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CHAVES

Olhares sobre o "Reino Maravilhoso"

31
Mai18

Flavienses por outras terras


Banner Flavienses por outras terras

 

Cândida Serapicos

 

Nesta crónica do espaço “Flavienses por outras terras” voltamos à Capital do Minho.

 

Em Braga, vamos encontrar a Cândida Serapicos.

 

Cabeçalho - Cândida Serapicos (1).png

 

 

Onde nasceu, concretamente?

Nasci na Casa Azul, São Bento, em Chaves.

 

Nos tempos de estudante, em Chaves, que escolas frequentou?

Frequentei a Escola Primária do Caneiro e o Liceu Fernão de Magalhães.

 

Em que ano e por que motivo saiu de Chaves?

Saí em 1966, juntamente com as minhas irmãs para podermos prosseguir os estudos.

 

Em que locais já viveu ou trabalhou?

Em Chaves e em Braga.

 

Diga-nos duas recordações dos tempos passados em Chaves:

A Feira dos Santos e as verbenas no Jardim Público.

 

Proponha duas sugestões para um turista de visita a Chaves:

As Termas e os ótimos restaurantes para degustar a boa gastronomia.

 

Estando longe de Chaves, do que é que sente mais saudades?

Essencialmente, dos meus tempos de juventude.

 

Com que frequência regressa a Chaves?

Três a quatro vezes por ano.

 

O que gostaria de encontrar de diferente na cidade?

O Largo das Freiras.

 

Gostaria de voltar para Chaves para viver?

Sim, gostava.

 

 

 

 

O espaço “Flavienses por outras terras” é feito por todos aqueles que um dia deixaram a sua cidade para prosseguir vida noutras terras, mas que não esqueceram as suas raízes.

 

Se está interessado em apresentar o seu testemunho ou contar a sua história envie um e-mail para flavienses@outlook.pt e será contactado.

 

Rostos até Cândida Serapicos (2).png

 

 

 

30
Mai18

Arrabalde dos arrabaldes


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Fora do contexto de “un cubano negro como el carbón” ou de qualquer outro, ficam algumas das suas palavras, sem a música dos sons, mas com a poesia das imagens…

 

Cuanto me alegro
De que pintes conmigo en blanco y negro
Graffitis en los muros del planeta
Y si falta un color en mi paleta
Regálamelo tú.
Porque la historia
Con su cara y su cruz
Se desnuda a la luz
De la memoria.

No te descorazones,
Date prisa,
Que cambiamos canciones
Por sonrisas.

(…)

 

 

 

30
Mai18

Crónicas de Assim Dizer - No jardim


assim dizer

 

No jardim

 

No jardim das flores havia umas ervas daninhas que minavam o crescer das flores, o seu desenvolvimento, a sua imagem, o seu perfume, a sua beleza e que determinavam até a época em que, supostamente, deveriam florir! Daí até darem fruto, o processo estava da mesma forma controlado. Havia o querer, mas não chegava. Muito acima disso havia toda uma organização com uma hierarquia bem estabelecida, que dava ordens e dizia o que, de que forma e quando. Tudo o que era bom senso, inteligência, honra, sentido de estar, não tinham qualquer peso e nenhum preço! Se houvesse ordem para matar, era para fazer.

 

A relação entre as pessoas limitava-se a uma troca de mercado capitalista, onde o monopólio não é um jogo, mas a regra que estabelece os preços. Quem quer, quantos querem e o que querem, era a partir daqui que os negócios se faziam. Uma vez na rede, onde o alistamento foi quase sempre motivado por acaso e ingenuidade dos soldados, o exército formou-se. Quem dá as ordens? Quem pode! O que acontece se não forem cumpridas? Esta pergunta não se põe! Todos os intervenientes sabem que a opção a esta é a morte! O silêncio é lei! Ninguém foi chamado a concordar nem a opinar. As coisas já estavam feitas e a escolha era apenas esta: ou se está dentro ou se está fora! Por fraqueza e falta de uma alternativa, melhor ou pior, as pessoas responderam que estavam dentro. A partir daí foi a escravidão, a dependência, a obrigação. Conceitos como liberdade, concordância ou discordância, como pensar ou sentir, passaram a ser tretas quando a lei da sobrevivência era a que imperava! O que vencia era o mais inteligente, aquele que sabia agir por antecipação, aquele que tinha mais informação, aquele que por intuição determinava a vida dele e a dos outros.

 

Talvez houvesse no meio disto tudo um motor de arranque, uma vontade determinante que era a vingança pelos valores que foram atropelados ou menos prezados em favor de outros que para nós não faziam sentido. Que importava isso perante uma sociedade organizada onde as regras são estabelecidas em função do interesse: “o que é que eu ganho se fizer o que me pedes?”

 

E quando não há nada a ganhar, as pessoas desistem, mas o adversário é inteligente o suficiente para nos arranjar sempre uma moeda de troca e sabe exactamente onde nós fraquejamos: ou nos ameaça com a família ou com alguém por quem estamos apaixonados! A moeda de troca é essa, eles sabem, porque nos escolheram a dedo, o que é importante para nós e até onde nós vamos para poupar essas pessoas: não temos limite!

 

É aqui que ficamos reféns. Temos um conjunto de sentimentos e emoções que nos faz ficar dependentes. A inteligência não se congratula com isto, está mais além. O que nós devíamos ter feito era o jogo contrário, fingir que não sentíamos o que sentíamos e esconder por quem! Devíamos ter preservado o anonimato das razões porque vivíamos e por que lutávamos, deveríamos esconder de todos o que nos dava alento e vontade para lutar. Abrimos o jogo e eles aproveitaram-se disso, são assassinos profissionais, têm planos de ataque e um arsenal de munições inesgotável! Somos sempre os mesmos, de boas pessoas está o inferno cheio, os maus vão para o céu porque enganam muito bem.

