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CHAVES

Olhares sobre o "Reino Maravilhoso"

06
Ago16

Pedra de Toque - Poema para ti


pedra de toque copy.jpg

 

POEMA PARA TI

 

                        A dança é o sorriso do corpo!...

                       

                        E a boca,

                        Para onde grito calado,

                        É o princípio de ti.

 

                            António Roque

 

 

 

05
Ago16

Discursos sobre a cidade - Por António de Souza e Silva


SOUZA

 

Refundar (reformar) o Estado ou reformular novas regras do «jogo» (político) democrático?

 

I

 

Em período de férias, não se está para muita reflexão e «discursos». Mesmo no mundo do espetáculo, em vez de «estreias», assistimos a «reprises».

 

Pois, connosco, desta vez, acontece-nos o mesmo.

 

Talvez seja pelo excessivo calor a que, neste período, estamos sujeitos, mas, perdoem-me os leitores, desta feita, apetece-nos mais ler que escrever.

 

E, revisitando textos nossos publicados no passado noutra local, reproduzimos, com algumas adaptações, aqui, uma «reprise» de um texto escrito no passado 9 de fevereiro de 2013.

 

Estávamos em pleno «reinado» neoliberal do governo de Passos Coelho e Paulo Portas.

 

 É no contexto deste período que o texto que se segue deve ser lido e interpretado.

 

Contudo, cremos, a atualidade do(s) temas(s) continua a mesma. Consequentemente válida. Tanto mais quando comemoramos neste ano os 40 anos da Constituição da República e do Poder Local.

 

E agora com mais acuidade dada a mudança de novos protagonistas e de “novas esperanças”...

 

II

 

Deixemo-nos de eufemismos, caros políticos – exímios vendedores, de discurso fácil!

 

Agora a palavra reforma do Estado está sendo substituída pela palavra «refundar»?... Não nos soa um pouco a um certo passado, com outras cambiantes?

 

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Vindo de quem vem, tal desígnio até nos parece que outra coisa não é se não a «destruição», pura e simples, do Estado que temos. Mas, se atentos aos protagonistas e ao que sobra do sumo das suas eloquentes e retóricas palavras, a coisa será bem assim?

 

Se não, vejamos:

 

  • A ideia da proposta fala a sério como devem ser organizados os diferentes setores da administração central e periférica?

 

  • A ideia da proposta fala a sério como deve ser gerido o setor empresarial do Estado?

 

  • A ideia da proposta fala a sério como deve ser organizado o território e, consequentemente, gerido, em termos da administração regional e local?

 

É isso que efetivamente se quer, ou seja, acabar com uma administração central assente na palhaçada da lógica de concursos, que de imparciais pouco ou nada têm, para dar lugar aos que são da mesma cor ou à cunha para afilhados, enquanto os reputados candidatos a funcionário e técnicos não entram?

 

Será que se quer acabar com a dança indecorosa dos «boys» e «girls» que enxameiam os gabinetes ministeriais, pagos a peso de ouro e sem qualquer experiência profissional, senão a partidária, enquanto os reputados técnicos da administração pública, pagos por todos nós, são postos numa prateleira (ou vão para qualquer quadro de mobilidade especial, pagos a meia pataca e com o ferrete de já inúteis)?

 

Será que se está a pensar reestruturar os serviços de forma espartana, mas com efetiva lógica de eficácia para as funções que devem desempenhar, trabalhando com eficiência, acabando com os luxos, mordomias e desperdícios?

 

Será que se quer acabar com a maioria dos serviços e quadros da administração pública, encomendando tais tarefas a «empresas amigas», pagas milionariamente, tal como aconteceu com as parcerias público-privadas, por se ter reconhecido total incapacidade da administração pública para levar a cabo as suas funções, congeminando «negociatas» ultra milionárias com grupos e instituições cujo proveito só delas estas retiram, deixando para trás um negro fumo de compadrio e corrupção?

