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CHAVES

Olhares sobre o "Reino Maravilhoso"

18
Mar09

.

Os flavienses presentes, tal como os ausentes, já se devem ter apercebido pela agitação da cidade de chaves nos últimos dias, que estamos em pelas comemorações do 2º Centenário das invasões Francesas…, no entanto não é da riqueza do programa das comemorações que quero falar hoje, mas antes um bocadinho do acontecimento histórico que se comemora e do tal General Silveira a quem Chaves dá o nome de uma das praças principais e agora lhe levanta um muro em pleno jardim do Forte de S.Francisco, com cavalo e cavaleiro que se supõe ser o tal Silveira.

 

Pois esperava eu que nestas comemorações se fizesse um bocadinho de luz em prol da história de Chaves e das Segundas Invasões Francesas, mas olhando ao programa e deixando de fora o desfile de carnaval das criancinhas (o ponto mais alto das comemorações, até hoje, com alusão ao acontecimento) e o muro em construção nos jardins do Forte, nada mais há.

 

Entretanto vi por aí anunciado um colóquio “História de Chaves”, pela Academia Portuguesa de História integrado nas comemorações das Invasões Francesas, anunciado para dia 24 de Março. Disse para com os meus botões: Mais vale tarde que nunca… e ainda bem que só o disse para com os meus botões, pois do tal colóquio cheio de sessões com Professores Doutores, conhecidos e desconhecidos, de cá e de fora, vai-se falar de D.João I em 1940, da ocupação de Chaves de 1762, do “Corpus Epegraphicum”, de Chaves Medieval e da Idade do Bronze… ou seja, fala-se de tudo,  menos de Invasões Francesas e de General Silveira… boa! Ou seja, continuo sem poder dizer à minha criancinha que foi esse tal Silveira e o que foi isso da Invasão Francesa… mas esta ausência de história sobre as Invasões e sobre o Silveira, talvez não seja tão inocente assim…  ou seja comemoram-se as invasões mas não se fala delas e ao tal Silveira, levanta-se-lhe um muro, põe-se lá um “boneco” a cavalo, e prontos, “Vivam as Invasões Francesas”… ou será “Abaixo as Invasões”, é que com tanto esclarecimento estamos na mesma e talvez não convenha mexer muito na porcaria…

 

Pois se alguma coisa aprendi em história na ilustre casa do Liceu de Chaves, foi que a história tem sempre várias versões e nesta em particular da bla, bla,bla invasões francesas, fala-se das invasões francesas e do grande homem General Silveira, que estudando bem os acontecimentos e as tais versões, o tal Silveira de grande (para Chaves) até nem teve nada, antes pelo contrário, ficou muito mal na fotografia da época para o povo de Chaves, mas vamos a alguma história , resumida e relatada em acontecimentos, daquela história que também está escrita em livros, em outras versões e que vá lá saber-se porquê, ou pelas velhas questões de influências convém remeter para o esquecimento enquanto se enaltece que se devia esquecer.

 

Como esta comissão das comemorações do 2º Centenário resolveu, com manobras de diversão,  silenciar a história das invasões, fui a procura dela, e ó pró que encontrei desse herói que dá pelo nome de Silveira:

 

Vamos lá então fazer também um bocadinho de história.

 

No dia 6 de Março de 1809 as tropas francesas de Soult estava já às portas de Chaves, com o grosso das tropas em Monterrey e Verin e uma brigada de cavalaria já em Tamaguelos, ou seja a uma escassa centena de metros da nossa fronteira e de Vilarelho da Raia.

 

O General Silveira tinha sido nomeado comandante das tropas da província de Trás-os-Montes, com aquartelamento e sede em Chaves e dada a aproximação dos Franceses, destacou uma pequena força das suas tropas para um posto de observação em Outeiro Seco e outro para Vilarelho da Raia. Esta guarda avançada em Vilarelho, era composta por 2250 homens de infantaria e 4 peças de artilharia, sob o comando do Tenente Coronel de infantaria 12, Francisco Homem de Magalhães Pizarro (registem este nome).  O Tem.Coronel Pizarro não se ficaria por Vilarilho e entrou em território espanhol até 15 quilómetros além da fronteira, tanto que no dia 7 de Março estava em cima do inimigo francês, combatendo contra um regimento de infantaria e um esquadrão de dragões, causando-lhes numerosas baixas e 80 mortos, retirando de novo para Vilarelho da Raia, apenas quando Soult manda duas brigadas de infantaria para os repelir.

 

No dia 8 de Março o General Silveira foi pessoalmente espreitar o inimigo que se encontrava acampado em Oimbra e Tamaguelos. Ao ver as tropas francesas reconheceu a impossibilidade de se opor às sua marcha sobre Chaves ou seja, na gíria diz-se “tremeram-lhe os tin-tins” e de rabo entre as pernas manda retirar as nossas tropas do posto de observação de Outeiro Seco. Entretanto o Tem. Coronel Pizarro (e já disse para fixarem este nome) continuava por Vilarelho da Raia firme e hirto.