 

Nós não fomos treinados na arte de esgrimir ou digladiar nem na arte do disfarce nem tão pouco na arte de ser convincentes quando a dúvida era o que persistia em nós. Fomos treinados para ser honestos, sinceros, dizer o que pensamos e sentimos e defender a nossa honra, custe o que custar. Mesmo a sangrar alguém nos disse: “um homem morre de pé!”

 

No meio desta trafulhice de interesses, dizer que são primários, básicos ou menores, não abona a nosso favor: as pessoas inteligentes movem-se por interesses!

 

Voltemos ao jardim das flores. Neste momento já percebemos que as flores são um adorno, uma comunicação intima que não tem mais sentido do que fazer desenhos em papel, demasiado romântico para fazer algum sentido que se prenda com a necessidade física de respirar! E nós fundamentalmente temos de respirar! Homens como nós perceberam nesta altura que o sentido da honra não tem cabimento neste contexto!

 

É demasiado cruel fixarmo-nos em princípios que não têm substância de alimento! Entrámos no jogo, agora temos de sair dele, com a mesma dignidade, com o mesmo propósito, com a mesma intenção! Não estava “sobreviver” no início do contrato, mas acabou por ser a dívida a pagar!

 

O que é que neste momento faz sentido? O que é que determina a nossa existência a partir de hoje!?

 

De tudo o que vivemos há uma parte à qual não podemos ser alheios: quem nos ama merece o sentimento que lhe traz a plenitude da confiança enquanto parceiros! Mas a confiança é algo muito difícil de ser atingido! Exige conhecimento e tranquilidade, onde é que nós vamos arranjar isso!?

 

Determinados como somos e conscientes de que o fim está próximo, arranjamos maneira de fazer parecer que toda a nossa vida se moveu por um ideal! Mas é falso, a meio do percurso surgiu-nos qualquer coisa de que não estávamos à espera. E essa noção do tempo, perdida entre batalhas, transformou-nos em peões de xadrez, que avançam a medo, para proteger um rei ou rainha dos quais não conhecem a família, nem os ascendentes nem os descendentes! O primeiro passo é grande, mas a partir daí passa a metade, a distância entre o depois e o antes. Regras do jogo, ou as respeitamos ou não temos desculpa para o que vem a seguir, se correr mal. Correndo bem não é preciso desculpas para nada, mas nós não sabemos quando vamos precisar delas. Na dúvida, convém ter um critério.

 

Foi em vão?! Eis a pergunta a que temos de responder! Mas a nossa idiotice vai ao ponto de pensarmos que nada disto tem a ver connosco, que tudo isto são filosofias de vida que não se relacionam com a nossa forma de viver!

 

Tenho imensa pena. De que, no jardim das flores, ninguém esteja preocupado com a época em que, supostamente, as flores se vão transformar em fruto!

 

Coitados de nós, no meio do planeta e da natureza humana, somos aqueles para quem não há apelo possível, nem justiça capaz! Somos um zero à esquerda. Com tanta matemática racional e lógica, somos o que não faz sentido, o conjunto vazio!

 

Estamos a meio da temporada, já percebemos quem são os bons e quem são os maus! Embora em alguns casos os actos sejam idênticos, uns cometem-nos por amor e outros por ódio. Às vezes a diferença está nisto, na justificação. Os fins só justificam os meios se forem saudáveis.

 

Mas prosseguimos, embora as razões da nossa vida se alterem ao longo dela. Todos começámos com o mesmo sonho, de nos cumprirmos como seres humanos e embora a premissa talvez se mantenha, as formas de o conseguir vão mudando. Neste momento já percebemos que estamos sozinhos nisto e que a organização tomou conta da nossa vida e da dos que nos são mais próximos. Alguns dos mais próximos, já não o são, ou porque se afastaram ou porque foram vítimas da organização que nos pretendeu, dessa forma, atingir. O preceito de que uma vida vale outra, não passa de um preconceito, juízo de valor ou o que lhe queiramos chamar. A importância que damos a cada um, depende de cada um, não é mensurável. É por isso que a organização escolhe as pessoas certas, aquelas que para nós valem mais, para nos fazer perceber com o que estamos a lidar. E sim, é de facto com um monstro. Ingénuos como somos, desde o tempo do jardim das flores, queremos então acabar com o mal pela raiz e fazemos todos os esforços para encontrar o crânio, a cabeça da organização, aquele que define os planos de ataque, o quando, o como e com quem. Mas isto era o sistema artesanal em que havia um centro e órbitas planetárias. Agora as coisas já não são assim. Há vários centros, cada um trata de uma parte, mas ninguém conhece o todo. Razões de segurança. Percebeu-se que o ser humano por mais forte que seja tem sempre um ponto fraco, qualquer coisa que não quer perder: uma mulher, um filho… e que por eles é capaz de atraiçoar o plano. Criou-se então um sistema múltiplo onde o dever de obediência à hierarquia se mantem, mas onde uns respondem a uns e outros respondem a outros. Ninguém sabe quem são uns e quem são outros! A dúvida de se de facto existem, não existe. É isso que garante o sistema, eles não se vêem, mas manifestam-se. Os actos aparecem, têm de ter um autor e se não são os presentes, porque nós estávamos lá e não vimos nada, têm de ser os ausentes. E é aqui que o medo cresce: quantos são?

 

Se olharmos, não é preciso muita atenção, para o jardim das flores, nesta altura as ervas daninhas já são mais e maiores que as flores. O mal cresce sem grande alimento, não é preciso cuidar nem tratar, vive de pouco, cresce sozinho. Parece um campo abandonado com terra pobre onde homens armados lutaram até à morte inglória, onde ninguém sobreviveu.

