Coisas do largo - Arrabalde - Chaves
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CRÓNICA #2 – Falemos de coisas interessantes
“Hipócrita leitor, meu igual, meu irmão”, era assim que Baudelaire qualificava os seus leitores. Achei interessante o facto de Baudelaire no início da frase diminuir o leitor ao ponto de chama-lo “hipócrita” para terminar num trato sobranceiro e íntimo como “meu irmão”.
Isto tudo para dizer que não tenho nada de relevante a dizer-vos, meus queridos e estimados leitores, mas conheço-me suficientemente bem para saber que aquilo que estou prestes a dizer será de uma sabedoria petulante.
A folha em branco assusta-me sempre, tanto quanto a nossa sombra até aos dois anos de idade, quando, por fim, descobrimos que essa mesma sombra é o resultado da nossa própria imagem refletida no chão através da ausência de luz. Mais tarde, lamentamos de imediato todas as fugas apressadas para o colo da mãe. Triste e ao mesmo tempo tão natural.
Honestamente, talvez seja o problema de quase todos os escritores, menos daqueles eruditos que escrevem catorze livros em meio ano e que perdem tanto tempo a escreve-los que não depositam grande originalidade nos títulos, remetem-se a um: “Prometo Falhar”, “Prometo Perder”, “Prometo Falhar Todos os Dias”. Comparados com esses monstros literários (reparem que a ideia de polissemia na frase é propositada) até Saramago é um exímio amadorzeco.
Sendo eu um amador nato e sabedor que a minha própria extinção acabar-se-á e apaixonado pela exígua vida que nos apraz, tento pensar mais do que falar, ler mais do que escrever, até porque a ideia de fazer parte deste conjunto de pessoas a que chamamos humanidade provoca-me um certo desconforto que acaba por se tornar numa dor profunda quando chego à conclusão que a humanidade é estupida. Em suma, entrego-me à fantasia mais real da vida que são os livros.
Eu penso muito, penso em coisas que os leitores previsivelmente não tendem sequer a perder tempo com isso - digo isto em forma de encómio, acreditem. Penso demasiado, o que me torna bastante cético em relação ao sol do meio dia de amanhã. E os meus pensamentos variam, mas têm sempre o mesmo grau de importância: desde da curiosidade que tenho em compreender o fetiche do individuo que matou mais de sessenta milhões de pessoas da mesma raça que ele ao grande e esperado regresso do programa didático e pedagógico e educacional – reparem que fui bastante minucioso nos sinónimos – chamado Casa dos Segredos. Sei muito bem que o último tema maior parte dos leitores desconhece e por isso mesmo suscita grande interesse do vosso lado, presumo, mas não anula o facto de eu, como pessoa iluminada e superior a vocês, lamentar a vossa ignorância.
É um programa sobretudo para pessoas cultas e iluminadas, pessoas capazes de ver além. Claramente exigirá de vocês outra cultura, outra pré-disposição para aprender algo de novo. Podemos também assistir a grandes debates sobre as grandes questões, ou até mesmo ganharmos a capacidade intelectual de compreender que o ser humano é indecifrável e ao mesmo tempo cenoso e ignóbil.
Podia falar da controvérsia que tem existido em torno deste PSD docinho e meigo de Rui Rio que faz as regalias de Costa ou até mesmo dar um ligeiro ênfase à nova capa da revista Cristina que visa suscitar grandes interesses sobre o “homem para além do cargo” - António Costa. Depois de Lili Caneças, Pedro Teixeira e Rebecca era mais que obvio e esperado que António Costa completasse este despretensioso lote de capas extremamente giras da revista Cristina.
O país, como sabem e como se diz, vai de vento em popa. Temos um presidente do povo e amante das selfies em série – Marcelo Rebelo de Sousa – e agora, acreditando que o gosto elegante por coisas desinteressantes não se propague no meio político, António Costa como figura de Março da revista Cristina. Seguindo assim o ritmo das coisas ainda teremos o presidente da assembleia da república como miss Dezembro.
Repararam que no inicio não tinha nada de relevante a dizer-vos e que agora apresento um leque de temas interessantíssimos, modernos e com ideias coerentes em relação às mesmas, e tão mais interessantes que o ultimo projeto da Teresa Guilherme.
Até daqui a duas semanas, caros leitores.
Deixo-vos umas recomendações culturais, no meu ponto de vista, mais ou menos egrégias:
- Quem Disser o Contrário É Porque Tem Razão de Mário de Carvalho: Um guia prático de escrita de ficção para quem se quer aventurar a escrever a sua historia. Recomendo todas as obras do autor, e esta não seria exceção. Já o li todo, e substitui, de longe, quase todos os cursos de escrita criativa.
- 12 Indomáveis / 12 Strong: Este belíssimo filme traz-nos a história verídica da primeira Força de Operações Especiais a ir para o Afeganistão após o 11 de Setembro.
Um filme extremamente luxuoso com um elenco estrondoso e encantador. O argumento é muito bem conseguido. Os diálogos são magistralmente bem interpretados. Rendido.
- Este Oficio de Poeta de Jorge Luis Borges: “Passei a minha vida a ler, a analisar, a escrever (ou a tentar escrever) e a divertir-me. Acho que esta última coisa é a mais importante”. Um ensaio completamente notável de um dos melhores poetas argentinos. Espalho a mensagem e a importância de ler este livro.
Herman JC
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Esta foto maravilhosa é uma lição de história. Par...
Obrigado por este trabalho que fez da minha aldeia...
Rua Verde a rua da familia Xanato!!!!
Obrigado pela gentileza. Forte abraço.João Madurei...
Boa crónica.