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CHAVES

Olhares sobre o "Reino Maravilhoso"

03
Ago08

As antigas Praias de Chaves


 

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Sábado à tarde de muito calor. 35ºC, marcava o termómetro, e prometia subir. Como tinha o depósito do carro nas lonas, resolvi dar o pulo até Feces de Abaixo para enche-lo. Pelo caminho vieram-me à lembrança os dias quentes de verão dos anos 70, em que pelo mesmo caminho, de bicicleta, de motorizada, à boleia ou em último recurso de camioneta, todos os meios serviam, desde que o destino fosse o Açude de Vila Verde da Raia.

 

Não resisti e fui dar uma vista de olhos ao açude… tudo continua quase igual, para melhor até, pois agora há por lá um parque de lazer, com grelhadores, instalações sanitárias, mesas e muitas, deliciosas e convidativas sombras, a água ainda continua transparente e, a não ser o areal que agora é lameira, fisicamente o açude ainda é o que era. Mas só fisicamente, pois ontem, 15h30 da tarde de Sábado, 35ºC com tendência a subir, e no açude nem uma única alma viva.

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Poderão dizer que fiquei desiludido, principalmente por eu ser de uma geração (boa colheita de 60) em que o açude e outras praias fluviais eram a nossa verdadeira praia, onde toda a juventude se concentrava em dias idênticos aos de ontem. Pois não fiquei desiludido, o sentimento foi mais de saudade e pena. Saudade dos bons e velhos tempos dos finais de 60 e principalmente dos bons anos 70 e, pena, por ver o açude entregue ao seu próprio abandono. Curioso é que nos bons anos do açude não havia qualquer infra-estrutura de apoio. Há cerca de 15 anos atrás, dotou-se com algumas infra-estruturas, e depois de tudo arranjadinho, o pessoal desapareceu. Faz-me lembrar as aldeias que estavam povoadas de gente quando não havia água canalizada, nem electricidade, nem telefones, nem estradas pavimentadas, e que depois de conseguirem essas infra-estruturas, o pessoal desapareceu. Era quase caso para dizer que o pessoal não gosta de infra-estruturas, mas não, o caso é bem mais sério que isso, e se no caso do Açude é uma questão de moda e gerações, além de outros interesses, no caso das aldeias, o abandono, é quase por uma questão de sobrevivência, à vista e do conhecimento de todos, mas que ninguém faz nada para o contrariar, e esse ninguém, sem nome, tem uma classe que é responsável: os Políticos de cá e de Lisboa.

 

Ainda a respeito do açude e das tais infra-estruturas que se realizaram no local para um parque de lazer de apoio à praia fluvial, aliás era isso mesmo que constava num placar de madeira que esteve lá até há uns meses atrás e que agora foi substituído por um outro do Ministério do Ambiente, do Ordenamento do Território e do Desenvolvimento Regional onde diz “É desaconselhada a prática balnear neste lugar”.

 

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Abandonei o açude “com o rabo entre as pernas”, mas em olhar para trás. Cheguei a Feces, enchi o depósito do carro e, já que estava e marés de água e praias (embora fluviais) resolvi fazer uma visita a outra praia que também foi famosa, não tanto como o açude, mas que era simpática e concorrida. Refiro à praia fluvial de Vila Meã, e mais do mesmo, o abandono e nem uma única alma viva.

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Lembrei-me então de fazer um pequeno percurso, em imagem e pensamento, pelas praias fluviais da minha juventude. Claro que o Açude era a cocluxe (não confundir com coqueluche) das praias fluviais, mas rio abaixo havia muitas mais e conforme os locais e sítios que atravessava. Assim ao longo da estrada de Outeiro Seco havia várias praias e cantinhos de praia, mais privativas para o pessoal que vivia ao longo da estrada e que se prolongavam até à Quinta do Matias (penso que era este o nome), logo seguida pela famosa Galineira e do tronco.

 

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Junto a um dos arcos da ponte romana, formava-se um pequeníssimo areal que também este costumava estar ocupado por dois ou três putos. Mais a jusante, estou certo que também haveria outras praias junto às aldeias banhadas pelo Tâmega, mas desconheço. Sei que havia outra bem afamada, que não era muito concorrida pelo pessoal de Chaves, mas que às vezes também lá íamos dar os nossos mergulhos. Refiro-me à praia de Vidago, que tal como as outras, também agora está entregue ao abandono e esta, também pela qualidade da água que nesse local já deixa muito a desejar.

 

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Mas não era tudo, pois o canal de rega também em muitos locais servia para banhos e praia, sem areia mas com preciosas lameiras que davam ainda para uma peladinha de futebol. Um desses locais era conhecido pelo fundão, local onde o canal atravessa subterraneamente a Ribeira do Caneiro e onde era habitual ver toda a juventude da Casa Azul até ao Senhor da Boa Morte e de Nantes. Esta foi a minha primeira praia, muitas das vezes clandestina, como clandestinamente conhecia-mos os sítios dos melões casca de carvalho, das melancias, das peras, das uvas e das maças. Hoje também esta praia está abandonada.

 

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Mais uma vez o digo que não é como desiludido que vejo o abandono destas praias fluviais, tanto mais que a jusante do Açude de Vila Verde da Raia, a qualidade da água já não é a mesma de outros tempos e a do canal, a mesma coisa, mas olho para todos estes locais com pena e saudade dos bons tempos em que brincar e conviver era na rua ou no rio, em contacto com a natureza, sem medos de raios ultra-violetas e outros males e pela simples razão de que tudo era saudável e salutar, principalmente o convívio e os jogos que se inventavam e sempre acompanhados de boa fruta que se colhia e escolhia directamente na árvore. 

 

E fica assim um regresso ao passado daquilo que foram as nossas praias dos anos 60 e 70.

 

Até amanhã, com um minuto de vídeo.

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