Por este Rio Tâmega Abaixo
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Há dias os que mandam, os de Lisboa, muito ofendidos, alertaram para o perigo que havia de comparar Portugal com a Grécia…que devíamos estar caladinhos, dar outra imagem para o exterior, esconder (ao fim ao cabo) aquilo que somos. É fácil esconder e ficar calado quando se tem a barriguinha cheia e se vive no meio de mordomias, ignorando sem desconhecer, a realidade de milhares (ou serão já milhões) de portugueses que vivem de misérias e em plena ou à beira da pobreza. É fácil disfarçar os problemas reais com golpes de teatro que até os mais crédulos reconhecem e até se aproveitam da representação teatral, ou seja, é como nos filmes, parece real, mexe com os sentimentos das pessoas, mas tudo não passa de uma mentira.
Por cá, há anos que se vive em plena mentira aceite e instituída até, sem ninguém fazer ondas, vivem-se os silêncios da miséria, onde oportunismo colaboracionista pode dar umas migalhas, ou então, por cobardia e o medo manter as que possuem. Estamos nessa.
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Para memória futura
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Tudo são números, quadros e tabelas de Excel manipulados em atraentes gráficos coloridos e não fosse o olhar atento da fiscalização da nossa desgraça, neste momento, pela certa estávamos a par dos melhores da Europa e não ao lado da Grécia. Portugal é o país da mentira e até se louva e admira quem mente melhor, havendo até um certo gozo em aldrabar e ser aldrabado… mas com algum requinte, com cara séria de sério, que nisso, vai-se mantendo a “nobreza”.
Só a título de exemplo, tomemos alguns. Ainda há poucos anos Portugal era um dos países que tinha uma das maiores taxas de analfabetismo. Hoje, graças ao RVCC, Portugal iguala os melhores da Europa em termos de formação e, só mesmo um burro de 4 patas é que não tem (no mínimo) o 12º Ano. E o que é o RVCC!? Pouco interessa, mas é uma coisa que nuns meses, resolve 12 anos de estudos… Também daqui a uns anos, Portugal deverá ser um dos países com mais variedade licenciados e licenciaturas, mestres e doutores para tudo, o progresso do país exigia-o, no entanto o problema de progresso não se devia à falta de doutores e engenheiros, mas à falta de produção com operários e técnicos qualificados condignamente pagos e tratados como merecem, com o apoio de um estado que deveria preocupara-se em defender-lhe os interesses, a produção, habitação, saúde, educação e formação (profissional), em vez de se preocupar com a capoeira de pavões e cagões.
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Toda a veiga de Anelhe, Souto Velho, e Vilarinho das Paranheiras, incluíndo pontão, serão submersas
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Os concursos públicos (de todos os tipos) são outra das mentiras instituídas em Portugal. Abre-se concurso para tudo e mais alguma coisa, dá-se-lhe um ar institucional de seriedade e legalidade, com montes de papéis e depois distribui-se por familiares, afilhados, compadres, cores partidárias e no fim, ainda sobra alguma coisa para os gajos porreiros.
Enfim, poderia estar para aqui a gastar o meu latim durante páginas e páginas com exemplos, vergonhosos e escandalosos até, mas estaria a desviar-me do assunto que quero trazer aqui hoje e que são, as não menos vergonhosas e escandalosas barragens que vão destruir o Rio Tâmega para sempre, sem possibilidade de retorno, contra todas as correntes do bem senso, tendo como base mais um negócio dos e para os grandes feito com mentiras e omissões.
Já há muita gente empenhada em saber a verdade das barragens e, contradizendo o texto dos parágrafos anteriores, são gente e organizações sérias. Estranhamente, ou talvez não, não vejo os actores políticos da região a manifestarem-se (defender, repudiar ou até informar) sobre esta problemática das barragens. Preferem o silêncio e deixa correr o que é ditado desde os negociantes de Lisboa, mas sempre gostaria de saber qual é a opinião dos principais partidos políticos ou dos seus representantes locais e da região. Não sei qual a opinião do PSD, do PS, do CDS e do PCP o que me leva a entender o silêncio como consentimento. Também não sei o que pensam, nem se manifestam, os nossos dois deputados flavienses. Também não é conhecida ou clara a posição dos municípios ribeirinhos do Tâmega (Chaves, Boticas, Vila Pouca, Ribeira de Pena), que inicialmente se alinharam no negócio com a EDP (para mamar algum – é este o termo) e que agora se ficam pelo silêncio público, sem informar as populações e, apenas, reivindicando (parece-me) algum do pilim do negócio, não demonstrando qualquer preocupação com os malefícios das barragens. A população merece ser informada ou não serão os autarcas os principais representantes da população!?
