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CHAVES

Olhares sobre o "Reino Maravilhoso"

13
Dez09

Couto de Ervededo - Chaves - Portugal


 

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Este blog já fez breves passagens pela nossa aldeia de hoje, o Couto, ou Couto de Ervededo. Da primeira vez, em 10 de Setembro de 2006 (neste post  http://chaves.blogs.sapo.pt/31344.html) deixava alguma coisa sobre a aldeia. Não vale a pena seguir o link, pois como ainda é válido, transcrevi o texto do post que vos deixo de seguida:

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“Se há uma freguesia que visitei umas largas dezenas de vezes, foi a de Ervededo. Aliás um dos roteiros da minha “volta dos tristes” de há uns anos atrás passava obrigatoriamente por terras de Ervededo, com início na Fonte do Leite, Seara, Campinas, Couto, Agrela, Torre, Vilela Seca, Outeiro Seco e Chaves, ou vice-versa. Ainda na actualidade, às vezes dou por mim nesta volta. Mas queria eu dizer que durante todos estes anos de visitas, fui vendo o que estava à vista e pouco ou nada mais.
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Na última visita ao Couto tive a sorte de me levarem além daquilo que está à vista. À entrada de uma quinta, como se estivesse à nossa espera, estava um octogenário filho da terra, num merecido repouso à sombra que o calor aconselhava, e que logo se prontificou para nos servir de cicerone para nos mostrar "coisa bonita". Ex-Presidente da Junta, conhecedor das gentes e dos sítios, foi-nos mostrar a tal
“coisa bonita” para fotografar e, tinha razão. Realmente, pelo que vimos, além de bonito para fotografar, merece ser a fotografia do post de hoje.

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Pois, no meio de uma quinta, a Quinta do Geraldo (ou S. Geraldo,  fiquei na dúvida), encontra-se a preciosidade de uma fonte. E se a quinta já conheceu melhores dias e melhor tratamento, a fonte e a entrada da quinta mantém a sua beleza e a fonte a sua função de dar água, coisa que na maior parte das fontes antigas que conheço, já não existe.

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E aqui entra o agradecimento ao nosso simpático cicerone, que no meio de tanta informação, visita e conversa, cometi o imperdoável, não lhe saber o nome, mas fica a foto em jeito de reconhecimento e agradecimento.

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Quanto ao Couto, é sede da freguesia de Ervededo, fica a 15 quilómetros de Chaves, faz fronteira com a Galiza e com as freguesias de Vilarelho da Raia, Vilela Seca, Outeiro Seco, Bustelo, Sanjurge, Calvão e Soutelinho da Raia. Segundo o Censos de 2001 tem 740 indivíduos de população residente. É uma freguesia agrícola, com algum património, muita tradição, principalmente a religiosa ligada ao S.Caetano e rica em história, tendo até, outrora, sido sede de concelho. Mas isso fica para outro post, por hoje fico por aqui.”

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Mais tarde, em 13 de Maio de 2007 (http://chaves.blogs.sapo.pt/175435.html) fiz outra passagem pela aldeia, apenas com uma foto e algumas palavras:

 

“É uma aldeia que ainda tem gente e vida nas ruas, boa água e muito verde e até tem amoreiras nas ruas, cantos e cantinhos que vão do bucólico ao pitoresco, mas também muitas e lindas construções antigas e tradicionais dotadas ao abandono. Também lá é mais fácil construir de novo junto à estrada, que reconstruir casas e até alguns palacetes ou dar vida a quintas abandonadas que já tiveram os seus momentos de glória e nobreza.

 

Mas seja como for, ainda é uma aldeia interessante à qual gosto de ir e que ainda guardam nas adegas caseiras, vinho e do bô.”

 

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Senti desde sempre que esta aldeia precisava de um post alargado, pois das duas passagens que fiz pelo Couto, embora fosse dizendo alguma coisa sobre a aldeia, na reportagem fotográfica ficou aquém daquilo que a aldeia merecia. Infelizmente hoje também fica aquém, pois nem tudo que merece vai ficar em imagem, mas são as possíveis e recolhidas de três ou quatro visitas que fiz à aldeia, umas apressadas e a última, com muita chuva e pouca luz. Mas dá para ficar uma ideia daquilo que é o Couto.

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Também no decorrer destes 3 anos desde a primeiro post, fui falando amiúde (em Chaves)  com o cicerone da primeira visita fotográfica, que, como sempre traz alguns poemas, estórias e máximas na algibeira, no decorrer do encanto de o ouvir, esqueço sempre perguntar o seu nome, mas hoje, graças a alguém atento a essa falha, já o sei. Tardiamente, fica aqui o nome do meu primeiro cicerone, o Tio Acácio,  sem o qual não teria descoberto as preciosidades escondidas na Quinta do Geraldo (? S. Geraldo ? – aqui a dúvida continua).

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E já que falo nas preciosidades da Quinta, além da imponente entrada (embora em mau estado) a outra coisa preciosa é a fonte da quinta, onde se encontra a pedra de armas dos antigos proprietários da quinta (suponho). Pois essa pedra d’armas e o conhecimento que se tem dela, também pode fazer um pouco da história desta aldeia.

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Segundo J.G. Calvão Borges, no “Tombo Heráldico do Noroeste Transmontano”, primeiro volume (Livraria Bizantina), a datação da pedra d’armas é da primeira metade do Século XVIII e da sua leitura constam: (I) Uma torre e uma bandeira e, em campanha um rio e  uma árvore; (II) cinco chaves com os palhetões para cima; (III) cinco estacas; (IV) seis arruelas ou besantes, alinhados em duas palas, 3 e 3. Ou seja, são as armas das famílias (I) MORAES, (II) CHAVES, (III) QUEIROGA e (IV) CASTRO.