 

E nestes entretantos o grande Silveira vai a caminho da Vila de Chaves onde quando chega, reza a história que: “ seria loucura tentar a defesa de Chaves que de antemão se via não poder ser profícua” e diz mais “ ponderando as circunstâncias e não querendo sujeitar a população da vila ao furor dos vencedores, deliberou sair da praça de Chaves com as suas tropas” o que popularmente dizendo se diz: “borrou-se todinho e fugiu”. Entretanto o Pizarro ainda está em Vilarelho e o povo de Chaves ao ver o Silveira a dar de “frosques”, acusa-o de jacobino e traidor e entre muito barulho e protestos o povo de Chaves dizia as tropas de Silveira que era possível defender Chaves, tentando assim convencer as tropas a ficar e a virá-las contra Silveira… mas com o povo de Chaves apenas ficou o regimento de milícias de Chaves, as ordenanças e alguns poucos militares de Silveira que aderiram à causa do povo flaviense.

 

No dia 9 de Março, o Ten. Coronel Pizarro não podendo suster mais a sua posição em Vilarelho, regressa a Chaves, onde adere à causa do seu povo flaviense ficando a comandar as poucas tropas que restavam para a defesa de Chaves.

 

Ao que consta, Silveira não gostou da decisão do Ten. Coronel Pizarro e dia 10 de Março, acompanhado por alguns oficiais superiores veio de novo a Chaves e reuniu um conselho militar que deveria decidir se sim ou não a praça de Chaves poderia resistir à invasão do inimigo.  A maioria do Silveira resolveu que não, ao qual o Silveira exigiu que cada vogal do conselho apresentasse por escrito o seu parecer. Reza a história, que estavam eles a escrever o seu parecer quando na praça houve rebate de que o inimigo estava a entrar em Chaves e de novo, o Silveira e os seus oficiais fugiram para a Serra de Stª Bárbara. Nesse mesmo dia o Marechal Soult enviou uma intimação ao General Silveira para que entregasse a praça de Chaves.

 

Entretanto já as tropas de Soult estavam próximas de Bustelo e no dia seguinte, 11 de Março, Chaves recebeu a intimação de Sult para que as tropas ainda em Chaves e fiéis aos flavienses (comandadas pelo Ten.Coronel Pizarro) se rendessem, a fim de evitar a efusão de sangue.

 

O Tem. Coronel Pizarro ao receber a intimação manda um cadete ao encontro do Gen.Silveira para lhe participar a intimação e saber dele a sua determinação ao respeito. O Gen. Silveira reúne de novo os seus oficiais num novo conselho militar  e delibera assim: “ que quem da defesa de Chaves se encarregara contra as sua ordens, continuasse a mesma defesa ou entregasse a praça, procedendo a seu arbítrio” - Grande Silveira.

 

Claro que o povo de Chaves continuou por sua conta a defesa de Chaves e claro está também que os franceses entraram por Chaves adentro tal como o trigo limpo faz farinha amparo. A guarnição da praça de Chaves ainda argumentou com alguns tiros contra o inimigo e o Tem Coronel Pizarro ainda ia mantendo as esperanças de que o General Silveira viria em socorro de Chaves, mas tal nunca aconteceu. Na noite de 11 de Março, sem qualquer auxilio de Silveira, e contra os argumentos de uma força desigual, o Ten.Coronel Pizarro para evitar um banho de sangue dos flavienses, resolveu capitular, dado conhecimento disso ao inimigo.  Os franceses entraram em força e triunfalmente em Chaves às 8 horas da manhã de 12 de Março e prenderam toda a guarnição, no entanto e num gesto de boa vontade, viria a libertá-los pouco mais tarde, mandando-os recolher às suas casas, com o juramento de não pegarem mais em armas contra os franceses.

 

Entretanto Soult programava nesse mesmo dia o avanço em Portugal fazendo crer ao General Silveira que avançaria por Vila Real e pelo Marão, Amarante até ao Porto, mandando avançar algumas tropas de encontro à Serra de Stª Bárbara às quais o General Silveira respondeu fugindo nesse dia para Oura e no dia seguinte para Vila Pouca de Aguiar. Enganado o lorpa, Soult seguiu tranquilamente o seu destino ao Porto, mas em direcção a Braga.

E hoje ficamos por aqui, com outra versão da história que também está em livros e documentos, e agora pergunto eu – O General Silveira merece em Chaves um praça com o seu nome!?

- Pelos vistos merece, pois já a tem. E pergunto novamente – Merece o muro que estão a erguer em sua honra, onde dizem vão colocar uma estátua com ele montado a cavalo!?

 

- Pelos vistos também merece, pois já está em execução e até fere as vistas e um monumento nacional (o IGEPAR parece que disse que sim à coisa – a desculpa, embora não inocentes, cai sempre em cima deles).  Curiosamente, até na estátua, quer o fatal destino que a imagem do homem seja a fugir em direcção à serra de Santa Bárbara.

 

E para finalizar a última pergunta – Que é feito da justa homenagem aos flavienses e ao Tenente Coronel de infantaria 12, Francisco Homem de Magalhães Pizarro, que sozinhos e quase sem armas fizeram apenas com a sua valentia frente aos franceses!?

