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CHAVES

Olhares sobre o "Reino Maravilhoso"

30
Abr18

Blog Chaves - Estamos de regresso à normalidade


FIM DAS OBRAS.jpg

 

Fim das obras no blog. Afinal demoraram mais que o previsto, tudo graças a um pequeno problema imprevisto que para o resolver tive de recorrer à equipa de apoio dos blogs SAPO, que como sempre o resolveram. Obrigado, é por estas e por outras que estou convosco há 13 anos.

 

O que mudou no blog!? Pois penso que está à vista de todos, está com um novo ar, deixámos o fundo preto e passámos para o branco, ganhámos uma barra de menus, mudámos o cabeçalho, temos mais informação disponível e mais umas coisas que iremos introduzindo, alterando e aperfeiçoando nos próximos dias, principalmente no que respeita aos conteúdos dos menus agora disponíveis, que para já fica com Agenda – Aldeias de Chaves – Barroso – Crónicas do Blog – Fotografias e Sobre nós. No entanto como os posso mudar a qualquer momento, talvez surjam outros mais pertinentes, estando também aberto às vossas sugestões.

 

Quanto às publicações, continuarão como até aqui, com as crónicas dos nossos colaboradores a serem publicadas como habitualmente, as nossas fotografias e artigos sobre a cidade de Chaves, as nossas aldeias e a região a acontecerem como até aqui, onde fazemos questão de ter por cá as nossas aldeias aos sábados e a região aos domingos, para já o Barroso, mas chegará o tempo de estarem aqui os outros concelhos vizinhos, e se tivermos tempo, saúde e disponibilidade, pois já estamos a falar de médio/longo prazo, vamos por esse Reino Maravilhoso adentro.

 

E para já é tudo, apenas anunciar o regresso à normalidade do blog, com algumas pequenas alterações a poderem acontecer a qualquer momento. Se detetarem alguma anomalia no seu funcionamento, por favor avisem-me.

 

 

29
Abr18

O Barroso aqui tão perto - Fontaínho


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Nesta rubrica de o Barroso aqui tão perto, hoje toca a vez a Fontaínho, que por acaso até é uma das aldeias que para nós flavienses fica no Barroso mais distante, já bem dentro do Parque Nacional da Peneda-Gerês e bem próxima do concelho de Vieira do Minho e de Terras de Bouro, embora entre Fontaínho e estas últimas exista a Serra do Gerês, ou seja, terras vizinhas, mas do outro lado da serra/muralha.

 

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Mas sejamos mais precisos na localização de Fontaínho que, como já perceberam, fica no Barroso verde, que só não é minhoto porque está no limite de Trás-os-Montes e administrativamente pertence ao concelho de Montalegre, de resto, já tem todas as características de terras do Alto Minho. São os tais contrastes e barrosos que existem dentro do todo barrosão.

 

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Pois Fontaínho pertence à freguesia de Cabril, a pouco mais de 1km da sede de freguesia, localiza-se na encosta da montanha com vertente para o Rio Cabril, este a apenas 500m, mas não muito distante do Rio Cávado, a cerca de 2km, aliás tinha de ser, pois ambos os rios se encontram nas proximidades de Cabril, embora não se dê por isso, pois a barragem de Salamonde disfarça este encontro.

 

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Passemos à altitude e coordenadas de Fontaínho.  Geralmente o Barroso é dividido em Alto Barroso e Baixo Barroso (terras altas e terras baixas), mas para mim é uma falsa divisão, principalmente se tivermos a altitude em conta, como por exemplo se passa com Fontaínho, na cota dos 300 metros, próxima dos 400, mas que a menos de 5km a cota já atinge os 1200m. Mas isto são pormenores ou noias minhas, pois no todo é o Barroso aquilo que interessa, e esse é único, mesmo com os seus contrastes, ou talvez por isso mesmo.

 

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Ficam então as coordenadas:

41º 43’ 24.32”N

08º 01’ 31.67”O

Altitude: 400m

E também fica o nosso habitual mapa que servirá de pretexto para passarmos aos itinerários a seguir para chegar a Fontaínho, com partida desde a cidade de Chaves, como sempre.

 

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Pois ficam dois itinerários, o primeiro aquele que recomendamos, hoje por ser o mais interessante e o de menor distância, e um segundo em alternativa, um pouco mais longo mas com melhor estrada.

