Pedra de Toque - A Praça de Táxis - Por António Roque
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A Praça de Táxis
Não vos vou falar, nem dos industriais nem dos motoristas de praça de hoje, que se espalham por diversos recantos da cidade, entre os quais conto vários e bons amigos.
São profissionais do volante que produzem trabalho útil e meritório, percorrendo o burgo e o concelho nos seus automóveis, transportando quem os procura, enfrentando a desleal concorrência dos clandestinos que, furtando-se a contribuições e impostos, tiram-lhe os serviços a que por lei têm direito.
Nesta crónica, porém, darei mais uma volta pelo passado, sem pagar o frete, porque de frete não se trata, lembrando figuras carismáticas e típicas de taxistas que da esplanada do velho Império, enquanto crescia, me habituei a ver na praça desta cidade pequena, muito querida e maneirinha que era Chaves há 40 ou 45 anos.
O facto de os recordar pelas alcunhas com que o povo os baptizou, não significa qualquer menosprezo pela sua memória.
Bem pelo contrário.
Sempre os considerei a todos, cada um com suas qualidades e defeitos, homens do povo, homens de bem.
Com o seu humor, com as suas brincadeiras, com a sua brejeirice, com as suas partidas, que no quotidiano pregavam uns aos outros, sorrindo com a vida, transformavam a praça junto ás Varandas, depois na Rua do Olival, ou em volta do Palácio, num recanto pitoresco da cidade onde as novidades chegavam com a velocidade do vento, sempre, sempre em primeira mão.
As estórias com que se brindavam, autênticas anedotas verídicas, eram pretexto de gargalhadas que se ouviam nos cafés, nas tascas, nos barbeiros, nos serões à volta de um petisco, de uma pinga.
Era talvez uma forma, conscientemente escolhida, de quebrar a pachorra provinciana, de esquecer tempos difíceis, caminhos intransitáveis, estradas esburacadas.
Unia-os um saudável bairrismo, aqui e ali exacerbado, que se evidenciava não só nos êxitos futebolísticos levados ao rubro quando o adversário era o Vila Real, como também nas disputas Canários-Pardais, Bombeiros de Baixo – Bombeiros de Cima, e sempre que era necessário elevar o nome de Chaves ou dos seus filhos mais distintos.
Eram companheiros de médicos que levavam conforto e saúde ás aldeias longínquas.
Transportavam advogados quando nos campos diziam da “direitura” sobre águas, passagens ou paredes, na procura de dirimir conflitos.
Sabiam dos amores clandestinos, tinham os primeiros comentários dos escândalos, conheciam as razões escondidas para o crime cometido, só os bombeiros, primeiro que eles (e nem sempre …), localizavam o incêndio com que a sirene estridente inquietava a cidade.
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Foto de Arquivo do blog Chaves Antiga
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Correndo o risco de esquecer alguns, de os misturar nas épocas, aqui ficam, em preito de homenagem, os nomes que a memória reteu:
O Zézé, o Rebelo, o Manuel Redes, o César Carai, o Rambóia, o Ceroulas, o Jó, o Abílio Ferreira, o Beto Quinze, o Alberto Sarapicos, o Arnaldo, o Hélder Carvalho, o Lé, o Tó Corneta, o Gualter, o Toninho Barrosão, o Zé Manco, o Beto Costa.
Alguns, poucos, já deram descanso ao volante e continuam, felizmente, entre nós.
A maior parte deles, depois de tantos quilómetros, encetaram a última viagem e por isso, certamente, estão a repousar em paz.
António Roque