Vilarinho da Raia - Chaves - Portugal
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Embora pela placa que está no início da aldeia nos pareça que estamos a chegar a Vilarinho da Rata, na realidade é de Vilarinho da Raia que se trata. Coisas da ferrugem que atraiçoam o nome da aldeia como se não nos bastassem as traições da língua portuguesa.
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Vamos então até Vilarinho da Raia, que tal como o topónimo indica, é mais uma das nossas aldeias da raia com a vizinha Galiza.
Terra de raia é sinónimo de terra de contrabandistas e guarda-fiscal, ou era, pois com a abolição das fronteiras, o contrabando tradicional deixou de existir e também a guarda-fiscal deixo de ter razão de existir nestas aldeias da raia. Mas antes o fosse ainda terra de contrabandistas e guarda-fiscal, pois foram eles que durante muitos anos povoaram estas aldeias e lhes davam vida, tendo a abolição das fronteiras contribuído para o despovoamento bem notório desta aldeia.
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Dizia-me um dos poucos residentes que guardas-fiscais eram pelo menos 15, ou sejam 15 famílias e maior número de filhos, que habitavam 15 casas - “eram estas que estão para aqui todas caídas”, dizia-me.
-Então e o resto da gente!? perguntava-lhe eu.
- O resto partiu tudo, só ficaram os velhos e mais dois ou três.
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É notório o despovoamento e nem este mês de Agosto traz muita gente à aldeia.
Mas vamos aos dados do Censos 2001, em que havia 54 residentes dos quais só 9 tinham menos de 20 anos e só 1 com menos de 10 anos. Os números dizem tudo e já são números de há 7 anos atrás.
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Não se compreende muito a tendência para o despovoamento desta aldeia, tanto mais que é uma aldeia praticamente do grande vale de Chaves, com terras de cultivo aparentemente ricas, a apenas a
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E, infelizmente, pouco mais há a dizer sobre Vilarinho da Raia, que embora ainda mantenha a sua dignidade como aldeia que lhe é conferida pelos residentes resistentes e até uma ou duas construções recentes, não deixam esquecer os abandonos, as casas abandonadas e/ou
Construções que em vez de abandonadas bem poderiam estar a dar apoio à população envelhecida, pois há políticas para tudo, para luxos até, mas nenhumas para a população envelhecida que quer morrer, com todo o direito, na sua terrinha. Afinal são eles os resistentes e a quem não é dado um pouco de apoio ou de carinho que seja para manterem as aldeias ainda com alguma vida. É fácil esquecer quem não tem voz e nos números da estatística pouco ou nada contam, tal como é vergonhoso para um Estado que se quer afirmar como igual na Europa e deixa os seus velhos esquecidos a morrer sozinhos nas aldeias, e não são os míseros euros com que lhes aumentam as reformas acima da média que acabam com a sua dor, pois esta é por ausência de apoio e carinho. Estes sim, precisavam de um grande “Magalhães” para lhes dar apoio nas aldeias.
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Políticas urgentes de Lisboa precisam-se para as nossas aldeias abandonadas e envelhecidas e se não tiverem vergonha, pelo menos tenham dó de quem deu uma vida inteira para que muitos dos que agora assentam o cú no poder não passassem pelo sacrifício de uma vida de muito sofrimento e ainda por cima amordaçado.
Portugal está cada vez mais desigual e sem vergonha.
Até amanhã e desculpem alguma revolta, mas é assim que se fica quando se vê que ninguém faz nada pelas nossas aldeias e pelos seus resistentes quando lá de Lisboa e de outros poderes também locais, como se costuma dizer popularmente, “só cagam postas de pescada”.
Até amanhã de volta à cidade.