 

Começam a compreender agora porquê se comemora o Bicentenário da Segunda Invasão Francesa, mas não se fala dela!?

 

Mais adiante talvez vos conte o acto heróico do General Silveira, ou aliás, conto já, para o assunto ficar de vez arrumado.

 

Então tínhamos deixado o Gen. Silveira em Vila Pouca e, enquanto o grosso das tropas francesas se dirigiam ao Porto via Braga, um pequeno destacamento de franceses foi indo atrás do Silveira e este ia fugindo. Pelos vistos em Vila Pouca os franceses abandonam a perseguição ao Silveira. Entretanto os dias vão passando e no dia 18, o Silveira, não tendo novidades do inimigo francês, mandou fazer um reconhecimento em direcção a Chaves e como este se foi fazendo sem qualquer obstáculo, ele próprio (valentemente) com as suas tropas vai regressando a Chaves, chegando à Serra de Stª Bárbara no dia 19. No dia 20, aproxima-se de Chaves, sem qualquer oposição ou resistência da guarnição francesa e apenas na entrada da Vila encontrou alguma resistência por parte dos franceses que ficaram de guarda à Vila de Chaves. Os franceses, agora inferiores em número e uma vez que o grosso das tropas já combatia na proximidades do Porto, fugiram e fecharam-se no Forte de S.Francisco. Reza a história que o Silveira  “em rijos combates que decorreram durante os dias 21, 22, 23 e 24 de Março”  foi aguardando pela rendição dos franceses, como eles não se renderam, no dia 25 mandou ir lá buscá-los, e prontos! Assim se faz um herói.

 

É pois de todo merecido este muro da vergonha do General Silveira mostrando o momento em que ele cavalga na sua fuga de Chaves para a montanha, deixando para trás indefesa a população da Vila de Chaves, que pela certa será inaugurado com pompa e circunstância pelo Sr. Presidente da República, na presença das autoridades civis, militares e religiosas e com o povo papalvo de Chaves a assistir e a aplaudir! E bota foguete para o ar! Pum!

 

Eu não vou!

 

Visto.

publique-se!

 

Até amanhã!

4 comentários

  • Sem imagem de perfil

    niko-lico

    02.11.14

    Muito bem menina Silveira, Este tipo que escreveu este arrazoado mentiroso merece ser desmascarado.
    Manuel quintela
  • Imagem de perfil

    Fer.Ribeiro

    03.11.14

    Então aproveito e respondo à Nádia Silveira e ao Manuel Quintela.
    Para a Nádia Silveira - Há fontes, claro que há fontes, mas isto não é um trabalho académico e passei essa parte, no entanto o caso Silveira não está esquecido, antes pelo contrário e, além de não retirar nada do que disse - NADA - nem que fosse pelo simples facto de ser flaviense e sentir à distância aquilo que os flavienses de então sentiram quando foram abandonados, continuo a investigar e a reunir informação sobre o assunto, que, quando estiver pronto será aqui publicado, e então, faço questão de revelar todas as fontes, mencionar a bibliografia e mencionar os seus autores ou documentos e sua origem. Assim, não perde pela demora.
    Quanto ao sr. Manuel Quintela, não sou historiador e nem preciso de o ser para analisar e interpretar factos e documentos, aliás ainda bem que não sou historiador para ter toda a liberdade de interpretação sem outros interesses. Acresce que do caso Silveira/Pizarro, na sua sequência, decorreu um conselho de guerra em que o primeiro acusa o segundo de desobediência, do qual o segundo foi inocentado, aliás nem poderia ser de outra maneira, pois os militares existem para defender a população e o território nacional, e não é fugindo que se defendem, mas antes ficando, tal como o fez o Ten.Coronel Pizarro. E para terminar, mais luz teria sido feita sobre o assunto se os netos do Silveira e do Pizarro não tivessem unido as famílias pela via do casamento. E quanto ao resto, meu caro Manuel Quintela, o senhor é que deveria informar-se primeiro antes de me chamar mentiroso, pois não inventei nada, tudo está escrito em documentos da altura. Leia-os, e depois retire as suas conclusões. Eu tirei as minhas. Passe bem.
  • Sem imagem de perfil

    margarida

    06.11.14

    Muito boa tarde meus senhores.

    Apresento-me :sou Margarida e meu avô AGOSTINHO PIZARRO DA SILVEIRA BRAVO.
    Posto isto falem da minha família com respeito mas falem verdade.Pois aí ,entram os historiadores com as suas fontes.Historia aprende-se também como autodidacta.A prova está na" História de Portugal" de Oliveira Martins que nunca foi aluno universitário .Foi ministro e não comprou nenhum canudo.
    Respeitando portanto todos, sigo atenta .
    Recordo também as palavras de meu avô que tinha as suas preferências.A minha bisavó PIEDADE que morreu depois dos 100 anos disse-me "nesta cama em que me deito já dormiu o General Silveira"quando se retirou para a Santa Bárbara.Estávamos na casa de Bóbeda.Isto são as minhas memórias não são as minhas fontes.
    Cumprimento todos que procuram a verdade.
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