07
Dez07
O Lamento das Sextas
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Então vamos lá a mais um lamento, ou melhor, alguns lamentos.
O primeiro lamento é por a publicação deste post ser feita com 12 hora de atraso em relação ao que é habitual, mas a culpa é do SAPO, que à hora habitual estava em obras de manutenção. Vai assim o primeiro lamento de hoje para o SAPO, por às vezes nos pregar destas partidas.
E os lamentos de hoje são mesmo sobre obras:
O meu lamento principal de hoje cai sobre a obra de Beneficiação que está a ser levada a efeito na EN213, entre Chaves e Valpaços.
O valor da obra é de 8.155.338,22 Euros, que em moeda antiga e para melhor se conhecer a grandeza dos números é, nada mais nada menos que 1.634.998.517$02
Mas deixando para já os números de parte, o facto é que todos aplaudimos quando ouvimos falar na beneficiação desta estrada. Sem dúvida alguma que a actual estrada não é digna de ligar duas cidades (Chaves e Valpaços), ainda por cima quando são tão próximas, pois distam apenas em 26 quilómetros. Pela cartografia da região, facilmente se pode observar que a ligação Chaves-Valpaços é uma ligação de extrema importância, não só para a ligação entre as duas cidades, mas também pelo benefício que Valpaços e o seu concelho podem tirar desta ligação, que por sua vez é ligação à Auto Estrada A24 e ligação a Espanha. No sentido contrário é, para o pessoal de Chaves, ligação privilegiada a Valpaços e por sua vez a Mirandela e Bragança, ou seja ao IP4, que futuramente se prevê auto-estrada.
Portanto todos aplaudimos a tal iniciativa da beneficiação, pensando eu que essa beneficiação passaria pelo alargamento da estrada, sonhando até com uma 3ª via para lentos nas subidas ou pelo menos corte e correcção de algumas curvas, principalmente nos troços mais complicados e que vão precisamente de Nantes até ao limite do nosso concelho, ali por alturas de S.Julião. Isto era o que eu pensava e pelos vistos, não passou de um sonho meu.
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A realidade é que após 1 mês e 6 dias de execução de obra, já com pavimentação feita até ao Miradouro de S.Lourenço, temos assistido a autênticos disparates, a um vergonhoso gastar de dinheiro público e a um atentado às regras e arte de bem construir, sem daí tirarmos qualquer proveito prático da tal beneficiação, se é que ela existe.
Estupidamente a obra teve início, com os inevitáveis cortes de trânsito num sentido, precisamente no dia 31 de Outubro, dia de Feira de Santos em que é sabido por toda a gente que esse dia atrai milhares de automobilistas à cidade o que, já por si, é um caos. Mesmo assim a obra teve de começar mesmo nesse dia preciso, o que quase me leva a pensar que foi propositado para complicar o trânsito da feira, e se não o foi, pareceu, pois logo a seguir estiveram parados durante 4 ou 5 dias. Mas em nome do benefício da estrada, esta até tem atenuantes de desculpa. Mas não é este o meu lamento.
Para melhor entenderem o que vem a seguir, diga-se desde já que a nível de pavimento existente, esta estrada sempre teve um pavimento (tapete) mais ou menos em bom estado, tal como as pinturas, bem como tem tido uma manutenção também razoável. Aliás ainda há pouco mais de um ano a estrada levou um revestimento superficial de colagem e desgaste e há pouco mais de meio ano que foi pintada com sinalização horizontal, pelo que, se a estrada não estava com um óptimo pavimento e pinturas, estava pelo menos em bom estado
Então vamos aos factos no troço já executado ou quase, entre Chaves e Miradouro de S.Lourenço e à tal beneficiação, que é por aí que passa o meu lamento.
