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CHAVES

Olhares sobre o "Reino Maravilhoso"

17
Ago10

Pedra de Toque - O Avelino - Por António Roque


 

 

 

 

 

 

 

O AVELINO

 

 


 

 

 

 

 

Durante muitos anos o Avelino Sola Castro, mais conhecido por Avelino do Aurora ou Avelino Galego, foi uma figura da nossa cidade.

 

A terrível Guerra Civil de Espanha, obrigou-o a refugiar-se no Norte de Portugal, vindo depois a fixar-se em Chaves, onde, por amor se radicou, onde constituiu família, aqui lhe nascendo as suas adoradas filhas, aqui criando amigos.

 

Graças a ele e á sua reconhecida competência, o ramo de café, bar e hotelaria, foi modernizado e remodelado na nossa cidade.

 

Todos os empreendimentos naquele campo em que ele se empenhou, foram coroados de sucesso.

 

Fez escola, nos empregados que o serviram e, transformou o Ibéria e mais tarde o Aurora e a Estalagem Santiago, em unidades prestigiadas, pontos de referência em Chaves e no exterior.

 

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Mas por detrás do comerciante sabedor, e por vezes austero, estava o homem solidário, sensível e de vasta cultura.

 

Foram muitos os jovens daquela época que, por ele, conheceram Lorca, Unamuno, Picasso, Gardel, Dolores Pradera … e tantos outros.

 

Tive a sorte, o privilégio, com amigos, de o escutar noite dentro, fechadas as contas do bar, quando a cidade dormia.

 

Por vezes, no silencio do café, por vezes calcorreando a pé ou deslizando de carro, na frescura do verão ou nos frios do Inverno, pela velha, querida e bela urbe.

 

Então falava-nos da vida, narrava-nos entusiasmado as suas últimas experiências, contava-nos dos artistas e intelectuais fascinantes que tinha conhecido, com amargura narrava-nos factos trágicos da guerra que na pele sentira, profetizando sempre, sempre com inquebrantável fé, a queda fatal dos ditadores.

 

Nós ouvíamo-lo religiosamente.

 

Era o outro AVELINO que poucos conheciam.

 

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Um homem que amava Chaves, que acreditava na juventude, cujos ímpetos inteligentemente refreava, com o muito saber que a vida lhe transmitira.

 

Era o AVELINO da comoção fácil, com a palavra dos poetas, com o génio dos artistas, com a melodia dos músicos, com a generosidade dos homens bons.

 

Era o AVELINO de leitura atenta e actualizada, que digeria com raciocínio fácil e profundo.

 

Vi-o com lágrimas saltando dos olhos perspicazes, quando na radiosa manhã de Abril de 74, gozou a porta aberta para a democracia neste país, que também era o dele.

 

Vi-o emocionado no I Congresso do Partido Socialista, em Lisboa, onde estivera como convidado, quando escutou a voz embargada pela esperança na democracia possível dos representantes do seu PSOE e de outros partidos da área, da sua querida América Latina.

 

A memória do AVELINO foi evocada nas jornadas Intertâmega 91, quando alguns escutámos a interessantíssima locução do seu irmão Manuel, magistrado distinto, sobre as afinidades históricas de Verin e de Chaves.

 

Ao falarmos sobre estes dois povos, tão próximos e tão semelhantes, que as vicissitudes da história por vezes colocou de “espalda”, era da mais chocante injustiça não sublinhar o nome do AVELINO, o galego mais flaviense, com quem tive o enorme gosto e satisfação de conviver e de aprender.

 

Enquanto os seus amigos não contarem o muito que sabem da sua vida digna, da sua coerência intelectual, da sua paixão perene pela liberdade e das fascinantes estórias que lhe sorveram, a memória dele ficará para sempre, bem no caroço desta cidade, no velho Bar Aurora, ali no Largo das Freiras, que foi também o seu largo predilecto.

 

Para tantos que o estimaram, o AVELINO será recordado com a muita saudade que sempre fica quando parte um grande amigo.

 

 

António Roque

 

 


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