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CHAVES

Olhares sobre o "Reino Maravilhoso"

31
Jan16

Os domingos de Vidago


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Ainda ontem um vidaguense me dizia que Vidago não era só o Vidago Palace Hotel, e nós sabemos que isso é verdade, mas também sabemos que a joia da coroa, hoje, é o Vidago Palace Hotel e o seu parque.

 

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Pena que o Vidago Palace Hotel seja o único, dos grandes hotéis de Vidago dos inícios do século passado, a resistir até aos nossos dias, pois os restantes, como o Grande Hotel, o Hotel Avenida e o Hotel Salus/Golfe, não resistiram. Mesmo assim, o Grande Hotel esteve de portas abertas mais de 100 anos, pois segundo apurei era o Hotel mais antigo de Vidago, o único a ser construído ainda no século XIX (1874).

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Mesmo fechados ou em ruínas como acontece com o Hotel Salus/Golf, continuam a marcar presença em Vidago e são ainda eles os que numa vista geral sobre Vidago sobressaem na paisagem, mas claro, que a imponência, essa, fica toda para o Vidago Palace Hotel, o segundo a ser construído em Vidago, já no século XX, em 1910.

 

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Mas claro que Vidago hoje não é só o Vidago Palace Hotel e ao contrário do grandes hotéis, Vidago permanece como a única vila do concelho, digna desse nome.

 

 

31
Jan16

Pecados e picardias


pecados e picardias copy

 

1. Ouvi dizer que vais pró Poleiro?...

2. A sério!!!?... Porquê?

 

1. Então agora não vão mudar os boys?

2. Bem se são boys, são homens…

 

1. Tens piada, mas olha a propósito um dos teus amigos até veio passar a consoada e aproveitou logo para ganhar ajudas de custo, marcando uma visita oficial e inibindo o direito de mais alguns gozarem a tolerância, pelo menos alguns serviços foram mais limpos, pena que sobra sempre pro mexilhão…

2. Entretanto os teus amigos até dispensavam a escolta, os automóveis de serviço, os assessores, as mordomias…As ajudas de custo…As despesas de representação…

 

1. Mas fica descansada que agora diz-se que vão privilegiar Chaves, vão dotar os serviços das necessidades básicas para cumprir as regras de segurança do utente pelo menos as emanadas pela Direção Geral de Saúde, vai haver uma distribuição equitativa de diretores de serviço pelas três unidades, uma dotação segura de profissionais visando melhores cuidados e reduzindo as listas de espera…

2. Essa é a missão dos trabalhadores, cuidarem dos usuários e gerirem os recursos de forma moralizante pensando nas pessoas em geral e servindo o público assumindo o seu conteúdo profissional.

 

1. Mas convidaram-te ou não?

2. Estás doida…Sabes bem que não tenho habilitação política critério fundamental para o recrutamento.

 

1. Mas querias?

2. Só para presidente do conselho de administração ou Ministra

 

1. Estás a delirar?!!!!!!!!!!...

2. Porquê?Tenho habilitação académica, técnica cientifica, habilitação profissional carreira na área da gestão em saúde no ensino na prática clinica,…Gestão de topo , gestão intermédia…

 

1. Sendo Enfermeira­, hum…

2. Fica descansada os lugares não tardam a ser preenchidos.

 

1. Por quem­

2. Não sei, sei que eu não sou… Ah, ah.

 

Isabel Seixas

In Diz que disse…

 

 

30
Jan16

Imagens de Alanhosa, palavras de confissão


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Fez no início deste mês 11 anos que venho aqui ao blog com imagens da cidade de Chaves, mas, logo desde início, que tive necessidade de trazer também aqui imagens das nossas aldeias. Muitas vezes me pergunto o porquê dessa necessidade de mergulhar de vez em quando na nossa ruralidade mais profunda e a verdade é que não sei ao certo qual é a resposta, embora conheça a sua origem, ou melhor, penso conhecer. Mas tudo isto não é fácil de explicar, precisamente porque não tenho certezas de qual a razão desta minha paixão pelas aldeias, pelo mundo rural, pelas pessoas das aldeias. Sei que tudo começa na idade de ser criança, o que por um lado é estranho, pois nasci e sempre vivi na cidade ou nos seus arredores, mas sei que a minha ligação ao mundo rural começou precisamente em criança, na aldeia do meu pai, nos poucos dias que lá passava mas onde tudo era uma descoberta, como de noite viver à luz da candeia, não haver água canalizada em casa, as estrelas de noite serem mais brilhantes, as lareiras e os escanos, os potes ao lume e, durante o dia, o chiar dos carros de bois ou os bois, ovelhas e cabras, galinhas, burros, cães e pessoas a circular nas mesmas ruas, respeitado cada um os espaços dos outros, mas sobretudo o que melhor recordo, era a liberdade que tinha para andar pelas ruas da aldeia ou nas aventuras de explorar os montes num constante tropeçar com a vida selvagem, sobretudo dos animais e destes as aves nas mais variadas e espécies. Enfim, mais que imagens que vos deixo aqui aos fins-de-semana, são uma série de memórias que se revivem ao recolhê-las ou ao trazê-las aqui.

