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CHAVES

Olhares sobre o "Reino Maravilhoso"

05
Fev19

Alminhas, nichos, cruzeiros e afins!


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Alminhas, Nichos, Cruzeiros e Afins

 

O professor de História e investigador António Matias Coelho, afirma que  "As alminhas são uma criação genuinamente portuguesa e não há sinais de haver este tipo de representação das almas do Purgatório, pedindo para os vivos se lembrarem delas para poderem purificar e "subir" até ao Céu, em mais lado nenhum do mundo a não ser em Portugal". Daí, a par do bacalhau ou da sardinha, da Nossa Senhora de Fátima, do fado, do vinho do Porto, da saudade, do galo de Barcelos, do Zé Povinho, entre mais algumas coisas, as alminhas também serem consideradas um traço da cultura portuguesa, isto é, que tem a marca Portugal e que contribui para a definição do ser português, são coisas só nossas, genuinamente portuguesas.

 

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Já há muito que sou um apaixonado pelas alminhas, primeiro, em criança, por uma certa dose de curiosidade, mistério, medo e respeito, talvez por aparecerem em locais onde menos se esperam, alguns mesmo insólitos.

 

Mas também as mensagens que por vezes aparecem ligadas às alminhas e o temor a Deus que nós era incutido desde criança, o ter de se sofrer na vida terrena para merecer o céu, coisas que mesmo não deixando marca, deixam mossa, avivaram ainda mais o meu interesse e curiosidade pelas alminhas, mesmo antes de saber o seu significado.

 

Ó VÓS QUE IDES PASSANDO, LEMBRAI-VOS DE NÓS, QUE ESTAMOS PENANDO.

 

As imagens das alminhas, representam almas de defuntos no purgatório a suplicarem a quem por elas passa, rezas e esmolas para as suas almas poderem chegar ao céu. Com todo o respeito, isto aliado a alguma imaginação e falta de cultura, arrepia e faz pensar quem passa por elas, principalmente quando às vezes, ainda inscrevem nas alminhas:

 

Ó tu mortal que me vês

Repara bem como estou

Eu já fui o que tu és

 E tu serás o que eu sou.

 

Estes pequenos monumentos começaram a ser construídos em Portugal na idade média, na sequência do Consílio de Trento (1545-1563).

 

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Segundo António Matias Coelho:

"No cristianismo primitivo só havia Céu e Inferno, a ideia do Purgatório só surgiu na Idade Média, quando a Igreja, na sequência do Concílio de Trento de 1563, o impõe como dogma, numa lógica de resposta católica à Reforma levada a cabo pelos protestantes. Passava assim a haver um estado intermédio para as almas das pessoas que faleciam. E em vez do dualismo do Céu, para os bons, e do Inferno, para os impuros, criou-se um estado intermédio, um local onde durante algum tempo as almas ficariam a purificar.

 

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"É na sequência do Concílio de Trento que são criadas as Confrarias das Almas, como forma de institucionalizar a crença no Purgatório e impor a convicção de que as almas dos mortos sairiam tanto mais cedo do Purgatório quanto mais orações e esmolas fossem feitas pelos vivos. Aliás, tudo dependia dos vivos, unicamente a eles competia sufragar as almas que esperavam pela purificação"

 

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O povo português que até à primeira república viveu maioritariamente na ignorância, onde 76,1% da população era analfabeta sem saber ler ou escrever, orientados pela fé na Igreja Católica, penso eu que interpretou o resultante do Concílio de Trento à sua maneira, e na ânsia de ajudar os seus mortos a sair do purgatório, botou-se a construir estes pequenos monumentos junto aos caminhos rurais, nas encruzilhadas e por onde as pessoas tinham de passar, para as lembrar das almas penantes no purgatório.

 

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Hoje em dia as antigas alminhas vão continuando nos sítios onde as construíram, já raras são, pelo menos as mais isoladas,  as que recebem uma vela acesa, uma lamparina de azeite, umas jarras de flores ou simplesmente flores, um Pai Nosso e uma Ave Maria, o parar, o curvar-se perante elas, o tirar o chapéu, boina ou barrete quando se passa junto a elas, o benzer-se. Este tipo de alminhas, tal como os antigos cruzeiros nas encruzilhadas dos caminhos, há muito que deixaram  de se  construir, no entanto, continuam a erguer-se outro tipo de alminhas ou sinais religiosos, junto às estradas, caminhos ou onde ocorreram mortes vítimas de acidentes de viação, de mortes (homicídios)  por ajustes de contas, por ciúme ou amores mal resolvidos, por desaparecimentos. A par destes sinais, cada vez mais vão sendo mais populares pequenos “santuários” erguidos a Nossa Senhora de Fátima ou outras Santas e Santos da fé de cada um. São as novas alminhas de Portugal, agora não para rezar pelas almas penadas do purgatório, mas por cada um, pelos seus, às vezes pelos outros e por todos. É a fé, o que me traz mais uma vez uma passagem do Diário de Torga:

 

“Que povo este! Fazem-lhe tudo, tiram-lhe tudo, negam-lhe tudo, e continua a ajoelhar-se quando passa a procissão”.

 

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Pois por esta nova rubrica que nasce hoje aqui e que irá ter dia certo todas as sextas-feiras, irão passar os registos que vou fazendo de alminhas, cruzeiros, nichos e afins. Alguns mais interessantes que outros, alguns autênticas obras de arte, mas o contrário também a acontecer, alguns bem curiosos, outros nem tanto, mas apenas em imagem, ou com poucas palavras, será mais uma mostra do que vou encontrando por onde passo para a minha coleção de alminhas. Hoje ficam já alguns exemplos, pois oficialmente esta rúbrica só começará na próxima sexta-feira, talvez a par de um blog com o mesmo nome, só dedicado a alminhas, cruzeiros, nichos e afins.

 

 

05
Fev19

Chaves D´Aurora


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  1. BUENA DICHA.

 

Só muitos dias depois de saber da prenhez de Aurora, no entanto, como sói fazerem os filhos ciganos, em momentos de grande tensão, Hernando correu a pedir à mãe que deitasse cartas à mesa, para ver sua sorte.

 

Apesar de obrigada a cumprir os preceitos tradicionais e, portanto, não poder recusar o que o filho pedia, não apetecia a dona Mariazita saber-lhe do destino. Tinha medo de que as cartas (como no dito popular - as cartas não mentem jamais!) não lhe mentissem sobre mortes, doenças ou quaisquer outros perigos iminentes, que pudessem ocorrer ao Hernandito ou a quem mais de sua família. Posta sobre a mesa a cartomancia, a cigana falou ao rapaz com um ar apreensivo, sobre o facto novo de a dama de ouros, aquela que sempre aparecia junto ao valete do mesmo naipe (pois que, para ela, o filho era sempre de ouros), agora ser de copas. Portanto, ou ele mudara de namorada, ou, a que estava a ser sua, deixara de ser moça para ser mulher.

 

Anteviu, então, que Hernando ia passar por alguns momentos de grande tensão e até mesmo riscos de morte. Aliás, algo de bem aterrador já estava a se planejar por dois outros valetes. Profundamente aborrecida, Mariazita ergueu a carta da dama – É a filha de nossos vizinhos, não é? Seu tonto, seu aparvalhado! – ao que Hernando – Ora, pois, minha mãe, é melhor que não te metas nisso! – e ela – Ai meu Deus do Céu, valei-me Santa Sara!

 

  1. COMBATE.

 

Passaram muitos dias e noites a trotar pela veiga, com suas crinas de sóis e luas, sem que o jovem se dignasse a atender aos vários chamados de ...

 

(continua)

 

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