 

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Então o primeiro itinerário é via EM507, ou seja, estrada de S.Caetano/Soutelinho da Raia, este embora maioritariamente por estradas secundárias, é o mais interessante, pois passa pela Vila de Montalegre e quase metade do percurso é feito dentro do Parque Nacional da Peneda-Gerês. Ao todo são 81 km. Atenção que no mapa o traçado passa por Vilar de Perdizes, Solveira, etc. Mas esse troço continua cortado ao trânsito por motivos de obras. Assim, para já, ao chegar a Meixide terá mesmo de optar pela alternativa via Pedrário, Serraquinhos, Cepeda, aliás um troço também bem interessante.  A partir de Montalegre segue-se sempre ao longo do Rio Cávado pela M308 até Sezelhe, aqui entra no Parque Nacional da Peneda-Gerês e segue até à Barragem de Paradela, onde deverá atravessar o paredão da Barragem e seguir sempre pela estrada até encontrar o desvio para Fontaínho, mas primeiro terá de passar ao lado ou por Sirvozelo, Cela, Lapela, Azevedo, Xertelo e Chelo.

 

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A alternativa ao itinerário anterior é via Nacional 103 (estrada de Braga), sempre pela N103 até ao final da Barragem de Venda Nova, aí atravessa o paredão da barragem e segue em direção a Ferral e Cabril, logo a seguir é Fontaínho. Por aqui são mais 6km, 87 no total.

 

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E dos intinerários para o topónimo. Pois segundo a “Toponímia de Barroso” temos:

 

Fontaínho

Tal como tantos outros nomes e muitíssimos topónimos decorre do latino FONS/FONTIS, FONTE por FONTANU > FONTANINO > FONTAIO (com esse i nasalado) > FONTAÍNHO e assim chegou ao hidrotopónimo.

 

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E continua a “Toponímia de Barroso”:

Não se trata de sítio com uma fonte pequeina; é, pelo contrário, lugar de várias fontes. Ou seja, o “inho” não é diminutivo mas adjectivamente frequentativo.

Não cause admiração a forma masculina já que, no latim, as fontes também são masculinas como o deus delas – FONTANUS.

 

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Quanto à “Toponímia Alegre” temos:

 

Apelidos” de Cabril

 

"Moeda falsa de Lapela,

Vinho-azedo de Azevedo,

Cava-touças de Sertelo,

Escorricha-picheis de S. Lourenço,

Rabões de Chelo,

Bufos de Vila Boa,

Lagartos de Fontaínho,

Cinzentos de Chãos,

Carrapatos de Cavalos,

Paparoteiros da Vila

Dente-Grande da Ponte,

Pousa-fois na Chã de Moinho,

Raposos de Busto-Chão."

 

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Hoje temos menos imagens, mesmo porque Fontaínho é uma aldeia pequena, mas também como nada encontrámos nas nossas pesquisas ao seu respeito, exceção para a “Toponímia de Barroso”, que nessa sim, tem um pouco de todas as aldeias. Mas há ainda umas palavrinhas a dizer, as nossas, daquilo que mais gostámos de ver e nos vai surpreendendo.

 

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Pois a presença da Serra do Gerês surpreende sempre, pela sua imponência e ser uma serra de acessos difíceis ou mesmo impossíveis, e ela está bem presente em Fontaínho, pelo menos nas vistas, e como é bom descansar nelas os nossos olhos. A par da serra temos o verde, as paisagens de verde com os seus vários matizes. Terras férteis, parece, pelo menos a julgar pelos canastros, pois não existiriam se a terra não desse coisas para lá meter a secar. A nível de construções são o que mais se destaca, pois estas aldeias nesta zona do Barroso são muito diferentes das aldeias mais a norte, onde os povoados são maiores e mais concentrados em núcleos bem definidos. Digamos o que mais surpreende por aqui é a aspereza da serra de rochedos sem fim a erguerem-se para o céu a contrastarem com os matizes de verdes mais vivos ou menos vivos mas sempre brilhantes das terras mais baixas, onde vão aparecendo pequenos núcleos de casario, de vez em quando interrompidos por um rio ou uma albufeira, a combinação perfeita por onde dá gosto andar à descoberta.

 

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E na ausência de mais documentação ou dados para referir, ficamos por aqui, mas antes ainda deixamos, como sempre, as referências às nossas consultas, hoje apenas uma. Quanto aos links para as anteriores abordagens às aldeias e temas de Barroso, estão na barra lateral deste blog. Se a sua aldeia ou a aldeia que procura não está na listagem, é porque ainda não passou por aqui, mas em breve passará.