 

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Mas a vida é muito complexa e cheia destas e de outras paixões que nos levantam muitas questões e às vezes nos fazem viver aquilo que parecem ser contradições. Eu explico melhor ou troco em miúdos aquilo que quero dizer — Gosto no nosso mundo rural mas também gosto da cidade, e parto com a mesma paixão à descoberta do mais profundo da ruralidade como à descoberta de uma grande cidade. Em suma, e valendo-me das palavras dos outros sem recorrer aos filósofos, pensadores ou intelectuais das palavras, cito as palavras de Fernando Mendes cantadas por Marco Paulo: “ Eu tenho dois amores/que nada são iguais/mas não tenho a certeza/de qual eu gosto mais”. Pode ser pimba mas é a melhor descrição para o meu sentir, E com esta me vou!

 

Até amanhã, e se perderam tempo com a minha confissão, espero que o não tivessem perdido com as imagens de hoje.

 

 

 

 

29
Jan16

Discursos Sobre a Cidade - Por Gil Santos


GIL

 

CAPOTE DE GUERRA

Estarei eu por aqui por causa do capote que o meu avô António Moreiras usou na Grande Guerra?

Esse mesmo que lhe serviu de mortalha em 1976!

 

A 11 de novembro de 1917, o destino do Corpo Expedicionário Português na Grande Guerra ficou, dramaticamente, traçado, na reunião do Oberst Heeresleitung na Marie de Mons, sob o comando do general alemão Erich Ludendorff.

 

A entrada dos Estados Unidos na guerra, foi o motivo que justificou a intensificação da ofensiva alemã na Frente Ocidental. A Alemanha queria ganhar a guerra antes que os americanos entrassem no teatro das operações.

 

A primeira das ofensivas decididas para essa frente, naquele conselho de guerra, teve lugar em março de 1918, aproveitando as tropas provindas da frente oriental por força do Tratado Tratado de Brest- Litovsk, assinado com a Rússia em março de 1918.

 

Na presunção de bom tempo, os alemães escolheram a primavera para o golpe final, centrando o primeiro esforço na região do Somme. A estratégia consistia em flagelar esta zona de união entre o exército britânico e o francês. Através de pequenas ofensivas noutros pontos, fixavam as tropas inglesas para que não pudessem acorrer ao Somme. Daí que desde março, o setor português começasse a ser atacado em força, fazendo crer que se concentraria aí a força principal da guerra.

 

Ora os nossos Lãzudos que ocupavam o setor do rio Lys, começaram a sentir, a partir de março, um recrudescer inusitado da intensidade de guerra e cortavam prego quase todos os dias, com a frequência da metralha dos boches.

 

Na noite de 11de março de 1918, parte da linha da frente no subsetor de Fauquissart, próximo de Laventie, era ocupada pelo Batalhão de Infantaria 20 de Guimarães, que fazia parte da célebre Brigada do Minho, que havia de ser dizimada na noite de 9 de abril. Na linha B, por essa ocasião, encontrava-se parte do Batalhão de Infantaria 3 de Viana do Castelo do qual fazia parte António Pereira dos Santos 1º Cabo de Infantaria com o nº 814. Fora mobilizado em Agosto, pelo Regimento de Infantaria 19 de Chaves e colocado em 23 de novembro de 1917 na 4ª companhia do 1º Batalhão de Infantaria nº 3 de Viana do Castelo.

