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CHAVES

Olhares sobre o "Reino Maravilhoso"

02
Ago10

Crónicas Segundárias - Uma Cidade do Caralho!


 

 

 

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Uma Cidade do Caralho!


 

(Esta crónica tem bola vermelha no canto do écran. Se é uma pessoa sensível a palavrões e malcriadez, pare já aqui e espere pela Pedra de Toque de Terça-feira, que essa sim, é uma crónica de confiança absoluta)

 

Uma das coisas que mais me custa ao escrever estas crónicas segundárias é não se poder (dever?) meter umas caralhadas, embora eu já tenha metido uma ou outra.


O problema é que eu, desde que aprendi a falar, sempre fui treinado para mandar caralhadas e tornei-me num dos putos que mais caralhadas diziam, uma coisa a que as pessoas achava piada. E nunca mais perdi esse vício, já me está entranhado muito muito profundamente, e por causa disso devo ter dito, durante a vida, vários biliões de caralhadas, porque não há quase frase alguma em que não meta uma.


E aos despois, quando me chego ao teclado para martelar uma crónica, estou sempre a pensar "ai o caralho, caralhos me refodam, ai que stress do caralho, jajus m'acuda, puta que pariu esta merda, puta que pariu as etiquetas, não consigo escrever como penso normalmente, que foda apanho a escrever estas crónicas, etc, etc". Vocês não imaginam o esforço que eu faço para escrever uma crónica decente, à doutor, uma coisinha do tipo que se vê para aí publicada nos jornais. É que nem dou conta que meto as caralhices, só quando chego ao fim é que vou outra vez ler e vejo que tenho de cortar as caralhadas por aqui (aqui não, que se foda, hoje vai ser à Lagardère! É nas outras crónicas) abaixo. Numa ou noutra crónica tenho deixado uma caralhada, que é só mesmo para desougar, não aguento. Eu nem me considero malcriado porque não ando por aí a ofender as pessoas, a dizer coisas como "vai-te foder, ó filho da puta, cabrão do caralho!", não é nada disso, meto as caralhadas mas muito inocentemente, de maneira natural, são uns foda-se que não são para foder ninguém. Hoje, vou desforrar-me mas prometo que na próxima vou escrever tudo decentemente, não vou escrever nenhum palavrão. Peço desculpa por estas minhas caralhadas mas a culpa é do Fernando que me atura e que disse que me dava carta branca para escrever o que me desse na mona. Por isso, se quereis reclamar alguma coisinha ide queixai-vos a ele porque eu quero que as reclamações se fodam, já disse que não falo assim por maldade.


Depois desta introdução um bocado fodida, vamos ao assunto de hoje.


Na última crónica estivemos para aqui a discutir se era melhor a aldeia ou a cidade e o que se devia fazer em Chaves, ao nível cultural e do lazer, para tentar combater a fuga das pessoas para as grandes cidades. Pareceu-me que houve gente que percebeu que eu sou mais "amigo" das grandes cidades e que desprezo um bocado as aldeias. Fiquei um bocado fodido com esta coisa e vou tentar explicar melhor isso.


Na verdade, eu sou da aldeia, sou um puro parolinho da aldeia. Ficais a saber que eu vivi sempre na aldeia e que só comecei a frequentar Chaves quando fui estudar para o 7º ano do Liceu. Antes disso, só tinha vindo a Chaves uma meia dúzia de vezes com os papás, porque naquela altura havia poucos carros e a gasolina era cara, e por isto, só conhecia, praticamente, a Rua de santo António e a Rua Direita. Muito menos conhecia cidades como o Porto, em que nunca tinha estado. Mas agora que me lembro, qual Porto, qual gasolina cara, qual quê! Então se eu só pus os pés em Espanha depois dos 18 anos! E a aldeia é só a uns quilómetros de Espanha. Mas quem é que apanhava fora da aldeia? Podiam-me convidar que eu nunca queria ir, só estava bem na aldeia.


Não sei se estais a ver o caralho do choque que foi para mim ir estudar para o Liceu. Até me passei da cabecinha! É que eu não sou só um parolo da aldeia, sou um super-parolo que nunca teve habilidade nenhuma para lidar com estas coisas das parolices, sou um gajo muito inocente, mesmo purex da aldeia, só queria aldeia, mais nada. Sabeis vós o que é eu chegar a Chaves vestido com uma samarra e com uma calças de fazenda (que tinham sido feitas pela minha mãe com umas calças gastas do meu pai), mais uma bolsa de lona (parola, claro) a tiracolo, em que iam lá dentro uns cadernos à antiga (nada de caderninhos de argolas como já estavam na moda na cidade. E, eu, feito burro, insisti em usar os cadernos durante uns mais quantos anos, claro!) e a merenda? Sabeis vós o que é eu chegar nesta figura à grande cidade e encontrar os colegas de jeans, todos pimpões, com kispos catitas, mais os cadernos de argolas janotas juntos com os livros, tudo enfiado naquelas capas de couro, que se usavam na altura para meter o material da escola? Para mim foi um choque do caralho, foda-se! Eu detestava Chaves e aquelas finesses todas. É que não era só a roupa e as capas de couro, era tudo, os gajos eram muito mais sabidos do que eu e estavam sempre a gozar comigo, como se já não bastasse eu andar desorientado numa povoação tão grande. Por exemplo, eu ia com eles a um café e não sabia os nomes dos bolos, não sabia o que era uma meia-de-leite, etc. E os gajos gozavam comigo, pois então. E eu ficava ali envergonhadinho, nem coragem tinha para ir mijar ao wc porque não sabia onde era o sítio certo.