 

BIBLIOGRAFIA

 

BAPTISTA, José Dias, Toponímia de Barroso. Montalegre: Ecomuseu – Associação de Barroso, 2014

 

 

 

 

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28
Abr18

Nogueirinhas - Chaves - Portugal


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Ainda antes de conhecer as Nogueirinhas já despertavam em mim a curiosidade de as conhecer, primeiro porque o diminutivo dá sempre um ar de graça aos lugares, depois, porque na altura, quando se queria gozar com um chico esperto armado aos cágados, dizia-se ser formado na universidade das Nogueirinhas. Nunca percebi o porquê, mas sempre achei piada.

 

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Mas demorou alguns anos a satisfazer a minha curiosidade, pois segundo me diziam as Nogueirinhas ficavam ali por baixo de Curral de Vacas, lá para o monte, e embora não fosse longe, também não era perto, principalmente para quem, então, o único meio de transporte que possuía para além das pernas, era uma pequena motoreta de três velocidades, pouco vocacionada para a montanha. Só quando comprei o meu primeiro carro, um VW carocha em 2ª mão é que parti à descoberta das Nogueirinhas, esse sim, não tinha medo à montanha.

 

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Decorriam então os finais dos anos oitenta, e numa tarde de um fim de semana qualquer, lá fui eu à descoberta das Nogueirinhas, munido de minha Minolta analógica para uns poucos registos, pois na altura pensava-se pelo menos três vezes antes de tomar uma foto, pois a revelação e ampliação tinham de se pagar e o preço não era muito convidativo ao desperdício de fotografias. Mas lá fui eu. Diziam-me que o melhor caminho era via Stº Estêvão, mesmo assim um caminho estreito, em terra batida e de montanha, que para um VW carocha pouca diferença fazia, mas para um popó mais sensível talvez já era mais complicado.

 

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Pois bem, chegado a Stº Estêvão perguntei por onde se ia para as Nogueirinhas e as surpresas começaram logo mal comecei a adentrar pelo caminho que me levaria ao destino. Agradáveis surpresas, pois nunca tinha visto paisagem assim com tanto penedio espalhado pela montanha a sobressair por entre algum mato rasteiro, parecia obra de artista, penedio que ia obrigando a que o caminho tivesse mais curvas que as necessárias ou que o relevo exigisse, mas também isso tornava o caminhar mais interessante. Num de repente acaba-se o penedio e inicia-se um pequeno oásis de terras cobertas de verde para logo de seguida se entrar numa pequena floresta que envolvia e escondia a aldeia das Nogueirinhas. Parámos na entrada, já se sentia a presença da aldeia, mas aquela tarde de verão convidava a parar à frescura da sombra, junto ao riacho onde os sussurros das pequenas quedas de água aumentavam a sensação de frescura, era assim como uma purificação para entrarmos na aldeia livres de qualquer pecado. Mesmo antes de entrarmos na aldeia, já podíamos voltar para trás, pois a pequena viagem já tinha valido a pena.

 

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Mas entrámos na aldeia. Pequena e bem interessante. Tenho pena de ainda não ter conseguido encontrar os negativos das fotos que tomei então. Um dia destes lá chegarei, mas há uma foto de então, a única que ampliei para papel, uma tomada logo no início da aldeia com um palheiro e dois olmos secos. Penso que já na altura andava por aí a doença que vitimou mortalmente todos os olmos. Vimos então o que os nossos olhos viam na altura, o habitual nas nossas aldeias. Pena eu então pensar que elas continuariam como eram para todo o sempre e não ter feito alguns registos que hoje seriam preciosos, mesmo à distância de apenas trinta anos…. Fizemos o regresso com espírito de missão cumprida e ainda hoje recordo as agradáveis sensações então vividas, quer da viagem por entre penedios, do pequeno repouso à sombra com a frescura do riacho e da descoberta das Nogueirinhas.

 

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Hoje tudo é diferente. As Nogueirinhas perderam o seu bucolismo, romântico até, mas ganharam nos acessos, tudo graças à barragem das Nogueirinhas, batizada com o nome da aldeia. O caminho de terra batida diretamente a tapete, nem sequer passou pelo piche ou alcatrão, foi logo tapete, com menos curvas que permitem uma certa velocidade que faz parecer que o penedio seja menor, além da atenção que a estrada requer não permitir apreciá-lo como outrora se ia apreciando.