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Como curiosidade, esta pedra de armas é muito parecida com a que se encontra no Museu de Chaves em que as famílias representadas são as mesmas.

 

Segundo algumas das genealogias setecentistas, o Sargento Mor da Batalha e Governador das Armas de Traz-os-Montes, Gregório de Castro Moraes, um dos morgados de S.Catarina e de N.Srª do Pópulo, teve um filho que viveu no Couto de Ervededo. Este filho, que usava o mesmo nome de seu pai, foi casado com D. Sebastiana Veloso, filha de Belchior Luís Pinto Cardoso, morgado de S.Tiago da Praça em Mirandela e bisneto de Diogo de Queiroga, um dos filhos legitimados de  Álvaro de Queiroga. Diz J.G Calvão Borges que poderá ser esta a explicação para as armas gravadas na tal pedra de armas existente na fonte da Quinta do Geraldo.

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Não será de estranhar que ainda hoje existam no Couto de Ervededo e na freguesia os apelidos da Pedra de Armas.

 

E depois deste bocadinho da história de uma Pedra de Armas, que também faz alguma história da aldeia, vamos às minhas habituais impressões ou devaneios sobre a aldeia.

 

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A aldeia pode ser dividida em duas. A aldeia de cima e a de baixo. Aliás penso que a própria toponímia da aldeia contempla isso mesmo, quando junto à estrada na placa indicativa aparece o “Fundo de Vila” ou vila do fundo. Pois que me desculpem os de cima, mas no fundo é que esta aldeia tem toda a sua nobreza e interesse, aliás bem patente ainda no casario que por lá existe, mas também na Igreja e no Cruzeiro. Foi com certeza a antiga aldeia do Couto, com um pequeno núcleo em redor da Igreja a partir da qual partia uma rua principal para no cruzeiro dar lugar a duas ruas. Na que sobe, em direcção à actual aldeia de cima, temos então a nobreza das suas construções, ainda notória exteriormente numa delas, interiormente numa outra e na entrada da Quinta do Geraldo, a tal que tem a pedra de armas.

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Mas não é só no casario nobre que o fundo da aldeia é interessante, mas no desenvolver da rua que a liga a aldeia de cima que, para vencer a inclinação a obriga a andar às curvas e a altos muros de suporte de terras, mas em granito, o que lhe dá um ar (às vezes) sombrio e (quase sempre) bucólico, decorado com belíssimos chafarizes e muitas amoreiras, estas, para fazerem um pouco da história da seda a que esteve ligada a freguesia de Ervededo, do tempo em que era administrativamente falando, um concelho.

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Tal como em todas as aldeias com núcleos interessantes e antigos, também aqui, são os mais degradados, pois a aldeia em si, hoje é a aldeia de cima, onde um núcleo mais recente nasceu, tal como nasceram as inevitáveis novas construções junto à estrada que atravessa a aldeia, mas não muitas e onde se concentra a actual “vida” da aldeia, com os cafés, uma farmácia e penso que um Centro Social.

 

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A aldeia de baixo “vive” da sua beleza e da sua história de nela ter o casario mais nobre, mas com a nobreza de outros tempos, pois hoje, apenas são o seu testemunho, sem gente que habite as casas e as ruas, mais parecendo que parou no tempo. Se por um lado temos pena, por outro até ficamos felizes, pois longe da vista, longe do coração e nela não se praticam alguns disparates, como no largo onde outrora existiu a Capelinha de Santiago que desapareceu para dar lugar a um Chafariz,  que agora desapareceu para dar lugar a nada… . Pelo que ouvi a algumas pessoas do povo, não concordam muito com estes desaparecimentos – “politiquices” disseram-me. Mas como eu não sou de lá, fico-me por aqui, no entanto, a não haver capelinha (que não conheci) gostava mais do largo com, do que sem chafariz.

 

Chafarizes que aliás se reproduzem ao longo da rua. Não os contei, mas são muitos, e quase todos são ou seguem o chafariz tipo do “Estado Novo”, dos anos 50, construídos em pedra e encimados por um escudo.

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E agora um pouco da história desta aldeia, que como já aqui se falou várias vezes, está também ligada ao antigo concelho de Ervededo. Aliás era mesmo o nome desta aldeia até à criação da freguesia (de Ervededo), adoptando a partir daí o topónimo de Couto, ao qual popularmente se lhe junta Ervededo, para a melhor a distinguir de outras aldeias com o mesmo topónimo.

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Reza a história que a sua existência já é conhecida pelo menos desde a ocupação romana em que assumia o topónimo de onde derivou o actual nome da freguesia – Ervedetuni. Pelo menos, reza também a história, que em 1132 as suas terras foram doadas em forma de Couto ao Arcebispado de Braga. Curiosamente, ao se conhecer a história do Couto e de Ervededo ligada ao Couto do Arcebispado de Braga, sente-se essa mesma história nas ruas do Couto e tudo, por causa das amoreiras, que embora não sejam as de há 800 anos, são as mesmas que dão de comer ao bicho da seda, que fazia a seda de então.

 

E de história penso que falta apenas referir que na vizinhança existe uma estação arqueológica que dizem está ligada à cultura visigótica e falta referir também a Igreja Paroquial de traça barroca dos séculos XVII e XVIII e que tem como patrono o S.Martinho.

 

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E para terminar falta referir que é ainda uma aldeia com vida e embora a população esteja envelhecida, há sempre gente nas ruas, mesmo com chuva e frio, como no caso da minha última visita, o Couto não era uma aldeia morta e, até o forno do povo funciona, ou melhor, fazem-no funcionar, como manda a tradição.

 

Até amanhã!

 

Até já

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