escrever os nomes, mas depois vi que não, que os nomes populares dos peixes são, por vezes, mais sofisticados do que os eruditos nomes em latim. O carapau e o chicharro tinham o mesmo nome Trachurus trachurus, mas soube depois (ao ler depois em casa) que o carapau é um chicharro pequeno. Há outros casos assim, o safio e o congro têm o mesmo nome científico Conger conger porque o safio é um congro jovem. A verdade é que agora imagino alguém a pedir no talho Ovis aries e o talhante responder-lhe "Ó homem, mas você quer cordeiro, borrego, ou carneiro velho?!". As coisas que um parolo aprende nos armazéns onde as massas ignaras fazem compras e rezam loas ao deus do consumo.

 

Luís de Boticas

 

 

28
Set15

Quem conta um ponto...


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258 - Pérolas e diamantes: O cavalo de Nietzsche e o atropelamento de Barthes

 

Javier Marías, o autor de Os Enamoramentos, tem razão, há na escrita uma incompreensível autodisciplina. “Só quem é um pouco anormal é que se mete a trabalhar numa coisa sem que ninguém lho mande”.

 

Há um provérbio árabe que diz: “Aquele que corre sozinho tem a certeza de chegar ao fim.”

 

A verdade é necessário merecê-la. A vitória mais não é do que uma miragem na cabeça de estúpidos vaidosos. E a mentira é como uma lagarta escorregando nas pétalas de uma flor. Esta é a trilogia do desencanto.

 

Há pessoas que pensam que a realidade e a verdade são coisas diferentes. Eu, metodicamente, duvido. Ou melhor, talvez a verdade não exista, mas, mesmo assim, sei que existe o desejo de a encontrar, seja lá em que sítio for. O segredo está em não desistir.

 

Sou do tempo dos melodramas. Ouvi várias vezes mulheres apaixonadas contar que o cinema lhes provocava uma ânsia de morte. De morte pelo amor. Pela redenção do amor. Contavam a história da Amália, ainda nos seus tempos de vendedora de fruta, quando ia ao animatógrafo ver a Dama das Camélias, e depois de voltar do cais, se pôr de propósito nas correntes de ar para implorar a Deus que, pelo menos, lhe desse o dom da tuberculose.

 

Ai, a poesia, a poesia. Essa fé dos pobres nos poderes ocultos da poesia. Mas os poetas pobres ignoram que os pobres poetas se ajoelham perante os ricos.

 

Somos vítimas dos enigmas. E das verdades. Da verdade dos outros, que é muito diferente da nossa verdade.

 

Para podermos viver com alguma sanidade mental temos de ter daqueles ataques de abstração que nos permitem ver através das nuvens densas da demagogia. Está um tempo para políticos ébrios.

 

E depois sugerem-nos a esperança com palavras doces. A esperança na felicidade, essa ideia tão capitalista que nos persegue a vida inteira. O problema é que não existe alternativa à altura.

 

Já que os homens e as mulheres estão impregnados da sua saudosa infelicidade, pensemos, ao menos, na felicidade das máquinas, ou na felicidade da sua posse. Algum sentimento nos tem de ficar de todo este progresso.

 

A esperança que nos apregoam é como um casarão grande e bem iluminado que cada vez vai ficando mais pequeno à medida que nos afastamos dele, caminhando na desilusão premente que nos acompanha, e nos modela, os dias.

 

Este Portugal que amamos, mais por condição do que por que razão, podia ser como uma pequena casa parecida com as que existem sobre as encostas e possuem as vistas extensas. Mas não. A nossa pequenez é endémica, substantiva. Permanente. As nossas vistas são curtas. Demasiado curtas. Vai um tempo para políticos amblíopes.

 

Afinal, Roland Barthes morreu assassinado, segundo a tese claramente ficcional do novo romance de Laurent Binet. O móbil do crime residiu no facto do semiólogo francês estar na posse da “sétima função da linguagem” que permitiria “convencer não importa quem a fazer não importa o quê não importa quando…”

 

O estranho é que Barthes morreu atropelado por uma carrinha de uma lavandaria numa rua de Paris.

 

A 3 de Janeiro de 1889, em Turim, Friedrich Nietzsche sai de casa. Na rua encontra um camponês que luta contra a teimosia do seu cavalo, que não lhe obedece. O homem perde a paciência e começa a chicotear o animal. O filósofo aproxima-se e tenta impedir a desumanidade dos golpes entrepondo o seu corpo. Perde imediatamente os sentidos. É levado para casa onde permanece em silêncio durante dois dias. A partir daquele trágico acontecimento Nietzsche nunca mais recuperará a razão, ficando aos cuidados da sua mãe e das suas irmãs até ao dia da sua morte, a 25 de Agosto de 1900.