 

Mesmo assim a nossa recordação do jardim das flores ficou-nos impressa na memória e carregamos dentro a certeza, que desta vez não vamos contar a ninguém, que havemos um dia de encontrar a terra certa para lá colocar todas as flores que colhemos e guardamos com muito amor e carinho. Não, não corremos risco nenhum. Depois de mudarmos a identidade, o rosto, as impressões digitais, a retina, os dentes… a organização não nos vai reconhecer.

 

Cristina Pizarro

 

 

29
Mai18

Por este rio acima na companhia de Fausto


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Cada vez mais desprendido da televisão, tenho andado numa de ouvir música, muita música da música do meu tempo, como se a música tivesse tempo, e tem. Entenda-se por música do meu tempo aquela que mais me marcou e que oiço sempre com agrado, tenha ela 30 anos ou 3 anos. Claro que hoje em dia já não temos a paciência de andar na nossa discoteca pessoal a escolher LP’s ou CD’s, e muito menos andar naquele põe e tira do gira-discos ou mete e tira do leitor de CD’s. As novas tecnologias e internet permite-nos aceder a um qualquer serviço de música, onde basta educa-lo durante uma semana ou duas para ficarem a saber aquilo que gostamos e a partir daí, temos a nossa música horas a fio, onde até vão descobrir coisas que gostamos e que há anos não ouvia-mos.  Pois hoje fui surpreendido com o Fausto e o “Por Este Rio Acima” e ouvi-o inteirinho como o fiz há 34 anos atrás quando ele foi editado em CD, só que desta vez não o ouvi repetidamente como então, mas deliciei-me igualmente.

 

Pois já que o Fausto esta noite me levou “Por Este Rio Acima”, também é pelo nosso rio acima que hoje vamos em imagem. Não muito acima, pois só andámos um pouco e ficámo-nos ali pela “central de águas” , também com uma foto de outros tempos, com água que já há muito passou por baixo da ponte, mas penso que tudo continua mais ou menos conforme o registo. Espero que gostem e de vez em quando, desliguem a televisão e oiçam também a música do vosso tempo.

 

 

 

29
Mai18

Chaves D´Aurora


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  1. BUTIM DE GUERRA.

 

Nesse mesmo dia, pela manhã, Manuel veio procurar o patrão, com algo que segurava como um troféu entre as mãos calosas, tremulantes de excitação pelo achado. Reis, feliz pela proeza da véspera, a uma rara expressão de bom humor, pois era do tipo que às vezes o tem, mas não transparece – Ora viva, Manuel, a que me vens?!

 

O cocheiro pôs-se a balbuciar alguns grunhidos, em sua dicção fracionada e incompreensível. Reis deu-lhe, então, umas palmadinhas no ombro – Que tens aí, ó de Fiães? Diga-me cá, mas com muita calma. Podes falar à borla, que os meus ouvidos te pagam a escuta – e o criado, a engolir metade das palavras – Os gatu… Seu Bernar… um dê… queceu esse… péu! – Mostrou-lhe o que achara. Papá agradeceu e ficou observando a bela, elegante e custosa peça. Havia uma letra bordada em um quadradinho de pano, que alguma mamacita ou esposa amorosa tinha pregado ao forro.

 

O patriarca tentou apelar aos rapazes e aos criados, para aguçarem suas memórias visuais e decifrarem de que dono seria tal cabeça. O formato e a inscrição interna, porém, em nada facilitaram saber o nome do “ladrão”. Alguém aventou que pareciam duas letras em caligrafia cursiva, um esse e um cê entrelaçados. Papá lembrou-se então de um conhecido rapaz de maus costumes, morador à vizinhança, o Sandoval Caminha. Logo, porém, alguém disse que ele, mui gentilmente, fora convidado pelos da Lei a se degredar para Luanda, de onde não mais tornara. De mais a mais, Reis considerou que, certamente, esse chapéu houvera de ser roubado pelos biltres a algum rapaz de boas posses, quem sabe na Galiza. Pelo mais, pelo menos, guardou-o em seu gabinete e lhe dava muito gosto mostrar a todas as visitas, como um despojo de guerra. Toda vez, porém, que fazia isso perto de Aurita, esta quase desmaiava. Óbvio que esse butim, troféu do grande exército dos Bernardes, já fora de pronto reconhecido por essa donzela, atónita e angustiada, traidora de guerra do seu próprio clã.

 

 

  1. TÚNEIS.

 

A perdigueira Patusca estava agora em companhia de um pastor alemão de belo porte, o Bubu. Compreende-se, portanto, que Aurora e Hernando tenham passado algumas semanas sem ao menos poderem se avistar. Progressivamente, porém, o astuto rapaz passou a complementar a alimentação de Bubu com pedaços de carne que, no início, atirava de cima do muro. Depois, os nacos sabiam ao cão cada vez melhor e mais perto do aliciante. Hernando e o pastor ficaram tão íntimos, que pareciam até velhos amigos de canina infância, cãopanheiros de muitas cainçadas (com trocadilho - porque não?).