 

Quanto ao setor empresarial do Estado. Já alguém, de uma forma séria, discutiu e assentou que setor empresarial deveríamos ter?

 

Já alguém, de uma forma séria,  exigiu que fossem geridos com verdadeira eficácia, como se de uma verdadeira empresa se tratasse, e não mais uma instituição para colocar os amigos e correligionários do partido, pagos a peso de ouro, para, depois, uma vez mais, sermos nós, com os nossos impostos, a pagar, para além desses ordenados milionários, o preço de ineficiência e consequentes incompetências?

 

Quanto à administração regional e local. Fiquemo-nos apenas pelas autarquias.

 

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Como é possível que, em pleno século XXI, num mundo tão diferente e globalizado como o que hoje em dia temos, continuemos a ter uma organização territorial assente num modelo de meados do século XIX, com mais de 150 anos?

 

Como é possível, numa era do conhecimento, informação e técnica e das ultrassofisticadas  redes de informação, haja o enorme espartilho de autarquias que temos com tão amplas competências e uma complexa organização e gestão de serviços?

 

Será que a mascarada do trabalho que foi feito por este governo (de Passos Coelho e Paulo Portas) de «extinguir», parece, mais de mil freguesias, sem «tirar» um só município ou câmara, foi digno e sério? Será que não foi andar a brincar com todos nós e com o nosso dinheiro, plasmado em impostos de natureza insuportável?

 

Porventura algumas freguesias e municípios hoje em dia já não se justificam que existam. Por isso, essas mesmas, devam ser extintas.

 

Mas somos contra a extinção, pura e simples, das autarquias. Elas têm uma história, adrede a um território que amamos. Tem um passado que deve ser honrado e preservado!

 

Agora o que não podemos é ter, num país tão pequeno, tantas câmaras e tantas juntas de freguesia a serem administradas e geridas com uma carga de órgãos e pessoas que giram à sua volta! Tal situação já não se justifica!

 

Esta forma de gerir o país, assente no sistema político-partidário que temos, levou à perpetuação, tal como nos séculos XIX e XX, do caciquismo local e, com o poder que hoje em dia os municípios (câmaras) têm, a um despesismo incrível e inaceitável, por proliferação, por todo e qualquer canto do país, de obras faraónicas e ineficientes, porque mal dimensionadas, em termos de escala não só territorial com das gentes que servem.

 

Por isso, a reforma do Estado, em termos autárquicos, deveria começar por cima e não por baixo!

 

Ao termos rejeitado a regionalização, demos uma forte machadada na possibilidade de esta situação se poder inverter. Porque a regionalização, entendida também como uma nova forma de administrar e gerir o território, fatalmente teria de abordar a alteração do atual espartilho do quadro autárquico do nosso país.

 

Porque hoje com os meios que a ciência e a técnica põem ao nosso dispor, a escala regional é a mais adequada para administrar e gerir com eficácia e eficiência o nosso território, aligeirando competências e o peso institucional das atuais autarquias, ao lhes retirar as competências dos sistemas e serviços mais complexos, focalizando-as mais nos serviços de proximidade e vizinhança.

 

A regionalização não foi por diante, mas, ao menos, poderíamos ficar por uma solução porventura intermédia.

 

Se bem que a escala seja ainda pequena, mais adequada para a gestação de sistemas intermunicipais, como abastecimento de água, saneamento básico, recolha de resíduos, redes de gás, eletricidade, gestão territorial, etc., o conjunto dos municípios do Alto Tâmega e Barroso poderia ser uma boa base de partida. Assim, porque, a partir desta realidade, não se pegava nestes seis municípios – Boticas, Chaves, Montalegre, Ribeira de Pena, Valpaços e Vila Pouca de Aguiar – e se criava uma única estrutura que substituísse, em termos de efetiva representação democrática, a atual CIM-AT (Comunidade Intermunicipal do Alto Tâmega), que não apresenta, na sua efetiva prática, nenhuma coesão territorial, porquanto, ali, cada autarca se encontra democraticamente legitimado para lutar, única, e quase exclusivamente, pelos interesses do seu próprio concelho, havendo raros momentos de solidariedade?