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Moinhos, pontes (românicas) e recentes, estradas, veigas e casas, serão submersas
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Da minha parte, continuo à procura de informação, mas por aquela que me é disponibilizada, continuo a dizer um NÃO bem rotundo e convicto às barragens. Convençam-me do contrário e eu mudo de opinião. Para já é NÃO às barragens do Tâmega, sim ao rio Tâmega.
Quem concordar e estiver informado, não esqueça que circulam na NET e em papel algumas petições contra as barragens do Tâmega. Deixo por aqui, aquela que nos é mais próxima. Click na imagem, leia a petição e se concordar, não deixe de a assinar.
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http://www.peticaopublica.com/?pi=tamega
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E se o problema das barragens começa aqui bem próximo de nós, mais propriamente a partir das freguesias de Redondelo, Anelhe, Vilarinho das Paranheiras e Arcossó (todas com a barragem a inundar-lhe terras e construções), o problema vai-se agravando para jusante, com a construção das restantes barragens em cascata, sendo sem qualquer dúvida, Amarante, a cidade mais sacrificada e que poderá vir a ser catastroficamente a mais prejudicada. O Rio Tâmega é só um e é tão nosso como em Amarante, é de todos aliás, por isso um pouco de solidariedade de todos, precisa-se e é urgente.
Fica para conhecimento um manifesto com origem em Amarante, resultante da manifestação de dia 13 de Março.
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A ponte da Praia de Vidago e parte da estrada nacional serão submersas
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PNBEPH - RIO TÂMEGA
MANIFESTO SALVAR O TÂMEGA
Com a manifestação de 13 de Março, realizada em Amarante, o movimento de associações, partidos políticos, movimentos e cidadãos participantes na acção designada «Salvar o Tâmega» apresentaram e subscreveram o “Manifesto Salvar o Tâmega”, enviado a diversas instâncias da administração do Estado no dia 25 de Março de 2010.
Este documento, conforme o texto a seguir, protesta contra a construção de 6 grandes novas barragens na sub-bacia do Tâmega, provando que os benefícios são demasiado reduzidos para justificar os avultados prejuízos que se antevêm, quando há alternativas viáveis que deveriam ser prioridade para o País.
MANIFESTO SALVAR O TÂMEGA
Ao cuidado de
Sua Exa. O Presidente da República, Prof. Dr. Cavaco Silva
Sua Exa. O Primeiro Ministro, Eng. José Sócrates
Sua Exa. A Ministra do Ambiente, Eng.ª Dulce Pássaro
Sua Exa. O Ministro das Finanças, Dr. Teixeira dos Santos
Sua Exa. O Presidente da Autoridade Nacional da Água, Eng.º Orlando Borges
Sua Exa. O Ministro da Economia da Inovação e do Desenvolvimento, Dr. Vieira da Silva
O recente processo de consulta pública ao Estudo de Impacte Ambiental (EIA) das duas Barragens em Fridão, no rio Tâmega, evidenciou os seus enormes impactes negativos e, ao mesmo tempo, o elevado número de cidadãos, especialistas, associações e movimentos cívicos que se opuseram à sua construção. Terminado este processo, e enquanto decorre a consulta pública ao EIA de outras quatro novas grandes barragens projectadas para a sub-bacia do Tâmega (Vidago, Gouvães, Daivões e Padroselos), esses mesmos movimentos cívicos e um crescente número de cidadãos juntam-se para exigir a renúncia da construção destas 6 novas barragens ou a refutação cabal dos vários pontos que justificam esta exigência:
1 - Fracos benefícios
Produção de electricidade
As seis barragens previstas para o rio Tâmega representam um acréscimo de apenas 1,61% na produção de electricidade em Portugal, algo facilmente obliterado por um ligeiro aumento do consumo de electricidade (só entre 2000 e 2007 Portugal aumentou o consumo em mais de 20%).
Independência energética
Portugal importa combustíveis fósseis como fonte de energia; no entanto, só uma pequena percentagem é utilizada na produção de electricidade e estima-se que as seis barragens previstas para o Tâmega venham a representar uma redução de apenas 0,25% da importação nacional de petróleo.