 

Na retaguarda, ao abrigo dos perigos mais eminentes, embora cumprindo um papel fulcral na guerra, que era o de tratar dos feridos, por isso não era considerado um cachapim, estava colocado um Capitão médico, mobilizado também pelo RI 19 de Chaves. Tratava-se do Dr. Adelino Augusto Fernandes, já com 41 anos de idade, colocado na ambulância nº 1 em 4 de agosto de 1917 e nomeado Chefe dos Serviços de Saúde da 6ª Brigada de Infantaria em 7 desse mesmo mês.

 

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Uma vez nas trincheiras, os soldados iniciavam um calvário diário de convívio com a metralha. Os dias eram violentíssimos sob o ponto de vista físico, mas sobretudo psicológico. Porém, à medida que o corpo, mais até o espírito, se iam habituando àquela estranha forma de vida, o convívio com o sofrimento e a morte ganhavam novos contornos sob pena de ser insustentável tal inferno.

 

A Avenida Afonso Costa, como era chamada, jocosamente pelos militares, a Terra de Ninguém, era o espaço entre as primeiras linhas Aliadas e as alemãs, bem como todo o ambiente bélico que a rodeava, tinham o aspeto desolador que o romance de José Rodrigues bem relata:

 

“A terra estendia-se pelo campo quase plano, desértico e desolado, ao mesmo tempo molhado, enlameado, sujo. Até onde os olhos podiam ver o solo era revolto, árido, tudo se encontrava queimado, o chão apresentava-se esburacado pelas crateras de granadas de obuses e esventrados por minas, aqui e ali se viam-se poças de água e lama donde emergiam ferros contorcidos, um ou outro cadáver humano em decomposição, ossos, botas com os pés decepados lá dentro, farrapos de uniformes, ratazanas mortas a boiar. As únicas coisas de pé naquele tenebroso mar de desolação eram as redes enrodilhadas de arame farpado, árvores calcinadas sem folhas e com os troncos carbonizados, paredes incompletas do que outrora foram casas e não passavam agora de tristes e irreconhecíveis ruínas.”[1]

 

O dia-a-dia na trincha era horrível, desumano. Quando chovia, o que era vulgar na Flandres, os soldados tinham de lutar, comer e dormir, semanas a fio, ensopados e engaranhados. A lama estava por todo o lado. A desmoralização e a doença ia aos poucos desgastando a moral dos infelizes combatentes. Para além dos boches, os piolhos não deixavam descansar ninguém. As ratazanas, grandes como gatos, e os corvos, negros como a fuligem, tornavam ainda mais pesada aquela cruz, pois roíam e debicavam os cadáveres dos camaradas que à vista dos vivos jaziam, semienterrados, na Terra de Ninguém. Na própria trincheira os bichos roedores disputavam o espaço e mesmo a comida dos infelizes expedicionários.

 

A convivência diária com os elementos bélicos, ligados ao sofrimento e à morte, destroçavam a mínima réstia de esperança que os iluminasse: a imagem da morte tornava a vida um martírio como bem nos relata Pedro Freitas:

 

“Os cadáveres de soldados, mulas, cavalos e mais fragmentos macabros, são em abundância e em verdadeiro estado de putrefacção. Espalhados à superfície da terra, incomodam-nos, horrorizam-nos. (…) O apetite desaparece (…). [Os] engulhos de enjoo [são frequentes] por ter-se topado com uma perna ou cabeça a granel de mistura com a pá ou a picareta.”[2]

 

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O espaço nas trincheiras era exíguo e a orientação muito difícil, sobretudo à noite. Para além disso, os rigores naturais da vida na frente, no que respeita ao terreno e ao clima, afetavam profundamente os militares. A ausência generalizada de hábitos de higiene pessoal, ou a dificuldade em os praticar, ajudavam a propagar pragas de piolhos, pulgas e outros parasitas, espalhando o desconforto e a doença.

 

Aos momentos de espera seguiam-se os momentos de combate. Os primeiros eram ocupados na limpeza das armas, no remuniciamento, na faxina, na construção e reparação das trincheiras, em breves momentos de descanso, ao que se juntavam os serviços de vigília e de patrulhamento. Constituíam estes espaços de tempo, momentos de grande desgaste físico e psicológico, como nos diz Rodrigues dos Santos:

 