 

Daí a um migalho, já voltavam os namorados a enfrentar os mais perigosos meios, em prol dos mais gozosos fins, uma vez que ambos não estavam mais a se aguentar de tanta saudade. Ele, do corpo que ainda não fora seu, mas lhe perturbava os sentidos. Ela, dele por inteiro, como um todo de corpo e alma (que, esta última, ela acreditava ser tão nobre e sem maldade quanto a sua). Pouco a pouco, todavia, Aurora logo passou a dar por certo que, atravessar em pontes pênseis sobre abismos, cavalgar em camelos no deserto sob tempestades de areia, ou cruzar um pântano de terras movediças, há que ter cuidados dobrados e se munir de toda prevenção, pois a evidência nos diz – Qualquer passo em falso…

 

 

Quase a chegar o outono, Hernando falou-lhe sobre os túneis que iam dar às terras da Galiza. Feitos com pedras e um tipo de argamassa da região, vinham de tempos que já lá se foram. Como se fossem poços, a desembocar em quintais de algumas residências isoladas ou ao interior de algumas casinhas de pedra aparente, dessas do tipo comum e legadas ao abandono, ao norte de Portugal, tais passagens subterrâneas tinham saídas em ambos os lados da fronteira. Algumas delas iam dar aos descampados, em esconderijos camuflados com a vegetação local. Qualquer um desses túneis continuava a se fazer mister para o que fora construído, ou seja, servir de passagem aos contrabandistas de ambas as nacionalidades.

 

Por ser, aproximadamente, de apenas uns dez quilômetros a distância entre Chaves e a raia espanhola, esses túneis fronteiriços, de pequena extensão, também eram utilizados por alguns rapazes flavienses. Decerto os que deles tinham conhecimento e só o revelavam a uns poucos mais. Ao cruzarem esses jovens com os infratores do Fisco, as duas maltas se cumprimentavam e manifestavam mútua discrição. Os moços iam às escondidas à Espanha galega, com o fito de se entregarem às pândegas nas aldeias próximas, conforme os dizeres de Hernando – Inclusive o teu irmão, o Alfredinho, ele ainda é pouco mais do que um putinho, não é? E ainda está mesmo a viver sob as rédeas do pai... mas, já o vi muitas vezes a passar com os camaradas por lá, por esses velhos buracos de pedra.

 

Aurora ficou a morrer de curiosidade. – Me levas a conhecer esses túneis, Hernandito, ai que me levas? – O rapaz olhou-a, preocupado – Ó brasilita, isso é passeio de varões, não é para donzelas. – Mas ai que podes levar-me, tenho cá umas ideias de como me arranjar.

 

Embora excitado com outras ideias, que já lhe estavam a crescer na mente, mais uma vez ele tentou recuar de tão arriscada proeza. Pôs-se a falar de quantos perigos estariam a se expor – Ai, ai, ai, brasilita! Estás a me botar em maus lençóis! – mas, afinal, o desejo de aventura e uns outros, mais recônditos e de bons lençóis, acabaram por se sobrepor à hesitação.

 

fim-de-post

 

 

 

28
Mai18

De regresso à cidade - Com olhos virgens


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É, a virgindade do olhar permite-nos ver aquilo que todos os dias vemos sem ver. Recordo de há uns bons anos atrás ter ido a Mirandela à Câmara Municipal, um belíssimo edifício daqueles que hoje já não se constroem. Para chegar lá tive de passar por meia dúzia de casas em ruínas, mesmo em ruinas, esbarrondadas  como dizem nas nossas aldeias. Até hoje nunca mais esqueci esta passagem e a má impressão que me causaram aquela ruínas mesmo ali ao lado de um edifício tão distinto e praça tão bonita. Penso que aqueles que nos visitam, que vêm cá pela primeira vez, também veem em Chaves (Centro Histórico) uma cidade interessante e bonita, mas que também levam registada a má impressão que estas e outras ruínas, poulas e lixo, lhes causaram quando as viram e passaram por elas. Já sei que obrigar os proprietários a fazer qualquer coisa digna nestes locais é complicado, mas pelo menos podiam ser obrigados a tapá-las, não com tapumes de obras, que aí é pior a emenda que o soneto, mas como já fazem em muitas vilas e cidades, com fotografias, antigas ou recentes, da cidade ou de outras coisas, desde que sejam interessantes. Recordo da última vez que estive em Verin, por exemplo, e estavam a fazer isso, com fotografias antigas de Verin, e gostei do que vi. Chaves pode ser melhor!

 

 

 

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28
Mai18

Quem conta um ponto...


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394 - Pérolas e Diamantes: O Professor Gaivota

 

 

Sabem quem é o Professor Gaivota? É um homenzinho jovial e emaciado chamado Joe Gould que se tornou uma personagem conhecida nas cafetarias, bares e tascas de Greenwich Village, ao longo de 25 anos. Gabava-se, dizem que a contragosto, de ser o último dos boémios, pois todos os outros tinham ficado pelo caminho, “uns debaixo de terra, outros no manicómio e outros na publicidade”.

 

Freeman escreveu um comentário na Newsstand onde nos dá conta que até esse momento nunca tinha lido nada de Joe Gould, mas, no entanto, para ele continuava a ser um dos escritores americanos mais genuínos e originais. Tudo o que então se escrevia na América procurava encaixar-se numa forma ou noutra. Apenas ele parecia ter suficiente imaginação para compreender que quando se chega a tal ponto a forma não faz falta nenhuma. “Não era preciso que o que se tinha a dizer o fosse em forma de poema, de ensaio, de conto ou de romance. Era preciso dizê-lo e mais nada.”

 

Gould sempre se sentiu perplexo com a sua personalidade. A História Oral inclui alguns textos autobiográficos, que dizem ser outras tantas tentativas de se explicar a si próprio. Num deles, intitulado “Porque Sou Incapaz de Me Adaptar À Civilização tal como Ela É, ou Faz, Faz, Não Faças, O Raio de Uma Nota”, chegou à conclusão de que a sua timidez era a responsável de tudo. “Sou introvertido e extrovertido, numa só pessoa”, escreveu ele. 