 

Vivemos num mundo precário que teima em nos roubar os costumes e as tradições. Vivemos num tempo onde até as amabilidades são teóricas. Onde as ilusões e as desilusões ocorrem ao mesmo tempo.

 

Cheguei a pensar que o futuro ia estar sobrelotado, afinal parece que vai ficar vazio. É triste assistir impotente ao vazio dos nossos campos e das nossas aldeias que ardem durante o verão e congelam no inverno.

 

Segundo o livro A Demografia e o País: Previsões Cristalinas sem Bola de Cristal, da autoria dos investigadores da Universidade de Aveiro, Eduardo Anselmo Castro, José Manuel Martins e Carlos Silva, na faixa do interior do país que vai desde Trás-os-Montes ao Alentejo, a manter-se a atual tendência da evolução do índice de fecundidade em Portugal e não havendo migrações, as previsões apontam para a perda de aproximadamente um terço da população atual, em 2040.

 

A tudo isto assistiremos sentadinhos e risonhos numa cadeira Eames.

João Madureira

27
Set15

Padre Lourenço Fontes e o Barroso


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Uma das vistas desde o topo da Serra do Larouco

Como sempre aos fins-de-semana trago por aqui o nosso mundo rural, geralmente o flaviense. Desde há muito, também, que para mim Chaves não se limita aos seus limites geográficos de concelho. Entendo antes uma pequena região à qual me sinto pertencer e sinto ser a “minha terra”, composta pelos concelhos vizinhos, incluindo os galegos, e só depois é que vem o restante reino maravilhoso de Trás-os-Montes. Digamos que este meu pequeno território é uma pérola no meio do tal Reino Maravilhoso. Tudo isto para dizer que o meu mundo rural que hoje trago aqui é o do Barroso, mas não só, pois também o Padre Lourenço Fontes tem, hoje, aqui assento.

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Padre António Lourenço Fontes

Pois tudo começa num Congresso de Animação Sociocultural em Murça, no qual o Padre Fontes, também ele um Animador Sociocultural, participou e onde a organização do congresso programou fazer-lhe uma pequena homenagem passando um dia com Ele no seu Barroso. Esse dia foi marcado para 25 de setembro (ontem) e alargado a todos os que quisessem participar. Claro que nem que fosse só por ter o Padre Lourenço Fontes com cicerone e homenageado, uma enciclopédia viva sobre o Barroso, não poderia faltar a este encontro/homenagem, mas também porque sabia de antemão que iria ser um dia bem passado, em boa companhia e na qual iria aprender e conhecer mais um bocadinho do Barroso, como sempre acontece quando temos por companhia o seu embaixador Padre Fontes.

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Padre Loureço Fontes explicando os frescos da capela de N.Srª das Neves em Vilar de Perdizes

O programa era simples e feito à medida de um dia. Claro que tinha de começar por Vilar de Perdizes, terra onde o Padre Loureço Fontes inicia a sua grande divulgação do Barroso: com os autos religiosos, os congressos de Medicina Popular, os jogos populares, etc. Esta foi a terra onde durante meio século o Padre Fontes foi pároco, animador sociocultural, psicólogo, médico, conselheiro…) muito antes ainda de dar luz às sextas-feiras 13 da Vila de Montalegre.

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Rocha em pleno Larouco - A cabeça do cão perdigueiro português

Após a visita a Vilar de Perdizes havia que subir ao Larouco, mas antes havia que visitar o autódromo de Montalegre (já na serra do Larouco) onde à tarde iria decorrer o uma prova do Campeonato Nacional de Ralicross/Kartcross e só depois a subida, sempre comentada que nos ajuda a descobrir a cabeça do cão perdigueiro a caminho do ponto mais alto da serra atingidos aos 1535 metros de altura, de onde tudo se vê e se está mais próximo do céu. Topo também dedicado ao desporto com duas pistas de parapente e nos dois últimos anos final de etapas da Volta a Portugal em Bicicleta.

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Grupo que subiu ao topo ponto mais alto do Larouco - A vaidosa já lá estava

Após o desfrute das alturas do Larouro a inevitável descida para visitar Montalegre e o seu EcoMuseu, o castelo e as ruas do centro histórico de Montalegre.