“O que inicialmente não parecia passar de uma fantasia irreal transformou-se agora em perigo letal, deixou de ser brincadeira e começou a ser pesadelo. Vieram os tremores, o suor, o horror, a impotência. Matias começou gradualmente a perceber que a guerra era feita de oitenta por cento de tédio e rotina, dezanove por cento de frio polar e um por cento de puro horror, o mesmo horror que naquele momento o paralisava, a si e aos seus companheiros. Fugir dali estava fora de questão, mesmo que os regulamentos militares o permitissem. Os abrigos encurralavam-no, é certo, mas sempre ofereciam alguma protecção. Lá fora, sob a tempestade de aço e fogo, suspeitava que não seria possível sobreviver muito tempo.”[3]

 

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Os momentos de combate, eram aqueles em que se respondia ao fogo inimigo e se esperava a morte a cada minuto. A capacidade destruidora de armas novas como a metralhadora e sobretudo o gás tóxico, sujeitavam os homens a grandes tensões emocionais. De tal forma que nem a pena de morte, por fuzilamento, instituída para os desertores, retirava da mente dos soldados a possibilidade do cavanço. O medo, a que a gíria da malta chamava cortar prego, mitigava a ponderação da fuga sempre presente na mente dos combatentes mais fracos.

 

As relações estabelecidas entre os combatentes entrincheirados, baseavam-se num crítico equilíbrio entre os momentos de espera, os mais frequentes, e os de combate. As relações de amizade cultivavam-se na presunção de que a desgraça, partilhada, se suportaria melhor. Porém, durante o combate, aflorava o instinto individual de sobrevivência e era cada um por si. Apesar disso, as manifestações de solidariedade eram mais frequentes do que à primeira vista se possa supor, como se verá.

 

A gestão temporal na frente, obrigava a ritmos de vida desconhecidos e originais. A luz solar definia os limites temporais de dois momentos charneira nas suas vidas: o a postos da noite, uma hora antes do anoitecer e o a postos da manhã, na madrugada de cada dia. A noite era o tempo mais difícil e de maior aperto psicológico. O silêncio imposto, o arraial de very-lights e o trovão dos canhões era constante e assustador. À noite, o inimigo fustigava mais. O a postos da manhã desvendava o horror da metralha que teve lugar nas trevas da noite. Apesar de tudo, a luz do sol descansava a alma dos guerreiros que tinham resistido, intactos, a mais uma etapa no fio da navalha.

 

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O a postos daquela noite de 11 de novembro, no front de Fauquissat, tinha sido calmo e sem qualquer novidade. Tudo foi conferido e cada militar ocupava o seu posto para fazer face às surpresas da noite. O frio era cortante e o crepúsculo fazia adivinhar mais uma noite de intenso sincelo. Como se isso não bastasse, os desgraçados soldados que aguentavam a noite ao sereno conviviam com o perigo sempre presente de um bombardeamento de morteiros ou de um raid alemão que os dizimasse. Havia, por isso, que estar alerta e ocupar os postos de vigia acima do parapeito observando com muita atenção as movimentações dos boches do lado de lá do Campo de Ninguém.

 

Não seria ainda meia-noite quando a besta deu os primeiros urros! Primeiro uma saraivada de morteiros ligeiros, talvez para corrigir o tiro uma vez que rebentaram ainda longe da primeira linha, depois uma chusma de morteiros mais pesados que faziam tremer o chão e cortar prego aos nossos infelizes soldados que se enterravam quanto podiam na lama gelada para se safarem dos estilhaços. Por fim, morteiros pesados que onde caiam arrasavam. Por volta das duas da manhã, um desses morteiros graúdos caiu em cheio na Linha B e apesar do zingue-zague da trincheira, desfez o corpo dos soldados mais próximos, feriu gravemente outros e soterrou muitos deles. Os maqueiros foram chamados em socorro, mas não davam vazão ao sofrimento, de forma que foi preciso mobilizar todos os efetivos de saúde que estivessem mais próximos.

 

O nosso Cabo António estava na linha C, perto do abrigo do comando, onde, entretanto, tinha chegado o Capitão médico Adelino Augusto. O Capitão deslocou-se da retaguarda por reconhecer que os maqueiros não dariam vazão a tanto sofrimento. Porém, com a pressa de socorrer os infelizes, vinha desprevenido. As botas em mísero estado e o capote tinha ficado esquecido com a pressa no abrigo da retaguarda. Quando o Cabo soube que o Capitão Fernandes estava ali em trânsito para a linha B, foi ter com ele e ofereceu-lhe as suas botas e o seu capote para que ele pudesse deslocar-se em melhores condições. Assim foi. No regresso, o reconhecimento do seu gesto de altruísmo foi tal que, para além de muito agradecimento, o médico quis saber quem era aquele Cabo e anotou os seus dados pessoais.