 

A Comunidade Intermunicipal do Alto Tâmega (CIM-AT) não passa de uma autêntica mascarada!...

 

O que impede que isto se faça? O lobby dos senhores presidentes câmara, como já com a regionalização aconteceu, coadjuvados, muitos deles, com a atuação de alguns centralistas, políticos e opinion makers, defensores acérrimos das «regalias» que o «Terreiro do Paço» lhes dá!

 

E é aqui que tudo bate.

 

Em Portugal jamais se farão reformas a sério enquanto este estado de coisas do nosso sistema político partidário se mantiver. Infelizmente!...

 

Daí se compreende que a reforma do sistema eleitoral não vá por diante bem assim a da organização e gestão do território.

 

Os partidos, de um modo especial os do arco do poder, não a querem porque sabem que, se deixam à sua sorte os seus «caciques»-autarcas, não dispõem de meios no terreno para, na batalha eleitoral, terem sucesso assegurado.

 

Vivemos, manifestamente, num regime partidocrático.

 

Não somos contra a existência de partidos. Muito pelo contrário! Somos pela sua efetiva democratização, plasmada num maior protagonismo dos seus militantes, e não somente do da sua «nomenclatura». Nos partidos que temos vive-se como se estivéssemos num regime de ditadura. Não há efetivamente «direito» a pontos de vista diferentes e divergências, pois o que não faltam são «muftis» para proferirem a sua respetiva «fatwa», sob pena do exercício de verdadeiras «purgas». Sem o amplo debate, resultante de pontos de vista diferentes, divergentes, não há lugar a uma autêntica vida democrática dentro dos partidos (e a maioria dos debates não passam de puras encenações!).

 

O que é fundamental é simplesmente a aceitação do que é essencial num partido, ou seja, a sua matriz fundacional, o que levou à sua existência. Quem, eleitoralmente, em eleições internas verdadeiramente esclarecedoras e livres, sem qualquer constrangimento, vencer, apresentando a melhor leitura da situação e as melhores propostas estratégicas, é quem governa. Os vencidos não são postos de lado. Em função das suas qualidades, vontade e competências, devem lealmente colaborar nas tarefas da construção da alternativa democraticamente vencedora!

 

Numa sociedade em que cada vez mais se valoriza o sujeito como pessoa – ator e fazedor do seu próprio destino -, o nosso sistema político transformou-se numa estrutura opaca, coartando, tanto quanto pode, o papel do cidadão e dos movimentos de cidadãos no palco da cena política ativa.

 

Muitos dos que votam não conhecem as pessoas em quem votam – apenas siglas partidárias.

 

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Se não dermos um espaço muito mais amplo de participação ao cidadão (e movimentos) responsabilizando-os também como agentes-atores, fazedores da polis, quebrando com a hegemonia quase absoluta dos partidos na política, caminharemos para uma sociedade cada vez mais descrente da política, dos políticos, em dessintonia completa com aqueles (as) que, supostamente, os deveriam representar. E, desta forma, está-se a um pequeno passo da perversão do sistema, aliás como dia-a-dia, constantemente, já estamos presenciando.

 

Por isso, dizemos, mais que reformas que, no final de contas, não são mais que paródias do nosso viver coletivo, há que, primeiro, reformular, de uma forma séria e empenhada, novas regras do nosso «jogo» (político) democrático.