Depois, fui-me ambientando lentamente, passei a gostar de Chaves e até a fazer bons amigos. No início ainda tive que mandar uns murros a dois ou três queques da cidade, que queriam gozo, mas depois disso os gajos começaram a ver que eu era agreste mas que nem era muito burro e lá fomos ficando amigos.


Quando eu já estava ambientadinho a Chaves, tive que ir para ao Porto! Ó caralho, aí é que foi pior, aí é que me custou a ambientação! Foda-se, é que um gajo de uma aldeia tem muitas mais coisas em comum com os de Chaves (com quem um gajo pode falar de presunto, por exemplo) do que com os tripeiros, que são gente muito mais sofisticada, e eu nunca gramei as sofisticações! Fui-me logo meter com gajos que discutiam de cinema, por exemplo, e eu nunca tinha posto os pés num cinema. Quando fui pela primeira vez ao cinema, veio uma senhora com uma lanterna dizer que me levava ao lugar, e eu pensei "Não há quem me safe, tenho mesmo cara de parolo, de aldeão, a senhora topou-me logo e veio-me ajudar porque percebeu que eu nunca iria descobrir o assento certo, ai que vergonha!". Os meus amigos tripeiros falavam de muitas coisas que eu não percebia nada, coisas que me levaram muito tempo a aprender para poder comunicar com aqueles sabichões. Mas, claro, aprendi e ambientei-me, já não queria outra coisa senão Porto.


E não é que depois do Porto me meti ao caminho pelo mundo fora? Agora, posso dizer que já vivi em algumas das maiores cidades da Europa, numas pouco tempo, coisas de semanas ou meses, mas noutras coisas de anos. E vivi duma maneira que me deu para conhecer bastante o que se passa por aí fora, conheci gente das mais altas e das mais baixas classes, incluindo gente fina da cultura e da pasta, o que me dá alguma bagagem para andar por aí fora muito descontraído no meio da gente sofisticada, já não sinto nada aquela aflição de estar a entrar num mundo desconhecido, aquela coisa que eu sentia quando só conhecia a aldeia e não queria conhecer mais nada. Além de ter conhecido muita gente e ter aprendido muitas coisas, também aprendi a falar e escrever outras línguas, o que é importante para se conhecerem mais profundamente outras culturas, como é evidente. Hoje em dia, posso dizer-vos que eu entro por uma qualquer grande cidade adentro (Roma, por exemplo) com uma descontracção tão grande como se lá tivesse sido criado. Desde o conduzir, a falar com qualquer pessoa, estou sempre na maior, acho que me fiz um gajo fino! Se calhar até fiz. Estou tão fino, sofisticado e descarado, que até tenho a lata de escrever como me apetece num qualquer blogue de nomeada, eu é que sei como é. E agora, o que me acontece, especialmente se ultimamente estive a viver numa cidade como Paris, é que entro em Chaves e aquilo parece-me uma aldeia, ou, vá lá, uma vilória. São sempre as mesmas caras, as mesmas tretas, ainda não há cinema nem teatro, parece-me que está tudo parado no tempo, e os gajos que antigamente me gozavam por eu não conhecer os bolos, parecem-me uns parolos que não evoluíram nada.


No outro ano, enfiei-me na aldeia, por alturas de Inverno, e não saí de lá durante duas semanas. E, quando me enfio na aldeia, volto a ser aldeão. Deixo de ler os bons jornais e revistas, desligo da internet, e vou para o café conviver e falar de agricultura, do gado, da caça, e não quero saber de mais nada. Nem me lembro dos finos amigos franceses, que não sabem que estou para fora cá dentro, e que me mandam mensagens a convidar para ir à ópera ou a alguma exposição de arte moderna. Que se fodam Paris e as artes modernas, viva a linguiça na brasa em cima de um bocado de pão centeio!


O que sei é que ao fim das duas semanas fui a Chaves, ao fim da tarde, já lusco-fusco, e quando entrei pela Rua de santo António abaixo e ao começar a ver as luzes das montras e as pessoas bem vestidas e com ar fino, tive um arrepio na espinha e pensei cá para mim "Tó diabo, foda-se, coisa fina, estamos a entrar na cidade, isto é do caralho, Chaves é uma cidade do caralho!". Exactamente como quando entrei em Chaves pelas primeiras vezes!


Lá está, é a tal coisa, a verdade é que eu nunca consegui aprender os nomes de todos os bolos que se vêem à venda no Aurora!


Até à próxima!

 


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