 

Como o Cabo António e outros 6 500 camaradas dos cerca de 25 000 que a 2ª Divisão tinha na frente naquela noite, também o Capitão Fernandes foi feito prisioneiro, um mês depois, na célebre batalha de La Lys. Nunca mais se encontraram, uma vez que os oficias prisioneiros da Citadelle de Lille seguiram juntos para Rasttat na Floresta Negra e mais tarde para Bressen. Os praças-de-pré (soldados rasos, cabos e sargentos) foram dispersos por vários campos por esse império alemão que se entendia até à longínqua Rússia.

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A Grande Guerra acabou a 11 de novembro de 1918, o Cabo Santos regressou a Chaves em fevereiro de 1919. O Capitão Fernandes regressou no Pedro Nunes em finais de dezembro de 1918.

 

Passado alguns meses e já na peluda, na sua terra natal, Amoinha Nova, António Moreiras, como era conhecido, recebeu uma missiva de Adelino Fernandes, já Major, para que, indo a Chaves, o visitasse na sua Casa de Saúde em Santo Amaro. Assim foi, António aproveitou a primeira feira e foi ter com o Major médico.

 

O Dr. Adelino recebeu-o com grande estima e após uma longa conversa as recordar a guerra, mandou chamar o seu filho Augusto Fernandes, também ele médico. Depois de lhe contar o sucedido, recomendou-lhe que doravante deveria considerar o senhor Antoninho Moreiras como um grande amigo da família. Assim foi até à sua morte, infelizmente prematura, como já havia sido a de seu pai.

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O Major Dr. Fernandes faleceu em 28 de Maio de 1943, com apenas 67 anos de idade, passando o seu filho a ser o médico da família sem que alguma vez tivesse cobrado um único tostão pelos serviços de saúde prestados.

 

Por isso, a 9 de maio de 1957 nasci eu, neto do Cabo António, na Casa de Saúde do Dr. Fernandes em Santo Amaro. Um privilégio, num tempo em se se nascia em casa aos cuidados das parteiras curiosas, com todos os ricos inerentes.

 

Talvez eu deva a vida àquele gesto, longínquo, do meu avô e ao seu capote, pois diz a minha mãe que o parto foi tão difícil que só sobrevivi porque o Dr. Fernandes, que me tirou a ferros e me fez respirar, quando as enfermeiras já me tinham dado como perdido, estendendo-me numa cama para a salvarem a ela!

 

– Já que o filho não se salva, salve-se sequer ao menos a mãe – diziam elas!

 

“Faz o bem e não olhes a quem” - Diz o povo e digo eu, fosca-se!...

 

Coisas da guerra!

 

Gil Santos

 

[1]Cf. José Rodrigues dos Santos, A filha do Capitão, Lisboa, Gradiva, 2007, p. 229.

[2]Cf. Pedro de Freitas, As minhas Recordações da Grande Guerra, Lisboa, L.C.G.G., 1935, p. 51.

[3]Cf. José Rodrigues dos Santos, 2007, Ob. Cit. p. 251.

 

 

28
Jan16

Fugas - As salinas de Rio Maior


Fugas - banner

 

As salinas de Rio Maior

 

Fim de semana de fevereiro. O sol, ainda que tímido, contrasta com a chuva dos últimos dias e convida-nos a sair de casa. Rolamos pouco mais de 40 quilómetros para sul. Ao chegar próximo do Alto da Serra saímos do IC2, em direção a Rio Maior. Um pouco mais à frente aparece-nos a placa “Marinhas”, à esquerda. Descemos uns dois ou três quilómetros e avistamo-las.

 

As Salinas de Rio Maior, também chamadas Marinhas de Sal, encontram-se no sopé da Serra dos Candeeiros, a 30 quilómetros do mar, e apresentam-se como uma minúscula aldeia de ruas de pedra e casas de madeira, onde se destacam peculiares tanques de formas e dimensões irregulares. Estas salinas são únicas no país e fruto de um fenómeno da natureza. A 60 metros de profundidade existe uma gigantesca mina de sal-gema atravessada por uma corrente de água cujo caudal dá origem a água sete vezes mais salgada que a do mar. O poço existente abastece dezenas de pequenos tanques, chamados talhos e a distribuição da água obedece a regras que nunca foram escritas e cujas origens se perdem no tempo (existem referências às salinas de Rio Maior desde 1177).