 

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Ganhou uma barragem que tem sido um ponto de interesse, é a nossa “grande“ barragem, a nossa barragem dos “pisões” que sim senhor, é bonita e proporciona lindas vistas, quer estejamos virados para ela ou de costas, pois desde o seu enrocamento também se continua a ver o verde das Nogueirinhas.

 

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Mas a aldeia hoje conta também com um santuário, o Santuário de Santa Luzia, é assim uma espécie de Portugal dos Pequeninos com miniaturas do Cristo Rei e de Nossa Senhora de Fátima em cima de uma rocha, com os três pastorinhos à volta e as ovelhas a pastar na erva. Razões mais que suficientes para uma visita, hoje com bons acessos e sem ter de voltar para trás, pois o circuito está feito com passagem e entrada via Stº Estêvão, aprecia primeiro o penedio, depois a aldeia e a seguir a barragem, com saída por Curral de Vacas, ou ao contrário, pela ordem inversa de apreciação, tanto faz. Hoje as Nogueirinhas podem ser também uma aldeia de passagem para outros destinos, em alternativa aos existentes, refiro-me às aldeias que vão além de Curral de Vacas, como por exemplo Mairos, Paradela, S.Cornélio, etc…

 

 

 

28
Abr18

O factor Humano


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As palavras da liberdade

 

Às vezes o narrador conta uma história, outras vezes é a história que conduz o narrador, amparando-o subtilmente por um caminho, mas deixando-lhe a falsa sensação de que é ele, o narrador, quem tem o mapa e como tal decide.

 

Mais raramente a história conta o narrador, expondo-o, umas vezes carinhosamente, outras de forma impiedosa.

 

Só quando o narrador se passeia pela história, rasgando novos caminhos ou perdendo-se em antigas veredas, desfrutando do que até aí lhe era desconhecido, se constrói então uma dádiva para todos, narrador, narrados e leitores. Uma dádiva para sempre, liberta nas palavras, símbolos da liberdade.

 

Manuel Cunha (pité)

 

 

27
Abr18

Cidade de Chaves - Um olhar


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Cidade de Chaves, um olhar…às vezes apetece-me acrescentar umas palavras, dizer umas coisas, mas como sei que aquilo que meus olhos veem não veem o mesmo que os dos outros veem, e que o mesmo se passa com os sentimentos e com todas as coisas… prefiro o silêncio, esse amigo que nunca trai, ou então, ser generoso e dar-vos a liberdade de ver e sentir o que quiserem, e depois, além de ser muito mais cómodo para mim, sei que assim nunca serei mal interpretado. Mas não pensem que foi fácil chegar aqui, pois estive com a página em branco mais de uma hora à minha frente para dizer isto, não porque a folha em branco tenha o poder de castrar aquilo que quero dizer, mas sim por ter andado em modo de introspeção e pela companhia musical que escolho nesses momentos, Johannes Brahms neste caso, e não estou a dar uma de erudito ouvinte de música clássica, longe disso, pois nem sequer sou freguês frequente deste tipo de música,  mas gosto em particular da música deste rapaz, principalmente porque me faz companhia e não incomoda, geralmente até escolho o jazz para estes momentos, mas hoje apeteceu-me este… para quem não queria dizer nada já é muito palavreado.

 

 

 

27
Abr18

Discursos Sobre a Cidade


GIL

 

Serafina Bajouca

 

O padre Zé estava gasto como puída estava a batina que não trocava há tantos anos. As pedras dos caminhos ermos que calcorreava para pastorear o seu rebanho, tinham-lhe moído o corpo e a alma. Poucos mais anos lhe emprestaria a vida, apesar de a ter vivido derrengando polaina, como era de esperar, neste tempo, para os sotainas.

 

Mas não havia forma de escapar à lei da vida e só lhe restava acautelar a sua herança.

 

Dono de um casal de lavoura muito forte, metade da povoação pertencia-lhe, preparava o terreno para deixar tudo à sobrinha Sanfrósia que lhe aturava as teimosias e lhe enchia a mesa de iguarias há largos anos.

 

Solteirona, com uma vida também já muito gasta pela dedicação extrema à causa e à casa, Sanfrósia ainda nutria uma ténue esperança de topar quem lhe aquecesse a cama. E não havia de faltar, certamente. O catano é que ou o fazia depois do velhote fazer as contas com o S. Pedro e aí não dependia da sua vontade, ou teria de contar com o seu assentimento, o que não se adivinhava tarefa fácil!