 

Era, além disso, tal como o meu tio Esgaça, extraordinariamente sensível ao álcool. Numa noite de calor, contou ele a Joseph Mitchell, o autor da crónica de que vos falo, publicada na The New Yorker, bastava-lhe andar uns dez minutos de um lado para o outro diante de um bar a respirar bem fundo para ficar com os copos.

 

Nos bares, onde por vezes tinha a ousadia de aparecer, se avistava um candidato a pagante, dirigia-se a ele e dizia-lhe: “O meu nome é Joseph Ferdinand Gould, formado em Harvard, magna cum difficultate, curso de 1911, e presidente do Conselho de Administração de Boa & Má Sorte, SARL. Em troca de uma bebida, posso recitar-lhe um poema, fazer um discurso, defender uma tese ou tirar os sapatos e imitar uma gaivota. Prefiro gin, mas uma cerveja também serve.”

 

Depois era vê-lo a tirar os sapatos e as meias, esticar o pescoço e lançar-se pela sala aos saltinhos, batendo os braços e soltando um grasnido penetrante a cada salto.

 

Isto tudo porque em criança teve várias gaivotas domesticadas. Já adulto, passava muitos domingos no molhe de pesca de Sheepshead Bay a observar as gaivotas, pois gostava de se gabar de que as compreendia a tal ponto que podia traduzir poemas em grasnidos de gaivota. “Já traduzi para gaivotês uma série de poemas de Henry Wadsworth Longfellow”, dizia ele sem se rir.

 

Na sua juventude decidiu trabalhar para uma organização financiada pelo Instituto Carnegie, dedicada, na altura, ao estudo de famílias de deficientes hereditários, indigentes e outras chagas urbanas. Por ser, na sua opinião, gente demasiado prosaica para o seu gosto, decidiu especializar-se em índios. Nesse inverno foi para o Dakota do Norte e começou a medir as cabeças de um milhar de chipewas e de quinhentos mandans, nas respetivas reservas.

 

Mais tarde, quando lhe perguntavam porque andou a fazer tais medições, mudava de assunto e dizia que era um “segredo científico absoluto”.

 

Esse foi o período mais gratificante da sua vida. Montava bem a cavalo, gostava de dançar e da algazarra. Os índios davam-se bem com ele. Tinha apenas medo de que o achassem chalado quando lhes perguntava se podia “medir-lhes a tola”. Mas eles não se importavam. Parece que até lhe achavam piada.

 

Gostava de rematar: “Os índios são os únicos verdadeiros aristocratas que eu conheci. Eles é que deviam governar o país, e a nós deviam meter-nos nas reservas.”

 

Numa manhã de 1917, ainda como ajudante de repórter na esquadra central da polícia para o Evening Mail, estando ele a preguiçar nas escadas das traseiras, às voltas com a ressaca da véspera, brotou-lhe na ideia a História Oral.  Abandonou imediatamente o emprego e começou a escrever.

 

Nos momentos de exaltação costumava dizer que, desde essa manhã fatídica, a História Oral passou a ser a “minha corda e o meu cadafalso, a minha cama e a minha escrivaninha, a minha mulher e a minha amásia, a minha ferida e o sal em cima dela, o meu whiskey e a minha aspirina, o meu refúgio e a minha salvação. É a única coisa que ainda tem alguma importância para mim. Tudo o resto é lixo.”

 

Chegou a receber uma pequena herança, cerca de mil dólares. Gastou-os em menos de um mês, a pagar copos à toa por toda a Village a pessoas que nunca vira. “Parecia um infeliz quando tinha dinheiro no bolso”, diziam os seus amigos. “Quando ficou sem nada, parecia que lhe tinham tirado um peso de cima.”

 

Na altura em que andava a esbanjar a herança, fez uma coisa que lhe deu grande satisfação. Comprou um rádio enorme, todo brilhante, levou-o para a Sixth Avenue e desfê-lo aos pontapés.

 

Nalgumas festas, segundo o Sr. McCrudden, organizador das “Noites de Poesia Religiosa”, insistia em ler uns poemas absurdos, escritos por ele, que faziam perder a cabeça aos presentes. Gould ia lá porque costumavam servir vinho nas sessões. Um dia pediu autorização para recitar um poema que tinha escrito intitulado “A Minha Religião”. Disseram-lhe que sim, e o que ele recitou foi: No inverno sou budista, / E no verão sou nudista.

 

Por vezes, andando para trás e para diante, dava um pulo mais um saltinho e dizia a quem passava: “Quer saber o que Joe Gould pensa do mundo e de tudo o que nele existe? Scriiic, scriiic, scriiic!”

 

João Madureira

 

 

27
Mai18

O Barroso aqui tão perto - Ferral


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O nosso destino de hoje no “Barroso aqui tão perto” é Ferral, aldeia e sede de freguesia do concelho de Montalegre. Vamos então até lá, começando pela sua localização e itinerários possíveis para lá chegar, como sempre a partir da cidade de Chaves.

 

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Geralmente recomendo um itinerário, mas vou deixar de o fazer, pois quem sou eu para decidir qual o itinerário a seguir. Ora bem, cada um vai por onde quer, conforme os seus interesses e preferências. Eu só vos vou dizer onde fica a aldeia e por onde podem ir, sabendo desde já que há sempre mais que um caminho a seguir, geralmente dois à saída de Chaves, ou seja a estrada de Braga (EN103) ou a estrada de S. Caetano/Soutelinho da Raia ( EM 507).  Mas há mais uma entrada no Barroso se optarmos sair/entrar por Seara Velha, mas esta saída/entrada poderá ser entendida como um atalho, pois logo a seguir temos de entrar nos outros itinerários. Mas vamos considerar só dois caminhos de saída de Chaves (EN 103 e EM 507).