 

Salinas de Rio Maior.jpg

 

O sal, que agora é depositado em grandes armazéns da Cooperativa que gere todo este espaço, era antigamente armazenado nas cerca de cem casas existentes, totalmente construídas em madeira, inclusive as fechaduras e respectivas chaves, para evitar a corrosão do sal. Também em tempos passados, algumas destas casas funcionavam como tabernas, por onde passavam os salineiros depois do trabalho. Hoje, várias delas estão transformadas em lojas de artesanato ou pequenos restaurantes típicos.

 

Estamos em fevereiro e, por isso mesmo, não avistamos as típicas pirâmides de sal a secar ao sol, pois a atividade apenas se iniciará daqui a mais algumas semanas, quando o sol conseguir ser suficientemente forte para provocar a evaporação da água. Nessa altura, cada litro de água originará cerca de 200 gramas de sal, o que acontecerá ao fim de 6 dias nos talhos. Completamos a nossa visita e regressamos a casa. Fica o desejo de voltar para uma visita mais demorada.

 Luís dos Anjos

 

27
Jan16

Chá de Urze com Flores de Torga - 115


1600-torga

 

Curral de Vacas, Chaves, 4 de Setembro de 1991

 

Com metade da povoação a guiar-me, visita penosa à Pedra Pitorga, um abrigo pré-histórico gigantesco que deu segurança através dos tempos a sucessivas aflições. A ele se acolhiam os primitivos habitantes da região, assediados por ursos, lobos, javalis e outros inimigos. Nele se refugiaram foragidos da Inquisição e da sanha miguelista e liberal, e perseguidos da Guerra Civil espanhola, que a raia não defendia da raiva nacionalista. Labirinto granítico oculto num matagal de giestas e carvalhas, nele me apeteceu resguardar também a dignidade de poeta neste tempo sem poesia que me coube.

Mas o homem já não sabe identificar-se no seio da natureza. Nem mesmo os candidatos à santidade se retiram nos cenóbios e nos desertos para conhecer na solidão os limites da alma, e meditar na hipocrisia humana. Cépticos também, procuram compungidos no seio escancarado das multidões e justificação da farsa da sua medular incredulidade. Os poetas, esse serão sempre presenças por si próprias devassadas em todos os recônditos do mundo. Em nenhum sítio real ou imaginário se podem evadir dos seus demónios interiores e da incompreensão demoníaca dos outros

Miguel Torga, in Diário XVI

 

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Menos penosa que a visita de Torga à pedra da Pitorga ou Pitorca, também eu fui conhecer a dita cuja, mas sem povoação ao qualquer guia a guiar-me. Assim, só da segunda vez que fui por lá é que a encontrei, e pensei que só à terceira é que era de vez. Acontece que acertei com a fotografia na Pitorc(g)a, pelo menos a julgar pela imagem reproduzida na Revista Aquae Flaviae nº41. Acertei com a fotografia mas foi impossível chegar perto dela. O mato não deixa. Pena que aquele campo de penedio não tenha qualquer indicação para se chegar até lá e que a Pedra da Pitorc(g)a não esteja assinalada e limpa de mato à sua volta. Como fica lá para o meio do monte, não interessa… embora arqueólogos e historiadores não pense o mesmo. Aliás a única informação que há sobre este achado é mesmo dos especialistas e profissionais do tema.

1600-curral-vacas (613)

 

Pela minha parte agradeço a Miguel Torga a descoberta pois até ao momento em que a conheci no seu diário nunca tinha ouvido falar da Pitorc(g)a, mesmo aquando dos achados em 1980 a fiquei a conhecer, talvez por na altura andar preocupado com outros interesses que não estes de conhecer a minha terra.

 

Fica para todos aprendermos mais um bocadinho sobre a Pitorc(g)a o que Alexandra Vieira escreve sobre a mesma e o local. De salientar que popularmente na aldeia de Curral de Vacas se referem a pedra da Pitorga, talvez por isso Miguel Torga assim se refira a ela. Nos estudos dos profissionais todos grafam a pedra como Pitorca. Apenas um pormenor, ou então é o Poeta forçou a grafia de modo a ir de encontro ao seu apelido Pi(Torga) – Isto já sou eu a inventar.