 

Vindo de Loivos, o abade tinha em casa um criado de nomeada Ceboleiro, que não sendo mal parecido, era sério e muito dedicado ao trabalho. Não deixava, no entanto, de ser um reles criado de servir. O melro há muito se andava a atirar à Sanfrósia, mas esta, mais por decoro do que por falta de vontade, negava-se aos adiantos. A bem dizer não o rejeitava, todavia, travada pela condição do amante e pela certeza de que o padrinho lhe negaria os ensejos, limitava-se a admirá-lo desde a janela de perpianho enquanto assucava a cortinha para batatas.

 

E que bem assoviava o marlante!

 

Aqueles silvos de rouxinol enchiam-lhe o coração de esperança.

 

Um dia ganhou coragem e declarou o seu amor ao padrinho/tio que, contrariamente ao que supunha, não ofereceu grande resistência. Porém, não lhe parecendo nada bem que um criado de servir lhe partilhasse a herança, e por causa do falatório, combinou com ela que o mandariam para o Brasil de onde regressaria de fraque e cartola. Depois sim, seria prestigiante casar com um brasileiro que de ceboleiro já pouco teria. Não obstante, exigiu-lhe que se mantivesse virgem, como supunha que ainda fosse, e guardasse voto de castidade até à morte.

 

Esta exigência é que foi o catancho!...

 

Mas, logo que o padre fechasse os olhos logo se haveria de ver!...

 

O Ceboleiro foi então recomendado a um irmão que o padre Zé tinha no Rio Grande do Sul e lá foi de vapor até às terras de Porto Alegre para se lapidar.

 

Entretanto o padre finou-se e a sobrinha não demorou a mandar vir o seu futuro marido.

 

Regressou que parecia um lorde, apesar de ter passado pouco mais de um ano.

 

Combinou-se o casório na matriz de Santa Leocádia e de reles criado de servir o Ceboleiro passou a grande e respeitável proprietário de uma imensidão de leiras, carvalhais, soutos e lameiros.

 

A Sanfrósia depressa olvidou o voto que tinha feito e ia recuperando o tempo perdido como podia. Contudo, apesar do labor, nunca foi capaz de alcançar, certamente por castigo do padrinho desde o além!...

 

Os anos foram passando e os cabelos branqueando. Com os mesmos problemas com que se havia confrontado o padre se confrontavam eles gora.

 

Quem herdaria casal tão farto?

 

O Ceboleiro, tinha uma catrefada de irmãos que a extrema pobreza tinha espargido por esse mundo afora. Um deles foi parar à cidade Invicta onde arranjou emprego como guarda-freios na Carris. Casado com uma vendedeira de fruta, oriunda de Sernancelhe, tinha já duas meninas na descendência, a Isaura de 3 anos e a Serafina Bajouca de cinco.

 

Perante a incapacidade de procriarem, os lavradores lembraram-se de pedir ao irmão do Porto uma das filhas que os ampararia na velhice. Como contrapartida teria o casal de mão beijada. Os do Porto não hesitaram, escolheram a Serafina e disso deram conta numa missiva enviada para o Planalto. Logo que vieram ao Porto de comboio trataram de levar a menina com eles até Fornelos.

 

A moça foi crescendo e enrijecendo com os ares e o presunto da serra. Com o futuro garantido e a velhice dos tios acautelada, estes pensaram que seria bom que ela aprendesse a ler para lhes amainar os serões de inverno.

 

Na altura não havia escolas nas redondezas, de forma que quem quisesse aprender as letras teria de se valer de algum curioso que as soubesse juntar. Assim, contrataram os serviços da governanta do padre António que vivia em S. Cibrão. O padre António veio pastorear Santa Leocádia à morte do padre Zé. Sem embargo, foi imposta uma condição muito severa: a menina só poderia aprender a ler e a contar, estava proibida de aprender a escrever. O objetivo era claro, prevenir a possibilidade de ela se vir a corresponder com alguém que não chaldrasse a seus tios

 

E assim foi.

 

A menina casou por três vezes e em todas elas conheceu o noivo somente no altar! Do primeiro casamento teve dois filhos e do segundo quatro.

 

Morreu velhinha com o casal dividido em mil cibos, como nunca o padre Zé achava que seria possível!

 

Coisas da vida!

