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CHAVES

Olhares sobre o "Reino Maravilhoso"

14
Jun10

Crónicas Segundárias


 

.

 

 

Presume-se Presunto



Chaves é uma cidade conhecida por várias coisas: as termas, os pasteis, etc. Eu acredito que as duas mais famosas são o presunto e os pasteis.


O fama do bom presunto é conhecida de norte a sul do país, seja por pessoas que apenas ouviram falar dele, por outras que pensam  tê-lo provado (mas era do espanhol!), ou por uma pequena minoria que realmente conhece bem o presunto de Chaves.


O mais estranho na história dum presunto tão famoso é que haverá, também, muitos flavienses que nunca o provaram! Acredito, mesmo, que alguns nunca provaram presunto nenhum.


Isso acontece porque é mais difícil encontrar presunto em Chaves do que porcos a andar de bicicleta pela Rua de Santo António abaixo. Se a alguém lhe apetecer comer umas sandes de presunto a meio da tarde e se dirigir a algum café local, não encontra algum que as sirva. Será melhor, mais fácil, e menos problemático, que a essa pessoa lhe apeteça um bolo com nome francês, por exemplo. Fica logo servido. Porque se entrarmos num café e pedirmos ao empregado "Se faz favor, arranje-me uma sande de presunto", a resposta que ouviremos, invariavelmente, é "Desculpe, não servimos sandes de presunto", acompanhada de uma expressão facial que rosna "Este deve pensar que isto é alguma tasca, foda-se!".


Imagine-se a seguinte ficção, que por incrível que pareça, hoje em dia, é perfeitamente plausível que já se tenha passado algo parecido em Chaves:


Ora, temos um turista gastronómico que chega a Chaves, todo lampeiro para comer umas boas sandes de presunto, e que entra em seis ou sete cafés onde recebe sempre a mesma e decepcionante resposta: não há. Tentando não sair derrotado, nunca imaginando sequer que é impossível comer sandes de presunto em Chaves, pergunta a um transeunte "Boa tarde, sabe indicar-me um local onde possa comprar sandes de presunto?". O flaviense, atrapalha-se, nunca antes tivera que pensar em semelhante e difícil pergunta, apenas habituado que estava, aquando da larica à hora do lanche, a entrar num café e pedir o habitual éclair, ou bola de berlim (sandes de presunto nunca lhe tinham passado pela cabeça, e muito menos pela goela, pelo menos em cafés), e por isso responde "Desculpe, não conheço sítio algum que as sirva, mas em qualquer café encontra bons pasteis de Chaves". O turista, desanimado, responde "Sim, já provei os pasteis, são muito bons, mas agora queria saborear umas sandes de presunto e não sei onde". O flaviense, que já antes tinha pensado estar a ouvir o fino sotaque de Lisboa, tenta ajudar com aquilo que acha uma bela sugestão "Você é de Lisboa, não é? É, acertei. Olhe, sabe o que lhe recomendo a si, que vem de Lisboa? Há, aqui pertinho, um McDonalds que serve uns hambúrgueres que são uma autêntica delícia, muito tenrinhos e saborosos, não conheço mais sítio algum, nem noutro McDonalds, nem no de Montalegre, que sirva hambúrgueres como aqueles. Vá por mim, experimente que vai gostar, nem se lembra mais das sandes de presunto!". O turista fica espantado e a meditar na situação "Bem, lá vou ter que engolir um éclair, porque de pasteis já estou eu farto. Afinal os flavienses não comem presunto e parecem, estranhamente, grandes fãs de hambúrgueres, uns autênticos especialistas no assunto, imagino que no drive in do McDonalds local já haja uma janelinha, com a altura adequada, para quem espere pelo hambúrguer sentado na cilha do burro, já nem na aldeia se deve comer presunto".


Parece-me que esta ficção não está muito longe da realidade. Imagino que actualmente o McDonalds venda mais hambúrgueres do que os cafés todos do concelho vendem sandes de presunto. Julgo até que será mais fácil encontrar cafés no Porto, ou em Lisboa, que sirvam sandes de presunto. Não percebo esta alergia que os flavienses têm ao presunto.


Imagino que haverá alguns adolescentes que com a "febre" dos hambúrgueres talvez nunca tenham provado presunto, ou pelo menos não provaram do de Chaves, porque as aldeias já produzem pouco e muito do que circula é espanhol.


Também será misterioso, especialmente para os turistas, que não se consiga comprar um presunto em Chaves. Só com muito trabalho e por encomenda. É muito estranho, não é? Presume-se que o presunto de Chaves venha de Chaves e se compre aí, porque se não se encontra à venda aqui, donde virá?!


Isto é triste porque o bom presunto é uma coisa que vale a pena ser saboreada. Eu adoro presunto mas sou obrigado, pelas circunstâncias, a come-lo apenas em casa. Claro que há restaurantes que o servem como entrada, mas como petisco para a merenda é quase impossível de encontrar.


Há outra coisa que eu nunca percebi no negócio dos petiscos. Nas poucas casas onde se podem comer sandes de presunto, nunca vi anunciadas sandes de presunto "chamuscado". Uma das melhores maneiras de comer presunto é grelha-lo nas brasas (chamusca-lo) e depois mete-lo, ainda a pingar, entre duas talhadas de pão centeio, por exemplo. Antigamente, no tempo em que nem dinheiro havia para as grelhas metálicas que se usam nas lareiras, punha-se o presunto a chamuscar enfiado num trocho, que primeiro se afiava e limpava com uma faca. Talvez melhor do que o presunto, para estes "chamuscos", é a carne da pá. É uma delícia roer os couratos chamuscados da pá. Hoje em dia, por razões práticas, eu "chamusco" o presunto, ou a pá, em casa, numa grelha eléctrica. Não percebo porque é que os estabelecimentos onde se petisca, como alguns cafés, não se dedicam a vender um petisco tão bom como este, parece-me que só perdem negócio. Não me acredito que se as pessoas pudessem escolher entre um hambúrguer ou um "chamusco", escolhessem o hambúrguer.


Sobre o presunto há muito para dizer num próximo post.

Até à próxima segundária.

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