 

Se o sistema político não assumir, com autenticidade, a função e o papel dos cidadãos, quer dentro quer fora dos partidos, como indivíduos em palco, da política ativa, responsabilizando-os cada vez mais, ficará porta aberta para o cidadão comum se divorciar por completo da política, aumentando cada vez mais todo o tipo de oportunismos e corrupção (apesar do papel dos meios de comunicação, mas cuja lógica está fora do jogo democrática, pois estes, numa verdadeira lógica capitalista e de mercado, somente atendem ao lucro da notícia), enfraquecendo, inexoravelmente, a vida democrática do país em que vivemos.

 

E, órfãos de uma vida democrática autêntica, nosso país tornar-se-á – como aliás já está acontecendo -, presa fácil das aves de rapina que, a preços da chuva, e com a conivência cúmplice de uns quantos histriões,

 

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e que outra coisa não são senão verdadeiros «vendedores do templo», mas apelidando-se de salvadores da pátria, desbaratam e alienam os nossos recursos, tornando-nos depois presa fácil, «escravos» de um sistema no qual «eles» ditam as regras do jogo e não nós próprios.

 

Quanto a este sistema de coisas, cujo exemplo mais recente são as célebres sanções que os burocratas e alguns “donos disto tudo” nos queriam impor, imitemos o nosso grande artista Bordalo Pinheiro quando, embora noutro contexto, esculpiu esta célebre caricatura.

 

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António de Souza e Silva

 

 

04
Ago16

Discursos (emigrantes) Sobre a Cidade


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A Lei do Medo

 

            Vivemos tempos conturbados e cheios de interrogações. A Europa ocidental vem gozando desde há uns anos tempos de paz e já todos se habituaram a ver os conflitos nos ecrãs de televisão e páginas de jornais, como se fosse uma série de ficção ou algo fora da sua realidade. Nada mais ilusório e ingénuo, pois a violência, a agressão, a morte, a pobreza extrema e a injustiça continuam a suceder por todo o nosso planeta e a Europa ocidental não é, nem nunca foi, inocente nem neutra no seu contributo... Exemplo disso aconteceu bem recentemente com a tragédia de Nice, em que logo após o ataque de 14 de Julho, o presidente francês veio afirmar alto que a França iria reforçar os ataques na Síria e no Iraque. Pois é, já diz o ditado popular que “quem vai à guerra, dá e leva...”, como podem os franceses, orgulhosos de viver no país onde nasceram os Direitos Humanos, ignorar e tolerar esta escalada de violência?

 

            Nestes tempos conturbados e cheios de interrogações, os meios de comunicação social – tampouco inocente e neutros – alimentam a lei do Medo que se instalou na Europa ocidental, com preconceitos, meias e falsas verdades, “não notícias” que servem para desviar a atenção do essencial, “opiniões” suspeitas e partidárias. É fácil apontar o dedo à religião, à intolerância, à diferença de costumes, aos poderosos, à ganância do dinheiro. Certo é que a Terra é só uma e de todos os seres humanos, que são iguais como tais. As fronteiras e as “regras do jogo” foram criadas pelos próprios seres humanos que optaram por “dividir para reinar” em vez de unir em nome da justiça e paz social. Até quando vamos tolerar tanta injustiça e desigualdade? Até quando vamos continuar a viver a lei do Medo que nos paralisa e nos torna indiferentes ao sofrimento e à dor humana? Em que sociedade queremos viver e qual queremos deixar para os nossos filhos e netos?

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            Nestes tempos conturbados e cheios de interrogações, há que começar a pensar, a debater ideias e formas de agir com a gente que cruzamos cada dia. As grandes mudanças começam sempre com pequenos passos e sobretudo com novas formas de pensar. Porque a Paz é algo tão difícil de alcançar se o desejo de todo o ser humano é ser feliz e o planeta chega para todos? A “Terceira Guerra Mundial” que os media se deliciam a sugerir para manter a lei do Medo não irá acontecer se tal não for a nossa vontade.

 

            Reflicta-se bem em tudo o que aconteceu na curta história de vida da Humanidade. A culpa não é ninguém, a culpa é de todos. Coragem para assumir ideias justas para todos e juntar-lhe os actos certos procura-se. O amor pela Humanidade pode ser a resposta justa.