 

Gil Santos

 

 

 

26
Abr18

Flavienses por outras terras - Paulo Rua


Banner Flavienses por outras terras

 

Paulo Rua

 

Nesta crónica do espaço “Flavienses por outras terras” voltamos a Valongo, nos arredores do Porto.

 

É lá que vamos encontrar o Paulo Rua.

 

Cabeçalho - Paulo Rua.png

 

Onde nasceu, concretamente?

Nasci na freguesia de Santa Maria Maior, em Chaves.

 

Nos tempos de estudante, em Chaves, que escolas frequentou?

Frequentei a Escola Primária de Nantes, o Ciclo, a Escola dos Aregos (um ano) e a Escola Secundária Dr. Júlio Martins.

 

Em que ano e por que motivo saiu de Chaves?

Saí em 1995 para ingressar no curso da GNR, em Portalegre.

 

Em que locais já viveu ou trabalhou?

Em Portalegre, em Lagos, em Sines, em Matosinhos e no Porto.

 

Diga-nos duas recordações dos tempos passados em Chaves:

Os bons tempos de escola e os sábados à noite nas Caldas, com os amigos.

 

Proponha duas sugestões para um turista de visita a Chaves:

As nossas Termas e a nossa gastronomia.

 

Estando longe de Chaves, do que é que sente mais saudades?

Da família e dos amigos com quem perdi contacto.

 

Com que frequência regressa a Chaves?

Uma vez por mês.

 

O que gostaria de encontrar de diferente na cidade?

Nada, gosto dela como é.

 

Gostaria de voltar para Chaves para viver?

Sim.

 

 

 

O espaço “Flavienses por outras terras” é feito por todos aqueles que um dia deixaram a sua cidade para prosseguir vida noutras terras, mas que não esqueceram as suas raízes.

 

Se está interessado em apresentar o seu testemunho ou contar a sua história envie um e-mail para flavienses@outlook.pt e será contactado.

 

Rostos até Paulo Rua.png

 

 

26
Abr18

A Pertinácia da Informação


a pertinacia.png

 

Abril e a pós-modernidade

 

 

Estamos no final de abril, aconteceu tudo assim, de repente. O sol e o calor chegaram no tempo deles, mas estávamos desprevenidos. Esta azáfama do dia-a-dia é um falso movimento, na verdade permanecemos no limbo. “E quanto tempo dura o limbo?” – perguntava alguém.

 

Eu, não sei quanto tempo dura, mas estou farta dele. Suponho que há etapas a superar para se chegar aqui ou ali. Ter consciência disso às vezes é paradoxal. Não há tempo… já vai tudo muito para além da última palavra que eu acabei de dizer. Isto é a característica própria da Pós-modernidade, a época em que vivemos. A Pós-modernidade é cheia de desencanto e questionamento, procurar a verdade ou as somas das verdades é como procurar uma estaca onde nos agarrarmos num naufrágio. A sociedade está naufraga entre a comunicação ruidosa e o consumo voraz.  

 

Desço a rua, oiço uma música contagiante, daquela que tem batida e apetece dançar… ora, tem um nome este tipo de música, como têm as outras, mas eu desconheço e penso no facto como algo vergonhoso “eu devia saber isso!” O sentimento é mesmo esse, a necessidade de dominarmos todos os assuntos: “Eu preciso saber sobre tanta coisa…” Temos necessidade de saber sobre tudo e não porque sejamos génios, mas apenas pessoas vulgares que devem estar corretamente informadas.  Vem-me à mente Abel Salazar, foi um homem completo, ao nível de qualquer um do seu tempo e do seu nível, em qualquer parte do mundo. A ditadura manteve-o cativo na sua própria casa, impediu de investigar, de lecionar… mas não impediu de ser. No entanto, penso como é perigoso ser-se genial mas fora do sítio, num pais provinciano. Foi acusado de corromper os seus alunos: “influência deletéria da sua ação pedagógica”. A caça às bruxas é uma constante ao longo da história. A invejazinha, a cobiçazinha, de gente pequena… mas o que é, é. Também há quem não seja genial e na sua exagerada medida pense que sim, se sinta perseguido e injustiçado… há ainda quem aspire a sê-lo e por isso nunca será, porque a genialidade é algo que acontece porque acontece e depois tem que se manter com trabalho e disciplina… Mas isso é outro assunto.

