Discursos Sobre a Cidade - Chaves de Sacristia - Por Tupamaro
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“CHAVES de SACRISTIA”
Cidade de Chaves.
VILA que, já sendo Cidade, ainda assim a ouvia tratada pelos «antigos» da “MINHA ALDEIA”, pois vinham dos últimos anos do século XIX e dos primeiros anos do século XX.
A «VILA», ou a «CIDADE» exercia um fascínio sobre as crianças lá do PoBo.
Do «Alto», do alto do CAMPO, ou da nossa varanda víamos bem “toda a cidade”.
Caída a noite, a nossa Aldeia e as nossas casas eram alumiadas pela luz das candeias, das lareiras; ou pela Lua, quando o céu deixava, ou pelos fachucos de palha; ou, ainda, pelos relâmpagos.
Caída a noite, a cidade ficava, salpicada de estrelas, a brilhar.
A «recta de Outeiro Juzão» era um dos nossos pontos de mira. Era a avenida de liberdade dos nossos sonhos quando “fôssemos grande”.
O automóvel ainda era uma raridade. E todo e qualquer «chòfere» que passasse na “Recta de Outeir’juzão” fazia roncar bem o seu carro, como a querer dizer a toda a gente do CAMPO DA RODA ………e da GRANGINHA que «Ele» ia ali. Para nós era sempre o carro do RAMBÓIA!
E imaginávamo-nos quando «formos grande», a guiar um carro na Recta de Outeir’juzão e «fugir» mais depressa e a «roncar» com mais força do que o Rambóia!...
Vir à Cidade, pela mão dos primos ou da Avó, era um dia de festa. Éramos vestido que nem um príncipe!
E, no Verão, a promessa de uma ida à Vila era garantia certa, para a família, que aceitávamos dormir a sesta sem rabujar.
E havia sempre quem acompanhasse essa «saída» até às CARVALHAS.
Desciamos para o “Pedrete “ a dar saltos quase maiores do que os dos coelhos, por ali abundantes, assustados com o nosso contentamento.
Chegado à fronteira do «Treiladrão», entrávamos no território do “Monte da Forca”.
Era a vez de nós tomarmos a vez aos coelhos, e só à chegada à “Fonte Nova” é que conseguíamos sacudir o susto que o «……..ladrão» e o «………forca» nos tinham causado.
E, aqui, no Apeadeiro da Fonte Nova, começava, para nós, A CIDADE.
A D. Lucindinha recebia-nos com alegria e mimos. Demorávamo-nos aí mais um pouco se o comboio estivesse para chegar.
A D. Lucindinha vestia uma bata e pegava atempadamente numa bandeirola, ora verde, ora vermelha, enrolada num trocho redondo.
Cumprimentos cumpridos, guloseima «afinfada», descíamos por um caminho que nos fazia passar em frente à Pensão Reina. Atravessávamos o pontão do Ribelas e subíamos ao Postigo.
Aí, entrava-se nas ruas mais estreitas da Cidade, que mais estreitas nos pareciam com as pessoas que saíam à rua para nos ver e saudar. E a nossa sorte continuava porque um rebuçadito , uma amêndoa ou uma bolacha também apareciam, para nosso gosto.
Em duas ou três casas, para onde a Avó levava um raminho de salsa, uma tigela de marmelada e meia dúzia de ovos, demorávamos mais tempo. E, entre as conversas da Avó com as «pessoas amigas, da cidade», além de carinhosas palavras, calhavam-nos sempre um Pastel de Chaves, um «doce de champanhe», rebuçados e, às vezes, uma moeda luzidia de dois (2) tostões.
Pela fresquinha do fim do dia era o regresso.
A Avó fazia o «compasso» das visitas com tempo e horas para ficar cumprido «a modos que» chegássemos a casa a tempo e horas de tratar da ceia.
Na Fonte Nova , a paragem habitual para uns restos de conversa entre a D. Lucindinha e a Avó.
Devagar, lá se ia subindo o Monte da Forca. E devagar ia a Avó fazendo as recomendações e os louvores ao NETO da GRANGINHA.
A travessia do Pedrete dava para recuperar as energias gastas na subida do Monte da Forca e ganhar mais algumas para subir até às “Carvalhas”, passar pela “Casa Nova”, até se descansar no “Largo do Carvalho”, onde se contavam algumas das novidades, trazidas da Cidade, à Tia Aurora da Abobeleira, e à Tia Maria do Campo, e se entregava o maço de cigarros ao sr. Petim.
Chegado a casa, demorávamos a escutar ou a entender o que nos diziam. Trazíamos connosco, cá dentro no pensamento e no coração, bolsos, sacos e seiras cheiinhos de fantasias, de interrogações e de certezas para quando fôssemos «grande».
A Cidade parecia-nos uma sacristia do céu.
E CHAVES, a maior terra do mundo e arredores.
O NETO DA GRANGINHA, ora avô, diz, por aqui, «ausente» porque se deve amar “A NOSSA TERRA”!
Oh! TERRA LINDA, ó TERRA AMADA!!!
Tupamaro