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Pois no que foi até agora executado, não houve qualquer alargamento da estrada, nem correcção ou corte de qualquer curva, os únicos trabalhos que têm sido feitos resumen-se à escarificação do pavimento, (ou seja o levantamento quase na totalidade do pavimento de tapete existente) e à reposição de betuminoso com uma camada base (já executada) e adivinha-se uma posterior camada de desgaste. Uma vez que a camada base ficou na cota do anterior pavimento e que a camada de desgaste terá de 5 a 6 centímetros, é de prever que serão obrigados a levantar todas as caixas de saneamento e sarjetas para repor à cota correcta, mas mais grave é que possivelmente a grande maioria dos passeios existentes entre Chaves e Nantes, também terão que ser levantados para tornar a repor, pois caso contrário irão ficar ao nível do pavimento da estrada, e com isto, irão também ter que mexer em algumas entradas. Ou seja e resumindo, a obra (pelo que está à vista), vai consistir em desfazer tudo que está feito e até em bom estado de conservação, para fazer tudo de novo, mais ou menos como estava, sem daí tirarmos benefícios visíveis. Até parece que se inventa obra para executar e para pagar. Ou seja, é assim como se eu demolisse a minha casa, ainda nova, para de seguida a construir de novo, no mesmo local e tal-qual é hoje. Das duas uma, ou querem fazer de nós burros, ou o burro sou eu, pois não entendo que beneficiação é esta.
Mas a procissão ainda vai no adro, pois ouvi dizer que no concelho de Valpaços, onde a estrada tem menos curvas, se vão rectificar algumas. Espero para ver.
Entretanto o meu lamento tem duas partes ou até três.
Ensinaram-me e, mandam os cadernos de encargos e as regras da arte de bem construir, que este tipo de pavimento seja aplicado a uma temperatura ambiente superior a pelo menos 10ºC ou 15ºC. É por essa razão que geralmente as pavimentações são feitas em pleno verão. Acontece que todos sabemos que durante todo o mês de Novembro raro foi o dia em que as temperaturas em Chaves ultrapassaram os 10ºC, aliás na grande maioria dos dias as temperaturas rondaram os 0ºC (zero) e tivemos até dias de temperatura negativa, com noites que atingiram (segundo fontes oficiais e até noticias dos jornais locais) os -12ºC (12 negativos), o que implica que mesmo que a temperatura ambiente ultrapasse os 0ºC, a temperatura do solo e pavimento seria sempre negativa, ainda para mais nos troços pavimentados durante esses dias, que são troços de sombra que não apanham uma nesga de sol. Mesmo assim a pavimentação foi feita. O futuro próximo dir-nos-á como este pavimento se irá comportar.
Ou seja e resumindo. Gastam-se 8.155.338,22 Euros para nada ou quase nada e ainda por cima com trabalho mal feito, o que, claro, deixa sempre que se fiquem certas suspeitas no ar, ainda para mais, quando se atravessa uma crise bem sentida por todos nós.
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Enquanto se levanta para repor uma estrada que está em bom estado, mesmo ali ao lado, entre o Raio X e o Lameirão, de há dois anos para cá que é obra em cima de obra, buraco a seguir a buraco, reposições de pavimentos que são de bradar aos céus, ou seja, mais parece uma sementeira de lombas e buracos, tantas, que às vezes lá se consegue ver um bocadinho de estrada. No entanto para aqui, por parte da EN – Estradas de Portugal, não há um tostão para fazer uma repavimentação digna.
Das duas uma, ou eu não percebo nada do assunto, ou então alguma coisa corre mal. Seja como for, lamento-o, no primeiro caso pela minha ignorância e se for caso disso, peço desculpas, mas estou mais tentado a lamentar pela segunda opção, e aí ainda o lamento mais, pois mais uma vez demonstra como o nosso dinheiro é governado e depois, acarretamos com as culpas. Definitivamente acredito que a geração rasca tomou o poder. Uma geração sem a honra da palavra e que, cada vez mais aprofunda as diferenças entre os grandes interesses e os pobres. Lamento também ser obrigado a contribuir para um Portugal assim!
E amanhã vou até mais uma aldeia, desertificada pela certa, fruto também das boas políticas que se praticam por Lisboa, preocupada em altas tecnologias, OTAS e TGV’s e que para bem dos números e das estatísticas, oferece computadores portáteis e décimos segundos anos a quem os quiser, basta uma inscrição e pouco mais…
Até amanhã.