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CHAVES

Olhares sobre o "Reino Maravilhoso"

03
Mai08

Arcossó - Chaves - Portugal


 

Então vamos lá até mais uma aldeia que por sinal também é freguesia – Arcossó.

 

Arcossó tem 7,5 Km2 de área, dista 3 quilómetros de Vidago e 18 de Chaves. Actualmente tem 365 habitantes (Censos 2001) e cerca de 12 crianças em idade escolar. Comparativamente com os Censos de 1981, Arcossó perdeu cerca de metade da sua população, pois nesse ano atingia os 632 habitantes.

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A freguesia faz fronteira com as freguesias de Anelhe, Vilarinho das Paranheiras, Vidago e Oura, isto no concelho de Chaves, pois faz ainda fronteira com a freguesia de Capeludos do concelho de Vila Pouca de Aguiar e com a freguesia de pinho do concelho de Boticas.

 

 

Pela perda de população, facilmente se percebe que Arcossó é uma freguesia essencialmente agrícola, sendo até bastante rica neste aspecto, principalmente no que diz respeito à excelente região vinhateira onde se insere, que se prolonga por toda a Ribeira de Oura e pelas margens do Tâmega até Vilarinho das Paranheiras e Anelhe. Além da vinha, é também rica em oliveiras e nas mais variadas árvores de fruto, além de uma pequena veiga junto à Ribeira de Oura, com as mais variadas culturas típicas das terras férteis.

 

 

Mas é na vinha e no vinho que Arcossó tem a sua maior riqueza agrícola. Vinhos bem conhecidos pelos apreciadores e que já se começam a impor como os melhores vinhos nacionais, como é o caso do vinho da Quinta de Arcossó 2005, considerado entre os melhores 240 vinhos para o ano de 2008. Claro que os vinhos de Arcossó não chegam aos patamares nacionais sozinhos. Para serem apreciados, além de serem bons vinhos e de região vinhateira também conhecida, é necessário fazer o trabalhinho de casa direitinho. Ou seja, ser apenas bom vinho não chega para entrar no competitivo mercado dos vinhos portugueses, é necessário também um pouco de tecnologia e markting que, aliados a um pouco de trabalho e juventude do proprietário, pode competir com os melhores. Estou a referir-me a Almicar Salgado, o jovem vinicultor que tão bem tem promovido o seu vinho (Quinta de Arcossó) e também a região. Como apreciador de bons vinhos, sou testemunha que o Quinta de Arcossó é dos melhores, pena que só dois ou três restaurantes da cidade o tenham na sua carta de vinhos e, mais pena tenho, que não haja outros vinicultores de arcossó e da região que sigam o exemplo de Amílcar Salgado.

 

Mas Arcossó não é só bom vinho.

 

 

Quanto à aldeia em si, tem características muito próprias e bem diferentes das restantes aldeias rurais do concelho. Nota-se ter sido uma aldeia abastada, com algumas quintas mais ou menos senhoriais e com o restante casario fora do tradicional das construções pequenas de granito e pedra solta. Nas construções nota-se uma grande intervenção com novos materiais utilizados no segundo quartel do século passado e também muitas intervenções recentes. O típico da aldeia rural do concelho, salvo em meia dúzia de excepções, não existe por Arcossó. Já noutro aspecto não é excepção, ou seja no abandono da aldeia ou dos trabalhos da aldeia pela gente mais jovem e também a degradação de algum casario, até do mais nobre e casario senhorial de algumas quintas.

 

 

É o mesmo de sempre, principalmente quando a agricultura deixou de estar nos planos da gente mais jovem e que parte à procura de uma vida melhor, ou pelo menos, digna, que hoje, só com agricultura já não é possível de se alcançar. São os reflexos das tais políticas distraídas ou até homicidas para o interior que se são praticadas por Lisboa.

 

Mas vamos a alguns pontos de interesse que Arcossó possui, como o da sua igreja Matriz construída em granito lavrado, apresenta uma torre sineira, muito interessante, separada do corpo da igreja, o que confere ao conjunto arquitectural uma estética e beleza muito próprias, complementada pelo adro e pela escadaria de acesso.  Apontam-se os Séculos 16 / 17 como provável construção da igreja; o séc. 17 para a feitura do retábulo-mor; o séc. 18, finais,para a remodelação do retábulo-mor; o séc. 19 para execução dos retábulos laterais confrontantes; 1818 - data da fachada principal assinalando reformas; 1825 - data das pinturas do tecto da nave; séc. 20 - feitura do retábulo lateral do lado do Evangelho, pintura do tecto da capela-mor; remodelação da sacristia; o cura era apresentado pelo reitor de Moreiras.

 

 

E para os interessados aqui fica em resumo os materiais aplicados na igreja e alguns pormenores: Estrutura em cantaria granítica, aparente no exterior e rebocada e pintada de branco no interior e sacristia; pavimento de madeira na nave, em lajes graníticas na capela-mor e em mosaico cerâmico na sacristia; vãos, pia baptismal, pias de água-benta, base do púlpito, lavabo e outros elementos em granito; coro-alto, guarda do púlpito e retábulos em madeira pintada e dourada; portas de madeira e janelas de vidro; cobertura interior em madeira pintada e exterior em telha; pavimento do adro em paralelepípedos graníticos; vedação do adro em ferro. Inscrição do tecto do sub-coro: "HAC EST / DOMVS DOMINI / EIR.MATER . EDEFICAT A. / BENE . BENE . EVNDATA . EST . / SVPER FIRMAM PETRAM . / ANNO 1825".