Alterações climáticas
Estas seis barragens poderão reduzir as emissões de gases de efeito de estufa (GEE), responsáveis pelas alterações climáticas. Porém, essa redução é insignificante (na ordem de algumas décimas em termos percentuais) em relação ao total nacional, admitindo-se ainda neste cálculo que não há emissões significativas de metano pelas albufeiras criadas (provenientes da decomposição da matéria orgânica e plantas do solo inundado e de prováveis fenómenos de eutrofização). Acrescente-se ainda que a poupança referida só será atingida ao fim de quatro anos (devido às emissões associadas à construção das barragens).
Criação de emprego
Terminada a sua construção, estas novas barragens serão insignificantes a nível de emprego, uma vez que actualmente muitos empreendimentos idênticos não têm absolutamente ninguém a operá-las no local. Pelo contrário, perdem-se empregos, especialmente a nível regional, devido à destruição de solo produtivo, à perda das águas bravas que alimentam o turismo e o desporto, à deslocação de pessoas, entre outros motivos.
Armazenamento de água
As seis novas barragens previstas para o Tâmega poderão constituir uma reserva de água útil para abastecimento e combate a eventuais incêndios, mas por outro lado serão afectadas várias captações de água existentes e fontes de águas termais, e a reserva de água não consegue justificar o investimento e prejuízos.
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A ponte da Praia de Vidago e parte da estrada nacional serão submersas
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2 - Prejuízos avultados
Qualidade da água
Seis novas albufeiras de água parada em substituição de um rio corrente irão provocar uma deterioração da qualidade e saúde ecológica da água, numa altura em que mesmo sem as barragens já será difícil atingir os requisitos da Directiva Quadro da Água (atingir o bom estado ecológico das águas superficiais até 2015).
Biodiversidade e ambiente
As várias barragens projectadas para o Tâmega representarão a destruição irreversível de um importante eixo de interacção e comunicação entre os diferentes ecossistemas que constituem um rio corrente, produzirão um efeito barreira para peixes e outras espécies, submergirão muitos habitats classificados e prioritários e afectarão significativamente a fauna e a flora da região, inclusivamente várias espécies endémicas, ameaçadas, com distribuição restringida, com estatuto de protecção e variedades horto-frutícolas regionais. Com seis novas barragens na sub-bacia do Tâmega, e acrescentando a do Torrão que já existe, são previsíveis vários e significativos impactes cumulativos de todas estas barragens. Continua aliás a faltar uma análise dos impactes cumulativos das várias barragens, algo que é importante para a protecção dos ecossistemas e que é obrigatório por lei (Directiva Quadro da Água)
Socioeconomia
As várias barragens projectadas para a sub-bacia do Tâmega não serão factor de desenvolvimento local ou regional. Irão extinguir recursos endógenos singulares, eliminar espaços naturais irreproduzíveis e ameaçar várias áreas de desenvolvimento, como o turismo (perda de turismo e desporto de águas bravas, submersão de património com interesse turístico – incluindo elementos classificados, submersão de praias fluviais e parques, profunda alteração e artificialização da paisagem), a agricultura e silvicultura (submersão de milhares de hectares de solo produtivo, perda de cultivo de variedades regionais), a pesca e a fixação de populações que terão de ser deslocadas (só a albufeira de Fridão cobrirá 108 edifícios). Só no Concelho de Amarante estima-se que as barragens possam vir a afectar 2500 ha de vinha de uma região demarcada que representa uma receita de quatro milhões de euros/ano para 3216 viticultores da sub-região.
Risco de segurança
As barragens constituem um risco para as populações do Alto e Baixo Tâmega devido à violência das descargas de água e da oscilação brusca da cota das albufeiras e à hipótese da sua ruptura, caso que, embora raro, não é inédito. A questão da segurança coloca-se em todas as barragens projectadas para o vale do Tâmega, muito especialmente para as de Fridão que ficam a apenas 6 km da cidade de Amarante e onde um grande volume de água ficará a cerca de 100 metros acima da zona ribeirinha desta cidade.