 

Sandra Pereira

03
Ago16

Quente e Frio!


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Enfeitiçados, desceram a Rua Cândido dos Reis.

Pararam na esquina da “Casa Calado”.

Olharam um para o outro. E com um aperto de mão, a dar uma ajuda ao desaperto da voz, despediram-se com um «até amanhã» cheio de cumplicidade subscrita pelo olhar.

 

IV

 

No dia seguinte, pouco passava das oito da manhã, o “Rapaz da Terra Quente” e o “Rapaz da Terra Fria” entraram na Igreja de S. Pedro. Benzeram-se com umas pingas de água benta e viraram costas ao santo e seus companheiros. Pararam à porta. Simularam olhar ora para esquerda ora para a direita, mas sem perder de vista a entrada da casa dos seus segredos mais fresquinhos.

 

Um grupo de estudantes da Escola Comercial e Industrial acomodou-se junto ao gradeamento do adro. Uns fumavam um «20-20-20»; outros, «Português Suave», e dois mais jovens davam umas chupadelas nos «Provisórios». Todos viraram a cabeça ao mesmo tempo.

 

Pela porta dos mistérios saíam duas cachopas, vestidas de igual, de cor trigueira, e cheias de graça.

 

- Como são lindas as “Lindas”!   -  murmurou o que, pela envergadura e idade que aparentava, devia ser dos mais antigos tarimbeiros da Escola, daqueles que são a demonstração de que «às três tem vez».

 

O “Rapaz da Terra Quente” e o “Rapaz da Terra Fria” ficaram a saber o nome das cachopas.

 

Que consolação!

 

Até lhes pareceu que elas tinham adivinhado a ansiedade que os consumia para vê-las quando perceberam que caminhavam na sua direcção.

 

O coração de um e o coração de outro pareceu sair-lhes do peito!

 

Elas vinham sorridentes, bem-dispostas.

 

E tão graciosas!

 

Entraram pelo portão, atravessaram o adro e sumiram-se dentro da Igreja sem o mínimo sinal de terem dado conta da presença, quanto mais da aflição, do “Rapaz da Terra Quente” e o “Rapaz da Terra Fria”.

 

Ambos se afastaram do seu vagar e pararam na esquina da Rua Isabel Carvalho.

 

A hora da primeira aula aproximava-se. Resolveram ir até à Rua da Dona Margarida Chaves, cortar pela frente do Palácio da Justiça, descer a Avª Carvalho Araújo e logo chegar a tempo das aulas.

 

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A meio da tarde, depois de terem passado pela Livraria do Sr. Branco, estavam a conversar naquele passeio mais largo, frente ao Banco, quando viram as duas “lindas Raparigas Lindas” descer a Rua, virar na esquina para a Rua Direita.

 

Seguiram-nas com discrição. Não demorou a vê-las dar, com uma maçaneta em forma de punho, umas pancadas na porta de uma casa quase chegada aos Bombeiros.

 

As portas misteriosas deixavam-nos cada vez mais intrigados.

 

Mal eles sabiam que ali morava o Doutor Tavares, Professor do Colégio das Meninas, e que, em casa ajudava as candidatas ao Exame para a ESCOLA NORMAL a prepararem-se para a «Aprovação».

 

V

 

Os dias foram passando entre corridas matinais pela Rua Direita a garantir a chegada atempada à primeira aula   -  não que a disciplina ...

 

(continua)

 

02
Ago16

Chaves D'Aurora


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4 .VIA CRUCIS.