 

 

 

Retábulo dedicado ao Ecce Homo de um só eixo definido por pilastras com o fuste estriado, encimada por friso e dupla cornija, dando origem a pequenos plintos sobrepujados por urnas. Remate em espaldar central semicircular, gomeado e com a inscrição "J. N. R. J." O painel fundeiro encontra-se pintado com a representação de uma estrutura amuralhado, que realça a imagem de madeira do orago. Retábulos laterais são semelhantes, com nicho central de perfil recortado, circunscrito por colunas torsas marmoreadas, assentes sobre altos plintos decoraods com motivos fitomórficos dourados. Remate em friso e cornija, espaldar recortado e, lateralmente, duas urnas ornadas com festões. Altar em forma de urna com frontal decorado com cartela central e acantos enrolados. No espaldar surgem as iniciais identificativas do orago: no Evangelho, "JHS" e, no oposto, "AM".

 

O orago é S.Tome, mas como em muitas aldeias do concelho as festividades da aldeia são em honra de Stª Barbara, não fosse ela a padroeira das trovoadas. A festa realiza-se a 15 de Agosto.

 

 

 

Na aldeia existe ainda uma outra capela e que adopta o nome do Stº António. Nesta capela, localizada no cimo da aldeia, apenas se realiza uma missa por ano, precisamente no dia de Stº António.

 

Um outro ponto interessante da aldeia é a fonte Moura, localizada perto da Igreja. Na aldeia é também conhecida por fonte velha, talvez por agora estar fora de uso e até vedada. A esta fonte está associada uma lenda, a do Calhau da Moura.

 

“Lenda do Calhau da Moura”

 

Andava uma pastora à beira do Tâmega a guardar o seu rebanho, quando avistou sobre um penedo, na outra margem do rio, uma linda menina com vestes que brilhavam ao sol. Ficou atemorizada quando viu que essa figura atravessava o rio, sobre as águas, sem sequer molhar os sapatos, igualmente brilhantes e se dirigia na sua direcção. A jovem estendeu uma vasilha pedindo um pouco de leite das ovelhas. A pastora deu-lhe o leite e, a jovem contou que era uma moura que estava encantada e infeliz, vivendo há longos anos num palácio debaixo do rochedo, guardada por gigantes. Deu à pastora um cofre e pediu-lhe que divulgasse na aldeia a sua triste sina para que alguém fosse combater os gigantes, os vencesse e assim ficaria liberta do encanto. Quanto ao cofre recomendou-lhe que só o abrisse na aldeia e então veria a sua casa transformada num palácio. A pastora retomou o caminho de Arcossó e não resistiu à tentação, abriu o cofre. Dentro só encontrou uns negros carvões que caíram ao chão. Surgiu por encanto a bela moura, muito triste, apanhou os carvões que, quando colocados no cofre, se transformavam em luzidias moedas de ouro. Uma fortuna que a cobiça fez perder e manter o encanto da moura, que continuou a viver no seu palácio, debaixo do penedo, em Arcossó.

 

 

 

Ainda fui até ao Rio Tâmega, de um e outro lado, mas nada de me aparecer a moura encantada, nem sequer o Cristiano Ronaldo com a sua bola também encantada, mas deu pelo menos para ver o encanto das vistas desde o (já) terras do barroso do concelho vizinho de Boticas, pois é precisamente no rio que termina o concelho de Chaves e começa o de Boticas.

 

De entre a sua gente ilustre, há a destacar a do Barão de Arcossó, cuja história encontramos resumida no I volume do Dicionário dos mais ilustres Transmontanos e Alto Durienses que passo a trancrever:

 

“Arcossó é uma localidade do concelho de Chaves, perto de Vidago. Foi seu único Barão Pedro António Machado Pinto de Sousa Canavarro que nasceu em 30.12.1772 e faleceu em 13.5.1836. Foi fidalgo da Casa Real, por sucessão e 3.° Senhor do morgado de S. José de Arcossó. Assentou praça, como cadete, em 20.8.1783. Em 25.7.1833 era brigadeiro e em 7 desse mês e ano foi lhe confiado o governo das Armas do Douro. O último cargo que exerceu foi o de Presidente da Comissão criada para liquidar as dívidas aos militares e empregados civis do Exército. Casou em 23.2.1802 com Luísa Maria Slessor, primeira filha do marechal de campo escocês, comandante do Reg. de Cavalaria de Chaves. Foi agraciado com o título por D. Maria II, por Decreto de 1.10.1835. Inicialmente teve o título de Barão de Vila Pouca de Aguiar. Depois, a seu pedido, foi mudado para Barão de Arcossó.”

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Também nesta freguesia tem raízes o notável flaviense José Timóteo Montalvão Machado".

 

Outra figura de relevo que desempenhou as funções de Arcipreste e se notabilizou pelos seus interesses culturais foi o Padre Adolfo Magalhães", aliás os seus versos adornam uma das paredes exteriores da já citada capela de Stº António, situada no denominado Largo do Santo.

 

Tal como já foi também citado, no interior das férteis quintas ainda se aistam antigos edifícios em granito e casas senhorias, alguns dos quais em franca degradação pelo abandono e desertificação destes lugares isolados. No entanto alguns deles, pela sua bela traça e enquadramento paisagístico, estão a ser recuperados para fins hoteleiros em unidades de Turismo de Habitação Rural. Disseram-me posteriormente que a Quinta do Pulo do Lobo é um desses belos exemplos de recuperação, que infelizmente na minha visita não pude apreciar, mas fica para uma próxima oportunidade.

 

 

E por Arcossó, embora já não fosse a primeira vez que este blog por lá passou, fica cumprida a minha promessa de um post alargado para todas as aldeias.

 

Amanhã cá estarei de novo com outra aldeia do nosso concelho.

 

 

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