 

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Pois bem, dois caminhos de saída que depois podem virar a três itinerários, dependendo do nosso destino. É o caso de hoje com Ferral. Claro que quando temos várias opções, há critérios que pesam mais nas nossas decisões. Uns optam pelo caminho mais curto, outros pela melhor estrada, outros pelo trajeto mais interessante, outros pelo mais económico, etc. Como não sei qual é o critério que pesa na vossa decisão, vou deixar-vos os três caminhos possíveis a seguir para se chegar a Ferral. Como vou ter de optar por um critério para vos apresentar a ordem dos itinerários, sem qualquer razão que me leve a tal, vou optar pelo critério distância, das três possíveis de 67Km, de 70.6Km ou de 75.2Km.

 

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Então o primeiro itinerário com 67Km é via estrada de Braga (EN103) até Sapiãos, aí vira-se para Boticas após a qual se toma a N311 em direção a Salto. Imediatamente antes de Salto, vira-se em direção a Venda Nova, aí apanha-se outra vez a EN103 em direção a Braga até ao final da barragem onde de novo temos de abandonar a 103, atravessar o paredão da Barragem e logo a seguir (1,5 Km) é Ferral.

 

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O segundo itinerário de 70,6Km é via estrada de S. Caetano/Soutelinho da Raia (EM 507) com destino à Vila de Montalegre, lá chegado, atravessa-se a vila e apanha-se a N308, ou seja a estrada que passa pelo campo de futebol, sempre a direito, sem sair da estrada principal até Sezelhe, aí pode optar por duas estradas em direção a Paradela, mas opte por ir via Travassos do Rio, Covelães, etc, até Paradela. Aqui, siga em direção a Ponteira e Nogueiró, logo a seguir é Ferral.

 

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O terceiro itinerário com 75.2Km é sempre via estrada de Braga (EN 103), igual ao primeiro até Sapiãos, só que não se sai para Boticas, continua-se pela EN103 até à Venda Nova e a partir de aí é igual ao primeiro itinerário. Itinerários e cartas pelas quais eu me guio para chegar aos meus destinos, pois não confio muito em GPS’s, mas para quem prefere GPS’s e coordenadas, aqui ficam elas, do centro de Ferral:

41º 41’ 39.24” N

07º 59’ 55.07” O

Atitude: entre os 550 e os 750m

 

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Mas para quem como eu gosta de mapas e cartas, fica o nosso mapa, onde estão assinalados os três itinerários, o primeiro a vermelho até Sapiãos, passando a lilás a partir de aí. O segundo itinerário de cor azul escuro e o terceiro a vermelho. No segundo itinerário há um troço com uma alternativa a vermelho, via Pedrário, pois penso que a estrada via Vilar de Perdizes ainda está cortada por motivo de obras.

 

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Quanto à localização de Ferral, para além daquilo já deixámos para trás, podemos acrescentar ainda algumas dicas que ajudam também a caracterizar a aldeia. A freguesia fica literalmente entre o rio Rabagão e o rio Cávado, que aqui são barragens, o primeiro rio a servir a barragem da Venda Nova e o segundo a barragem de Salamonde. Ferral fica também no limite do concelho de Montalegre, a fazer fronteira com o concelho de Vieira do Minho, mas também com o Parque Nacional da Peneda- Gerês e freguesia de Cabril.

 

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Quanto a Ferral, aldeia, é um pouco atípica se tivermos em conta a maioria das aldeias, pois esta, contrariamente à maioria, não tem um núcleo definido, mas sim vários núcleos e dispersos. Também não se desenvolve ao longo de uma estrada principal, mas ao longo de várias estradas e caminhos. Um pouco confusa para quem não a conhecer. Nós próprios fomos vítimas dessa confusão, pois mesmo com mapas de pormenor da aldeia, andámos à nora para encontrar o restaurante que nos tinham recomendado para comer, e demos umas voltas para lá chegar, mas chegámos.

 

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Passámos por Ferral há coisa de um ano. Primeiro em abril onde fizemos a recolha da maioria das imagens e um mês depois (maio), outra vez para satisfazer as barriguinhas, mas que aproveitámos para recolher mais algumas imagens.  E pela certa que se passarmos por lá outra vez, recolheremos mais imagens, pois em Ferral existe um manancial delas e para todos os gostos, pois por lá há de tudo, e desta vez até deixo de parte o casario. Pois ele há montanhas em pormenor, há também um mar de montanhas, muito verde ou muitos verdes, pois vão variando, afinal de contas, embora ainda estejamos no Barroso de montanhas, também já estamos no Barroso minhoto.

 

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Estamos no Barroso verde embora ainda a uma altitude considerável (entre os 550 e os 750m), mas a beneficiar, creio eu, de um microclima húmido e quente, que de certa maneira até faz lembrar outras terras, pois se mo contassem não acreditaria que havia por lá bananeiras e estrelícias ou aves do paraíso, de nome científico Strelitzia reginae (agora com a internet, é que aprendemos coisas, até o nome científico das flores aprendemos). Se não tivesse visto com estes olhos que a terra há de comer, não acreditava, bananas no Barroso!? Quase parecia que tínhamos chegado à Madeira. Para quem duvidar ficam as imagens, e atenção que estão ao ar livre e não em estufas. Claro que as bananas da bananeira não chegam a vingar, mas enfeitam jardins, e que as há, há!

