Vivências
Caloiro por duas vezes…
Agora que a minha filha mais velha está no Ensino Superior, recordo-me mais amiúde do que se passou comigo quando foi a minha vez de sair de casa para prosseguir os estudos. Estávamos em 1991 e eu tinha concorrido ao Ensino Superior depois de um ano de pausa durante o qual estive a trabalhar (na linguagem atual, mais moderna do que a daquela altura, foi uma espécie de “gap year”, uma prática pouco usual entre nós, mas muito frequente noutros países da Europa).
Soube da minha colocação não pela Internet nem por SMS, mas sim como todos o sabíamos naquela altura: nas listas afixadas no minúsculo Gabinete Coordenador do Ingresso no Ensino Superior, em Vila Real. Tinha concorrido a apenas dois cursos, um no Porto e outro na Guarda, apesar de poderem ser indicadas até seis preferências. A minha média garantia-me, à partida, entrada na primeira opção, pois era bastante superior à do último colocado no ano anterior. Acabei, no entanto, por ser colocado na Guarda, o que me causou imensa estranheza, e numa rápida análise da minha ficha de candidatura apercebi-me que tinha havido um erro e que a minha primeira opção tinha sido invalidada. Expus logo ali a situação à funcionária e ela, embora reconhecendo que tinha razão, sugeriu-me que “deixasse ficar, afinal de contas tinha entrado…”. Não segui, obviamente, o seu conselho e apresentei a minha reclamação, insinuando até que iria pessoalmente a Lisboa para acompanhar o assunto, pelo que solicitei informações sobre o organismo para onde a reclamação iria seguir. Acabei por confiar nos serviços e não fui a Lisboa, mas sim à Guarda matricular-me e procurar um quarto para ficar, enquanto aguardava pela resposta à minha reclamação.
E a boa notícia chegou ao fim de duas ou três semanas. Seguiu-se o desafio de fazer as malas e voltar a Chaves para preparar a ida para o Porto. Ainda hoje recordo a atribulada mudança de autocarro na central de camionagem de Viseu, rodeado de malas e sacos, e a chegada a Chaves, já noite, com a cidade em pleno clima de Feira dos Santos.
Seguiu-se o Porto, onde fui novamente caloiro, após a criação de uma vaga de supranumerário no curso da minha primeira opção, e depois o resto da minha vida…
Luís Filipe M. Anjos
Leiria, janeiro de 2022