A feijoada das quartas-feiras e a arte em Chaves
Capa do Catálogo da Bienal Arte de Chaves
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Alguém, em tom de gozo, me chamou a atenção para uma notícia do semanário transmontano: - “ tás a ber, afinal o festimage sempre traz os vencedores a Chaves”… Respondi instintivamente - “ acho bem, ao menos isso, sempre vão aprendendo…” mas afinal foi foguete lançado ao ar que não estoirou, pois quem veio a Chaves foi a mãe e dois irmãos do vencedor. Mas não deixa de ser curiosa a notícia e a necessidade que o semanário transmontano (organizador do festimage) tem em a anunciar esta visita a Chaves, como se tão importante fosse… afinal para divulgar Chaves real, começa assim: “ O festimage não está apenas a promover a cidade de Chaves no mundo virtual. São cada vez mais os participantes no concurso que vêm conhecer ao vivo a cidade que organiza o evento. No passado fim-de-semana esteve em Chaves a família do vencedor deste ano, um jovem alemão” e a mesma notícia termina “ O ano passado, também visitou a cidade a família de um dos 50 finalistas, que veio expressamente de França para visitar a cidade berço do festimage”.
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Santiago Ydañes - S/título 2000 - Acrílico S/ tela - 150cm diâmetro.
Eia, eia lá como somos grandes, (acompanhe-se a leitura ao som de foguetes no ar e com a música das concertinas dos rapazes da Venda Nova), o Festimage traz a Chaves uma (1) família de vencedores, por ano, enquanto os prémios e as cerimónias, vão por correio (suponho). O evento, nem que seja só por “este trazer a Chaves” já está mais que justificado… então na Índia, toda a gentinha conhece Chaves (carroças e carroças deles). Mas adiante, pois presunção e água benta cada um toma a que quer e se acham que o Festimage promove Chaves, então há que tocar os bois para diante, mas metam-lhe as palas, não vão os bois distrair-se com a pastagem… e deixem a areia para as praias ou para o betão, que rende mais que nos olhos das pessoas…
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Imagem da exposição - Na imagem obras de Domingos Pinho - Óleos s/ tela.
Mas há cultura que acontece realmente em Chaves e, à Bienal deste ano rendo-me. Primeiro tivemos a oportunidade de conhecer em Chaves o ilustre pintor flaviense João Vieira. Tarde, mas teve a sua quase justa homenagem, agora Nadir Afonso na Biblioteca Municipal e «Sinais da Arte Ibérica no Século XX» onde nesta, estão 33 artistas ibéricos, a grande maioria sem precisar de apresentação. Picasso, Miró, Amadeo de Souza-Cardoso, Tàpies, Júlio Pomar, Mário Cesariny, Nadir Afonso… bons artistas, sem qualquer dúvida, a mais até para receber de uma vez só e em espaço tão pequeno e mal iluminado, mas sem qualquer dúvida, um momento alto para a arte em Chaves, onde se pode ter a oportunidade de conhecer o melhor da arte ibérica (que é também mundial), com algumas faltas que eu gostaria de ver, por exemplo espanhol o Salvador Dali e do lado português, ou flaviense, o João Vieira, a quem a Bienal também é dedicada, este último, apenas porque o Nadir ( e muito bem) também faz parte desta mostra, pois sei perfeitamente que o João Vieira esteve exposto anteriormente no mesmo espaço tal como o Nadir está agora na Biblioteca Municipal. A questão é apenas de pormenor e de igualdade onde o João Vieira também cabia por direito nesta mostra.
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É uma mostra que recomendo ver, principalmente agora que já se cumprem os horários da exposição e onde até há catálogo disponível, à venda, mas está disponível para os verdadeiros interessados e, aplaudo, pois sempre é melhor que haver só catálogo para amigos que até se estão a borrifar para a arte, pois apenas gostam de ser os eternos pavões que aparecem nas inaugurações das exposições (a rima dos ões é para dar força ao pavonear da pevide e só não meti o fato e a gravata, porque não rimava).
Pois não me custa nada dar os parabéns à Câmara Municipal por esta mostra e da minha parte até agradeço a oportunidade de poder ver em Chaves tanta arte importante junta, não por ser um esperto na matéria, que não sou, mas apenas pela curiosidade de como leigo poder ter a oportunidade de ver arte a sério e consagrada. Claro que (mesmo leigo vou conhecendo alguma coisa) a representação de Miró e Picasso estão longe de mostrarem os grandes artistas que são, até podem ter um efeito negativo para quem os não conhece, pois tanto um como outro são muito mais que o que lá está exposto, mas também não podemos exigir muito, e ter cá Picasso e Miró, é uma honra.
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Está pois de parabéns a Câmara Municipal com este evento e mais uma vez o profissionalismo da Cooperativa Árvore que, para finalizar me leva a uma questão para responder quem souber: Falo neste post de dois eventos realizados em Chaves, um anual, o Festimage cujo conceito está correcto à excepção da teimosia de não prever mais um prémio para fotografia com o tema Chaves e assim promover verdadeiramente a cidade, que é organizado pelo Semanário Transmontano e pago pela Câmara Municipal. Outro evento, pelo nome bienal, é a Bienal de Chaves que é organizado pela Cooperativa Árvore e também pago pela Câmara Municipal embora esta edição tenha o patrocínio do Turismo de Portugal. A questão é a seguinte – Qual a razão de existir da Associação Chaves Viva, que deveria promover e organizar estes eventos, se cada vez que se quer organizar qualquer coisa de jeito se tem de recorrer a entidades estranhas à Câmara Municipal? Só se for por causa dos contactos que tem com os rapazes das concertinas da Venda Nova ou então por, além de ser uma associação promotora para o ensino e divulgação das artes, ser uma associação de cariz social com a sua função de entidade empregadora…mas reconheço que para uma coisa têm jeito: põem sempre os outros a organizar e trabalhar, mas é o seu selo do apoio que sai sempre nas publicações, e os seus pavões, na fotografia dos jornais. Essa é que é essa, e com esta me vou, à feijoada, porque hoje há feijoada em Chaves…está calor, eu sei, mas a coitada da feijoada está lá com aqueles olhinhos a dizer “come-me” e eu, fraco de espírito, não resisto e como-a sempre…