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Torres do Castelo de Montalegre

O suficiente para se poder chegar à Aldeia de Mourilhe / Hotel Restaurante Rural (Hotel Assobrado) para um almoço dos diabos. E o assombro deu-se com aperitivos: ferradura afumada, presunto dependurada na lareira do inferno, caldo de urtigas malditas, pão que o diabo amassou, vinho excomungado da terra santa, seguido de vitela embruxada acompanhada com batata com murro da bruxa branca. Para sobremesa: Rabanada com mel de bruxa voadora, café negro como o diabo e quente como o inferno. Doce com mel. Licor e chá levanta o pau do diabo. E o programa poderia terminar aqui que já terminava mais que bem.

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Entrada no Hotel Restaurante Rural de Mourilhe para um almoço dos diabos...

Mas embaixador que é embaixador tem de cumprir os seus nobres desígnios de representar e oferecer a sua terra, para além de o corpo pedir mesmo algum exercido para amaciar um almoço embruxado. Uma visita ao convento de Pitões das Júnias caia na perfeição numa pequena viagem comentada pelo cicerone Padre Fontes.

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Alguns participantes assistindo a uma aula do Padre Fontes - Pitões das Júnias

Convento de Pitões, há muito abandonado e maioritariamente em ruínas mas que mesmo assim é digno de ser apreciado, principalmente pela sua envolvência e por poder ser apreciado quer envolto nas suas ruinas quer do cimo do anfiteatro natural de onde se pode apreciar todo o conjunto. Já lá fui umas dezenas de vezes e volto lá sempre com a curiosidade e ansiedade das vezes primeiras. Há magia naquele local.

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Vista geral do Mosteiro de Pitões das Júnias

Para rematar, ou quase, faltava mesmo qualquer coisinha para melhor digerir o almoço dos diabos. Nada melhor que uma queimada de aguardente devidamente “rezada”, de novo em Mourilhe / Hotel Restaurante Rural (Hotel Assobrado).

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Padre fontes a elaborar a queimada de aguardente

E foi assim, um resumo bem resumido de tudo que se passa na companhia do Padre Lourenço Fontes, um embaixador do Barroso. Em conversa com um dos docentes da UTAD que se juntaram a esta homenagem, concordámos em que o Barroso ficará para sempre marcado por duas épocas, a do antes Padre Fontes e a do depois Padre Fontes.

 

 

 

27
Set15

Pecados e picardias


pecados e picardias copy

Taverna

Sentiu a porta a abrir
Espreitou da cozinha
Entrou o homem íntegro
Nem de propósito, a sorrir…
Como se soubesse da Bertinha
Sorrui-lhe também num ímpeto
 
-Bom dia madrugou
-Bom dia d. Bertinha, nem por isso
-O que vai ser? O mesmo de sempre?
Assentiu com a cabeça estava contente
A sandes de presunto um bom petisco
O apetite acordou como tinha previsto
 
A visão da integridade
Um homem de verdade
Fiel à família
Fiel Ao trabalho
Longe da quezília
Sem saber… voluntário
 
Assim é que é
Sem se meter com ninguém
Fazia a sua vida
Olhando até
O descaramento com desdém
Missão cumprida
 
Incorruptível
De bem com a vida
A vinda à taverna
Era sempre bem-vinda
Simplesmente apreciar
O vinho sem se sentir refém
 
Gostava da Bertinha
Mulher trabalhadora e séria
Sempre disponível a servir
Sem ser a qualquer preço
Sempre que podia mostrava-lhe apreço
 
- Ó Bertinha este está Bom
- Pois abri agora o garrafão
- É sabe bem ás vezes está desquebrado
- Só se for quando é servido pelo Gerardo
Riu e assentiu ela tinha razão
Ela riu também, cúmplices no tom
 
Ficou a pensar Nele
Mesmo depois de sair
Pensou no Gerardo sabia bem
Que não gostava de o servir
Seria uma espécie de ciúme
Por não conseguir ser assim também

 Isabel Seixas

26
Set15

Fernandinho - Chaves - Portugal


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Há coisa de 10 anos atrás, quando iniciei o blog, uma das aldeias que tinha mesmo curiosidade em conhecer era Fernandinho. O curioso topónimo chamava a atenção. Da primeira vez que lá fui fiz uma visita breve à aldeia e quase sem parar fui direto até ao alto da aldeia, até à capela, onde, aí sim, parei. Desfrutei da paisagem e olhares que desde esse local são de longo alcance, entrando mesmo pela Galiza adentro e terras do Barroso, o que é de realçar, pois Fernandinho já fica no limite do concelho de Chaves na proximidade dos concelhos de Valpaços e Vila Pouca de Aguiar. Para além da paisagem e da apreciação da capela, simples mas interessante, com uma localização privilegiada, pouco mais vi ou me chamou a atenção na aldeia.

