Chaves de Ontem - Chaves de Hoje
Na rubrica do “Chaves de Ontem - Chaves de Hoje” vamos até ao ano novo de 1916, com umas despedidas do ano velho que encontrámos no jornal “O Flaviense”, em que se lamentava o ano e se projetavam esperanças para o ano novo. Recordemos que na altura se estava em plena Grande Guerra Mundial.
Ano novo
Entramos em ano novo sem que o velho nos deixe saudades.
Ao soarem as badaladas da meia noite, o ano de 1915 traspoz definitivamente os humbraes da História ouvindo um grandioso côro de maldições. Troava o canhão, crepitava a fuzilaria, corriam por sobre a terra rios de sangue, longos crepes cobriam milhares de viuvas e de orfãos, alastrando pelo velho mundo como negra mancha cada dia mais extensa e mais carregada, talava os campos uma devastação enorme, ouviam-se os brados colericos da miseria e os uivos lamentosos da fome, e por toda a parte, na terra, no mar e nos ares, maquinas de morte e destruição marcavam a par de um feroz engenho, producto da cultura dos homens de hoje, o mais brutal retrocesso aos tempos barbares, a mais cruel e completa negação da paz e do amôr que deviam caracterisar uma epoca de fraternidade universal.
Ano tragico foi o que findou, terrivel período de ferocissima lucta, que a Historia registará com lamentos de dôr.
Não desponta menos tragicamente o novo ano. O que será o seu curso? O que será o seu termo?
Não podemos rasgar o veu que nos encobre o futuro. Anima-nos, porem, a esperança de que 1916 será ano de paz e que a paz marcará o inicio de um novo periodo de reconstituição e de ressurgimento. E desejando que as nossas esperanças não sejam iludidas, a todos os nossos estimados leitores e assinantes aqui apresentamos, com os nossos cumprimentos, os votos mais siceros para no ano novo que começa lhe seja possível gosar as maiores venturas e prosperidades.
Pois, mas as venturas e prosperidades foram de mais 3 anos de guerra (1914-1918) e como se a guerra não bastasse, foram seguidos de 2 de pandemia denominada de “Gripe Espanhola” ou “Pandemónica” (1918-1919), que portugueses e flavienses também sofreram, em que na Grande Guerra houve 31.130.500 de mortos, feridos e desaparecidos, e a pandemia, de janeiro de 1918 a dezembro de 1920, infetou uma estimativa de 500 milhões de pessoas, cerca de um quarto da população mundial e estima-se que o número de mortos esteja entre 17 milhões e 50 milhões, e possivelmente até 100 milhões. Só em Portugal estima-se que o número de mortos fosse entre os 60.000 a 100.000 com uma população que na altura era aproximadamente metade daquela que temos hoje. Penso que dá para imaginar o que foram aqueles 6 anos…
O Chaves de ontem e de hoje, desta vez foi assim, mas fica já uma imagem da praça que iremos abordar na próxima semana.