 

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É por estas e por outras, por todas as singularidades do Barroso, que ele é uma pérola neste Reino Maravilhoso de Trás-os-Montes, pois tanto estamos em terras agrestes, que também têm a sua beleza, como mergulhamos num verde profundo, para logo ali ao lado termos muralhas de serras e montanhas e mais montanhas, ou um pouco mais à frente longas chãs nos planaltos,  ou ainda, entre montanhas, podermos descer às pequenas veigas, sempre com a água, pura e cristalina por companhia, que aqui e ali nos brindam com as mais belas cascatas, e isto tudo, ainda em terra quase virgem, sem pecados, ou quase, mas pecados que se vão desculpando por também eles nos proporcionarem alguma beleza, e que se não fosse pelas muralhas de betão, até poderíamos dizer que se tratavam de lagos naturais. Refiro-me às albufeiras.

Agora que já calcorreei todo o Barroso, ou quase, pois ainda me faltam uns cantinhos de acesso mais complicado, sinto-me um privilegiado por ser conhecedor e ter gozado na primeira pessoa esta pérola chamada Barroso.

 

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Mas voltemos a Ferral, abordando também um pouco a freguesia. Pois quanto à população,  sofrem da mesma maleita, chamada despovoamento, que sobrem a maioria das freguesias do interior. No primeiro ano de que há registos de população, 1864, Ferral tinha 853 habitantes, muitos mais que os 397 habitantes registados nos CENSOS de 2011, mas até 1991 a freguesia esteve sempre acima dos 700 habitantes tendo atingido em 1950 os 1418 habitantes, mas aqui penso que se passou o mesmo que em Morgade 10 anos depois, pois esse acréscimo de população esteve de certeza ligado à construção da barragem da Venda Nova, que foi inaugurada em 1951.

 

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Fomos espreitar a página da freguesia na internet onde no capítulo do património cultural consta o seguinte:

 

Igreja Matriz 1722
Sede da Junta de Freguesia, desde 6 de Setembro de 1997
Ponte da Misarela 
Forno do Povo
Capela da Santíssima Trindade 
Capela do Bom Jesus
Capela da Nossa Senhora da Abadia
Capela de São Tiago
Calvário
Cruzeiros
Alminhas
Estrada Medieval
Canastros
Penedo da Pegada
Pedra Bailadeira
Mesa dos Mouros
Central hidroeléctrica de Vila Nova
1ª Central hidroeléctrica da Misarela da província de Trás-os-Montes (submersa pelo Cávado)
Canal da Misarela

E sim, somos testemunha que toda esta região é rica em património religioso (capelas, igrejas, cruzeiros e alminhas), também em canastros, para não falar da mítica e famosa Ponte da Misarela, à qual lhe estão associadas várias lendas e muitas estórias, algumas delas mencionadas em romances de autores consagrados, como o “Terra Fria” de Ferreira de Castro. Ponte da Misarela que também passará por aqui quando abordarmos a aldeia que tem mais próxima - Sidrós.

 

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Pois além desse reconhecido património penso que há um património que nestas terras também se tem de destacar, que é o património paisagístico e o da água, que destes dois, poucos são os que se poderão orgulhar.

 

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Vamos agora ver o que nos diz a “Toponímia de Barroso” sobre esta aldeia:

FERRAL

Engana-se muito quem cuida que a origem de Ferral está em ferro ou nas  saborosas uvas ferrais sem bagulho: em Barroso não há coisas dessas. Há sim, outeiros e chãs de bons pascigos para os gados.

Daí que étimo de Ferral seja o nome latino FERRAGINALE > FERRAINAL > FERRAIAL >FERREIAL – FERRIIAL «FERRIAL» > «FERRAL» - Terra de boas pastagens. Ferrial  referindo-se à nossa localidade aparece diversas vezes nas inquirições de 1258, pag. 1522/23.

- 1258 «et Menendus Moniz de Ferrial»;

- 1258 « Item in villa de Ferrial j.casale regalengum»;

- 1258 «dant de fossadaria in Ferrial de casali de Menendi Moniz iiij varas de bragal» Vemos pelas citações que está tudo dito.

 

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Quanto à “Toponímia Alegre” temos:

De Ferral poucos

E esses loucos.

 

Se tu visses o que eu vi

Lá na feira de Ferral:

Trinta e cinco costureiras

A fazer um avental!

 

Meu amor é de Ferral,

E da terra da cebola

Falinhas mansas só visto:

Casar comigo, tó-rola!

(…)

Com os de Ferral

Nem bem

Nem mal.

(…)

Papa-ventos de Ferral

 

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No livro "Montalegre" temos:

São célebres por conterem inscrições ou gravados e, portanto, históricos: O penedo de Rameseiros, o afloramento de Caparinhos, o Altar de Pena Escrita (Vilar de Perdizes), O Penedo dos Sinais (Viveiro-Ferral), o Penedo do Sinal, o Penedo da Ferradura e a Pedra Pinta (Vila da Ponte), o Penedo de Letra (Gralhas), o Penedo de Pegada (Ferral).

(…)

Esta freguesia mudou várias vezes de nome: foi primeiro Santa Marinha de Covêlo do Gerês por oposição a São Pedro de Covêlo do Gerês; depois dava apenas pelo hagiotopónimo Santa Marinha; mais tarde foi Santa Marinha de Ferral e hoje é somente Ferral. Contudo, é da tradição local que existiu neste mesmo termo a freguesia de São João da Misarela, de que não possuímos qualquer documento escrito! Na realidade, nunca se encontraram vestígios de tal construção nem qualquer referência à sua localização. Apesar das oito povoações que integram a freguesia, o seu isolamento até ao século XVIII era tão acentuado que se tornava extremamente propício à criação e sedimentação de lendas de que é paradigma a da Misarela. Tal como na vizinha Cabril, antes das barragens, os rios eram barreiras difíceis de transpor, mesmo de verão… Por isso a freguesia foi-se alargando e anexando povoações na área de entre Cávado e Regavão: Vila da Ponte e Bustelo (freguesia anexa até ao século XIX) e Contim e São Pedro, igualmente freguesia anexa. Restos evidentes desse antigo fausto é a riquíssima talha da vetusta Igreja de Santa Marinha.