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Como sei que as primeiras impressões nunca são definitivas, em 2008 fiz nova investida na aldeia. De novo subi à capela para a rever, mas depois desci mais vagarosamente para uma recolha de imagens mais pormenorizada. Aí sim consegui um pequeno conjunto de imagens que já podia dar a conhecer um pouco da aldeia, não muito, pois a aldeia também não é grande, mas o suficiente para deixar alguns dados sobre a aldeia e até brincar um bocadinho quando dizia “(…)no recreio da escola, encontrei por lá um velho “doutor”, já russo do pelo e muito distraído, pois continua à espera do professor e ainda não se apercebeu que naquela escola já não se aprende nada(…). Referia-me a um velho burro que pastava no recreio da escola.

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Também nessa altura, quanto ao topónimo, dizia: “ (…)pensa-se que deriva do nome próprio de Fernandinus da idade média, mas pelas pesquisas que fiz sobre a aldeia, não há praticamente nenhuma documentação.(…). Dúvidas mas também a esperança de conseguir mais imagens levaram-me uma terceira vez a Fernandinho, e ainda bem que lá fui, pois desta vez o fator humano fez a diferença, não só pela simpatia da receção e acolhimento mas por esclarecer algumas dúvidas e, até, conseguimos novas imagens, mesmo porque o dia de névoa (embora em maio), não iria facilitar aquilo procurávamos.

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Por mero acaso, na entrada da aldeia, demos de caras com alguns rostos conhecidos. Um pastor que já tínhamos fotografado mais vezes noutras paragens e dois rostos que nos eram familiares da cidade, além de mais o nosso blog não era estranho a um deles que me informou logo que, se ia à procura do velho doutor esquecido na escola, já ia tarde, pois já tinha morrido… mas acrescentou logo que a hipótese que tínhamos levantado quanto ao topónimo da aldeia também não estava correto, pois o topónimo Fernandinho devia-se ao fundador da aldeia, o que construi aí a primeira casa e deu origem ao restante povoado, o Padre Fernandinho. Eis a diferença de entrarmos nas aldeias e andarmos por conta própria, e a de parar para conversar com os residentes e naturais delas.

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Conversa que nos abriu o apetite para outras visitas e descobertas que surgirão quando tivermos oportunidade para tal, mas também para ficarmos a conhecer melhor a história dos locais e as suas gentes, os seus problemas, alegrias e estórias, mas também a hospitalidade do nosso mundo rural.

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Claro que tínhamos de terminar a conversa no rés-do-chão de uma casa tradicional, ou seja, será o mesmo que dizer na adega, onde a pinga é sempre boa e a bucha ainda melhor.

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Não fosse a noite e os nossos afazeres e ainda lá estávamos, mesmo à distância dos 4 ou 5 meses em que a visita aconteceu e se quase sempre agradecemos a receção desta vez não podemos mesmo esquecer de o fazer, pois além das dicas preciosas que contribuíram para esclarecer algumas coisas que tinham ficado pendentes, temos de agradecer a hospitalidade e a visita à adega – obrigado!.

 

 

 

26
Set15

Pedra de Toque - Os Indiferentes, Os Desinteressados


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OS INDIFERENTES, OS DESINTERESSADOS...

 

São os que passam incólumes, sorridentes e alheados ao lado da hecatombe, do desastre.

 

As notícias que revelam a miséria, a presença de crianças com fome, o enorme número de casais desempregados, as falências a aumentarem, as instituições de solidariedade social a não terem mãos a medir face aos carenciados e desempregados.

 

Todas estas novas e muitas mais que anunciam o flagelo, não deveriam deixar indiferentes as pessoas minimamente atentes.

 

Mas o desinteresse, a indiferença, acontecem.

 

O que me incomoda de sobremaneira.

 

Ainda há quem se preocupe neste cenário de tragédia e drama com o supérfluo, com o luxo, com a moda, com a futilidade.

 

Ainda há quem viva do espavento, do exibicionismo constante.

 

Outros permanecem obcecados com minudências, com colecionismos caros, mas nunca lhes é ouvida qualquer palavra para com os que sofrem, para com a indispensável justiça social que os desprotegidos necessitam com premência, muito mais do que com caridade.

 

Dói-me verificar como assistem impávidos ao cortejo da desgraça que corrói vidas, que provoca aflição e que motiva revolta que tantas vezes conduz ao suicídio.

 

As amizades que vão acontecendo online nas redes sociais, quando são demonstrativas desse alheamento perante os valores supremas da solidariedade e dignidade humanas, bem como do não empenhamento cívico, não podem ser senão para desfazer.

 

Sem arrependimento é o que eu faço, cada vez mais, com um simples “click”.

António Roque

 

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