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Toda a veiga de Arcossó será submersa, incluíndo casas e equipamentos
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3 - Alternativas viáveis
Eficiência energética
Estima-se que o investimento previsto para as novas barragens, aplicado em medidas de eficiência energética, pouparia 10 a 15% do consumo total de energia do país, sem sacrificar a economia e o conforto e evitando os grandes prejuízos das barragens. No entanto, em Portugal, continua a imperar a lógica da gestão da oferta de energia e não a gestão da procura, que é a que melhor se enquadra numa lógica de desenvolvimento sustentável. Ao mesmo tempo, na última década, o consumo de energia aumentou significativamente sem igual aumento do PIB, algo indicativo de desperdício energético.
Reforço de potência e armazenamento de energia
Portugal tem já mais de 160 grandes barragens. No que respeita às barragens com produção hidroeléctrica, apenas seis irão sofrer um reforço de potência, de acordo com informações da EDP. Prevê-se que estes seis reforços de potência possam, por si só, fornecer mais potencial de energia hídrica que toda a energia eléctrica proveniente das novas barragens do Tâmega e das restantes barragens que constam do Plano Nacional de Barragens, verificando-se assim ser desnecessária a sua construção para atingir as metas nacionais de energia hídrica previstas no Plano. Igualmente, o armazenamento do excedente da energia eólica, para ajudar a gerir as flutuações diárias, pode ser feito utilizando as barragens existentes.
Energias renováveis
Uma maior aposta em energias renováveis com menor impacte poderia suprir os objectivos energéticos das seis barragens previstas para o Tâmega e das restantes barragens que constam do Plano Nacional de Barragens. O apoio à microgeração, eólica e fotovoltaica, por exemplo, está neste momento em risco de ser bastante restringido, sendo conhecidas pessoas e empresas que têm tentado, sem sucesso, investir milhares de euros na produção de energia limpa.
Reserva de água
Os volumes de água necessários ao abastecimento são muito mais baixos que os das albufeiras projectadas, acrescendo que as albufeiras agravam a qualidade da água. Assim, seria mais racional apostar em sistemas de pequena escala e no uso eficiente da água: optimização das redes de abastecimento, reciclagem de águas cinzentas, aproveitamento de água da chuva, mudança para equipamentos de baixo consumo, salvaguarda dos aquíferos e nascentes.
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Toda a veiga de Arcossó será submersa
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Conclusão
Há que ser sensível aos desafios que Portugal tem pela frente a nível das metas de produção de energia renovável, de redução de emissões de gases com efeito de estufa e da dependência energética do exterior e há que estar aberto e debater de forma equitativa as várias soluções. Fazendo uma análise aos fracos benefícios, aos avultados prejuízos e às várias alternativas disponíveis, não se consegue senão concluir que a construção de novas grandes barragens em Portugal não pode ser vista como primeiro recurso ou prioridade. Assim, exige-se a renúncia da construção das seis barragens previstas para a sub-bacia da Tâmega ou a cabal refutação de todos os pontos acima mencionados.
Vale do Tâmega, Amarante, 13 de Março 2010
Subscrito pelas seguintes entidades:
Bloco de Esquerda
Campo Aberto – Associação de Defesa do Ambiente
FAPAS – Fundo para a Protecção dos Animais Selvagens
GEOTA – Grupo de Estudos de Ordenamento do Território e Ambiente
LPN – Liga para a Protecção da Natureza
Movimento Cidadania para o Desenvolvimento no Tâmega
Por Amarante, Sem Barragens
Proviverde - Associação de Produtores de Vinho Verde de Amarante
Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza
Partido Os Verdes
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Toda a veiga de Arcossó será submersa
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E para não alongar mais o já longo post de hoje, deixo o título de notícia publicada no Expresso, que poderá ler na integra seguindo o link que deixo abaixo.
EXPRESSO – ACTUALIDADE, num artigo de Virgílio Azevedo, in Expresso – 30 de Março de 2010
Manifesto considera política de apoio às renováveis uma "aberração económica"
Chama-se "Manifesto por uma Nova Política Energética em Portugal", é assinado por 33 personalidades e ataca as políticas de apoio às renováveis, que considera "uma aberração económica".
Leia todo o artigo seguindo o link:
E por hoje é tudo. Pelo Rio Tâmega, passe e assine a petição:
http://www.peticaopublica.com/?pi=tamega
Notas:
Todas as fotos de hoje, à exceção da primeira, são de zonas que vão ser inundadas pela barragem de Vidago.
(o texto de hoje é publicado sem revisão do novo acordo ortográfico)
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