(…)

 

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Nas nossas pesquisas encontramos também uma referência  a Ferral  respeitante ao povoamento e organização do território na Proto-História entre as Serras do Gerês, do Barroso e da Cabreira: o caso do Baixo Rabagão, em documentação para Seminário de Projecto em Arqueologia (referências em biografia):

Ferral

  1. Castra C.G.N.: 170609 C.M.P.: nº 44 (Ruivães – Vieira do Minho) (Est. VIII, 14) C.G.P.: 6A (Montalegre) Latitude: 41º 42’ 38,1‘‘ N Longitude: 07º 49’ 56,9’’ W GAUSS: X – 225023 / Y – 526844 Altitude: 670 m

Acessos – Depois de passar a barragem da Venda Nova (E.N 103-8) segue-se cerca 300m e encosta-se o veículo no largo em terra à nossa esquerda. 

Relevo – O povoado da Castra está localizado no topo de um morro com a cota máxima de 682m, que goza um declive abrupto voltado para o Rio Rabagão. Este cabeço está relativamente visível na paisagem, sobretudo quem presencia do lado sul do referido rio (Est. VIII, 16)

Hidrologia – O monte da Castra possui uma linha de água que passa que nasce no monte de Santo António a Norte e vai desaguar no Rabagão onde finda o monte. É uma zona pouco irrigada, porque está condicionada pela barragem da Venda Nova, algumas centenas de metros atrás (Est. VIII, 15).

Substrato rochoso – Granitos porfiróides, de grão médio a grosseiro, de duas micas, essencialmente biotíticos.  Aproveitamento agrológico dos solos – Solos de Classe F. Existem solos a Noroeste Classe C e a Norte Classe A + F e solos tipo A, a Sudoeste.

Recursos minerais – Num raio de 5km existem a Nordeste jazidas de volfrâmio e a Sul, filões de tungsténio. Visibilidade – O sitio possui uma visibilidade um pouco redutora, sendo o principal quadrante de clareza o vale do Rio Rabagão, voltado a Este.  

Estruturas e material – Foram detectadas algumas estruturas que podem corresponder ao sistema defensivo do povoado. É notório a existência de alinhamento de lajes, supondo a existência de muralhas. A figura 16 (Est. VIII) parece sugerir um fosso defensivo na parte central do povoado. Estas observações foram possíveis, devido á existência de um incêndio em 2005, que permitiu a melhoria da visibilidade no local.

Vegetação – Devido ao incêndio não existe quase vegetação, apesar do crescimento recente de fetos. Existem também pinheiros bravos.  Bibliografia: BAPTISTA 1989 111-124; BARREIROS 1915: 213 nº40

 

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E só restam as habituais referências às nossas consultas e dizer-vos que as abordagens que já fizemos às aldeias e temas de Barroso estão agora no menu do topo do blog e nos links da barra lateral. Se a sua aldeia não está lá, em breve passará por aqui num domingo próximo, e se não tem muito tempo para verificar se o blog tem alguma coisa de interesse, basta deixar o seu mail na caixa lateral do blog onde diz “Subscrever por e-mail”, que a sapo encarregar-se-á de lhe mandar um mail por dia com o resumo das publicações, com toda a confidencialidade possível, pois nem nós teremos acesso ao vosso mail.

 

1600-ferral (3)

 

BIBLIOGRAFIA

 

BAPTISTA, José Dias, Montalegre. Montalegre: Município de Montalegre, 2006.

 

BAPTISTA, José Dias, Toponímia de Barroso. Montalegre: Ecomuseu – Associação de Barroso, 2014.

 

COSTA José Pedro Oliveira Henriques, Povoamento e organização do território na Proto-História entre as Serras do Gerês, do Barroso e da Cabreira: o caso do Baixo Rabagão - Seminário de Projecto em Arqueologia - Faculdade de Letras da Universidade do Porto - Porto, 2006

 

WEBGRAFIA

 

http://www.jf-ferral.pt/

 

 

 

27
Mai18

Pergaminho dobrado em dois


pergaminho

 

 

Cuidado com a Eutanásia, ela mata.

 

 

A Eutanásia é uma coisa muito séria.

Onde várias espécies têm uma opinião.

No fundo, uns querem te deixar livre para morrer.

Outros não.

 

O CDS é contra a eutanásia.

O PCP também.

Já não sei quem é de direita

Já não sei,

quem é quem.

 

Quem é a favor da eutanásia,

acredita que esta seja um caminho para evitar a dor

de pessoas que estejam em fase terminal ou sem qualidade de vida.

Mas há pessoas que não percebem, que a maior liberdade que temos,

é possuirmos a capacidade de decidir, uma morte menos dolorosa e digna.

 

Outros contrapõem.

Porque uma guerra não se faz sem oposição.

Desde os políticos e sociais aos éticos e religiosos.

Como tal era a previsão.

A religião é contra tudo o que seja liberdade

Querem sempre tomar-nos como deles

E foder a nossa capacidade

De podermos decidir

Se havemos de morrer

Ou se havemos de lutar

Por mais um dia sem partir.

 

Dito isto.

Que mais posso dizer

Se não calar, e esperar,

esperar,

cruzar os dedos e olhos

fechar,

e acordar e acordar

e lamentar

lamentar.

De ser um gajo vivo

a viver uma vida de chorar,

chorar...

Aí se fosses vivo, Salazar.

 

Herman JC

 

 

 

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