 

Sem rumo certo, viu-se de repente junto à pequena cape­la de Nosso Senhor do Bom Caminho, no Campo da Fonte, construída lá pelo início do século XIX. Dirigiu ao Senhor a prece aflita de quem, àquela altura, estava a se perder nos descaminhos da vida. Retornou até ao Largo da Madalena, passou pela igreja de São João de Deus, que a Rainha D. Maria mandara edificar no século XVIII. – Gostava de ir, a esta hora mesma, ao senhor cura. – A confissão, quem sabe, mais leve lhe deixaria o coração.

 

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As portas do templo, no entanto, cerradas como o cora­ção dos intolerantes, pareciam negar à rapariga o mínimo perdão, o simples consolo, a mera guarida. Sentiu asseme­lhar-se então a Maria Madalena, a bíblica decaída, mas re­generada pelo Mestre (e da qual, muitas décadas após os tempos de Aurora, alguns diriam ter sido o décimo terceiro dentre os apóstolos de Cristo, autora de um apócrifo Evan­gelho e, segundo outros mais, como os Cátaros, esposa do Nazareno).

 

Resolveu seguir adiante até à sua quarta estação: a ponte romana sobre o Tâmega, com seus dezasseis arcos de cantaria de granito (quatro dos quais se acham soterrados), concluída no século II a.C., durante o Quinto Consulado de Trajano. Deixou-se ficar a uma das amuradas, ao lado de uma coluna com inscrições latinas, espécie de marco militar para assina­lar, de milha em milha, as vias por onde passavam os legio­nários romanos, rumo a outras povoações da antiga Hispânia.

 

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Foto de Raimundo Alberto (2010).

 

Pôs-se a olhar o rio que, tal como o ribeiro, corre para um destino bem definido, não tão incerto quanto o seu, agora.

 

Tudo isso lhe causava uma estranha agonia a corroer suas entranhas e a perturbar o pequeno não ser que, para ser, em seu ser dilacerado se entranhava. Bem pudera, àquela hora deserta da manhã, aparecer-lhe o mouro Abed e prendê-la viva entre as pedras da ponte romana!

 

(continua)

 

fim-de-post

 

 

01
Ago16

Quem conta um ponto...


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300 - Pérolas e diamantes: a relatividade da estupidez

 

Eric Hobsbawm tem razão. Uma das ironias do século passado é que o resultado mais duradouro da aplaudida Revolução de Outubro, na Rússia, cujo principal objetivo era o derrube global do capitalismo, foi salvar o seu antagonista, tanto na guerra como na paz, fornecendo-lhe o medo como incentivo.

 

Agora já podemos olhar para trás e desfrutar da ironia da sua derrota. A força do desafio socialista global ao capitalismo transformou o fraco em forte, acabando por conseguir que triunfasse de uma maneira quase estúpida. 

 

Também em Moscovo, como muito mais tarde em Lisboa, o poder, mais do que tomado, foi apanhado. Diz-se que mais gente se feriu nas filmagens do grande filme de Eisenstein, Outubro (1927), do que durante a tomada de facto do Palácio de Inverno em 7 de Novembro de 1917. O Governo Provisório, já sem ninguém que o defendesse, esfumou-se simplesmente.

 

O mágico Mandrake saindo da parede, na nossa direção, quando abríamos a porta do frigorífico destronou o homem de aço soviético carregado de sorrisos, ideologia, mas sem papel higiénico, sabão, ou carro próprio.

 

  1. H. Auden, metido na aventura revolucionária em Espanha, durante a guerra civil, bem exaltava a luta contra o inimigo comum, em 1937: “Amanhã para os jovens, os poetas explodindo como bombas, / Os passeios à beira do lago, as semanas de perfeita comunhão; / Amanhã, as corridas de bicicletas / Pelos subúrbios nas noites de Verão. Mas hoje a luta […]”

 