 

Hoje quase que precisamos ser uma coisas parecida com genialidade, precisamos ser algo que biologicamente é impossível. Precisamos ser máquinas, que não somos e por isso… rebentamos.

 

Lá está: faz falta uma política de civilização e de humanidade, como nos vão alertando alguns sociólogos. Morin, fala um pouco de tudo isto em “Rumo ao abismo?”. O autor acha que a conceção maniqueísta domina os espíritos e se confunde com racionalidade, a interdependência das sociedades é cada vez maior, mas em vez de ser feita na base da solidariedade, ela gera a sua autodestruição, a comunicação é cada vez mais intensa, mas sem dar azo ao entendimento.

 

Contudo, acredita que a porta para o improvável está aberta, e isso traz-lhe esperança… e a mim também.

 

As miúdas que dançam, ao som da tal música, têm corpos pequeninos… fico assustada. Na minha cabeça está aberta à discussão e ao debate: “A sociedade está a contribuir para um crescimento saudavel e adequado das crianças e das jovens? Estamos a contribuir para a adultização das crianças? Há uma erotização errada da infância através dos diversos produtos que se vendem: os desenhos animados com silhuetas finas, as letras das músicas...  Ou será que é natural deixar o corpo movimentar-se, exprimir-se… se calhar é só medo infundado da mudança... ou é apenas a constatação de que não podemos controlar nem travar esta intricada e complexa movimentação veloz da pós-modernidade?

 

 A minha mente exige-me uma resposta rápida, uma solução eficaz para aquele choque momentaneo. Sou confrotada com a necessidade de desdramatizar, de desproblematizar ou encontrar o caminho pelo menos para a prevenção do problema, se não para a sua solução. Mas a solução não vem em doses unicas. A pluralidade exige soluções singulares e personalizadas... exige tempo, calma e ponderação.

 

Entretanto já estamos a falar linguagens diferentes e entre mim e eles existe um fosso abismal! Estes, são mais crescidos e até parecem responsáveis... pelo menos, vieram imprimir os trabalhos, à última da hora é verdade, mas estão preocupados com a entrega dos mesmos. Um deles tem consigo um trabalho encadernado e leio na capa “Relatório de Biologia”. Falam de videos no youtube de outros a jogarem jogos?!Terei entendido bem? Sim, há youtubers a dar dicas sobre como jogar alguns jogos... e eles vão passar o feriado a ver alguns... discutem sobre o que será melhor se ver os nacionais ou os internacionais. Um deles diz que há um que é o melhor de Portugal, mas fica sem argumentos porque o outro diz que não tem assim atnatas visualizações. Bem, se calhar a conversa não foi bem assim.… dentro da linguagem que eu ainda conheço, ou de acordo com os meus subsunssores foi assim que interpretei a coisa... às tantas eles passaram o tempo todo a falar sobre outa coisa qualquer... lamento, eu cá entendi isto e assim vos conto.

 

Mas em que epoca vivo afinal? Eu realmente sou parola não entendo de nada! No outro dia, tentei falar com outros... afinal a nossa música era “tipo, muito má!” era mais “a letra era tipo, muito explicita” ... eu fiquei toda feliz a pensr que iamos ter tema para conversa, afinal no outro dia falaram em filmes de David Lynch... mas não, isso já foi tipo há bué de tempo... antes do Natal! Claro, eles fazem um ar de asco, como se a minha parolice de cota os fosse contagiar! Caio então na dura realidade: estou qualquer coisa parecida com uns biscoitos fora de validade – comem-se, mas não são a mesma coisa que antes.

 

E agora? Agora, olha, vamos aceitar os factos e ser uns biscoitos com algum tempo, sim, mas com outras propriedades. Já sofri alguns naufrágios e lá me tive que salvar, agora toca a perceber com a maior rapidez possível e clarividência de pensamento como se comporta a ondulação nesta epoca conturbada, e, dentro do possível, ensinar os outros a nadar o melhor que sei. Isto, terá que ser o suficiente. De resto, terão eles que saber fazer o seu melhor. Terei que confiar que serão capazes, como tivemos que ser nós e por isso é preciso recordar-lhes e insistir todos os dias que são eles que vão ter que nadar a vida deles.

 

Se me for possivel, tentarei mudar as ondas da pós-modernidade: exigir e construir políticas de civilização e de humanidade. Mas isso, já não vai depender só de mim, nem vai lá apenas com muito amor.

 

Lúcia Pereira da Cunha

 

 

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