1600-curral-vacas (585)

Algumas rochas na envolvência do abrigo (Pitorca)

 

“ O Fragão da Pitorca consiste “num aglomerado de formações graníticas que conferem ao local uma posição destacada na paisagem. O conjunto dos rochedos gera promontório que descai em forma de penedia sobre o seu sector ocidental.” Foi neste abrigo de médias dimensões, que nos inícios dos anos oitenta do séc. XX foi encontrada uma espiral em ouro (Portal do Aqueólogo, em linha). Armbruster e Parreira (1993:25) referem-se ao achado como “ (…) um anel espiralado de ouro [que] estava associado a um machado plano de cobre e a cerâmica (…) Ana M. S. Bettencourt refere que neste sítio arqueológico teriam sido realizados enterramentos “provavelmente, desde o Calcolítico até ao Bronze Inicial. Aqui, a par de ossadas humanas, apareceram cerâmicas lisas e decoradas, assim como uma espiral em ouro e um machado Plano, ainda com rebardas de fundição” (Bettencourt, 2009:18).

 

Alexandra Vieira

“Alguns dados para o estudo da Idade do Bronze no Norte de Portugal”

In Antrope – A Idade do Bronze em Portugal: os dados e os problemas. 2014

 

 

26
Jan16

Flavienses por outras terras - Maria José Lage


Banner Flavienses por outras terras

 

Maria José Lage

 

Nesta crónica do espaço “Flavienses por outras terras” vamos novamente até Braga, a “Capital do Minho”.

 

Desta vez, vamos ao encontro da Maria José Lage.

 

Mapa Google + foto - Maria José Lage.png

 

Onde nasceu, concretamente?

Nasci em Chaves.

 

Nos tempos de estudante, em Chaves, que escolas frequentou?

Frequentei a Escola Primária, em Vilela do Tâmega, depois a escola no Forte de S. Francisco, no 5º e 6º ano, e ainda a Escola Secundária Fernão de Magalhães.

 

Em que ano e por que motivo saiu de Chaves?

Saí em 1987, para estudar.

 

Em que locais já viveu ou trabalhou?

Em Chaves e em Braga.

 

Diga-nos duas recordações dos tempos passados em Chaves:

São tantas as recordações, mas vou tentar colocar as mais marcantes.

 

As reuniões de amigos no Jardim das Freiras e no Café Aurora, pontos de encontro obrigatórios. Sabíamos sempre onde encontrar os amigos.

 

As fugidas para as discotecas da altura no carro de uma amiga que às vezes nos deixava ficar mal. Fazíamos uma “vaquinha” para a gasolina e lá íamos nós!

 

Proponha duas sugestões para um turista de visita a Chaves:

Há várias hipóteses. As termas e a zona histórica com passagem obrigatória pelo Castelo e pelo Museu. O jardim do Tabolado como espaço de lazer.

 

Estando longe de Chaves, do que é que sente mais saudades?

De tudo!

 

Com que frequência regressa a Chaves?

Uma vez por mês no verão. Visitas mais escassas no inverno.

 

Gostaria de voltar para Chaves para viver?

Sim, adorava voltar a viver em Chaves. Embora os seus residentes se queixem da falta de coisas para fazer a verdade é que vão acontecendo algumas atividades interessantes. Há qualidade de vida, permitindo tempo para participar em diversas atividades que de um modo geral são acessíveis em termos financeiros. Uma cidade acolhedora onde fazer amigos é fácil. A comida é excelente, embora seja triste a decadência do setor agrícola, retirando qualidade aos pratos, pois nada se compara ao sabor dos produtos hortícolas e ao sabor das carnes criadas por terras transmontanas, com particular apreço pelas hortícolas do nosso vale e pelos nossos enchidos quase extintos. O único problema é mesmo a questão dos empregos. Não consigo entender o porquê das políticas (ou falta delas) que têm sido seguidas pelas autoridades locais e nacionais, gerando tão grande desertificação. Nada me reconforta mais que um passeio pedonal junto ao Tâmega. Sossego, beleza e exercício relaxante. Adoro a minha terra, é lá que me sinto bem e em casa. Se pudesse regressava com todo o gosto!

 

 

O espaço “Flavienses por outras terras” é feito por todos aqueles que um dia deixaram a sua cidade para prosseguir vida noutras terras, mas que não esqueceram as suas raízes.

 

Se está interessado em apresentar o seu testemunho ou contar a sua história envie um e-mail para flavienses@outlook.pt e será contactado.

 

Rostos Flavienses.png

 

 

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