Um pouco mais tarde, já nos finais da II Grande Guerra, Spartaco Fontanot, um metalúrgico de 22 anos, membro do grupo resistente francês de Misak Manouchian, em 1944, escrevia à sua mãe: “Não culpe mais ninguém pela minha morte, eu mesmo escolhi o meu destino. Não sei o que escrever-lhe porque, apesar de ter as ideias claras, não consigo encontrar as palavras certas. Assumi o meu lugar no Exército de Libertação e morro quando a luz da vitória começa a brilhar […] Vou ser fuzilado daqui a pouco com 23 outros camaradas. Depois da guerra deve exigir o seu direito a uma pensão […]”

 

Mas o que derrotou o fascismo e, um pouco mais tarde, o comunismo, por incrível que pareça não foi a ideologia que cantava os amanhãs radiosos de sol marxista-leninista, mas uma coisa bem mais simples e prosaica: o patriotismo.

 

Conservadores fortemente imperialistas e anticomunistas como Winston Churchill, e homens de formação reacionária católica como De Gaulle, preferiram combater a Alemanha não por uma animosidade especial contra o fascismo, mas por causa de une certaine idée de la France ou a certain idea of ​​England.

 

Contudo, mesmo para pessoas como estas, o seu empenhamento podia ser parte de uma guerra “civil” internacional, pois o seu conceito de patriotismo não era necessariamente o dos seus governos.

 

Ao ir para Londres e, a 18 de junho de 1940, declarar que, sob a sua chefia a “França Livre” continuaria a combater a Alemanha, Charles De Gaulle praticou um ato de rebelião contra o governo legítimo de França, que decidira constitucionalmente terminar a guerra e fora, sem dúvida, apoiado nessa decisão pela grande maioria dos franceses da época.

 

Em situação idêntica, Churchill teria reagido da mesma maneira. Entretanto Estaline aguçava as suas garras de aço nas masmorras da Lubianka e provocaria uma das maiores chacinas da história. O Lobo das Estepes comia os seus próprios filhos ou os filhos da matilha.

 

Foi por essa altura que, para 80% da humanidade, a Idade Média acabou de repente. A partir daí o mundo, ou os seus aspetos evidentes, tornou-se pós-industrial, pós-imperial, pós-moderno, pós-estruturalista, pós-marxista, pós fosse o que fosse. E até pós-coital.

 

Agora vivemos neste mundo neoliberal, dominado, liderado e formatado pelos poderosos órgãos de informação.

 

As manifestações bem-sucedidas não são necessariamente as que mobilizam o maior número de pessoas, mas antes as que atraem maior interesse entre os jornalistas. O caso paradigmático português é o Bloco de Esquerda.

 

Pierre Bourdieu tem razão quando afirma que, exagerando apenas um pouco, pode-se dizer que meia centena de indivíduos inteligentes que conseguem obter cinco minutos de TV para um happening bem-sucedido podem produzir um efeito político compatível ao de meio milhão de manifestantes.

 

A escola dos multiculturalistas e dos defensores do eduquês, e da sua vertente fundamentalista pedagógica, fez triunfar a ideia de que é irrelevante e não democrático decidir se Macbeth, de Shakespeare, é melhor ou pior do que o Batman.

 

É tudo relativo, até a estupidez.

 

João Madureira

 

 

01
Ago16

De regresso à cidade


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Para quem vive no lado barrosão do concelho, ou seja na margem direita do Rio Tâmega, o regresso à cidade, dependendo do ponto de origem,  poderá ser feito a pé, de popó, de mota, de bicicleta, a cavalo e por aí fora, basta escolher uma estrada ou caminho que o leve até à cidade. Para quem vive na margem esquerda do Rio Tâmega, utilize o meio de transporte que utilizar, o regresso à cidade terá de passar obrigatoriamente pelo Tâmega, por uma das oito pontes do concelho, ou por um dos três pontões, ou pelas poldras se for a pé, ou então de barco ou a nado. Ofertas não faltam, o que interessa é regressar sempre à cidade, isto, se a sua vida for feita de regressos. Para os que partem, é tudo igual, só que ao contrário…

 

Seja como for, uma boa semana para todos!

 

 

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